Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011



K A D U   M O L I T E R N O






Carlos Eduardo, ou melhor, Kadu Moliterno tem uma longa relação com a TV. Estreou ainda garoto, aos 18 anos de idade, fazendo uma participação na primeira versão da novela As Pupilas do Senhor Reitor, em 1970, na Rede Record. De lá pra cá não parou mais, e nesses 41 anos de televisão construiu uma carreira de muitos personagens de sucesso.
Nos anos 80, deixou sua marca vivendo, juntamente com André de Biase, uma das duplas mais famosas da telinha: o Juba e o Lula da série Armação Ilimitada

Mas nem só a bermuda, a regata e a prancha de surf debaixo do braço fizeram parte dos figurinos do ator, que também já usou trajes de época para dar vida ao jovem Vasco de A Sucessora, roupas de peão de boiadeiro na pele de Zeca, o filho do diabo, em Paraíso, ternos sofisticados ao viver o mau caráter Gustavo Pellegrini de Pátria Minha, e até mesmo vestidos com armação ao interpretar a “senhora” Denaide em Bang Bang.

Kadu presenteou o “Agora” e nossos leitores com seu bom humor, e compartilhou momentos de bastidores, vividos nesses mais de 40 anos de história pra contar.



ENTREVISTA EXCLUSIVA




Guilherme Staush pergunta
1- Quais as lembranças que você tem de sua primeira participação em novelas na TV, quando interpretou Pedro das Dornas jovem, em “As Pupilas do Senhor Reitor”, em 1970, bem como de sua estreia na Globo, no último capítulo de Selva de Pedra, em 1972?

Tenho uma lembrança muito forte do diretor Dionísio Azevedo. Foi ele que me recebeu e disse: “Você é perfeito para o papel, só preciso saber se você fala. Você sabe falar?” Eu disse: “Sei, sim. Claro”. Ele me deu uma cena pra ler e chamou a Nádia Lippi pra me ajudar e contracenar. Nós lemos a cena e ele disse: “Fechado, garoto! O papel do Pedro é seu. Vamos assinar o contrato!”.

Ao lado de Arlete Salles: participação
no último capítulo de Selva de Pedra (1972).
Quanto à Selva de Pedra, me vem à cabeça o diretor Walter Avancini, que me recebeu no corredor do estúdio do Jardim Botânico, onde o produtor Nilton Cupello me apresentou: “Esse é Carlos Eduardo, ator de São Paulo, veio pra fazer o motorista Osvaldo”. Eu estiquei a minha mão para cumprimentá-lo e fiquei com a mão no ar. Ele ficou me olhando fixamente e disse: “corta o cabelo do garoto e em 15 minutos no estúdio”. Depois de algumas cenas com a atriz Arlete Salles, eu, sem querer, ouvi um comentário do Avancini, no fone do cameraman: “esse garoto é bom”. Pronto! Ali soube que estava na profissão certa!


Daniel Pepe pergunta
2-  Você fez várias novelas de Gilberto Braga, que também é o autor do prefácio de sua autobiografia "Reviva com Kadu Moliterno", onde ele se refere a você dizendo: "É, sem sombra de dúvida, um de meus atores preferidos." Qual (ou quais) dos personagens que o autor criou pra você são os que mais lhe marcaram?

Realmente o Gilberto Braga é um dos autores que mais acreditou em meu trabalho. Ele brigou por mim com o Dênis Carvalho, tentando convencê-lo de que eu faria bem o fotógrafo Bruno, na novela Água Viva, onde tive a honra e  prazer de contracenar com José Lewgoy, Tônia Carrero, além de, claro, Glória Pires. 
Outro personagem importante que Gilberto me deu foi em O Dono do Mundo, onde fazia par com Glória Pires.

Primeira parceria com Glória Pires: Bruno e Sandra
em "Água Viva" (1980).


Duh Secco pergunta
3- Ao lado de André di Biasi, você desenvolveu os personagens Juba e Lula, protagonistas de Armação Ilimitada. O sucesso do seriado estimulou vocês a apostarem na continuidade dos personagens em outras investidas televisivas, tanto na Globo, como o programa Juba & Lula, como em produções independentes. Entretanto, tais investidas não foram bem sucedidas. Acredita que tenham apostado demais em Juba e Lula ou que erraram na forma como conduziram os projetos?

Esses dois heróis me deram muitas alegrias, me fizeram viver grandes aventuras inesquecíveis.
A ideia de dar continuidade à dupla num programa diário foi da TV Globo, que buscava combater o programa da Angélica no horário das 17h.
Foi um projeto para as férias, que tinha apenas 15 minutos de aventura e 45 de uma gincana, que depois virou as olimpíadas do Faustão.
Tivemos uma proposta de um estúdio em SP para realizarmos de maneira independente um seriado com muita ação e aventura, e aceitamos fazer, pois os heróis não podiam morrer. Só que veio o Plano Collor, e acabou não só com o nosso sonho, mas também com o de todo o povo brasileiro.


Com André de Biase, parceiro de muitas aventuras em "Armação Ilimitada" (1985).


Guilherme Staush pergunta
4-  Você começou sua carreira de ator bastante cedo. Nesses 41 anos de televisão já interpretou papeis bem diferentes: o surfista garotão, o pai de família, um padre, e até uma "mulher". Acha que com o passar do tempo os papéis interessantes começam a ficar escassos? Acredita que a televisão dá melhores oportunidades ao ator quando ele é jovem?

Com Evandro Mesquita: Henaide e
Denaide em "Bang Bang" (2005).
Como você mesmo disse, eu fiz já todo o tipo de personagem, naveguei entre o drama e a comédia, e ainda tenho muitos trabalhos a desenvolver, pois os personagens vêm de acordo com a idade, de garotão a pai, e depois o vovô, que já esta batendo à porta...rsrs
Não acho que a TV dá os melhores personagens aos atores jovens. Eles fazem os papeis de protagonistas exatamente porque são jovens, e cabe aos atores mais experientes fazer os papeis que lhes cabem.
Acredito que quanto mais prestígio se tem, mais difícil ser escalado, pois o autor tem de ter um personagem a altura de sua história, e nem sempre acontece.



Daniel Pepe pergunta
5-  Uma das cenas mais emblemáticas de Pátria Minha (1994) foi a morte de Gustavo, na qual você contracenava com Eva Wilma, que fazia a sua mãe. A emoção de vocês foi tão forte e verdadeira que ultrapassou os limites da cena, como mostrado depois no Vídeo Show (veja o vídeo no final da entrevista). Isso é comum de acontecer? Você utiliza algum método para, da mesma forma que entra, sair das emoções dos personagens?

Com Eva Wilma: emoção além da cena
em "Pátria Minha" (1994).
A cena em que você se refere foi mesmo uma das mais intensas que já vivi em minha carreira, tanto que ainda é lembrada até hoje, e reprisada no Vídeo Show. Quando se contracena com uma grande e generosa atriz como Eva Vilma, tudo fica mais fácil. O texto do Gilberto Braga nos levou a uma emoção incontrolável, uma cena entre uma mãe e seu filho que morre segurando as suas mãos. As vezes é difícil mesmo sair por algumas horas da intensa emoção de um personagem, mas como tudo na vida, acaba passando. Não existe método pra isso quando se deixa levar pela verdade do sentimento de um personagem.



Duh Secco pergunta
6- Você experimentou personagens mais densos em minisséries como Anos Rebeldes e Memorial de Maria Moura. Mas teve poucos personagens em novelas com uma carga dramática semelhante aos que viveu nestas produções. Acredita que a TV tenha apostado pouco em você, limitando-o a determinados tipos de personagens?

As minisséries são sempre mais elaboradas, pois são obras fechadas, enquanto as novelas mudam de acordo com o gosto do público e do ibope, mas mesmo assim fiz personagens bastante densos e importantes nas novelas como em Paraíso, o José Eleutério (o filho do diabo), o Rodrigo em Anjo Mau, entre outros. 


Com Cristina Mullins: a santinha e o filho do diabo, em "Paraíso" (1982).


Duh Secco pergunta
Com Alessandra Negrini
no remake de "Anjo Mau" (1997).
7- Durante a novela Anjo Mau, você declarou ao Estado de São Paulo (02 de novembro de 1997): “Nunca fui de ver novelas. Eu as detesto, mas as faço com a maior seriedade. É um formato ultrapassado, longo demais”. Você mantém essa opinião? Acredita que a TV deva apostar em outros formatos e que o público irá se fidelizar a estes da mesma forma que se fidelizou as novelas?

Em time que está ganhando não se mexe. As novelas já atravessaram várias décadas com esse formato longo, e o povo brasileiro sempre foi fiel.
Já existem novelas que reduziram de 180 capítulos para 60 capítulos, acredito que estão dando certo. O que mais me intriga é que as novelas no Brasil são ainda para o brasileiro como o arroz e o feijão e o futebol. Não podem faltar.



Guilherme Staush pergunta
8-  Você e a atriz Glória Pires formam um dos pares românticos mais recorrentes da teledramaturgia: Água Viva, As Três Marias, Partido Alto, O Dono do Mundo e Anjo Mau. A que você atribui tamanha frequência? Como foi fazer todos esses trabalhos com a atriz?

Culpa do Gilberto Braga...rsrs  Realmente a química sempre existiu entre nós. Eu e a Glorinha já casamos várias vezes nas novelas, ela é uma das maiores atrizes de sua geração e sempre será uma grande amiga e colega. Na verdade, ainda espero poder voltar a trabalhar com ela. Acredito que nosso ciclo ainda não acabou.

Stela e Rodolfo: mais uma parceria com Glória Pires,
em "O Dono do Mundo" (1991).




VÍDEO

PÁTRIA MINHA (1994) - Gustavo (Kadu Moliterno) causa um acidente envolvendo Estér (Patricia Pillar), do qual acaba sendo vítima também. Nos bastidores, Kadu Moliterno e Eva Wilma se emocionam de verdade.


Vídeo: Memória da TV


***


9 comentários:

Juliano G. Bonatto disse...

Grandes trabalhos na TV, destaco o Neco de Cabocla, o Zeca de Paraíso e o Gustavo de Pátria Minha.
Kadu precisa fazer um novo trabalho com o Gilberto, que sempre deu boas oportunidades pra ele.

Kleiton Alves Hermann disse...

Ficou durante muito tempo com a imagem de surfista garotão, mas com o tempo amadureceu e provou que é um ótimo ator, sobretudo com as personagens do Gilberto Braga. Gostei do padre que ele fez em Memorial de Maria Moura também.

Abraço.

Telinha VIP disse...

Inesquecível em O Dono do Mundo , Água Viva, Cabocla , Paraíso, Pátria Minha e Anjo Mau, sem contar o sucesso de Armação Ilimitada.

Mais uma ótima entrevista do blog!

Bjs

Juliano G. Bonatto disse...

Muito legal! Kadu e Glorinha Pires são um casal perfeito nas novelas!

Juliano G. Bonatto disse...

Armação Ilimitada é um dos últimos programas inovadores na TV. Tem a marca dos anos 80: sequências rápidas videoclipadas. Depois dele pouco se viu em matéria de inovação.
Um dos maiores acertos da TV.

Parabéns pela ótima entrevista. Sou fã de Juba, Lula, Zelda e Bacana.

Anônimo disse...

E volta e meia ele faz Malhação, hehehe... Engraçado como o tempo parece não passar pra ele... E eu não lembrava de tantos pares com a Glória Pires. Parabéns pela entrevista.
Lucas - www.cascudeando.zip.net

FABIO DIAS disse...

Kadu ótimo ator!
Muito boa a entrevista, pra variar né!
Abraço meninos.

Fábio
www.ocabidefala.com

Josué Palácios disse...

Guilherme,

Parabéns por mais uma bela entrevista, sempre sensacional.
Obrigado pela dica em postar trechos da mesma no blog "Memorial Gloria pires", os fãs de ambos agradecem.

edu vieira disse...

ele fez um belo e divertido par com a Arlete Salles em A Sucessora como o marido fantoche de Germana..os dois soberbos em cena, aliás amo as novelas das seis que ele participou Paraíso, Cabocla. E fez um lindo casal com a Betty Lago em Anos Rebeldes! Santos Gilberto Braga! tomara mesmo que este lembre dele em sua próxima novela.