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terça-feira, 9 de abril de 2013


Especial
Novelas que foram sem nunca terem sido
Parte III



Sem ter a tradição de suas concorrentes em dramaturgia, a Band também já ensaiara produzir novelas que sequer saíram do papel. E mesmo a pioneira Tupi e a elitizada Manchete também se viram obrigadas a abrir mão de determinados projetos. É a terceira parte do nosso especial!

por Duh Secco


Band

Sempre que investiu em dramaturgia, a Band levou ao ar produtos de qualidade inquestionável, como Os Imigrantes e Paixões Proibidas. Foi de se lamentar todas as vezes que a emissora não levou ao ar suas novelas, deixando bons textos na gaveta.


Uma Rosa Com Amor (1995)
De Vicente Sesso

Em 1995, a Band ensaiava retomar a exibição de novelas. Para tanto, recorreu à produtora independente TV Plus que, no ano anterior, produzira 74.5 Uma Onda No Ar, para a Manchete. Na época, a TV Plus acertava com o autor Vicente Sesso a produção do remake de Uma Rosa Com Amor, sucesso exibido pela Globo em 1972, que contava com Marília Pêra como protagonista. A história de Serafina Rosa Petroni, a secretária solitária que enviava rosas para si mesma e de repente se via casando com o patrão, por conta de um acerto financeiro entre os dois, seria dirigida por Jayme Monjardim, que estava afastado da TV desde sua saída da Manchete, em 1991. Animado, Sesso já pensava no elenco da nova versão: Denise Fraga como Serafina e João Acaiabe como Pimpinoni. Curiosamente, Acaiabe daria vida ao velhinho que confeccionava marionetes na versão de Uma Rosa Com Amor levada ao ar pelo SBT, em 2010. O pretenso remake da Band fora preterido em prol de A Idade da Loba.


Milagres De Amor (1997)
De Regina Braga

Regina Braga não foi uma autora de muitos trabalhos. Mas, ao longo de sua carreira, teve passagens por diversas emissoras: Globo, Manchete e Band. Nesta última, auxiliou Alcione Araújo a desenvolver o roteiro de A Idade da Loba. Pouco depois, Regina fora convocada a desenvolver a novela que substituiria Perdidos de Amor. A autora apresentou quatro sinopses; dentre elas, Milagres de Amor, um novelão mágico, nas palavras de Regina, que evocaria a símbolos místicos, tendo tanto a aparição de Nossa Senhora, como de seu contraponto, o demônio. Anos atrás, na fictícia Rio das Pedras, Sônia se apaixonava por João, que acabava se casando com Ana. Inconformada com o fato de ser preterida, Sônia apela para os poderes de sua avó - uma praticante de magia negra - e conjura os poderes do mal para fazer com que Ana morra. O feitiço, no entanto, acaba não atingindo a moça e sim seu marido: João morre, deixando a mulher grávida. O ódio de Sônia perduraria através das gerações e acabará sendo revivido por Felícia (sua filha adotiva) e Cristina (filha de Ana e João). O excelente mote não foi adiante, já que a Band suspendeu temporariamente sua investida em dramaturgia e a parceria com a TV Plus.


Paixão De Gaviões (2008)
De Ecila Pedroso

Elenco competente, produção caprichada, texto seguro de Marcos Lazarini. Nada disso foi suficiente para emplacar Água Na Boca na audiência. A Band decidiu então investir em um texto importado: Pasión de Gavilanes, que havia sido exibido na Rede TV!, sem sucesso e sem chegar ao final, em 2004. Ecila Pedroso fora convocada para adaptar o texto, que seria dirigido por Del Rangel. O universo country serviria de pano de fundo para a trama, que fora cancelada durante a escalação de elenco. Os mais de 200 profissionais que compunham o departamento de novelas da emissora foram demitidos e a Band passou a procurar alternativas para se manter ligada à dramaturgia. Dentre elas, uma versão da minissérie Dona Flor e Seus Maridos, cujo roteiro seria desenvolvido por Bruno Barreto, a partir do momento em que a obra de Jorge Amado se encerrava. Tal produção também não fora adiante.

***

Manchete

Sempre lembrada pela audaciosa Pantanal, que fez a líder Globo tremer, a Manchete nem sempre foi feliz em suas investidas na dramaturgia. Muitas de suas novelas não corresponderam como esperado e outras tantas ficaram só na intenção.


Flor De Cera (1991)
De Renato Teixeira

O músico e compositor Renato Teixeira, quem diria, já se aventurou pelos roteiros de uma novela. Flor de Cera, a trama escrita por ele, seria mais uma inovação de Jayme Monjardim, enquanto diretor artístico da Manchete.
O profissional, entretanto, se desligou da emissora e, enquanto tentava acertar os ponteiros com a Globo, continuou levando em frente o projeto desenvolvido por Renato. Flor de Cera lançaria a proposta de transformar o Pantanal em patrimônio mundial, e surgiu em torno da realização da Eco-92, que seria realizada  no Rio de Janeiro, no ano seguinte. A trama se iniciaria em 1993 e seria ambientada em Murundu, uma pequena cidade ideal que pertence ao Estado Ambientalista do Pantanal, patrimônio da humanidade fundado na Eco-92. O governador dessa cidade é Armandinho, político honesto e perfeito. Paralelamente, existiria Lebrina, uma aldeia de índios guaicurus, também localizada no Estado Ambientalista do Pantanal. Só que esta é uma cidade que o homem branco não conhece e seus habitantes, remanescentes dos Astecas e Incas, são considerados extintos. É que de tão avançados, desenvolveram uma barreira mental que impede as pessoas de chegarem lá. Lebrina é gerida por cinco mandamentos: amar as águas; proteger e defender a fauna; interpretar a flora; respeitar os ciclos da natureza e dignificar a vida. Ela tem três vilas com funções distintas: Jaci, onde se sente; Edith, onde se pensa, e Ondina, onde se faz. Tanta utopia exigia um grande investimento, que a Manchete não topou e a Globo também não quis. Resultado: Renato Teixeira e Jayme Monjardim não puderam levar o pretensioso projeto adiante.


Carrancas (1994)
De Regina Braga

Novelas violentas são as preferidas da Record, mas estão longe de ser novidade na TV brasileira. Muitos antes de Vidas Opostas, a Manchete subiu o morro com Guerra Sem Fim, trama voltada para o conceito novela-verdade, difundido pela Manchete nos anos 80, com Corpo Santo e Olho Por Olho. Em 1994, entretanto, a emissora dos Bloch desejava abandonar tal conceito, investindo em paisagens bucólicas, como a do rio São Francisco, local que serviria de cenário para Carrancas, de Regina Braga. O audacioso projeto narrava a trajetória de um bebê abandonado em um cesto, dentro do São Francisco, e encontrado por prostitutas. A história se encaminharia até o crescimento deste garoto, que passaria por cenários como Minas Gerais, Alagoas, Bahia e Sergipe, no intuito de descobrir sua origem. Como tal produção exigiria alto custo, a Manchete buscou parceria com uma produtora de cinema européia. O negócio não foi adiante e Regina Braga guardou a sinopse para apresentá-la a Band, anos depois. A emissora preferiu Milagres de Amor, da mesma autora, que também acabou não sendo produzida.


A Queridinha (1998)
De Walter Avancini

A pequena Debby Lagranha migrara para a Manchete em 1998 para apresentar o Clube da Criança, já em sua fase final. Debby turbinou a audiência da atração e se tornou a queridinha da emissora. Tanto que fora cotada para protagonizar uma novela, que levaria este título: A Queridinha. Projeto concebido a partir de um argumento de Walter Avancini, a trama se basearia em contos infantis ingleses e seria ambientada em 1805, o que facilitaria a confecção de cenários, já que seria possível aproveitar muita coisa utilizada em Xica da Silva, encerrada no ano anterior. Encabeçada por Debby, que interpretaria a órfã Mariana, A Queridinha estrearia em setembro, às 20h, não fosse o declínio pelo qual a Manchete passava, e que culminou com o encerramento das atividades no núcleo de dramaturgia, em outubro daquele ano, com o final narrado de Brida.

***

Tupi

Uma das primeiras emissoras a investir em dramaturgia, a Tupi encerraria suas atividades em 1980, enfrentando problemas com a produção de suas novelas. Como Salvar Meu Casamento e Drácula foram interrompidas sem chegar ao final. Antes e depois destas produções, a Tupi interromperia o trabalho de outras novelas.


O Acidente (1977)
De Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu

Quando contratou os novatos Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu para seu setor de dramaturgia, a Tupi já se encontrava em declínio. Roberto Talma, então diretor artístico do canal, fora o autor da ideia que seria desenvolvida pelos dois novos contratados: um acidente aéreo e sua repercussão nas vidas dos personagens. Talma deixaria a Tupi, que colocaria Henrique Martins e Carlos Zara nas funções ocupadas pelo diretor. Contrários ao estilo inovador que Talma pretendia implantar na emissora, Henrique e Zara derrubaram a sinopse e encomendaram uma nova trama à Rubens e Silvio. Os dois sugeriram a adaptação de Éramos Seis, de Maria José Dupré, um dos últimos sucessos da emissora pioneira da TV brasileira. Em entrevista ao blog Sinopse Acabada, de José Vitor Rack, Silvio de Abreu relembra O Acidente:

A novela seria sobre um acidente aéreo, que transformaria completamente a vida das personagens. Rubens e eu gostamos da ideia e desenvolvemos a sinopse de uma novela que seria altamente inovadora, na época, porque seria contada em três planos de narrativa: antes das pessoas embarcarem no avião, durante a viagem e a conseqüência do acidente na vida dos que ficaram. Fizemos dez capítulos que foram prontamente aprovados pelo Talma, escalamos a novela e, infelizmente, Talma saiu da emissora.


Maria Nazaré (1980)
De Teixeira Filho

Mesmo diante de sua derrocada, a Tupi continuava a planejar suas novelas. Para substituir Como Salvar Meu Casamento, no início de 1980, a emissora recorreu ao experiente Teixeira Filho, que contaria com o auxílio de seu herdeiro, Cleston Teixeira, para escrever Maria Nazaré. Carlos Zara, que depois de ser diretor artístico da Tupi havia migrado para a Globo (onde atuou em Pai Herói), retornara para dirigir a novela, protagonizada por sua esposa, Eva Wilma (Maria Nazaré) e Carlos Augusto Strazzer (Fogaréu). Uma cidade cenográfica havia sido construída em Itu, para ambientar a história da moça que, na busca por um caminho espiritual, se apaixonava por um líder do cangaço. Cenas já gravadas serviam de instrumento para a divulgação da trama, que acabou tendo seus trabalhos suspensos antes que a Tupi fechasse as portas definitivamente, em 14 de julho de 1980.

***

Próximo Capítulo: as emissoras já abortaram diversas minisséries também. Confira na penúltima parte do nosso especial!



2 comentários:

André San disse...

Muito bom o especial, li as três partes numa tacada só, saboreando cada palavra. Lembrava-me de várias dessas novelas que foram sem nunca ter sido, e não conhecia várias outras. Valeu pra relembrar parte desta história dos bastidores da TV, e ainda descobrir coisas novas. Valeu!
André San - www.tele-visao.zip.net

Anônimo disse...

A sinopse de "Flor de cera" me deixou boquiaberto, muito pretensiosa. Eu não conhecia essa possibilidade de adaptação de "Pasión de gavilanes". Acho que uma novela nesse estilo faria bastante barulho, independente da emissora.
Lucas - www.cascudeando.zip.net