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terça-feira, 19 de abril de 2011










Cordel Encantador

por Fernando Russowsky

Simpático que sou às inovações nas telenovelas, aguardei ansiosamente pela
estreia de Cordel Encantado. Uma expectativa que foi crescendo e sendo reforçada à medida em que saíam notícias sobre a novela. Pensava: “Pra ser a estreia da Glória Menezes no horário e pra convencer o Zé Celso Martinez a trabalhar em televisão, deve ser coisa boa!”. Depois foram as notas sobre o tratamento dado à imagem, para deixá-la semelhante à película cinematográfica, recurso já utilizado em Sinhá Moça e nos primeiros capítulos de Paraíso Tropical. Mas ao contrário destas duas, Cordel Encantado apresentou, desde as chamadas de estreia, o visual diferenciado. Para completar, uma sinopse que funde universos tão distintos como um reino europeu, com seus reis, rainhas e nobres, e o sertão nordestino, com sertanejos e cangaceiros. Tenho para mim que nestes primeiros capítulos Cordel Encantado entregou o que prometeu.


A imagem realmente não é a que estamos acostumados a ver, e não se limita à impressão de cinema. Os enquadramentos, os movimentos de câmera também são bem cuidados e diferenciados. Mas a grande inovação, para mim, não está no que se vê, mas no que se ouve: me chamou a atenção a trilha sonora, na qual predominam temas instrumentais, todos de acordo com o contexto. A estética, em Cordel, tem um propósito, não é usada apenas para impressionar o público e mostrar que a emissora dispõe de novos recursos. Ilustra uma história que pede uma atmosfera fantasiosa, quase onírica. Bem amarrada e contada, a trama estrutura-se com base no que há de mais clássico nos romances folhetinescos. Estão ali os amores inviáveis, os vilões psicopatas, os mocinhos heroicos e as mocinhas sofredoras. Some-se a isso doses de humor e de aventura e, como resultado, tem-se um roteiro que, de tão tradicional, parece moderno.

O texto é valorizado por um elenco convincente e que, graças à sua coesão, ajuda o público a acreditar naquilo que está vendo na telinha. A escalação apostou em Domingos Montagnier (Herculano) e Luana Martau (Carlota), gratas surpresas, e fez um investimento seguro com Zezé Polessa (Ternurinha), Marcos Caruso (Patácio) e Osmar Prado (Batoré), encabeçando o humor da novela. Parece-me que Débora Bloch deveria fechar o quarteto, mas a Duquesa Úrsula é tão odiosa que não consigo achar graça. É vilã à moda antiga, sem dualidade, sem “lado humano”, quiçá uma versão de saias do Francisco de Mont’Serrat, papel de Carlos Vereza em Direito de Amar. Já o seu partner, Luiz Fernando Guimarães (Nicolau), testado e aprovado em comédias farsescas, aqui me passa a impressão de ainda não ter encontrado o tom certo. O caso de Zé Celso Martinez é interessante: não por demérito dele, que fez um grande trabalho, mas pelo acontecimento que fizeram de sua participação, fiquei com a sensação de “Só isso?”. Esperava tanto, mas tanto, que o Amadeus poderia levitar, atravessar paredes, tocar harpa, imitar Carmem Miranda e declamar Camões, que ainda assim acho que eu ficaria frustrado. Cabe registrar que tive uma emoção de quase marejar os olhos: sabendo que Ilva Niño está no elenco, e no afã de vê-la, prestava especial atenção quando parecia que alguma serviçal entraria em cena. De repente ela surgiu no acampamento dos cangaceiros, e não era pondo a mesa, mas interferindo decisivamente na história, dando um conselho, quase ordenando ao filho Herculano, líder do bando, que fosse buscar seu neto Jesuíno (Cauã Reymond). Quanto a Gloria Menezes, com todo o respeito à sua pessoa e à sua trajetória artística, sou grato por ter desistido do papel da Rainha-Mãe Efigênia, pois deu ao público a oportunidade de se regozijar com a presença de Berta Loran, tão rara em novelas.

Conduzindo a obra, a direção transmite segurança. Consegue realizar o clima de conto de fadas anunciado nas chamadas de estreia da novela e não sente a necessidade de se sobressair, de imprimir marcas pessoais. O elenco não se baseia em brilhos individuais, mas na força do coletivo, e não tenta aparecer mais do que o texto, que por sua vez não se coloca acima da história que está sendo contada, mas a serviço dela. Com isto, tem-se um grande espetáculo, cujo maior mérito, acredito, reside na qualidade do conjunto, decorrente da harmonia entre as partes, que faz com que os espectadores mergulhem na fantasia e acompanhem a sua evolução. De acordo com dados da imprensa, a audiência vem subindo aos poucos, e provavelmente contribuiu para este crescimento a mais eficiente forma de divulgação que existe, que é aquela feita “boca-a-boca”. Espero que consiga ainda mais pontos no Ibope, primeiro porque merece. Segundo, porque livra a produção de pressões e deixa a equipe tranquila para continuar com o belo trabalho que vem sendo apresentado. Terceiro, porque encorajará a emissora para que invista mais em produtos diferenciados.

4 comentários:

Juliano G. Bonatto disse...

Isso é que é positivo em Cordel. É uma novela bem cuidada, bem feita e está tendo boa audiência. Dessa forma a emissora não desiste em investir em produtos assim. Quem ganha somos nós.

O Vitor viu... disse...

Ótimo texto, Nandão. Tb falei rapidamente sobre a novela lá no melão. Abraços!

Lorena disse...

Por esse texto dá até vontade de assistir a novela.

Anônimo disse...

Ótimo texto! Compatível com a excelente novela, da qual não me canso de fazer propaganda boca a boca.

Eduardo Vieira - Recife/PE