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segunda-feira, 2 de maio de 2011



A ARTE QUE VEM DA ALMA


por Ivan Gomes





Escrevo esse texto com a voz de Yara Amaral representando Áurea na novela Dancin’ Days, através da maravilha que é o Youtube. Paro em alguns momentos de escrever para, além de ouvir sua voz, poder ver seu rosto, sua intensidade, sua entrega.

O talento de Yara Amaral me arrebatou em 1986 na minissérie Anos Dourados, de Gilberto Braga. Ela vivia Dona Celeste, mãe da protagonista Lourdinha (Malu Mader). Eu tinha medo daquela mãe, medo daquela hipocrisia, medo dos medos dela, mas ficava hipnotizado diante de tanta força dramática. Um bom ator consegue tirar leite de pedra de textos medíocres, mas diante de textos primorosos (como foi o de Anos Dourados), uma atriz do porte de Yara faz misérias, deita e rola, se transforma em outras, se multiplica.

Yara não representava apenas quando estava com a deixa, ela sentia também cada palavra vinda dos atores e a
trizes que contracenavam com ela. Cada palavra uma reação, um mexer de sobrancelha, um olhar na medida certa, na vivência do que lhe foi proposto, sentindo, de acordo com seu personagem, o que é dito pelos parceiros de cena.

Não era atriz de um tipo só. Em 83 já tinha dado vida a Nieta - de Guer-ra dos Sexos -, uma personagem de tintas cômicas mais carregadas, fortes, no limite da caricatura. Como ri com ela! Como ela poderia estar aqui do lado! Como ela poderia ser a minha vizinha! Como ela poderia vir bater a porta da minha casa e pedir uma xícara de açúcar para seus bolinhos de chuva! Porque mesmo com toda a comédia da novela, Yara criou uma verdade, uma vida, absorveu do texto tudo o que podia, para fazer daquele barro, daquela costela, sua Nieta.

Em 88 mais uma densidade: a Dona Joana de Fera Radical. Novamente uma mãe. Essa, temerosa que o mundo que tinha criado desabasse, desconfiada com razão da intrusa que se metia em sua família. Não era diabólica. Era mais perigosa. Não ria de suas maldades. Os tons eram mais pra baixo, mais desafiadores pra seus oponentes. Coisas de grande atriz.

Yara se foi, em circunstancias dramáticas: no naufrágio do Bateau Mouche. Mas na minha vida ela continua como uma das maiores atrizes desse país, como um dos maiores talentos que pude ver na televisão. Sinto falta de seu talento e de sua força interpretativa. A ela e nessa singela homenagem, deixo o meu aplauso; e a vocês, que leram essa postagem, a cena que estava vendo, ouvindo e saboreando, saudoso e orgulhoso de aplaudir tão precioso talento.


11 comentários:

Daniel Pepe disse...

Diva! Minha atriz favorita de todos os tempos.

Eu não teria escrito um texto melhor.

Excelente homenagem para uma mulher que merece todas.

Nilson Xavier disse...

Mesmo quem não a conheça, é impossível ficar imune à cena de Dancin´Days do video acima.

Elogiar mais é chofer no molhado.
Lembro de Yara ainda em dois outros trabalhos da época: "Sol de Verão" e "Um Sonho a Mais".

Mas Áurea, Nieta, Celeste e Joana ficarão para sempre em nossas memórias.
E corações.

edu vieira disse...

Faltam atrizes com essa carga dramática hoje em dia! Ainda lembro como ela me surpreendeu com a Nieta, pois só vinha de papéis mais densos, sempre com um tom acima . Adoro as cenas de loucura e liberação da Ester.

Eddy Fernandes disse...

Difícil pôr em palavras tudo que passou na minha cabeça enquanto lia esse texto. É impossível ficar indiferente à essa declaração de amor a Yara Amaral, tão bem escrita pelo Ivan.

Atriz de talento inconteste, me arrebatou na minissérie "Anos Dourados", com sua rígida Celeste. Lamento muito não ter assistido "Guerra dos Sexos" e "Fera Radical", dentre outros trabalhos emblemáticos. Essa sequência de "Dancin Days'' me reanimou a voltar a baixar a novela.

Infelizmente, Yara partiu cedo, no auge de sua maturidade profissional e deixou todos nós, seus fãs, órfãos. No panorama atual, que prioriza a beleza em detrimento do talento, atrizes como essa fazem uma puta falta.

Homenagem merecida.

O Vitor viu... disse...

Ivanzito, texto maravilhoso e merecidíssima homenagem a essa verdadeira gigante da arte de interpretar. Yara sabia ser superlativa e se agigantava também nos minimalismos. Vc foi perfeito em seu texto. Quanta falta ela nos faz, juntamente com Lilian Lemmertz e Dina Sfat. Eternas!

Mario Mendes disse...

Sonia Braga se borrou toda! For real! Hahahahahahahaha!

Amanda Aouad disse...

Homenagem mais que merecida. Grande atriz, grandes papéis.

Walter de Azevedo disse...

Ivan, que texto maravilhoso!! Expressa toda a sua (a nossa) emoção diante do talento de Yara Amaral. Anos Dourados, Fera Radical, Guerra dos Sexos, Dancin' Days. Quantas cenas inesquecíveis!
Yara é uma atriz da constelação. É daquelas que aparecem só de vez em quando. Uma grande dama!

Anônimo disse...

CAraca! Estou perplexo, embasbacado diante de tantas palavras que enaltecem o talento dessa grande atriz, uma deusa, a ela sim o merecido posto de " A GRANDE DAMA DO TEATRO BRASILEIRO"! Qualquer close em um olhar de Yara Amaral valia mais que dez páginas de texto, isso vale para a sua memorável atuação na pele da Áurea de Dancin' Days, a Sofia de Sol de Verão, A Celeste de Anos Dourados, e a terrível e magistral vilã Joana Flores de Fera RAdical! YARA AMARAL, a vc o nosso aplauso! Saudade eterna - Luciano Lyra - Brasília-DF

Jorge Fortunato disse...

Um texto que diz tudo sobre a grande Yara amaral, que atriz! Não perco a reprise de Anos Dourados - série ótima - por conta dessa atriz. Faz muita falta.

Efe disse...

Belo texto, Ivan, declarou com maestria e de maneira bem autoral toda a admiração pela grandiosa Yara Amaral.
Infelizmente não pude acompanhar todos os marcantes trabalhos citados no texto, mas graças ao Canal Viva conheci Anos Dourados. Impossível não se impressionar com a energia, a vivacidade, o olhar pentrante e toda a verdade com que Yara retratou aquela mulher hipócrita, opressora e exageradamente temente às convenções moralistas dos anos 50.
Yara realmente, em apenas poucas cenas vistas em vídeos esparsos e na minissérie Anos Dourados, me mostrou o que é a arte de interpretar com corpo e alma.
Saudosa atriz.
E que o Canal Viva nos dê a oportunidade de ver/rever a vilã Joana.
Mais uma vez, parabéns pelo belo texto Ivan!