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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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sábado, 8 de dezembro de 2012


Duh Secco

entrevista

ALCIDES
NOGUEIRA


Uma carreira vitoriosa no teatro; trabalhos de prestígio na TV, e o prêmio máximo da televisão mundial com uma obra de repercussão e audiência. Conquistar o Emmy consagrou, em definitivo, a trajetória de Alcides Nogueira, autor da segunda versão de O Astro, vitoriosa na última edição do prêmio. Tide, como costumamos chamá-lo, concedeu uma entrevista ao Agora, onde comenta o Emmy, a adaptação da trama de Janete Clair e nos adianta seus projetos futuros.

***

O Astro se tornou um grande sucesso da dramaturgia brasileira. Inaugurou um novo horário de novelas, conquistou altos índices de audiência e repercutiu massivamente nas redes sociais. Qual a importância deste projeto pra você? O sucesso da trama foi além das suas expectativas?

Alcides Nogueira, na estreia de O Astro, em 2011.
Quando o Roberto Talma, pai do projeto, chamou a mim, ao Geraldo Carneiro e ao Mauro Mendonça Filho para fazer o convite, ele foi totalmente transparente e honesto: fazer uma nova leitura de O Astro, que tivesse outra narrativa, para inaugurar um horário novo, era um grande desafio. E era mesmo. Sabíamos disso. Mas foi justamente o que nos instigou. A trama fantástica criada por Janete Clair (que conhecia todos os segredos da teledramaturgia) era tudo o que precisávamos para uma criação ousada, ágil, mas ao mesmo tempo densa, seguindo muito mais o formato das series do que das novelas, mas sem abrir mão do bom e velho folhetim. Queríamos o “dramalhão brasileiro”, sem pudor algum! Talvez tenha sido isso que fisgou o espectador. A repercussão nas redes sociais foi fundamental para que a mininovela se tornasse um sucesso. A repercussão de cada cena era instantânea. Claro que todos nós queríamos um belo resultado, com a adesão e fidelização do público, mas isso foi além das expectativas. Para mim (e tenho certeza de que também para Geraldo Carneiro, Maurinho Mendonça, Tarcísio Lara Puiati e Vitor de Oliveira) esse trabalho tem uma importância muito grande. Além da implantação de uma nova faixa para a teledramaturgia, pudemos criar com toda a liberdade (a Globo nos deu carta branca), e recolocar em discussão, de maneira muito atual e sofisticada, as questões que Janete sempre abordou em sua obra.


Por que, na sua opinião, O Astro foi agraciada com um Emmy? Quais os critérios de escolha: a trama, a direção, atuações ou produção? O que você acredita que os responsáveis pela escolha dos premiados levaram em conta ao elegerem a novela como a melhor de 2011?

Mauro Mendonça Filho, Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira,
entre Mauro Wilson e Cláudio Torres, vencedores do Emmy
com A Mulher Invisível.
Não conheço os critérios que regem a premiação do Emmy. Acho que só os membros da Academia conhecem. Mas sem dúvida alguma, trama, direção, atuações e produção são fatores relevantes. E, nesse ponto, O Astro foi um trabalho muito bem realizado. Todos (autores, colaboradores, diretores, produtores, o elenco fantástico) se jogaram de cabeça, sem rede de proteção. Bancando o Herculano Quintanilha, acho que a conjunção astral foi muito favorável. O que me deixa muito feliz é que as outras produções indicadas (duas portuguesas e uma sul coreana) eram excelentes. Isso valoriza ainda mais a vitória. Há um dado, em O Astro, que salta aos olhos (e, provavelmente, isso ajudou na escolha): a harmonia do projeto. Tudo estava muito bem encaixado. Só a indicação já tinha sido um grande reconhecimento. Ganhar o Emmy foi o máximo!


Sobre a trama de O Astro: a resolução do assassinato de Salomão Hayala (Daniel Filho) nos apresentou diferentes tentativas, de três personagens, em liquidar com o empresário. Inácio (Paschoal da Conceição) trocou seus remédios; Yousseff (José Rubens Chachá) lhe deu uma coronhada; e Clô (Regina Duarte) terminou por empurrá-lo da sacada de seu quarto. Expediente parecido foi visto recentemente na aclamada Avenida Brasil. Como se deu a criação do desfecho desse mistério que mobilizou a atenção dos telespectadores de O Astro?

Regina Duarte como Clô Hayalla: sucesso de público e crítica.
Pessoalmente eu acho que uma nova leitura de um clássico da nossa teledramaturgia, como O Astro, só funciona quando os autores tiram as luvas e mexem na trama pra valer. Quando Janete Clair criou o assassinato de Salomão, que era muito simples na versão original, ela colocou o “Quem Matou?” como um dos expedientes mais instigantes da teledramaturgia. Tanto que, a partir dela, praticamente todos os autores usaram esse recurso, ou para criar uma maior cumplicidade com o espectador, ou para alavancar a audiência. Se mantivéssemos o assassinato como escrito por Janete, dificilmente o público se interessaria. Todo mundo já saberia que tinha sido Felipe Cerqueira, o amante de Clô. Usamos o que, brincando, chamamos de “assassinado de pessoa jurídica”. A inspiração veio da morte de Júlio César, morto por vários senadores. E embalamos essa morte com referências cinematográficas, propositadamente. Queríamos que o espectador visse que, nessa trama, também havia o lúdico... E que ele podia brincar de detetive. Deu certo. Não houve a mesma comoção provocada pela versão original (até porque o horário era outro, e a mediação de audiência de hoje é diferente)... Mas a morte de Salomão ficou instigante. Era o que queríamos!


Glória Perez foi a primeira autora de novelas a conquistar um prêmio Emmy. Agora, você e Geraldo Carneiro repetem essa façanha, com O Astro. Qual a importância deste prêmio para a teledramaturgia brasileira? Acredita que tal feito irá abrir novos caminhos para o seu trabalho? O que o vencedor do Emmy Internacional nos reserva em seus próximos projetos?

A equipe de O Astro, celebrando a vitória do Emmy.
Glória Perez ganhou, merecidamente, com Caminho das Índias. Geraldo e eu (não podemos nos esquecer jamais da colaboração preciosa de Tarcísio e Vitor) ficamos imensamente felizes. Por tudo o que disse: por termos vencido o desafio, por termos cumprido aquilo que tínhamos apresentado como projeto (principalmente ao Talma e ao Manoel Martins), pelo reconhecimento internacional. Ainda mais na quadragésima edição do Emmy. E insisto muito nisso: o prêmio é de toda a equipe. Abracei muito os atores que estavam conosco lá em Nova York, como a Rosamaria Murtinho, o Thiago Fragoso e a Fernanda Rodrigues. Gostaria que todo o elenco maravilhoso tivesse passado pelo red carpet... Mas muitos estão gravando ou ocupados com o teatro. Cada um dos atores merecia um Emmy especial pelos personagens que interpretaram. Nem vou citar nomes, com medo de me esquecer de alguém... Só não posso deixar de mencionar Regina Duarte, que fez uma Clô Hayalla que já entrou para a história da televisão. Espero que o Emmy abra novas possibilidades de trabalhos ousados e inovadores como O Astro. Provavelmente, sim. Todas as emissoras do mundo, e a Globo entre elas, conhecem a importância desse troféu. Mas o melhor é deixar que tudo siga seu caminho natural, sem sobressaltos... Quero muito voltar a escrever para as 23 horas. Mas, como Saramandaia já vai ocupar o horário, continuo torcendo para que uma sinopse que apresentei em parceria com o Mario Teixeira, para as 18 horas (um horário difícil, mas que me atrai muito), já aprovada, entre em produção. De qualquer forma, o Emmy foi uma injeção de ânimo!


E pra quem Alcides Nogueira entregaria o Emmy neste ano que está terminando? Qual foi a melhor novela, os personagens mais marcantes, autor, elenco e direção mais competente? Quem levaria o Emmy 2012?

Ah, essa pergunta é muito complicada. Pedindo mil desculpas, eu não me sinto à vontade para responder. Tivemos belíssimas produções... E os autores são todos meus companheiros de ofício – um ofício muito duro, muito difícil! Fiquei fascinado por Cheias de Charme, pelo universo abordado deliciosamente por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, da mesma forma como acho que João Emanuel, mais uma vez, marcou um golaço com Avenida Brasil... Como posso escolher entre Cláudia Abreu e Adriana Esteves, ou os outros atores e atrizes que brilharam nas novelas, séries, seriados, minis? Não... Vou sair de fininho... rsrsrs


6 comentários:

Elizabeth Savala. disse...

O Tide é um autor que há anos vem fazendo uma linda trajetória,tanto no teatro quanto na TV,mais do que merecido,Janete deve estar muito feliz com o trabalho realizado e pela premiação,mais do que justa!Meus Parabéns querido,beijo,
Elizabeth Savala.

Lucas disse...

Ótima entrevista. Esses dias li o Alcides Nogueira no livro "Autores" e conheci um pouco mais da vida e obra desse autor que precisa logo fazer uma novela nova!
Lucas - www.cascudeando.zip.net

Blog Agora É Que São Eles disse...

Mensagem enviada pelo autor Alcides Nogueira


queridos,
eu é agradeço o carinho que sempre demonstram por mim.
foi uma alegria responder às perguntas inteligentes e sensíveis do Duh.
adorei ler a entrevista no blog.
bjsss,

tide

Telinha VIP disse...

Muito legal ver o Brasil ganhando prêmios com a teledramaturgia, independente da novela ter sido boa ou não pra nós.

Beijos.

Juliano G. Bonatto disse...

Gostei bastante da novela. Queria muito ter visto a original, e tenho esperança que lancem em dvd. O pouco que vi com cenas de Cuoco, Savala, Sfat e Tony Ramos, adorei!

gps disse...

Esse prémio não deve ter assim tão isento.

O Astro competia com duas novelas portuguesas (uma da SIC e outra da TVI). Em 2010 ganhou uma novela da TVI. E em 2011 ganhou uma novela da SIC.

Sou português e considero que as novelas portuguesas estão a melhorar, mas é muito estranho que as duas estações rivais ganhem em 2 anos consecutivos e depois compitam com a Globo no 3º ano.