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quinta-feira, 22 de setembro de 2011



O obscuro final dos anos 90
por Daniel Pepe

 




A segunda metade da década de 90 representou um período peculiar na história das telenovelas da Globo. Com a concorrência de programas e telejornais populares como o Ratinho Livre e o Cidade Alerta da Record, a emissora perdeu boa fatia do seu público. Ameaças à hegemonia global já haviam acontecido em datas isoladas nos anos 70 e 80 e mais tarde com mais intensidade no início da década de 90, com as novelas mexicanas e o telejornal Aqui Agora do SBT. Entretanto, esses fenômenos atingiam apenas determinadas atrações, como a novela O Dono do Mundo e o Jornal Nacional - incomodados por Carrossel em 1991 - e a novela O Mapa da Mina - ameaçada pelo Aqui Agora em 1993 - ressaltando que a evasão do público nesses casos deu-se também pela rejeição às novelas e não apenas propriamente pelos programas concorrentes. Mas em pouco tempo, a Globo retornava à sua tranquila liderança.


 
A partir de 1995, a audiência das novelas passou a cair consideravelmente ano após ano, como pode ser observado nos gráficos. Mais do que isso, a repercussão já não era mais a mesma. Os horários das seis e das sete foram os mais atingidos. As exceções ficam para Anjo Mau e Corpo Dourado, que recuperaram a audiência, que tornou a cair em seguida. Talvez o estranhamento a essa mudança, se dê porque até a década anterior o assunto "novela" era quase unanimidade, quase todos assistiam. Mesmo que não acompanhassem, as pessoas sabiam qual era a novela das oito, os personagens marcantes. O que não estava acontecendo mais.

Audiência média das novelas das 18h entre 1995 e 2000
Fonte: Ibope


É importante ressaltar que esse êxodo de telespectadores não necessariamente estava ligado à qualidade das obras. Assistindo hoje, muitas podem ser consideradas boas, até melhores que algumas que têm feito sucesso. Pode-se dizer que muitas daquelas novelas fariam sucesso hoje, ou teriam feito no passado. Foram novelas certas na época errada. 

Audiência média das novelas das 19h entre 1995 e 2000
Fonte: Ibope

O ápice da crise deu-se em 1999 com as novelas dos três horários em baixa: Força de um Desejo, Andando nas Nuvens e Suave Veneno. Com a grande queda de uma década para outra, era até comum ter dúvidas quanto a como seria o panorama teledramatúrgico dali a dez anos, por exemplo. No entanto, já no ano seguinte, a trinca O Cravo e a Rosa, Uga Uga e Laços de Família reverteu a queda. No horário das seis, Esplendor já não havia feito feio e às oito, Terra Nostra foi bem, apesar de alguns percalços do meio pro fim devido ao seu esticamento. 

Audiência média das novelas das 20h entre 1995 e 2000
Fonte: Ibope



A partir de então, os programas populares das outras emissoras continuaram, alguns incomodando mais, outros menos, mas não se viu mais uma crise contínua como naquela segunda metade dos anos 90. Problemas pontuais em todos os horários existiram, inclusive uma queda nos números, primeiramente lenta, mas depois mais gradual, no horário nobre, já revertida. Mas nada que pusesse em cheque a liderança do horário. As novelas atuais apresentam tranquilidade para a emissora, de onde pode-se imaginar um panorama de existência dos três horários de novelas para daqui a dez anos, diferente do que ocorria antes. Mas tudo é possível, basta apenas uma novela errada ou alguma novidade importante na concorrência para deflagrar outra crise que venha alterar o quadro a que estamos acostumados desde os anos 70. Essa crise do final dos ano 90 e a atual situação mostra que, apesar dos sinais de instabilidade existentes naquela época, o gênero telenovela não morre tão cedo.

10 comentários:

FABIO DIAS disse...

A repercussão de uma novela é sempre um ponto de interrogação. Nem os mais experientes autores andam acertando. O público está cada vez mais exigente. Agradar a todos é uma tarefa árdua e quase impossível. Uma novela 100%, faz tempo que não aparece também!


Adorei o texto e os gráficos!!!
Abraço Dani

Nilson Xavier disse...

Este tipo de análise eu gosto.

Isolada, um fragmento de uma época.
(acho errado quando comparam novelas entre décadas).

Que venham mais análises de outros períodos!

Dan FM disse...

Muito bom esse panorama sobre as novelas da década de 90! Rico em detalhes e bastamte informativo! Parabéns, Daniel!

Mauro Barcellos disse...

Muito bons esses gráficos. Realmente foi uma épooca em que a telenovela teve suas maiores concorrências. Fou o boom do SBT. O Dono do Mundo foi bastabnte rejeitada por conta de seu mote principal. A novela tinha muitos defeitos.

Kleiton Alves Hermann disse...

Adoro informação sobre audiência nas novelas. Espantosa a audiência de Corpo Dourado. Não sabia que tinha dado tanto.Isso explica a reprise.

Raquel Ebert disse...

Será que alguém já considerou a influência da TV a cabo que chegava com força no Brasil no fim dos anos 90? Eu mesma parei de ver novela em 97 quando instalei NET em casa. Alguém já relacionou as estatísticas?

Daniel Pepe disse...

"Nunca sem batom": certamente a TV a cabo influenciou na audiência da TV aberta, mas não a ponto de se verificar grandes mudanças. A porcentagem de telespectadores dos canais pagos era bem pequena em relação aos abertos naquela época. Esses números de queda da Globo foram causados mais pela concorrência de outros canais abertos mesmo.

Anônimo disse...

Que bela análise Daniel Pepe! É do tipo relevante que traz dados consolidados. Gostei do seu ponto de vista.

André San disse...

Interessante resgate. Muitos fatores devem ser considerados nestas comparações, como bem ressaltou o texto. E se tivemos novelas boas, porém de baixa audiência, que "eram certas em momento errado", será que podemos dizer que temos a "novela errada em momento certo"? Morde & Assopra é um sucesso incontestável de audiência, mas de qualidade duvidosa de texto...
André San - www.tele-visao.zip.net

Fábio Costa disse...

Parabéns, Daniel, pela análise muito boa focada nesse período bastante atribulado por que passou a teledramaturgia nos anos 90, do meio pro fim da década em especial.

Além de rejeições pontuais do público às novelas em si e da concorrência de vez em quando conseguir sucesso em horários que incomodam a Globo - não apenas os das três novelas principais -, a inegável ascensão de outras formas de entretenimento dos anos 90 pra cá contribui bastante para a queda da audiência das novelas, ao menos na televisão. Em tempos de se assistir novela e TV em geral pela internet, pelo telefone, o que tem de ser revisto não são apenas as "metas" de cada horário, mas a forma pela qual o público acompanha a sua novela preferida. Não se deixou exatamente de ver novela, se deixou de ver a novela na televisão, e isso foge a muitas análises dos homens que decidem a coisa.