Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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sexta-feira, 9 de março de 2012

                           



E L I Z A B E T H 

S A V A L A





O que era para ser uma simples entrevista, acabou virando um bate-papo por telefone de exatamente 1 hora e 40 minutos, onde a atriz ELIZABETH SAVALA falou sobre seus momentos mais importantes na televisão, em sua trajetória de 38 anos de Rede Globo, com inúmeras personagens de sucesso, como: Malvina (Gabriela), Lili (O Astro), Carina (Pai Herói), Bruna (Pão Pão Beijo Beijo), Isadora (Partido Alto), Mariazinha (De Quina pra Lua), Auxiliadora (Quatro por Quatro), Jezebel (Chocolate com Pimenta), Rebeca (Sete Pecados), Minerva (Morde e Assopra), entre tantas outras.

O que mais nos chamou a atenção, além da simpatia e do carinho prestados pela atriz, foi sua memória com relação a sua trajetória televisiva, histórias de bastidores, as novelas da qual participou, tramas, elenco e personagens. Se por um lado, lembra com clareza de seus momentos mais importantes na TV, por outro, faz questão de esquecer dos poucos que não foram tão representativos na sua carreira profissional.

Resolvemos, então, transformar aquilo que seria uma entrevista, como as feitas nos moldes do nosso blog, em uma sequência de relatos feitos pela atriz, a partir dessa longa conversa por telefone, procurando manter o texto na forma mais original possível, em toda sua essência.

A conversa por telefone foi feita com Fernando Russowsky, seguindo o roteiro previamente organizado pela equipe do Agora; a transcrição da conversa foi feita por Duh Secco; e a edição e adaptação dos textos pelos membros do blog.

Os depoimentos serão postados em cinco partes, e nossos leitores terão o privilégio de conferir esse importante segmento da história da teledramaturgia brasileira, contado diretamente por quem o fez.


DEPOIMENTOS EXCLUSIVOS



PARTE 1 - O princípio de uma longa trajetória de sucesso: Gabriela , O Grito, Estúpido Cupido, e O Astro.

por Guilherme Staush



GABRIELA (1975) 
Personagem: Malvina

 
Antes de começarmos, eu quero dar os parabéns ao blog, do qual eu sou fã assídua. Acho que vocês fazem um trabalho fantástico, não só divulgando o teatro, divulgando o trabalho de muita gente séria, também na televisão. Eu li a entrevista do Guilherme Piva, maravilhosa; a entrevista da Renatinha Dias Gomes. Enfim, várias, várias, várias... a dos autores... Acho que é um blog sério. É difícil você achar um blog assim. O de vocês é muito legal. Parabéns!


como Malvina, em "Gabriela" (1975):
estreia na TV com grande personagem.

Então... Eu amei fazer a Malvina. Foi um grande presente que o Avancini, o Durst e o Jorge Amado me deram. E até mesmo o Abujamra, que foi quem me indicou pro Avancini. Eu só descobri muitos anos depois. Na época eu nem soube disso. Enfim, eu tenho uma gratidão imensa por essas pessoas. A primeira personagem a gente nunca esquece. E era realmente uma grande personagem (confira uma ótima cena da novela no final desta postagem). A Gabriela era a personagem-título, mas a Malvina era absolutamente rebelde, numa época de ditadura militar. A censura não conseguia perceber o que estava sendo dito, pois como era uma novela de época, eles não conseguiram perceber com profundidade, a desavença dos coronéis, a briga política em plena ditadura que se colocou na adaptação, porque a censura não era muito inteligente. Então, ela não conseguia perceber, não tinha essa percepção de nuances, enfim... fazer essa personagem foi, sim, um dos maiores presentes na minha vida na televisão.


O GRITO (1975/1976) 
Personagem: Pilar

A segunda novela que eu fiz – O Grito - do Jorge Andrade, eu gravei quase que simultaneamente, porque as duas eram novelas das 22h, também com direção do Avancini. Gabriela havia sido um grande sucesso. Era muito difícil competir com qualquer novela que fosse colocada naquele momento. Agora, Jorge Andrade era um grande intelectual, escreveu coisas importantíssimas... Os Ossos Do Barão, também dele, não foi altamente compreendida na televisão. Ele fez peças de teatro fantásticas também, como A Escada, por exemplo.
O Grito tinha um magnífico texto, em um momento difícil, também conturbado, de censura, e um belíssimo elenco. Acho que o maior elenco que a casa já reuniu em uma novela. Agora, talvez o público não tenha conseguido entender no momento, a coisa do preconceito, a coisa do bullying, mas era uma grande novela.

como Pilar, em "O Grito" (1975),
ao lado do detetive Sérgio (Ney Latorraca).


 ESTÚPIDO CUPIDO (1976)  e o incêndio na emissora
 Personagem: Irmã Angélica

como Irmã Angélica,
em Estúpido Cupido.

Eu me lembro do dia do incêndio na Globo. Eu estava vestida de freira, a personagem irmã Angélica, que eu fazia na novela, e a gente tava chegando de Itaboraí, ainda com a roupa da personagem. Chegamos à emissora, aquela correria e tal, e eu fiquei numa fila, do lado do Talma. O Talma passava as fitas, eu passava pra pessoa da frente, a pessoa da frente passava pra outra, os bombeiros molhando os nossos pés, e eu com aquele véu da irmã Angélica tapando o meu rosto, leite no peito (o Thiago, meu primeiro filho, tinha acabado de nascer), e a gente nem parava pra pensar, porque aquilo era um risco muito grande pra gente, mas queríamos salvar as fitas. Foi uma coisa muito bonita daquele dia. A emissora era pequena, era outra história, mas a gente tinha muito, um puta amor pela empresa, que propiciava que a gente pudesse fazer tantos trabalhos. Eu tenho ainda um amor muito grande por essa empresa, afinal são 38 anos trabalhando naquele lugar, finquei raízes... Mas esse dia foi muito bonito. O que foi salvo ali eu não sei. Parece que O Grito, praticamente, foi todo. Um dia acho que o Talma me falou.



O ASTRO (1977/1978)
Personagem: Lili
 
O Astro foi um sucesso absoluto. Foi um presente da Janete e do Daniel. Uma grande personagem em uma grande história. Teve uma cena - o reencontro dos personagens Márcio (Tony Ramos) e Lili -  que bateu 98 pontos no Ibope. Bateu o jogo do Brasil e da Inglaterra. Isso não é pouca coisa. Não sei quanto deu de Ibope a morte do Salomão Hayalla, a revelação do assassino dele, disso não me lembro. Eu sei que essa cena do reencontro a gente soube, na época, pelo Boni e pela Janete.

O remake de O Astro, exibido no ano passado, teve o problema do horário, porque ainda não se tem o hábito de assistir uma novela às onze da noite. Eu, particularmente, acho tarde esse horário, mas quem sou eu pra dizer alguma coisa? (risos) ... Mas, então, o público, a maior parte das pessoas tem que trabalhar, levantar cedo pra ir à escola, e fica difícil você acompanhar uma novela que vai de terça a sexta. É uma coisa experimental do horário, enfim, não tem essa continuidade, como nas outras novelas, para que você crie o hábito de assistir.
E dessa vez, O Astro, pro horário, teve um Ibope morno. Acho claro que quando você tem uma boa história e ela é bem contada, não adianta levar aquela história se não souber contar, e não adianta saber a direção se você não tiver a história, né? Você precisa de tudo.

Ficou muito complicado de eu assistir à novela. A gente que faz teatro quase não vê televisão porque é o horário que você está voltando do teatro. Eu tenho um projeto que é muito, muito importante que chama-se Teatro de Graça na Praça. É um projeto onde a gente leva teatro pra praça pública e consegue colocar sete, oito mil pessoas, na praça, fazendo monólogo. Então normalmente na hora em que o remake de O Astro tava passando, por poucas vezes, eu tive a chance de ver. A Alinne Moraes, que fez a Lili, é muito boa atriz. Na primeira versão da novela teve o Daniel na direção. Acho que ele é um dos grandes diretores da televisão brasileira, que mudaram a história da televisão mesmo! Essa coisa até do próprio padrão Globo de qualidade, que tinha com o Boni, da coisa da técnica, da manutenção, da aparelhagem, de luz, som e até como ele administrava, o carinho, a cada aniversário seu ou uma cena que ele via e que ele gostava, porque ele via tudo, e te mandava flores, então a gente tinha esse contato todo. A emissora era pequena, éramos poucos, enfim... Então a gente tinha esse contato direto. A porta da sala do Dr. Roberto Marinho ficava aberta; a gente ia na sala do Dr. Roberto; ele sempre dizia “quando precisar de alguma coisa, minha filha, bata na minha porta”. E eu nunca pedi um aumento, olha que louca? (risos)


como Lili, em "O Astro": grande sucesso e a primeira parceria com Tony Ramos.


O Daniel imprimia um realismo tal às cenas... obviamente que o Alcides Nogueira, ao fazer essa adaptação com o Geraldinho, tinha só 48 ou 64 capítulos, eu não sei. E nós tínhamos duzentos e tantos capítulos pra contar uma história. É diferente! E a gente tinha um elenco, uma dinâmica... Eu tenho uma cena, por exemplo, com a Eloísa Mafalda, que... nossa! Eu acho que a televisão é muito devedora à Mafalda, e ninguém faz uma homenagem a ela. A personagem dela era a mãe da Lili, a Dona Consolação, que era deslumbrante. A Janete falou sobre um tema que nunca mais se falou na televisão, que é a menopausa! Os calores que a Mafalda tinha em cena... e ela era uma atriz deslumbrante que não tinha o menor tipo de vaidade. Enquanto todo mundo fazia plásticas, a Mafalda nunca fez uma! Então, ela tinha aquela cara de povo, sabe? Ela trabalhava como camelô no começo da história, usando um cabelo que era com resto de loiro de um personagem, com um pouco de preto que ela tinha e com os brancos dela. Sabe aquela coisa toda misturada, sem uma gota de maquiagem no rosto? E eu fazia uma personagem, que era a Lili, uma mulher que dirigia táxi. Tinha um cabelo que batia nas costas, lindo, liso e tal, e o Daniel falou “não, não, não, você vai cortar o cabelo e fazer permanente”. Isso para dar a impressão de uma pessoa mais do povo. O meu figurino, a Talma Murtinho fez o figurino todo, era uma calça legalzinha, da Fórum, sei lá, e ele trocou a calça. Deu minha calça pra motorista do táxi que veio fazer a figuração, pegou a calça da própria motorista que emprestou o táxi, e me deu.


Eloisa Mafalda, como Dona
Consolação, em "O Astro".

Então, nós fizemos uma cena em que eu mentia pra Mafalda, porque o sonho dela era que eu fosse uma bailarina - depois a Janete realiza esse sonho dela me dando a Carina (de Pai Herói), que era bailarina. Mas a Dona Consolação queria porque queria que a filha fosse uma bailarina, fosse uma mulher fina. E a Lili não tinha nada de bailarina, né? Então, a Lili dizia pra mãe que trabalhava numa boutique fina, em Ipanema. E aí a mãe sai com um bolo, no primeiro capítulo da novela, pra comemorar o aniversário da filha na loja. Chega na loja, com o bolo na mão, com uma bailarina de enfeite, em cima do bolo, e pergunta “Lili?”, “Lilian Paranhos, a Lili?  - “Não, não tem ninguém que trabalha aqui com esse nome!”. Ela sai tão descompensada da loja, com o bolo na mão, que quase é atropelada por um ônibus. Ela deixa o bolo cair, e o ônibus passa por cima dele, com a bailarina em cima. Quebra a bailarina, e quebram-se os sonhos da Dona Consolação....
 
Quando eu cheguei no estúdio, para a primeira cena a ser gravada, eu tava muito nervosa. Era o primeiro dia de gravação. Acho que os primeiros dias, até estrear, a gente fica muito nervosa, todo mundo sem saber o que tá dando certo e o que não tá, aquelas coisas. E aí, era uma cena nossa, minha com a Mafalda, então eu vinha, e dizia:  “oi, mãe... não sei o quê” e abria a geladeira, tomava uma água, e o Daniel fez uma sequência direta; ele colocou a gente na sala, eu entrando, aí ele foi pro quarto.... Eu tinha acabado de ter meu segundo filho, o Diogo, e tava com um peito enorme. Acho que o Diogo estava com uns quinze dias quando eu comecei a gravar. Não tinha aquelas coisas de ficar seis meses em casa, um ano cuidando do filho. Era assim...tinha o filho, e em seguida tava em cena. O Thiago (primeiro filho da atriz) nasceu em O Grito. Eu fiquei grávida durante O Grito. Ninguém podia saber que eu estava grávida; eu fazia a mocinha e a mocinha naquela época era virgem. E aí o Talma falou que foi a forma que eu arranjei pra ganhar a câmera, porque a câmera na novela era close de olho. A novela acabou no dia 25 de abril e o Tiago nasceu no dia 05 de maio. E em dias, tipo quinze dias, eu já estava gravando Estúpido Cupido, cheia de leite no peito. E em O Astro foi a mesma coisa. Acabou a gravidez do Diogo, quinze dias depois eu já estava gravando a novela. Eu tive pouco tempo, tava cheia de leite, aquela coisa toda, recém tinha tido um filho, e ele me fez subir no beliche em sequência direta. Um diretor normal teria feito um plano cruzado, isto é, era um texto em que a Mafalda me dava uma bronca e eu tentava me justificar. Qualquer diretor teria feito isso: cruza o plano, uma do lado da outra, cruzou a câmera, vambora!
Era o que teria sido feito. Ele não! Ele falou assim: “agora na sua fala, sobe no beliche, sempre falando o texto. Lá em cima do beliche você percebe que a sua unha tá raspando no lençol. Você desce do beliche e procura uma lixa que o contrarregra vai esconder; nem eu, nem você, nem ninguém vai saber onde está essa lixa, só o contrarregra. Portanto, você tem que achar a lixa e terminar a cena lixando a unha lá em cima do beliche. Uma pata choca pra subir e descer do beliche”. Eu pensei: “eu vou cair daqui. Isso é loucura”. E todo aquele texto despejado com um objetivo. Sabe aquelas coisas de Stanislavski? Tem um objetivo concreto: achar essa lixa, num plano direto, uma sequência direta, sem corte nenhum, sequinho, e a gente fez a cena. Quando terminou, a gente já tinha a personagem nas mãos, as duas, porque aquilo foi um grande teste de resistência. Então, ele era um grande diretor, o Daniel. 

Não vi como foi feito agora. Talvez eles tenham tentado trazer mais pra cá, enfim, pra modernizar um pouco. Eles tiveram bem menos capítulos pra fazer. Então a gente tem uma grande vantagem em relação a isso, quer dizer, acho que no remake, em poucos capítulos, nem sempre é possível contar realmente a história. Mas foi um grande sucesso, então eu imagino que tenha funcionado bem. Eu vi algumas cenas da Alinne e gostei muito. Eu vi o Thiago fazendo o personagem do Tony também. Enfim, a cena do nu e tal. Eu tenho uma relação muito afetiva com o trabalho, então fica complicado, né? Eu também vejo o trabalho no ar e não vejo apenas o trabalho, eu vejo o outro, entendeu?

(continua...)


GALERIA DE VÍDEOS especial  
(confira cenas dos trabalhos de Elizabeth Savala na TV)




Leia a PARTE 2 deste especial.

11 comentários:

Juliano G. Bonatto disse...

Magnífica atriz. Tantos trabalhos memoráveis na TV... Emocionante os relatos sobre O Astro

Parabéns a toda a equipe

Abraço

Telinha VIP disse...

Que ótimo poder contar com uma atriz como Elizabeth para contar essas preciosidades da TV. Aguardando ansiosamente os p´roximnos capítulos

Bjs

Juliano G. Bonatto disse...

Grandes recordações de O Astro, a melhor novela de todos os tempos. Elenco espetacular: Dina, Francisco, Elizabetyh, Tony, Mafalda, Migliaccio, Ida Gomes, Tereza Rachel...e Janete escrevendo, tinha mesmo que parar o país.

Juliano G. Bonatto disse...

Já vi a atriz no teatro, e é fantástica! Fez grandes novelas na TV. Gosdtaria de vê-la em trabalhos diferentes, mais dramáticos, um pouco distante do ranço dos personagens do Walcyr Carrasco.

César Vieira disse...

Maravilhosos depoimentos da grande Elizabeth Savalla, ansioso pra os demais capítulos.

Parabéns galera! Abraços!

Blog Agora É Que São Eles disse...

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Mensagem enviada pelo autor Alcides Nogueira


oi guilherme,
adorei a primeira parte da entrevista com a beth savala. ela é uma querida!
e tem história pra contar, vixe...
aguardo ansioso os próximos capítulos rsrsrs.
bjs pra vc, duh, todo o pessoal maravilhoso do agora,

tide

Camila Lins disse...

Desde que ingressou nas novelas do Walcyr Carrasco, a melhor personagem da Elizabeth Savala foi a de Caras e Bocas, a Socorro.

André San disse...

Delícia de bate-papo! Maravilhoso ler quem tem o que dizer! Elizabeth Savalla é uma grande atriz, dona de um currículo incrível. Parabéns e já aguardando a próxima etapa da conversa. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Anônimo disse...

Oi! Eu assisti aos primeiros capítulos de "Gabriela" que baixei. Elizabeth Savala, junto com a Nívea Maria, faziam de cenas com diálogos simples um deleite para o telespectador. Elizabeth Savala é uma grande atriz e eu gostaria muito de vê-la numa novela que não seja do Carrasco. Faz anos que ela só está nas tramas do autor... Quero ver algo um pouquinho diferente...
Lucas - www.cascudeando.zip.net

SÉRGIO disse...

SIMPLESMENTE MARAVILHOSA!

LORENA disse...

ELA É MARAVILHOSA! AMO! COMO PUDERAM SUBSTITUI-LA PELA IVETE SANGALO NO REMAKE DE GABRIELA, NÃO DEU PRA ENTENDER