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sábado, 8 de setembro de 2012


Em brancas nuvens
Amor Eterno Amor apresentou bons resultados, mas não empolgou como esperado.

por Duh Secco



A doutrina espírita norteou a trama de Escrito nas Estrelas, segundo trabalho-solo de Elizabeth Jhin. Além dos ensinamentos da religião difundida por nomes como Chico Xavier, a autora foi buscar em outras obras que faziam referência ao espiritismo, elementos que caracterizassem sua história. Foi assim que surgiram os anjos que se reuniam em bibliotecas, tal e qual no filme Cidade dos Anjos, blockbuster americano protagonizado por Meg Ryan e Nicolas Cage. Em seu último trabalho, Amor Eterno Amor, encerrado ontem, Jhin foi novamente buscar referências. Desta vez, em sua novela anterior. A receita para o sucesso parecia infalível, já que a trama protagonizada por Nathalia Dill e Humberto Martins, em 2010, registrou excelentes números para o horário. Desta vez, porém, a resposta do público não se deu como esperado.


As semelhanças entre Escrito nas Estrelas e Amor Eterno Amor foi o que norteou o início desta última. Ali estavam a mulher que morria de ciúmes do marido (antes, Carolina Kasting (Judite), e agora Suzy Rêgo (Jaque)); o núcleo que discutia as implicações do espiritismo em casos médicos (Jane (Gisele Fróes), de Escrito, e Beatriz (Carolina Kasting) e Gabriel (Felipe Camargo), em Amor); e o pessoal do subúrbio reunido em uma determinada locação (a família de Jair (André Gonçalves) na primeira trama e os moradores do edifício São Jorge, nesta última). As diferenças entre uma trama e outra eram encontradas na história central, embora ambas falassem do amor entre pais e filhos; e na ambientação, já que Amor Eterno Amor foi ao Pará situar suas primeiras cenas.


Conforme a trama caminhava, morosamente, a locação inicial foi sendo abandonada, embora estivesse sempre presente nas falas dos personagens, um detalhe que contribuiu para que a veracidade deste núcleo fosse mantida, mesmo após a mudança de todos para o Rio de Janeiro. A audiência, no começo, não correspondia como esperado e mudanças foram aplicadas à novela, o que reduziu a sensação de déja vu, e contribuiu para reparar erros de caracterização que incomodavam o telespectador, como as perucas utilizadas por Melissa (Cássia Kis Magro). Ainda assim, Amor Eterno Amor seguia em passos lentos. A trama central, que envolvia o sumiço do filho de Verbena (Ana Lúcia Torre), o peão Rodrigo (Gabriel Braga Nunes), foi solucionada no primeiro mês, deixando, a partir daí, a discussão em torno dos responsáveis pelo sequestro de Rodrigo, quando este ainda era uma criança, e da identidade de Elisa, o amor de infância do rapaz. Nenhum dos dois mistérios, entretanto, pareceu suficientemente atraente para nortear a novela. Parecia óbvio que Melissa era a responsável pelo desparecimento do filho da irmã; e que Miriam (Letícia Persiles), era a reencarnação de Elisa. O telespectador mais atento deve ter notado, logo na primeira semana, que esta era a explicação para o mistério envolvendo a menina: Elisa, pequena, gostava de levar Rodrigo, até então conhecido como Carlos, para ver estrelas; Miriam, em uma de suas primeiras cenas, conversando com Gabriel, seu pai, também deixava explícita a sua curiosidade pelos astros.


A trama ganhou agilidade com a entrada de uma falsa Elisa, em ótimo trabalho de Mayana Neiva. A entrada, embora tardia, da moça salvou Amor Eterno Amor do marasmo total. O belo trabalho de Cássia Kis Magro, uma das melhores atrizes de sua geração, também contribuiu para aumentar o interesse do público pela novela. A loucura de sua personagem, associada ao visual excêntrico da mesma, fez de Melissa o grande destaque da trama. Outros atores roubaram a cena: Andréia Horta e Raphael Viana, como o casal Valéria e Josué, mostraram que podem alçar voos maiores; Carol Castro também fez de sua Jacira uma bela presença na trama; Daniela Fontan deitou e rolou com o tom cômico de sua Gracinha; e Denise Weimberg, como Angélica, a mãe adotiva de Rodrigo, deixou claro que precisa ser cada vez mais requisitada pela TV.


Na outra ponta, apresentaram desempenhos aquém das possibilidades de seus papéis: Carmo Dalla Vecchia exacerbou na loucura de Fernando, seu personagem; Osmar Prado, que apesar do perfil interessante de seu Virgílio, exagerou nos gritos, como já havia feito em outros trabalhos; e Klara Castanho, como Clara, que chegou a irritar com os superpoderes que possuía. Um erro de concepção de personagem, já que não parecia crível ao telespectador que uma menina de sensibilidade tão aguçada pudesse deixar que seu amigo Rodrigo se enganasse com uma falsa Elisa. As presenças de Giulia Gam (Laura), Rosi Campos (Tereza) e Carlos Vereza (Francisco) não passaram de mera figuração.


Entre erros e acertos, Amor Eterno Amor teve o mérito de desenvolver uma campanha envolvendo crianças desaparecidas, que não se limitou apenas ao roteiro da novela. Ao final de cada capítulo, as imagens de três crianças desaparecidas, e o logotipo da FIA (Fundação para a Infância e Adolescência), eram exibidas, o que contribuiu para localizar alguns menores. É de se lamentar, entretanto, que Elizabeth Jhin não tenha usado, desta vez, o seu poder de fogo. Capacidade criativa e habilidade no desenvolvimento das tramas, ela já provou que tem, em Eterna Magia e Escrito nas Estrelas. A vontade de repetir o sucesso desta última parece ter norteado a autora neste novo trabalho, que acabou por anotar bons índices no horário, mas se encerrou sem deixar grandes lembranças.



5 comentários:

edu vieira disse...

Como não era espectador de Escrito, apesar de ter adorado as vilãs cômicas, acompanhei e gostei da consagração da Elizabeth Jihn no horário. Mas o excesso de personagens e a falta de pegada de alguns, como os do núcleo jovem , desperdiçando alguns atores bons, foi desnecessário. Eu adorava as perucas da Melissa kkkkk e comecei a gostar mais da novela qdo Cássia Kiss pegou a trama pra ela.E adorei a Leticia Persiles de mocinha, marcante...que foi prejudicada num bad hair day no final.Não achei uma novela tão ruim ,não.

Melissa (direto do Umbral) disse...

Você repete a palavra "nortear" umas quatro vezes ao longo do texto. Cansou! Outra: você diz que Amor eterno amor é o segundo trabalho solo da autora, mas na conclusão do post lembra de Eterna magia. Fora isso, muito boa a análise.

Duh Secco disse...

Melissa, quanto ao verbo "nortear", foi um deslize, embora o tenha conjugado de formas diferentes. Agora, se você ler o texto com atenção verá que quando digo "segundo trabalho solo da autora" estou me referindo a Escrito nas Estrelas.

Obrigado por nos prestigiar!

Rafael Barbosa dos Santos disse...

Amor eterno amor era chata, quase nada atraente. Muitos personagens sem função, excesso de espiritismo, muita enrolação. Salvo as boas atuações a novela não deixa saudades.

http://brincdeescrever.blogspot.com.br/

Eddy Fernandes disse...

Ótimo texto, Duh, parabéns.

Acompanhei a primeira fase de Amor Eterno Amor sem tanto interesse justamente pelo ritmo moroso. A impressão que eu tinha era que a novela não tinha começado.

Só perdi essa cisma depois de dois meses, na situação que envolveu o segundo beijo de Míriam e Rodrigo e, posteriormente, o rompimento dela com Fernando.

É claro que a entrada da falsa Elisa movimentou a história. Adorei a presença de Mayana Neiva. Sempre linda, mostrou que é uma atriz versátil e bastante criativa. Ótima dobradinha com Sandra Corverloni.

Elogiar Cássia Kiss é chover no molhado. Grande composição a dela. E concordo com você nos elogios a Andréia Horta, um furacão em cena e digo que curti Letícia Persiles.

Enfim, não foi uma novela memorável. Dificilmente se lembrarão dela daqui a poucos meses, mas cumpriu o objetivo de entreter.