Novela da Record se encerra em meio a altos e baixos
por Duh Secco
Vidas em Jogo, novela das 22h da Record, serviu como bom entretenimento nos onze meses em que esteve no ar. A novela usou de um prêmio na loteria, desejado por quase todos os brasileiros, para desenvolver sua fábula sobre o dinheiro e o mal que ele acarreta na vida das pessoas. Conseguiu assim levantar discussões importantes e se encerrou como mais um prova do talento e habilidade de sua autora, Cristianne Fridman. Entretanto, a duração excessiva, mal que acomete quase todas as produções da Record, prejudicou o andamento da novela, que chegou ao fim com um último capítulo nada convencional.
A trama começou com um arsenal de ideias, um amontoado de personagens, e um destaque excessivo ao cachorro Zé, que encerrou o primeiro capítulo em uma das cenas mais comentadas da novela, pelo absurdo da situação: Zé se atirava na frente de seu dono, Carlos (André di Mauro), impedindo que este tomasse um tiro. Aos poucos, a trama se encaminhou e adquiriu novos contornos, quando os participantes do Bolão da Amizade ganharam o prêmio máximo da loteria. A novela mergulhou em uma nova fase, que deixou em segundo plano a ação excessiva do início, outra característica das tramas da Record, e passou a investir nos dramas de seus personagens.
Teve início, neste momento, a melhor fase da novela, o que chegou a gerar um texto elogioso aqui no blog. Grandes destaques do elenco dominaram a ação neste período, como Vanessa Gerbelli, com sua Divina, dividida entre o amante, Ernesto (Leonardo Vieira), e o amor verdadeiro pelo marido, Severino (Paulo César Grande), que não acreditava mais no bom caráter da esposa. E também Luciana Braga e sua Fátima, que de filha interesseira passou a técnica de futebol do Cariocas, após a morte de seu pai, Belmiro (Ricardo Petraglia), dono do clube. Beth Goulart, que já vinha apresentando bons momentos com sua Regina, ganhou novo fôlego, após a descoberta do vírus HIV contraído pela personagem. O mesmo para Andréa, de Simone Spoladore, que se viu infectada por Cléber (Sandro Rocha). O maior destaque, entretanto, foi a revelação da transexualidade de Augusta, personagem de Denise Del Vecchio. Talvez tenha sido este o melhor momento de Vidas em Jogo, que ganhou muito com a exploração desta trama e permitiu bons momentos para Denise e Rômulo Arantes Neto, intérprete de Raimundo, filho de Augusta que não aceitava sua condição. Augusta e Andréa, porém, acabaram morrendo. Tal fato fez com que a novela mergulhasse novamente nas perseguições policiais e incontáveis cenas de ação, o que representou uma significativa queda no ritmo da história.
Sonhos com os participantes do bolão que já haviam morrido passaram a perturbar Maria Alice (Gabriela Moreira) em quase todos os capítulos da trama. Lucas (Marcos Pitombo), perturbado com a morte de Andréa, sequestrou Regina, Cléber e Elton (Cláudio Heinrich). Sequestro este que durou mais do que devia e levou o telespectador à exaustão. O mesmo ocorreu quando Wellington (Ricky Tavares), até então um personagem bem alinhavado pelo contexto geral da trama, se viciou em crack. Intermináveis cenas do jogador de futebol se drogando e outras tantas de personagens tentando convencê-lo a abandonar o vício podem ter afugentado o telespectador.
O último capítulo da trama se iniciou justamente com o desfecho de Wellington. Na tentativa de impedir que o rapaz continuasse se drogando, Carlos revela ser seu pai biológico e faz uso do crack, o que o leva a uma parada cardíaca. Seguiram-se sucessivas sequências de personagens ressaltando o quanto o desespero de um pai pode levar a graves implicações, como ocorreu com o apostador do Bolão da Amizade. Outras cenas modorrentas foram apresentadas, e não implicaram em nada na conclusão da história. Como exemplo, podemos citar o embate entre Rita (Juliane Trevisol) e Regina, na cadeia. Uma briga desnecessária para duas personagens que já tinham tido seus desfechos definidos anteriormente. Lembranças do desenrolar da trama, por meio de Ernesto e Divina, e de Zizi (Lucinha Lins) e Adalberto (Luiz Guilherme), só serviram para refrescar a memória do telespectador, que pode ter se perdido na continuidade da novela, diante de uma duração tão extensa.
Adalberto era o mentor do palhaço assassino. Ele sugeriu aos amigos do Bolão que forjassem suas mortes e desaparecimentos na tentativa de impedir que Regina os matasse, possibilitando assim que Francisco (Guilherme Berenguer), seu genro, ficasse com quase todo o montante guardado pelos apostadores (e que só seria recebido por estes quando cada um cumprisse sua missão). A farsa, entretanto, apesar de ter sido uma interessante conclusão concebida pela autora, perdeu sua razão de ser quando, após revelarem tal plano aos demais personagens, os apostadores decidem não cumprir mais o acordo e dividem a quantia por igual. Ou seja: forjaram suas mortes para garantirem a integridade física de cada um até o momento de receberem o prêmio, mas ao final do prazo estabelecido para o cumprimento do contrato, desistiram de dividir a quantia conforme estabelecido. Se não haveria mais pacto, não havia também a necessidade de se manterem ocultos por tanto tempo.
O elenco, em geral, funcionou bem, embora determinados personagens-chaves estivessem além do trabalho apresentado por seus atores. Neste grupo, podemos incluir Cláudio Heinrich, como Elton; Sandro Rocha, como Cléber; Guilherme Berenguer, como Francisco; André di Mauro, como Carlos; e Juliane Trevisol, como Rita, talvez o maior desacerto do elenco. Apesar de uma personagem com diversas nuances em sua personalidade, a atriz deu um tom formal a todas suas sequências, o que fez rememorar o seu fraco desempenho como a mutante Gor, em Caminhos do Coração. Já Silvio Guindane (Ivan), Thaís Fersoza (Patrícia), Lucinha Lins, Luiz Guilherme e Leonardo Vieira abriram novas possibilidades para seus papéis graças ao empenho que demonstraram ao longo da história. O mesmo para Betty Lago e sua Marizete, um tipo diferente dos comumente interpretados pela atriz. A cena final da trama, coroada por um discurso de Betty, foi também a mais emocionante do capítulo e serviu como uma mensagem da própria atriz, que luta contra o câncer, para a propagação do amor e da paz entre os homens.
5 comentários:
Não assisti a essa novela, mas esse texto maravilhoso me deu vontade de ter assistido... Parabéns mais uma vez ao blog!!!
E que novela ruim essa "Máscaras", hein! Dá até saudade de "Vidas em Jogo". Como alguém vai torcer por uma personagem que não tem nome ou se apresenta sem identidade?
Trata-se de uma história muito confusa onde os personagens vão assumir várias faces e que extrapola todos os limites da ousadia. Na minha opinião, deverá perder muita audiência nos próximos capítulos.
Entendo que Lauro César Muniz seja um transgressor do folhetim, goste de inovações, acho saudável isso, mas desta vez ele exagerou na dose e se esqueceu de que uma novela não pode ser tão chata assim. Afinal, o autor se esqueceu de que o telespectador também gosta de torcer pelos personagens. Mas como se eles não passam verdade nenhuma? Assim, fica difícil!
Acho cedo pra vc dizer que uma novela é ruim, Rodrigo. Vimos apenas 4 capítulos. Os primeiros caps foram pesados, ams as personagens nao se apresentaram por completo ainda...e a ação nao se desenrolou.
Poxa, até que enfim alguém concorda comigo que André di Mauro fez um péssimo trabalho! Leio tantas críticas favoráveis ao trabalho dele, que às vezes tenho a impressão de que estou vendo outra coisa, porque o acho péssimo. Não só em Vidas em Jogo, mas em todos os seus trabalhos que vi. Em Donas de Casa Desesperadas, ele afundou o bom personagem que tinha. Em Chamas da Vida, suas cenas me faziam rir! E em Vidas em Jogo, continuou péssimo. Enfim... Sobre a novela, o texto fez uma bela análise, foi isso mesmo. Foi uma boa novela, mas excessivamente longa, e com um final que deixou mais pontos soltos do que respondeu. Algumas explicações ficaram difíceis de engolir. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
Pois é, realmente é cedo, mas como cartão de visita, "Máscaras" me causou uma impressão muito negativa. Quem começa uma novela desse jeito, mostrando logo de cara uma cena em que um bebê é ameaçado de morte num caminhão em alta velocidade, parece que não está convidando nenhum telespectador a acompanhá-la. No primeiro capítulo, a mocinha é apresentada com depressão pós-parto e é internada numa clínica. Nos próximos capítulos, o herói terá depressão por achar que a mulher e o filho morreram e assumirá a identidade do cunhado e vice-versa. E mais uma vez, temos a inclusão de uma organização criminosa, como acontecia em "Poder Paralelo", com diferença apenas na nacionalidade dos bandidos, que agora são americanos. Depois, Lauro César Muniz diz que os novelistas da Globo se repetem, mas ele também se repete à beça. O problema não é nem a repetição, e sim a chatice e a estranheza mesmo. Novela ousada é uma coisa, mas novela chata é outra. A direção dos atores também está sofrível.
Tomara que melhore, pois se continuar desse jeito, pesada e chata, a audiência deverá cair mais ainda.
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