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terça-feira, 29 de novembro de 2011










III Obitel (Observatório Ibero-Americano de Ficção Televisiva)

por Daniel Pepe


Nos últimos 21 e 22 de novembro foi sediado em São Paulo o III Obitel, evento que envolve pesquisadores e estudiosos universitários nacionais e internacionais de onze países, tendo como coordenadora, aqui no Brasil, a Profa. Dra. Maria Immacolata Vassallo de Lopes (ECA-USP). O objetivo do encontro, que ocorre em intervalos de até dois anos, é apresentar estudos de ficção seriada em geral, tratados de forma acadêmica. A análise das produções televisivas apreciada sob a ótica de conceitos científicos merece atenção e dedicação tanto quanto a análise de outras áreas do conhecimento humano, por proporcionar, entre outras coisas, o estudo de comportamento dos telespectadores em determinada época e sua evolução no tempo.

O tema deste encontro foi “Ficção Televisiva Transmidiática no Brasil: plataformas, convergências, comunidades virtuais”, promovido pelo Globo Universidade e pela Universidade de São Paulo. Foram dois dias onde oito equipes compostas cada uma por pesquisadores seniores, seus mestrandos, doutorandos e bolsistas de iniciação científica apresentaram seus trabalhos realizados num período específico que permitisse o estudo detalhado de cada caso.

Ao centro, a Profa. Maria Immacolata
Na mesa de abertura, foi acentuada a importância de se compor uma rede nacional de pesquisadores, possível com a busca de novos aliados dispostos a estudar telenovelas, para que também seja suprida a falta de pesquisas na área. Ressaltou-se ainda a internet como ferramenta de interatividade dos telespectadores nas comunidades virtuais, objeto de estudo de algumas das equipes.

Em seguida, Mario Carlón (Universidad de Buenos Aires) comparou as telenovelas com as séries americanas. Nas primeiras nota-se a predominância de temas clássicos, tais como: amor/desamor, relações familiares, vingança, traição, dramas de identidade, etc.; enquanto que nas séries, sobretudo na última década, narrativas mais complexas foram experimentadas em séries como Lost, Medium, Six Feet Under, Medium, Os Sopranos, etc. Arlindo Machado (USP/PUC-SP) complementou a palestra de Carlón discorrendo sobre a atuação dos telespectadores na série Lost que, a rigor, não deveria ser somente assistida pela televisão, mas explorada em outros meios, sobretudo na internet em sites com conteúdo exclusivo, comunidades e blogs com discussões sobre o que passou na TV, mas que, devido às suas limitações, não pôde ser apreciado da forma correta, compondo assim a narrativa transmidiática. 


Abrindo o ciclo dos temas abordados pelas equipes de várias universidades do país, Anna Maria Balogh (UNIP-SP) coordenou o trabalho “As Astúcias da Linguagem na Narrativa Seriada”. A professora discorreu sobre as séries Som & Fúria (2009) e Na Forma da Lei (2010). Esta última apresentou intertextualidade com várias séries similares americanas, tais como Law and Order, CSI e NCIS, assim como referências a filmes noir. Geraldo Nascimento apresentou análises sobre Maysa – Quando Fala o Coração (2009), minissérie que convidava o telespectador a penetrar no mundo de Maysa a partir da própria abertura, que mostrava objetos pessoais da cantora. Também falou sobre Dalva e Herivelto (2010) e as plataformas com as quais interagia: o livro, o rádio e o universo fonográfico. Solange Wajnman analisou a série Aline e como o público interagia através de blogs, apresentando suas percepções referentes às histórias.




A segunda mesa foi coordenada por Maria Cristina Brandão (UFJF) com o tema “Vim Ver Artista e Pegassione: A Paródia em Plataforma Autorreferencial”. Como o próprio título sugere, foi apresentado um trabalho sobre as paródias das novelas Viver a Vida (2009) e Passione (2010) feitas no humorístico Casseta & Planeta. De acordo com a professora, os quadros são produtos autorreferenciais em que a televisão oferece um painel paródico dela mesma. A equipe citou o humorístico TV Pirata, o pioneiro em realizar paródias sobre as novelas que estão no ar, e ainda comparou os sites reais das novelas com o as paródias feitas no site do Casseta & Planeta.



Os debates de terça-feira iniciaram-se com a equipe da UFRGS, liderada por Nilda Jacks, mostrando a interação do público com a telenovela Passione, baseado em dados levantados em revistas mensais e semanais, jornais de maior circulação, TV e internet (Orkut, Facebook, Twitter e blogs). Alguns resultados interessantes apresentados foram: os personagens Clara e Totó foram os únicos que estiveram em evidência em todos os veículos estudados. Já as revistas femininas focaram nas mulheres, sobretudo Clô, Stela, Jéssica e Agostina. No Orkut pôde-se constatar, nesta ordem, que Clara, Fred e Diana foram os personagens mais amados pelos usuários da rede. Mesmo assim, Diana foi a mais odiada. De uma forma geral, os temas mais recorrentes em todos os veículos foram o suspense criado pelo autor da novela em torno de uma morte por volta do capítulo 100 (que ocorreu mais tarde), o segredo de Gérson e a relação bígama de Berillo com Jéssica e Agostina.


A equipe da USP, de Maria Immacolata Vassallo de Lopes, abordou as temáticas sociais de Passione nas comunidades virtuais de fãs: Orkut, Facebook e Youtube. Foi observado nessas redes grandes discussões e engajamento que ultrapassaram os limites da novela em torno dos vários temas sociais, tais como: pedofilia, exploração sexual de menores, gravidez na adolescência, exploração do trabalho infantil, casamento consangüíneo e uso de drogas. De acordo com a pesquisa, Passione foi mais amada do que odiada nas redes sociais. No Youtube pôde-se observar a criação de conteúdo próprio, como os vídeos parodiando o segredo de Gerson; um grande exemplo da interação do público com a novela: ele não é mais um telespectador “passivo”.

Maria Aparecida Baccega (ESPM-SP) e equipe analisaram a forma como foi consumida a novela Viver a Vida, através da Globomarcas.com e do blog “Sonhos de Luciana”. O telespectador interagiu com a novela através do site, procurando acessórios usados pelos personagens, tais como: sandálias, pingentes, anéis, bolsas, brincos e canecas. O site sugeria, inclusive, a forma de usar os produtos. No blog “Sonhos de Luciana” houve um fenômeno que ultrapassou as barreiras da ficção: os leitores interagiam como se Luciana fosse uma personagem real.


Elizabeth Bastos Duarte e Maria Lília Dias de Castro (UFSM) debateram sobre os movimentos de convergência entre diferentes mídias e plataformas na ficção seriada gaúcha, produzida pelo Núcleo de Especiais da RBS TV. O primeiro seriado analisado foi As Aventuras da Família Brasil, decorrente da transformação de uma tira de jornal de Luís Fernando Veríssimo. Em seguida, a série Quatro Destinos exemplificou a presença de outras plataformas presentes no texto do programa: a comunicação via telefone celular - utilizada com frequência - e técnicas computacionais – observadas na edição das imagens. Finalmente, Online foi uma série cujo tema era o interesse geral pela Internet, com troca de e-mails, conversas por MSN e buscas no Google.



A PUC-SP, comandada por Sílvia Helena Simões Borelli, apresentou o trabalho de sua equipe sobre as migrações narrativas em multiplataformas nas novelas Ti Ti Ti (2010) e Passione. A partir de Passione, pôde-se observar uma transformação nos sites de novelas, que antes eram calcados, sobretudo, em textos e imagens, e agora têm os vídeos ocupando um espaço expressivo. Passione inovou também em inserir conteúdo exclusivo para a Internet, monólogos reflexivos dos personagens que só poderiam ser vistos na rede. Ti Ti Ti também adotou a mesma ideia, indo mais além. As revistas fictícias presentes na novela tinham sites e blogs que mesclavam personagens e eventos reais com os da telenovela.

Finalizando as mesas, Yvana Fechine (UFPE) e Alexandre Figueirôa (UNICAP) apresentaram os temas multiplicação das telas, maior autonomia do público e expansões narrativas. Fechine abordou a produção e distribuição de conteúdos televisivos e a questão de certas tecnologias serem mais adequadas a determinados gêneros televisivos. Apontou ainda as diferenças entre a TV Conectada – que propõe a disponibilização de conteúdos na internet na televisão – e a TV Transmídia – disponibilização de conteúdo televisivo em outras plataformas.

Daniela Pereira
É importante ressaltar também a participação da Gerente de Relações com o Telespectador da Rede Globo, Daniela Pereira, que abordou o contato da empresa com o telespectador, sobretudo através das redes sociais, sempre seguindo a tendência do público, e não o contrário. E Alex Medeiros, Gerente de Desenvolvimento de Produtos da Rede Globo, expôs uma discussão sobre os diferentes modelos de experimentação de se fazer transmídias em novelas.




*** 

Cobertura do III Obitel feita pelo Globo Universidade: 



Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) da ECA-USP:




Fotos: Globo Universidade
Imagens: Divulgação




3 comentários:

Telinha VIP disse...

Pena que não pude ir. Quem foi falou que tava muito interessante. Novas tendências. É o tão falado futuro da telenovela que se faz presente.

Bjs

Anônimo disse...

Adorei!!! Sem dúvida, a teledramaturgia brasileira pode ser vista e estudada de diversos aspectos. Ótimo encontrar aqui no blog informações sobre debate.
Lucas - www.cascudeando.zip.net

Kleiton Alves Hermann disse...

É interessante como os sites de novelas mudaram e hoje a parte dos vídeos estao bem mais em evidência devido ao grande número de pessoas que assistem as novelas na internet.
Tem a novela inteira ou a opção de se ver cena por cena.

Abraço