Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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segunda-feira, 11 de julho de 2011


Tevenossaurus baixariensis
por Fernando Russowsky


“Acusamos Grande Otelo de ter se dedicado a uma vida de boemia, não se permitindo amealhar o suficiente para uma velhice honrosa e honrada para quem tanto fez de bom pelas plateias do Brasil. [...] Acusamos Grande Otelo de profissional irresponsável, já tendo deixado de cumprir um verdadeiro corolário de compromissos, em consequência de bebedeiras e ressacas. Acusamos ainda Grande Otelo de agressor de homens e mulheres, quando penetra em suas fases emocionais negativas”. Estas palavras foram ditas pela “acusação”, no início de uma das edições do Quem Tem Medo da Verdade?, programa apresentado pela TV Record entre fins da década de 1960 e início da de 1970. O programa consistia em uma espécie de sessão de julgamento, cujo “réu” era uma personalidade famosa e polêmica que, durante as cerca de duas horas de exibição, era interrogada, acusada e defendida para, no final, os jurados chegarem a um veredito: culpado ou inocente. O vídeo abaixo, trecho do Arquivo Record, explica o funcionamento e mostra trechos da atração:

Aqui, Grande Otelo é “julgado”:



Trecho no qual o jurado Clécio Ribeiro (ou seria Cléssio?), entre baforadas de seu cigarro, condena Grande Otelo por causa da bebida (não me perguntem quem é Clécio Ribeiro...):

Entre os jurados, não poderia faltar um digníssimo representante da Santa Madre Igreja. O padre Aristides estava lá para zelar pela moral e pelos bons princípios cristãos. No vídeo abaixo, discute com Roberto Carlos sobre o amor. Sobre o artista pesava a acusação de “influenciar negativamente a juventude brasileira com sua maneira de trajar”:

Há outras postagens, o negócio é ir clicando, um vídeo puxa outro. Para mim, o grande valor destes trechos é histórico, e não propriamente do programa. São alguns dos mais antigos registros televisivos que se tem notícia. Além disso, revelam um dado muito interessante: a ideia de levar ao ar atrações que vivem de expor pessoas a situações vexatórias e constrangedoras, largamente aplicada a partir dos anos 90 do século passado, vem sendo usada há bem mais tempo. Em termos mais rudes, pode-se dizer que a baixaria é coisa antiga na nossa televisão.
A despeito do tom sensacionalista, é curioso notar que a estrutura, baseada em trocas de argumentos e dando a quem estava na berlinda o direito à ampla defesa, e a linguagem do programa, bastante culta, demonstram um certo grau de erudição que, creio eu, era inerente à própria televisão da época. E que foi se perdendo no passar das décadas. Aparentemente, todos os participantes do Quem Tem Medo da Verdade? sabiam, ao menos, ler e escrever... Mas isto não é suficiente para eu absolver a atração. Segundo meu juízo, o programa tem qualidades mas é um dos precursores da linha trash. Por isso, o condeno e o declaro um “dinossauro da baixaria”. Aproveito o ensejo e condeno também a TV brasileira, por ter se permitido nivelar por baixo e, no caso dos programas ditos populares, ter herdado dos antigos o que tinham de pior.

3 comentários:

Line disse...

Esse Clécio Ribeiro não devia ser muito fácil. No site Memorial da Fama, na parte que fala da Márcia de Windsor, ele é citado:
"Em 1972, por causa de uma violenta agressão que recebeu do jurado Clécio Ribeiro, a atriz resolveu abandonar o programa de Flávio Cavalcanti. Amiga de longa data do apresentador, mesmo assim recusou-se a continuar julgando, em face do acontecimento. Depois, acabou voltando a participar de outro programa de Flávio, tendo sido aclamada por todos, que a receberam de pé. Com grande emoção, Márcia recitou um poema de amor e solidariedade. Márcia de Windsor faleceu aos 47 anos, em 4 de agosto de 1982."
http://www.memorialdafama.com/biografiasMP/MarciadeWindsor.html

José Marques Neto disse...

Fico com a sensação de puro saudosismo, mesmo sem ter acompanhado esses programas qdo foram exibidos.

Frase memorável:
"Lamento que não existam novos palavrões, pq os que já tem estão extremamente cafonas" (Aracy de Almeida) huahauhauhuuhu

Mauro Barcellos disse...

Não conhecia esse programa. É bom pra gente ver que a televisão herdou muito do lixo de antigamente. Nem tudo de ruim é privilégio de nossos produtores atuais.