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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011











Quem quer saber o que vai acontecer na novela?

por Guilherme Staush




            Que a internet vem roubando significativamente o público televisivo nessas duas últimas décadas não é novidade, e nem tampouco deixa de ser surpreendente o fato de que essa ferramenta tornou-se o maior ambiente para discussões acerca das telenovelas brasileiras, seja nas comunidades do orkut ou nas redes sociais imediatistas do twitter ou do facebook. Enquanto que, algumas décadas atrás o telespectador tinha que esperar o dia seguinte para comentar a cena da novela das 8 com o vizinho ou com o colega de trabalho, nos dias de hoje é possível elogiar e criticar a cena ou o ator de sua novela preferida no mesmo instante em que ela vai ao ar. Por um lado, se os autores de novela ganharam uma aliada, no sentido de ter uma resposta de seu público de forma rápida e direta, por outro, ganharam a ferramenta de maior competitividade de todos os tempos, a única que ousou disputar em pé de igualdade um passatempo a altura da novela do horário nobre. Com isso, a luta para manter um público fiel, preso a uma produção de 200 capítulos no dias de hoje torna-se ainda mais desafiador do que foi há algumas décadas. Entretanto, a tarefa de prender o público em frente à TV durante a exibição de todo um capítulo acabou virando prioridade em comparação ao exercício de criar ganchos nos finais dos capítulos para que o telespectador não se esquecesse de assistir a novela no dia seguinte, quesito obrigatório em qualquer novela do século passado.

              Hoje, o telespectador se divide entre a quantidade absurda de informações publicadas na internet e a avalanche de notícias da mídia impressa. Nunca se viu tantas revistas direcionadas ao público noveleiro como atualmente. Elas estão expostas em todos os lugares: nas bancas de revista, supermercados, padarias, consultórios médicos, e por aí vai. Por onde quer que se olhe, o acesso ao que vai acontecer no capítulo seguinte das novelas é inevitável. Toda essa massificação – e banalização - da informação acaba por extrair do telespectador uma das melhores sensações de se assistir uma novela: o fator surpresa.

           Nas décadas de 70 e 80, o público que não comprava nenhuma das meias-dúzias de publicações que se destinavam a trazer reportagens sobre televisão ou não ficava sabendo das novidades por intermédio dos vizinhos e amigos, era obrigado – e que delicioso castigo aquele! - a ficar esperando ansiosamente pelo capítulo do dia seguinte para saber o que ia acontecer. Nos dias de hoje, entretanto, mesmo que o telespectador não queira saber absolutamente nada sobre o que vai acontecer na novela, é praticamente impossível ficar nessa ignorância por muito tempo. As manchetes das revistas anunciam em letras garrafais o destaque das novelas na semana seguinte, os grupos de discussões da internet estão repletos de spoilers, qualquer portal que seja acessado na internet traz uma revelação bombástica sobre as produções que estão no ar, e, com tudo isso, automaticamente, aumenta o disse-que-me-disse entre as pessoas com relação às novelas, criando uma probabilidade maior de algum infeliz vir até você e dizer: “eu li na capa de uma revista que vai acontecer um assassinato na novela das 9”. Ou seja, ainda que você não assista a qualquer novela, fica sabendo de tudo o que acontece nela sem nem precisar ligar o aparelho. Legal, não é mesmo? Isso quando a própria emissora de televisão não despeja o conteúdo do capítulo da novela nas chamadas que antecedem a exibição da mesma, quase que esfregando na cara do telespectador: “não perca o capítulo de hoje porque vai acontecer isso, isso e isso... se você deixar de assistir, o que vai comentar amanhã com seu colega de trabalho? Portanto, não mude de canal, e nem se distraia em frente ao computador na hora da nossa novela, tá?”





                                              ***


6 comentários:

O CABIDE disse...

Antigamente eu costumava ler, comprar revistas de tv, lembro que na época de O Clone eu entrava no site da novela pra saber tudo que ia acontecer nas semanas seguintes.
Mas hoje, pouca revista tem credibilidade, sai muita notícia falsa, como exemplo: essa capa de revista que ilustra sua matéria, GRISELDA NÃO SE VINGOU E NEM SE VINGARÁ DE NINGUÉM! Sensacionalismo pra vender.

Vejo algumas notas de site, mas sem grandes curiosidades, e pasmem, o fator surpresa me pega mais atualmente do que antes.

Ótimo texto GUI!

Abraço
Fábio
www.ocabidefala.com

Kleiton Alves Hermann disse...

Verdade! Não existe mais surpresa. A expectativa do que vai acontecer no capítulo seguinte não existe mais. Hj já se sabe até sobre a próxima novela, a que vai estrear na metade do ano que vem.

Otimo texto.

Abraço

Anônimo disse...

Essas revistam fazem praticamente uma outra novela, de tanto que inventam coisas. Lembro que na época de Viver a Vida, a novela que saía nas revistas era bem mais interessante da que ia ao ar.

Juliano G. Bonatto disse...

e ainda por cima as revistas trazem algumas informações erradas. Em Passione só tinha notícias falsas nas revistas, o que confundia o telespectador, que nao sabia já tinha visto aquilo na novela ou não.

Telinha VIP disse...

Bons tempos em que a gente nao sabia nada do que ia acontecer e cada cena era uma surpresa. Hoje parece que existe um desespero dos autores e da emissora em fazer merchã pras suas novelas. Quem perde o grande barato é o público. Nada mais chato do que ver uma novela sabendo de tudo o que vai acontecer.

Bjs

Mauro Barcellos disse...

Isso sem falar no twitter e facebook. Quem conecta corre o risco de ver um spoiler a qualquer momento, e até dos próprios autores da novela! É a ganância em vender seu peixe!