Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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terça-feira, 14 de outubro de 2014


Amigos do Agora,

Convidamos todos a conferir o blog Vivo no Viva, do nosso parceiro Duh Secco. Uma página com tudo sobre o canal preferido de dez entre dez noveleiros!

Acesse: www.vivonoviva.blogspot.com

quinta-feira, 18 de julho de 2013



Bateu saudade...
Reprises do Canal Viva suscitam a nostalgia



por Duh Secco


Concebido como canal de entretenimento para as mulheres da tão alardeada nova classe C, o Canal Viva tornou-se reduto dos noveleiros de plantão. Depois da reprise de Vale Tudo, que mesmo indo ao ar em horário tardio tornou-se fenômeno de audiência e de repercussão nas redes sociais, a direção passou a se atentar para o potencial do telespectador saudosista. Programas de moda e comportamento, oriundos de canais como o GNT, foram sumindo aos poucos e dando espaço a faixas destinadas aos humorísticos (Viva Rindo), por exemplo, e programas como Globo de Ouro e Cassino do Chacrinha. O sucesso de produtos do passado levou a Globo a apostar nas re-reprises, que retornam ao Vale a Pena Ver de Novo com O Cravo e a Rosa (que, certamente, renderia muito mais se fosse exibida na íntegra, no Viva). Fato é que quem assiste à programação do canal acaba sucumbindo ao charme de outros tempos, em que as novelas possuíam cenas do próximo capítulo, e os visuais eram berrantes e chamativos. O Viva é um convite à saudade!


Falo com a convicção de quem passou uma tarde nostálgica em frente à TV nesta última terça (16/07). Tirei o dia para acompanhar as três novelas atualmente em exibição no canal, começando pela reprise de Rainha da Sucata, ao meio-dia (reapresentando o capítulo exibido no dia anterior). E qual não foi minha surpresa a me ver diante das cenas em que Laurinha Figueroa (Glória Menezes) simula uma tentativa de suicídio, inalando o gás de sua soberba suíte. Lembro com exatidão desta sequência na reprise da novela no Vale a Pena Ver de Novo, em 1994. A frieza de Laurinha, atentando contra a própria vida, me marcou na época. O suicídio (desta vez, consumado) na reta final da trama, que ela comete para incriminar Maria do Carmo (Regina Duarte) e a troca dos bombons dietéticos do marido diabético Betinho (Paulo Gracindo) por outros recheados de glicose me fez ver Laurinha, por muito tempo, como a maior vilã da teledramaturgia brasileira. E talvez seja mesmo! Aquela tarde de 1994, em que cabulei a aula para ver a novela em casa com minha família, deixou a cena de Laurinha simulando um desmaio próximo a sua banheira marcada em meu inconsciente para sempre. E isso me faz lembrar até mesmo de um tópico da comunidade Teledramaturgia, no Orkut: “cena marcante gravada na retina para sempre”. Mais uma amostra das lembranças que o Viva é capaz de fazer surgir em nossas ideias...


15h30 é o horário de Anjo Mau, novela escolhida pela direção do canal após os protestos do público, contrário à reexibição de Pecado Capital, mal sucedido remake de Glória Perez. Com a versão de Maria Adelaide Amaral para a obra de Cassiano Gabus Mendes é possível constatar o quanto as novelas mudam ao longo dos anos sem que possamos perceber. Anjo Mau foi exibida há 16 anos. Vendo seus capítulos hoje parecemos estar diante de uma novela dos anos 80. O desenrolar dos acontecimentos é relativamente lento. Para se ter uma ideia, o episódio 07, exibido na ocasião, se desenrola todo em cima do noivado de Paula (Alessandra Negrini) e Rodrigo (Kadu Moliterno), que já havia se iniciado no dia anterior. Ainda assim, a ótima condução do texto, o bom desempenho dos atores e a direção segura de Denise Saraceni nos garantem um excelente entretenimento. A novela é movimentada e nos apresenta ótimas cenas. Dentre estas, podemos citar aquela em que Vivian (Taís Araújo) é abordada por Clotilde Jordão (Beatriz Segall), durante o noivado. Tratando a moça como serviçal, a ex-ricaça lhe pede um copo d’água. Vivian lhe apresenta à copeira da casa, Socorro (Marcela Raffea), e Clô comenta o mal entendido com Eduardo (José Lewgoy), em uma fala quase idêntica a esta: “em outros tempos esse tipo de confusão não acontecia, já que não havia pessoas assim circulando entre nós”. Vivian é negra e fora menina de rua. O conflito, inexistente na primeira versão da novela, realça ainda mais o abismo social que separa a arrivista babá Nice (Glória Pires) de seu patrão Rodrigo. O capítulo se encerra com uma atitude precipitada da empregada: após dançar com o radiante Rodrigo em volta da piscina, Nice sobe ao seu quarto com duas taças de champagne. O empresário vai enxotá-la, em mais uma das cenas marcantes desta novela. Podemos destacar também o casamento de Rodrigo com a babá, no qual não aparece nenhum convidado. Um bom momento de Anjo Mau que não dá pra perder! Assim como não perdi a novela em sua exibição original. Nem mesmo o último capítulo, aflitivo diante da eminente morte de Nice, e que eu só pude acompanhar a partir do segundo bloco, em março de 1998, por ter de ir da escola para a casa a pé.


Após Anjo Mau, o Viva nos brinda com a saga de José Inocêncio (Antonio Fagundes). Obra prima de Benedito Ruy Barbosa, conduzida de forma fantástica por Luiz Fernando Carvalho, Renascer certamente não emplacaria no horário nobre, nos dias de hoje. A novela se desenvolve morosamente. O capítulo de terça teve apenas quinze cenas; praticamente todas elas demasiadamente longas. E novamente, uma coincidência com trechos que eu havia acompanhado na primeira reprise da trama, em Vale a Pena Ver de Novo. Não com cenas específicas, como em Rainha da Sucata, mas no desenrolar de uma trama: a da menina de rua Teca (Paloma Duarte), que após ter se infiltrado na casa de José Inocêncio, alegando estar esperando um neto dele, passa a viver sob a suspeita de ser sobrinha-neta do senhor do cacau. Tal entrecho da sinopse envolve uma sequência na qual Teca e Inácia (Chica Xavier) visitam a casa em que viveu Maria Santa (Patrícia França) e Marianinha, irmã da esposa de Zé Inocêncio e avó de Teca, segundo se supõe. Na velha moradia, Teca vê o espírito da tia-avó e Inácia chega a conversar com Pai Boi (Cacá Carvalho) e Quitéria (Ana Lúcia Torre), pais de Maria Santa e Marianinha. Lembro claramente do capítulo da reprise que exibiu tais cenas e se encerrou com Teca e Inácia deixando a casa em uma velha carroça, logo após a empregada de José Inocêncio ter visto Quitéria em sua máquina de costura. Me impressionou, ao rever a novela depois de tantos anos, a forma como o misticismo norteia praticamente todo o desenrolar de Renascer.


Este texto, enfim, não agrega muito a quem gostaria de conhecer mais detalhes sobre as novelas. Trata-se apenas de comentários e lembranças televisivas deste colunista, que deixaram as lembranças estimuladas pelo ótimo conteúdo que o Canal Viva nos oferece. Que venham mais e mais programas e novelas de qualidade como os de agora. Viva o Viva!





sexta-feira, 17 de maio de 2013


Salve Jorge na segunda tela
Glória Perez fez a defesa de sua novela se tornar mais interessante do que a trama em si

por Duh Secco



Quando Salve Jorge estreou, escrevi um texto elogioso à nova trama de Glória Perez. O universo ficcional comumente criado pela autora para ambientar suas obras já sofria críticas prévias, tal e qual a escalação de Nanda Costa e de subcelebridades, como Thammy Miranda. Além, é claro, da indecorosa campanha dos evangélicos contra a obra, devido ao título da mesma, e da dificuldade em substituir uma trama imbatível como foi Avenida Brasil.


O tempo passou e Salve Jorge capengou na audiência ao longo de seus sete meses de exibição. Não que a novela não tivesse elementos para arrebatar o público. A abordagem do tráfico humano sempre fora extremamente interessante e contribuiu, como as pesquisas mais recentes acerca do tema mostram, para aumentar as denúncias em torno de situações semelhantes às vividas pelas traficadas da novela. O grande problema de Salve Jorge foi a incoerência com que Glória Perez conduziu sua trama e personagens. Ações improváveis, situações inverossímeis, desdobramentos que não condiziam com o que a novela havia apresentado anteriormente. Situações que alarmaram o público, hoje acostumado a acompanhar as novelas ao mesmo tempo em que comenta o que vê nas telas via rede social. E aí, se deu outro grande problema que comprometeu seriamente Salve Jorge, diminuindo a trama perante a imprensa, tamanha foi a sua repercussão: os embates de Glória Perez contra os críticos, sejam eles telespectadores comuns, a quem a autora distribuiu respostas atravessadas, ou jornalistas, acusados por ela de estarem sendo pagos para falar mal de sua obra. Glória se expôs em demasia ao sair em defesa de sua trama e abriu espaço para um interessante debate: até que ponto o contato entre autores e público, via redes sociais, é válido?


No caso de Salve Jorge, em específico, a interação de Glória com seus seguidores só serviu para alimentar ainda mais o falatório em torno dos muitos deslizes do roteiro. Erros que passariam batidos em outras tramas, aqui ganharam contornos exagerados, motivados pelo comportamento da autora em rebater aqueles que “não sabiam voar”, forma como Glória definiu aqueles que se preocupavam com as incoerências, em detrimento da trama em si. É fato que novela é obra de ficção e voar é preciso para embarcar nas fantasias propostas pelos autores. Não fosse assim, o público teria abandonado Senhora do Destino após a desastrosa passagem de tempo que iniciou a segunda fase da novela ou Avenida Brasil depois que Nina (Débora Falabella) se esqueceu de salvar as fotos comprometedoras que possuía de Carminha (Adriana Esteves) e Max (Marcello Novaes) em um pen-drive. Glória Perez abusou do direito de usar licenças poéticas em Salve Jorge. Algumas foram extremamente criticadas; outras passaram praticamente em branco. Mas todos comprometeram seriamente a estrutura do enredo e a coerência de seus personagens.


Os elementos falhos foram tantos que obrigaram Glória a criar uma novela paralela, via Twitter, na qual justifica os furos que a colcha de retalhos na qual Salve Jorge se transformou apresenta. Como exemplos, o momento em que o Mustafá (Antonio Calloni) auxilia Morena (Nanda Costa) a fugir da máfia, sem se recordar de que já a conhecia; o modo fácil com que a filha da protagonista, Jéssica, fora sequestrada, e mais fácil ainda a forma como o sequestrador foi encontrado no Alemão; e as já comentadas morte de Raquel (Ana Beatriz Nogueira) e a fuga de Morena do carro da polícia no momento em que este era alvejado pela quadrilha de Lívia (Cláudia Raia). Falsas expectativas foram criadas o tempo todo, como no momento em que Morena quase é atingida por um tiro disparado por Russo (Adriano Garib) ou quando Lucimar (Dira Paes) esperou o dia todo para agredir Wanda (Totia Meirelles) e no final, fora impedida por uma policial. Por outro lado, tramas que poderiam render bons momentos foram proteladas até o último instante, como a paternidade de Celso (Caco Ciocler), que resultaria em sequencias extremamente interessantes, não fosse a opção da autora de resolver tudo no último capítulo. Tal posicionamento impediu o telespectador de conferir melhores desempenhos de Stenio Garcia, Nívea Maria e Nicete Bruno, apenas alguns nomes dos muitos que foram desperdiçados ou simplesmente sumiram ao longo da novela. Mesmo o último capítulo foi cercado por incoerências, como a narrativa, não se sabe se "verdadeira" ou ficcional, que dizia que Théo (Rodrigo Lombardi) encontrou sua filha com a ajuda de São Jorge.


Além disso, houve uma deturpação no perfil de diversos personagens. Que Morena era uma mulher guerreira, todos sabiam. Mas daí a se envolver na investigação da Polícia Federal acerca do tráfico humano, a ponto de obter porte de arma, denotou certo exagero. Théo, de “o cara” só tinha mesmo a música, já que ao longo da trama, se deitou com praticamente todas as mulheres que o cercavam e nutriu um complexo de Édipo que o impediu de seguir a própria vida, longe dos domínios da mãe, Áurea (Suzana Faini). Aisha (Dani Moreno) buscou a família biológica durante toda a novela; aceitou Wanda, mesmo com esta estando presa, como mãe, mas rejeitou Delzuíte (Solange Badin) por esta ser pobre e moradora do Alemão. E Vó Farid (Jandira Martini), que começou a novela insana, terminou como sábia conselheira de todos os que a cercavam e temiam seu comportamento, no início.


Prova ainda maior da inconstância dos personagens de Salve Jorge fora dada na entrevista de Cláudia Raia do Domingão do Faustão, em que a atriz afirmava que Lívia Marini cairia em desgraça por conta do amor que nutria por Théo. Eis que Glória Perez entrou no ar, por telefone, dizendo que Lívia não estava apaixonada pelo capitão. O constrangimento foi inevitável e denotou um dos maiores problemas da novela: a que estava sendo levada ao ar não condizia com a trama que Glória mantinha em sua cabeça.


É óbvio que nem todos os erros da trama podem ser atribuídos à autora. A direção de Marcos Schechtmann perdeu o brilho ao longo de toda a exibição, investindo em sequências burocráticas e desinteressantes, o que acabou resvalando em outros setores de produção, tal e qual a continuidade, que cometeu deslizes que em Salve Jorge ganharam uma proporção maior do que em qualquer outra novela, tamanha foi a somatória de erros vistos enquanto a trama esteve no ar.


Mas nem tudo esteve perdido em Salve Jorge. O elenco fora o responsável pelo que a trama apresentou de positivo. Excelentes desempenhos de Giovanna Antonelli (Helô), Alexandre Nero (Stenio), Totia Meirelles (Wanda), Adriano Garib (Russo), Paloma Bernardi (Rosângela), Suzana Faini (Áurea), Letícia Spiller (Antônia), Bruna Marquezine (Lurdinha), Solange Badin (Delzuíte), Nando Cunha (Pescoço) e Roberta Rodrigues (Maria Vanúbia), de longe uma das melhores personagens da novela, desperdiçada pela má condução do roteiro.


E com isso, Salve Jorge se encerra. Um arsenal de boas ideias, cuja audiência não correspondeu como esperado; a crítica foi severa; viveu à sombra da novela anterior; e o público, impiedoso, se serviu das redes sociais para massacrar o enredo pouco elaborado que se via na tela. Disso tudo, pode se tirar uma única conclusão: o público quer voar, como Glória Perez pede, mas não está disposto a saltar sem paraquedas nessa escuridão em que Salve Jorge se configurou.



terça-feira, 23 de abril de 2013



Especial
Novelas que foram sem nunca terem sido
Parte V




Nosso especial repercutiu muito bem entre nossos leitores. O sucesso foi tanto que alguns desses leitores entraram em contato conosco para rememorar outras obras que ficaram só na intenção de seus autores e produtores. Tais projetos você confere agora, na quinta parte de nosso especial.


por Duh Secco


A Boa Da Night
De Patrícia Moretzsohn
Lembrada por Erivelton Moraes, via e-mail

A vida noturna do Rio de Janeiro e o comportamento dos jovens nesse ambiente serviriam de pano de fundo para a trama de Patrícia Moretzsohn, inicialmente intitulada Baladas e, posteriormente, A Boa da Night. O projeto, que corria sob o núcleo de Marcos Paulo, foi pensado inicialmente para a faixa das 19h. Diferentemente de Malhação, soap-opera da qual Patrícia fora responsável por duas temporadas, os jovens de A Boa da Night seriam mais adultos e viveriam nas zonas Sul e Oeste do Rio de Janeiro. Também no enredo a discussão em torno da febre das redes sociais, principalmente o Facebook. A Globo avaliou bem a sinopse, mas até o momento, não se dispôs a produzi-la.


A Saga do Zebu
De Walter Negrão
Lembrada por Rodrigo, via comentário no blog

Dono de uma fazenda com 2.000 cabeças de gado zebu (isso há dez anos), Walter Negrão escolheu seu rebanho como tema da novela das 21h que desenvolvia em 2003. A obra teria direção de Jayme Monjardim e seria ambientada na região sul do país. Como o projeto não foi adiante, Negrão utilizou sua pesquisa para desenvolver, ao lado de Maria Adelaide Amaral, a minissérie A Casa das Sete Mulheres. E com isso, A Saga do Zebu, título provisório de sua novela, não saiu do papel.


Buuu!
De Andrea Maltarolli
Lembrada por Fábio Dias, via comentário no blog

A onomatopéia associada aos sustos pregados por fantasmas intitularia a segunda novela solo de Andrea Maltarolli, apresentada pela autora à Globo logo após o término de Beleza Pura. Mas Andrea, infelizmente, nos deixou sem que pudesse levar seu trabalho ao público. Mas o texto pode ser levado ao ar em breve. Nos últimos dias, Patrícia Kogut, jornalista de O Globo, divulgou em seu blog a intenção do autor Silvio de Abreu em supervisionar seu habitual colaborador, Daniel Ortiz, no desenvolvimento desta sinopse.


O Descobridor dos Sete Mares
De Márcia Prates
Lembrada por Rodrigo, via comentário no blog

O alto custo de produção; a incompatibilidade de agenda do diretor; a impossibilidade do supervisor de texto assumir o roteiro, caso necessário. Tudo isso colaborou para que O Descobridor dos Sete Mares, novela de Márcia Prates que substituiria Tititi, em 2011, fosse cancelada. A autora já trabalhava nos primeiros capítulos quando a Globo impediu a continuidade do projeto. A trama, toda ambientada no interior de um navio, teria orçamento elevado demais. E seu diretor, Wolf Maya, estava envolvido com o seriado Na Forma da Lei, de Antonio Calmon. Mas o comentário nos bastidores era de que a emissora temia problemas de audiência devido ao roteiro pouco convencional da trama. Tempos Modernos, tentativa anterior de inovações às 19h, sucumbiu diante dos poucos apelos e da falta de sintonia entre o autor principal, Bosco Brasil, e seu supervisor, Aguinaldo Silva. João Emanuel Carneiro, que supervisionaria Márcia, não teria se disposto a assumir O Descobridor dos Sete Mares, caso a novela viesse a enfrentar infortúnios semelhantes aos de Tempos Modernos. Com isso, a trama, que parecia ótima pelas informações divulgadas até então, foi descartada em definitivo.


Velho Chico
De Benedito Ruy Barbosa
Lembrada por Erivelton Moraes, via e-mail

As dificuldades enfrentadas em Esperança, aliadas ao sucesso de seus remakes às 18 horas, devem ter sido fatores determinantes para a Globo ter arquivado Velho Chico, projeto de Benedito Ruy Barbosa para o horário das nove. Para a pesquisa da novela, o autor almejava navegar por todo o Rio São Francisco e assim conhecer melhor as populações ribeirinhas, de onde sairiam personagens de sua trama, que seriam atingidos pela transposição do rio. Acompanhando Benedito nesta viagem, estariam Edmara Barbosa, sua filha, e Eriberto Leão, provável protagonista da novela. A abordagem em torno da transposição também parece ter sido empecilho para o desenvolvimento da trama, já que o assunto resvalaria em questões políticas. Assim sendo, Velho Chico ficou pra depois.


Agradecimento especial aos leitores Erivelton Moraes, Fabio Dias e Rodrigo.



sexta-feira, 19 de abril de 2013



Especial
Novelas que foram sem nunca terem sido
Parte IV



Como nem só de novelas vive nossa dramaturgia, não poderíamos deixar de falar aqui sobre as minisséries que foram escritas, planejadas e acabaram não sendo executadas.

por Duh Secco


A Prometida (Manchete, 1990)
De Wilson Aguiar Filho

As dificuldades na produção de Amazônia, que a princípio abriria um segundo horário de novelas na Manchete, às 22h30, levaram a emissora a buscar alternativas para preencher tal faixa horária. Concebida como uma mininovela, A Prometida, texto de Wilson Aguiar Filho, se iniciaria em 1957 e terminaria nos anos 80. O universo esotérico de Brasília que. segundo muitos, está plantada sobre um imenso cristal energético, serviria como pano de fundo para a história que seria dirigida por Tizuka Yamasaki e teria Darlene Glória em seu elenco. O projeto fora abortado, junto com a estreia do tal segundo horário de novelas da Manchete.


O Terceiro Segredo (Manchete, 1991)
De Ronaldo Ciambroni

Amazônia seria novamente adiada em 1991, levando a Manchete a procurar soluções para substituir A História de Ana Raio e Zé Trovão. A minissérie O Terceiro Segredo estava programada para estrear às 21h30, em 12 de outubro, dia de Nossa Senhora e da chegada do Papa João Paulo II ao Brasil, em visita naquele ano. A história de 24 capítulos seria gravada em Portugal, numa coprodução com a Rádio e Televisão Portuguesa (RTP). No elenco, dirigido por Del Rangel, estariam Cláudio Marzo, Giovanna Gold, Maria Helena Dias, Tarcísio Filho, Ângela Vieira, Marcos Caruso, Jandira Martini e Ernesto Piccolo. Decidida a manter a data de estreia programada, a Manchete apressou a RTP para finalizar o acordo. Mas a emissora portuguesa se assustou com tamanha pressa e, sem tempo para estudar o projeto corretamente, acabou recuando. Assim, acabaram engavetando a trama da menina Lúcia, uma das crianças que testemunhou a aparição de Nossa Senhora de Fátima e que seria mantida, até os 80 anos, em clausura, junto ao Papa João Paulo II, para preservar o terceiro e último segredo de Fátima.


O Marajá (Manchete, 1993)
De Alexandre Lydia, Eloy Santos, José Louzeiro e Regina Braga

O impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, serviu de base para O Marajá, minissérie que a Manchete estrearia em julho de 1993. No centro da história, estariam personagens que remetiam aos envolvidos no desastroso mandato de Collor. Na trama, a jornalista Mariana (Júlia Lemmertz) investigava um misterioso plano do presidente, aqui tratado como Elle, de se manter no poder por mais de 30 anos. Alegando ter sua honra arranhada pela retratação de passagens de seu período como presidente, Collor conseguiu inviabilizar a exibição da minissérie, no dia da estreia. As fitas com os capítulos, que já estavam praticamente finalizados, sumiram da emissora. E nunca mais se teve notícias do Marajá...


O Cerco (Globo, 1994)
De Benedito Ruy Barbosa

Renascer se tornou um marco na dramaturgia brasileira. A sua primeira fase, brilhantemente escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, levou o autor a selecionar os atores José Wilker, Leonardo Vieira, Patrícia França, Cacá Carvalho e Fernanda Montenegro para um novo projeto. Wilker e Vieira seriam os protagonistas da minissérie que Benedito manteve engavetada por 15 anos e que contaria, em 26 capítulos, a saga de um fazendeiro que se via sob a mira de cangaceiros e dos “macacos”, como era conhecida a força policial que combatia Lampião no sertão baiano. Sabe-se lá por que o projeto não saiu do papel. Tempos atrás, Benedito e suas filhas apresentaram, novamente, uma sinopse intitulada O Cerco, também sobre Lampião.


Mar Morto (Globo, 1995)
De Aguinaldo Silva
Baseada na obra de Jorge Amado

Já falamos aqui sobre Mar Morto, uma minissérie que quase virou novela em 1995, e acabou se tornando mesmo uma trama das 21h em 2001, como Porto dos Milagres. Enquanto ainda era minissérie, a adaptação do romance de Jorge Amado seria dirigida pelo cineasta Fernando Meirelles, sob o núcleo de Carlos Manga, e registrada em 16 e 35 milímetros, como um filme. Contaria ainda com direção de fotografia de César Charlone, direção de arte de Yurika Yamasaki e produção executiva de José Roberto Sanseverino. Em 16 capítulos, a história desenvolvida por Aguinaldo Silva e Nelson Nadotti seria totalmente gravada na Bahia e teria Tereza Seiblitz como a protagonista Lívia, além da participação de Daniela Mercury, como Maria Clara. Mas Mar Morto, que comemoraria os trinta anos da Globo, acabou mudando de formato e ficando pra depois...


Sarau (Globo, 1996)
De Ivani Ribeiro e Solange Castro Neves

Antes de falecer, Ivani Ribeiro deixou dois textos para a Globo, a serem conduzidos por Solange Castro Neves, sua habitual colaboradora. O primeiro deles, Quem é Você, culminou com a substituição de Solange por Lauro César Muniz e, consequentemente, a saída da autora da emissora. Já Sarau, minissérie que seria produzida em 1996 (assim como a novela) nunca saiu do papel. A trama, passada no Rio de Janeiro dos anos 20, começaria com uma troca de cartas anônimas: Soares recebe um bilhete dizendo que sua esposa tem um amante e a mulher também é informada de uma traição do marido. Na tentativa de descobrir quem mandou as cartas, Soares programa um sarau em sua casa e Andrade, o melhor amigo do empresário, faz o desafio. O gozador Marcondes aceitaria, dando início à série de duelos literários, principal entrecho da minissérie, que duraria 12 capítulos. A novidade ficaria por conta da alternância de dois núcleos de personagens em cena: os que participariam do sarau e os que ilustrariam os contos lidos nas disputas; em sua maioria, obras de Machado de Assis. Para encarnar os tipos, nomes como Antônio Fagundes, Glória Menezes, Glória Pires, Jorge Dória, Patrícia Pillar e Tarcísio Meira foram cogitados.


Sociedade Secreta (Globo, 1996)
De Fernando Morais

Autor das biografias Olga e Chatô, o Rei do Brasil, Fernando Morais faria sua estreia como autor de TV na minissérie Sociedade Secreta, que resgataria a Revolução Constitucionalista de 32, movimento armado que questionava o autoritarismo do presidente Getúlio Vargas e exigia a redemocratização do Brasil. Promovido por militares e lideranças políticas de São Paulo, com apoio da oligarquia cafeeira, a revolta estourou no dia 9 de julho de 1932 e sucumbiu menos de três meses depois. O escritor prometera retratar, em cada um dos episódios da minissérie, fatos verídicos da época. No centro da trama, uma milionária paulista, mãe de três filhos: um rapaz que apoiava Getúlio Vargas; outro que defendia a sublevação de São Paulo; e uma moça dividida entre o amor de um jovem tenente gaúcho e um dândi de ancestrais ingleses. Haveria ainda um núcleo sobre a Burschenschaft, sociedade secreta que conspirava contra os getulistas. Co-escrita por Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, Sociedade Secreta deveria ter Regina Duarte encabeçando seu elenco. O projeto, infelizmente, não foi adiante e Fernando Morais, ainda, não teve a chance de estrear como roteirista.


Bala Na Agulha (Globo, 2001)
De Euclydes Marinho e João Emanuel Carneiro
Baseada na obra de Marcelo Rubens Paiva

Um traficante brasileiro, residente em Nova York, é obrigado a voltar para o Brasil depois de se envolver em um crime entre michês. A trama do livro Bala na Agulha, de Marcelo Rubens Paiva, serviria de base para a minissérie homônima de João Emanuel Carneiro e Euclydes Marinho, dirigida por Daniel Filho. A Globo reprovara a trama, por conta do entrecho da prostituição masculina e das drogas, tema que seria abordado no mesmo ano, em O Clone. A ideia foi engavetada e nada mais se falou sobre ela.


Nada Como Eu E Você (Globo, 2001)
De João Emanuel Carneiro

Ainda em 2001, João Emanuel Carneiro recebeu sinal verde para roteirizar o seriado Nada Como Eu e Você. A trama romântica seria escrita em parceria com Bruno Mazzeo e Cláudio Torres Gonzaga. Não se sabe por que nada mais foi divulgado sobre o projeto, que ficou na intenção.


A Imperatriz Do Café (Globo, 2004)
De Lauro César Muniz
Baseada na obra de Romaric Büel

Regina Duarte propôs, Lauro César Muniz roteirizou e Denise Saraceni dirigiria a minissérie baseada em O Lírio e a Quimera, obra de Romaric Büel. A mesma Regina estaria à frente do elenco deste projeto, intitulado A Imperatriz do Café. E tal e qual acontecera em Chiquinha Gonzaga, dividiria com sua filha Gabriela a principal personagem da trama. Ficção e realidade se misturariam para contar a história da nobre francesa que aos 17 anos, em 1848 (período da queda da monarquia na França), apaixona-se por um fazendeiro brasileiro que está em Paris para realizar negócios. Neste período, a jovem fica órfã e perde o tio que cuida dela. Sozinha, resolve fazer uma longa viagem até o Brasil em busca do seu grande amor. Aqui ela é muito bem recebida pelo imperador D. Pedro II e passa a freqüentar a corte, onde conquista respeito e amizade, apesar de continuar sendo uma mulher extremamente solitária. O projeto disputava a vaga para macrossérie de início de ano com outra obra, que também acabou engavetada, conforme relatamos a seguir.


O Capitão Mouro (Globo, 2004)
De Maria Adelaide Amaral
Baseada na obra de Georges Bourdoukan

O posto de macrossérie do ano esteve disputado em 2004. Além de A Imperatriz do Café, O Capitão Mouro também era candidata à vaga que acabou ocupada por Um Só Coração. Adaptação de Maria Adelaide Amaral, que também seria dirigida por Denise Saraceni, do livro de Georges Bourdoukan, O Capitão Mouro também unia personagens fictícios aos reais, ao narrar a saga do muçulmano Saifurdin, que teve sua embarcação atacada por piratas, sendo obrigado a sobreviver no mar, sobre um pedaço de madeira, durante dias. Resgatado pelo judeu Ben Suleiman, Saifurdin vai para Pernambuco, onde o irmão de seu mais novo amigo sofre problemas com a Inquisição. Assim, Saifurdin se afeiçoa à causa abolicionista e passa a lutar ao lado do lendário Zumbi de Palmares. Uma boa trama que também não foi adiante...


Ligações Perigosas (Globo, 2005)
De Gilberto Braga

Gilberto Braga e Dennis Carvalho repetiriam, em julho de 2005, a consagrada parceria de tantos sucessos. O projeto da vez era uma minissérie inspirada no romance Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, que já havia tido versões para o cinema americano (a mais famosa delas, com Glenn Close, Michelle Pfeiffer e John Malkovich). Na versão tupiniquim, Malu Mader daria vida à pervertida mulher que deseja atrapalhar o casamento de seu ex-marido com uma jovem virgem. A minissérie teria em torno de 15 a 20 capítulos, e contaria ainda com Fábio Assunção e Cláudia Abreu. Acabou não vingando.


Trilogia Do Poder (SBT, 2005)
De Doc Comparato

Uma não. Três minisséries foram jogadas para escanteio no SBT, de uma só vez. É bem verdade que, a princípio, apenas uma seria produzida. As duas posteriores dependeriam da recepção da primeira. O projeto de Doc Comparato, intitulado Trilogia do Poder, previa três produções ambientadas em locais que representaram diferentes fases da história do Brasil: O Palácio, O Catete e O Planalto. No centro das histórias, os “donos do poder” dentro destes lugares. A primeira minissérie seria estrelada por D. Pedro 1º, no período compreendido entre 1807 e 1820; na segunda, o Palácio do Catete, residência oficial de 18 presidentes do Brasil republicano, teria, entre seus moradores, Getúlio Vargas; e por fim, o Brasil dos anos 60 aos dias atuais, no Palácio do Planalto, em Brasília. Enquanto as minisséries não saiam do papel, Doc Comparato cuidara da adaptação da mexicana Os Ricos Também Choram. Mas, antes que seu trabalho pudesse ir ao ar, o autor fora desligado do SBT.


Nassau, Um Brasileiro (Globo, 2008)
De Maria Adelaide Amaral

Autora que mais desenvolveu macrosséries para a Globo, na década passada, Maria Adelaide Amaral propôs contar a trajetória de vida do príncipe de Nassau e a ocupação holandesa em Pernambuco, entre 1624 e 1654, em um projeto a ser exibido no início de 2008. Mas a Globo, que vinha da baixa repercussão de Amazônia: De Galvez a Chico Mendes, de Glória Perez, achou melhor engavetar a trama, considerada cara demais (os 51 capítulos foram orçados em R$ 66,3 milhões, mais do que uma novela das nove, na época). Maria Adelaide então adaptou o seu livro, Aos Meus Amigos, e levou ao ar um de seus melhores trabalhos, Queridos Amigos, em fevereiro de 2008, mês no qual as macrosséries, normalmente, já estavam em adiantada exibição. Dan Stulbach, que daria vida a Maurício de Nassau, protagonizou Queridos Amigos. Outros personagens históricos, como Calabar, D. Anna Paes e Andre Vidas de Negreiros estariam presentes na trama, tal e qual costumeiramente acontecera nos trabalhos anteriores de Maria Adelaide. Gravações no Recife e um navio de época, atracado em Nova York, também foram programadas. A direção ficaria a cargo de Carlos Araújo, Luiz Henrique Rios e Flávia Lacerda, com núcleo de Denise Saraceni.


Carmem (Globo, 2009)
De Maria Adelaide Amaral / Silvio de Abreu
(2006)

Os 100 anos de Carmem Miranda seriam comemorados com uma minissérie dirigida por Carlos Manga, escalado pela própria atriz e cantora, que disse ao diretor, de quem fora grande amiga: “Manga, quando quiserem contar a minha vida, que seja você o diretor”. Manga bem que tentou, mas a ideia não vingou. Mesmo tendo adquirido os direitos de Carmem, Uma Biografia, escrito por Ruy Castro, para servir de base para o roteiro, a Globo enfrentou problemas com os herdeiros de Carmem, que não queriam que determinadas passagens da vida da artista fossem retratadas na TV. O trabalho ainda sofreu com outra saia justa: Manga havia convidado Maria Adelaide Amaral para escrever os 40 capítulos da minissérie. Pouco depois, convocou Silvio de Abreu,com quem já havia planejado um filme sobre Carmem Miranda, anos antes. Tantos empecilhos acabaram deixando o centenário de Carmem passar em branco mesmo.


O Rebu (Globo, 2009)
De Carlos Lombardi
Baseada na obra de Bráulio Pedroso

Quem morreu? Quem matou? Por que matou? Questões que confundiam a cabeça do público que acompanhou O Rebu, novela de Bráulio Pedroso, exibida às 22h em 1974 e que quase voltaram a perturbar os telespectadores em 2009, numa nova versão, mais compacta (24 episódios), escrita por Carlos Lombardi. O projeto, entretanto, não seria veiculado aqui. A Divisão Internacional da Globo negociaria o roteiro com produtores do exterior e colaboraria na produção, tal e qual fez com novelas como O Clone e Dancin’ Days, em versões adaptadas para o mercado hispânico e português, respectivamente. Entretanto, a nova roupagem de O Rebu acabou não sendo vista por lá e nem por aqui.


Diário De Um Mago
Baseada na obra de Paulo Coelho

Se um projeto é engavetado apenas uma vez, isso já deve gerar uma decepção muito grande para o autor. Imagine então quando o mesmo é engavetado quatro vezes! Foi o que aconteceu com a adaptação do best-seller Diário de um Mago, de Paulo Coelho. Prevista inicialmente para o segundo semestre de 1991, a adaptação de Dagomir Marquezi, que seria protagonizada por Luiz Armando Queiróz, para o livro, foi adiada em virtude da neve que cobria o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, onde a Manchete gravaria algumas cenas, em parceria com uma produtora espanhola. A neve deve ter congelado totalmente os planos da emissora, já que o mesmo roteiro de Dagomir Marquezi foi parar na Globo, em 1993. E continuou no papel... Em 1998, Doc Comparato ensaiou roteirizar uma minissérie de 20 capítulos com base na obra. Uma pré-sinopse fora entregue e a Globo acenou seu interesse na compra dos direitos. Mas a produção foi considerada cara e só voltou a ser debatida em 2002, quando Paulo Coelho entrou para a Academia Brasileira de Letras. Os direitos foram enfim adquiridos e Antônio Carlos da Fontoura ficou encarregado pela roteirização da minissérie, de 04 capítulos. Mais uma vez, o alto custo inviabilizou as gravações. E Diário de um Mago acabou permanecendo na estante...

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Próximo Capítulo: nossos leitores rememoram outros títulos que foram sem nunca terem sido.  E as novelas que deixaram a gaveta! Confiram quais na penúltima parte do nosso especial.



terça-feira, 9 de abril de 2013


Especial
Novelas que foram sem nunca terem sido
Parte III



Sem ter a tradição de suas concorrentes em dramaturgia, a Band também já ensaiara produzir novelas que sequer saíram do papel. E mesmo a pioneira Tupi e a elitizada Manchete também se viram obrigadas a abrir mão de determinados projetos. É a terceira parte do nosso especial!

por Duh Secco


Band

Sempre que investiu em dramaturgia, a Band levou ao ar produtos de qualidade inquestionável, como Os Imigrantes e Paixões Proibidas. Foi de se lamentar todas as vezes que a emissora não levou ao ar suas novelas, deixando bons textos na gaveta.


Uma Rosa Com Amor (1995)
De Vicente Sesso

Em 1995, a Band ensaiava retomar a exibição de novelas. Para tanto, recorreu à produtora independente TV Plus que, no ano anterior, produzira 74.5 Uma Onda No Ar, para a Manchete. Na época, a TV Plus acertava com o autor Vicente Sesso a produção do remake de Uma Rosa Com Amor, sucesso exibido pela Globo em 1972, que contava com Marília Pêra como protagonista. A história de Serafina Rosa Petroni, a secretária solitária que enviava rosas para si mesma e de repente se via casando com o patrão, por conta de um acerto financeiro entre os dois, seria dirigida por Jayme Monjardim, que estava afastado da TV desde sua saída da Manchete, em 1991. Animado, Sesso já pensava no elenco da nova versão: Denise Fraga como Serafina e João Acaiabe como Pimpinoni. Curiosamente, Acaiabe daria vida ao velhinho que confeccionava marionetes na versão de Uma Rosa Com Amor levada ao ar pelo SBT, em 2010. O pretenso remake da Band fora preterido em prol de A Idade da Loba.


Milagres De Amor (1997)
De Regina Braga

Regina Braga não foi uma autora de muitos trabalhos. Mas, ao longo de sua carreira, teve passagens por diversas emissoras: Globo, Manchete e Band. Nesta última, auxiliou Alcione Araújo a desenvolver o roteiro de A Idade da Loba. Pouco depois, Regina fora convocada a desenvolver a novela que substituiria Perdidos de Amor. A autora apresentou quatro sinopses; dentre elas, Milagres de Amor, um novelão mágico, nas palavras de Regina, que evocaria a símbolos místicos, tendo tanto a aparição de Nossa Senhora, como de seu contraponto, o demônio. Anos atrás, na fictícia Rio das Pedras, Sônia se apaixonava por João, que acabava se casando com Ana. Inconformada com o fato de ser preterida, Sônia apela para os poderes de sua avó - uma praticante de magia negra - e conjura os poderes do mal para fazer com que Ana morra. O feitiço, no entanto, acaba não atingindo a moça e sim seu marido: João morre, deixando a mulher grávida. O ódio de Sônia perduraria através das gerações e acabará sendo revivido por Felícia (sua filha adotiva) e Cristina (filha de Ana e João). O excelente mote não foi adiante, já que a Band suspendeu temporariamente sua investida em dramaturgia e a parceria com a TV Plus.


Paixão De Gaviões (2008)
De Ecila Pedroso

Elenco competente, produção caprichada, texto seguro de Marcos Lazarini. Nada disso foi suficiente para emplacar Água Na Boca na audiência. A Band decidiu então investir em um texto importado: Pasión de Gavilanes, que havia sido exibido na Rede TV!, sem sucesso e sem chegar ao final, em 2004. Ecila Pedroso fora convocada para adaptar o texto, que seria dirigido por Del Rangel. O universo country serviria de pano de fundo para a trama, que fora cancelada durante a escalação de elenco. Os mais de 200 profissionais que compunham o departamento de novelas da emissora foram demitidos e a Band passou a procurar alternativas para se manter ligada à dramaturgia. Dentre elas, uma versão da minissérie Dona Flor e Seus Maridos, cujo roteiro seria desenvolvido por Bruno Barreto, a partir do momento em que a obra de Jorge Amado se encerrava. Tal produção também não fora adiante.

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Manchete

Sempre lembrada pela audaciosa Pantanal, que fez a líder Globo tremer, a Manchete nem sempre foi feliz em suas investidas na dramaturgia. Muitas de suas novelas não corresponderam como esperado e outras tantas ficaram só na intenção.


Flor De Cera (1991)
De Renato Teixeira

O músico e compositor Renato Teixeira, quem diria, já se aventurou pelos roteiros de uma novela. Flor de Cera, a trama escrita por ele, seria mais uma inovação de Jayme Monjardim, enquanto diretor artístico da Manchete.
O profissional, entretanto, se desligou da emissora e, enquanto tentava acertar os ponteiros com a Globo, continuou levando em frente o projeto desenvolvido por Renato. Flor de Cera lançaria a proposta de transformar o Pantanal em patrimônio mundial, e surgiu em torno da realização da Eco-92, que seria realizada  no Rio de Janeiro, no ano seguinte. A trama se iniciaria em 1993 e seria ambientada em Murundu, uma pequena cidade ideal que pertence ao Estado Ambientalista do Pantanal, patrimônio da humanidade fundado na Eco-92. O governador dessa cidade é Armandinho, político honesto e perfeito. Paralelamente, existiria Lebrina, uma aldeia de índios guaicurus, também localizada no Estado Ambientalista do Pantanal. Só que esta é uma cidade que o homem branco não conhece e seus habitantes, remanescentes dos Astecas e Incas, são considerados extintos. É que de tão avançados, desenvolveram uma barreira mental que impede as pessoas de chegarem lá. Lebrina é gerida por cinco mandamentos: amar as águas; proteger e defender a fauna; interpretar a flora; respeitar os ciclos da natureza e dignificar a vida. Ela tem três vilas com funções distintas: Jaci, onde se sente; Edith, onde se pensa, e Ondina, onde se faz. Tanta utopia exigia um grande investimento, que a Manchete não topou e a Globo também não quis. Resultado: Renato Teixeira e Jayme Monjardim não puderam levar o pretensioso projeto adiante.


Carrancas (1994)
De Regina Braga

Novelas violentas são as preferidas da Record, mas estão longe de ser novidade na TV brasileira. Muitos antes de Vidas Opostas, a Manchete subiu o morro com Guerra Sem Fim, trama voltada para o conceito novela-verdade, difundido pela Manchete nos anos 80, com Corpo Santo e Olho Por Olho. Em 1994, entretanto, a emissora dos Bloch desejava abandonar tal conceito, investindo em paisagens bucólicas, como a do rio São Francisco, local que serviria de cenário para Carrancas, de Regina Braga. O audacioso projeto narrava a trajetória de um bebê abandonado em um cesto, dentro do São Francisco, e encontrado por prostitutas. A história se encaminharia até o crescimento deste garoto, que passaria por cenários como Minas Gerais, Alagoas, Bahia e Sergipe, no intuito de descobrir sua origem. Como tal produção exigiria alto custo, a Manchete buscou parceria com uma produtora de cinema européia. O negócio não foi adiante e Regina Braga guardou a sinopse para apresentá-la a Band, anos depois. A emissora preferiu Milagres de Amor, da mesma autora, que também acabou não sendo produzida.


A Queridinha (1998)
De Walter Avancini

A pequena Debby Lagranha migrara para a Manchete em 1998 para apresentar o Clube da Criança, já em sua fase final. Debby turbinou a audiência da atração e se tornou a queridinha da emissora. Tanto que fora cotada para protagonizar uma novela, que levaria este título: A Queridinha. Projeto concebido a partir de um argumento de Walter Avancini, a trama se basearia em contos infantis ingleses e seria ambientada em 1805, o que facilitaria a confecção de cenários, já que seria possível aproveitar muita coisa utilizada em Xica da Silva, encerrada no ano anterior. Encabeçada por Debby, que interpretaria a órfã Mariana, A Queridinha estrearia em setembro, às 20h, não fosse o declínio pelo qual a Manchete passava, e que culminou com o encerramento das atividades no núcleo de dramaturgia, em outubro daquele ano, com o final narrado de Brida.

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Tupi

Uma das primeiras emissoras a investir em dramaturgia, a Tupi encerraria suas atividades em 1980, enfrentando problemas com a produção de suas novelas. Como Salvar Meu Casamento e Drácula foram interrompidas sem chegar ao final. Antes e depois destas produções, a Tupi interromperia o trabalho de outras novelas.


O Acidente (1977)
De Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu

Quando contratou os novatos Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu para seu setor de dramaturgia, a Tupi já se encontrava em declínio. Roberto Talma, então diretor artístico do canal, fora o autor da ideia que seria desenvolvida pelos dois novos contratados: um acidente aéreo e sua repercussão nas vidas dos personagens. Talma deixaria a Tupi, que colocaria Henrique Martins e Carlos Zara nas funções ocupadas pelo diretor. Contrários ao estilo inovador que Talma pretendia implantar na emissora, Henrique e Zara derrubaram a sinopse e encomendaram uma nova trama à Rubens e Silvio. Os dois sugeriram a adaptação de Éramos Seis, de Maria José Dupré, um dos últimos sucessos da emissora pioneira da TV brasileira. Em entrevista ao blog Sinopse Acabada, de José Vitor Rack, Silvio de Abreu relembra O Acidente:

A novela seria sobre um acidente aéreo, que transformaria completamente a vida das personagens. Rubens e eu gostamos da ideia e desenvolvemos a sinopse de uma novela que seria altamente inovadora, na época, porque seria contada em três planos de narrativa: antes das pessoas embarcarem no avião, durante a viagem e a conseqüência do acidente na vida dos que ficaram. Fizemos dez capítulos que foram prontamente aprovados pelo Talma, escalamos a novela e, infelizmente, Talma saiu da emissora.


Maria Nazaré (1980)
De Teixeira Filho

Mesmo diante de sua derrocada, a Tupi continuava a planejar suas novelas. Para substituir Como Salvar Meu Casamento, no início de 1980, a emissora recorreu ao experiente Teixeira Filho, que contaria com o auxílio de seu herdeiro, Cleston Teixeira, para escrever Maria Nazaré. Carlos Zara, que depois de ser diretor artístico da Tupi havia migrado para a Globo (onde atuou em Pai Herói), retornara para dirigir a novela, protagonizada por sua esposa, Eva Wilma (Maria Nazaré) e Carlos Augusto Strazzer (Fogaréu). Uma cidade cenográfica havia sido construída em Itu, para ambientar a história da moça que, na busca por um caminho espiritual, se apaixonava por um líder do cangaço. Cenas já gravadas serviam de instrumento para a divulgação da trama, que acabou tendo seus trabalhos suspensos antes que a Tupi fechasse as portas definitivamente, em 14 de julho de 1980.

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Próximo Capítulo: as emissoras já abortaram diversas minisséries também. Confira na penúltima parte do nosso especial!