Agora É Que São Eles

GUILHERME STAUSH 

e n t r e v i s t a

RICARDO   LINHARES

 

Ricardo Linhares faz sua quarta participação aqui no blog. Desta vez, o autor fala especialmente de Saramandaia, novela de Dias Gomes que está sendo adaptada por nosso entrevistado, e que será exibida em 2013, na faixa das 23 horas.

A trama foi um grande sucesso em 1976, e Ricardo vem tentando emplacar esse projeto na Globo já faz um bom tempo. E, pelo jeito, tem tudo para repetir o sucesso de mais de 35 anos.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Ricardo Linhares é entrevistado por Guilherme Staush.

1. Na época de Insensato Coração, quando você nos concedeu sua primeira entrevista pro blog, juntamente com Gilberto Braga, falou que já tinha um projeto de fazer o remake de Saramandaia em forma de macrossérie. Logo, é um projeto de longa data. Parece estar havendo um rodízio entre os autores da emissora para adaptar uma novela de sucesso dos anos 70 em forma de macrossérie. Como são feitos esses projetos de novelas das 11? Cada autor escolhe uma trama para adaptar ou primeiramente a emissora escolhe a novela e convida um autor para fazer a adaptação? Quais novelas ainda poderão ser vistas nesse formato nos próximos anos?

Até onde eu sei, não existe rodízio de autores às 23h. Para um projeto ser aprovado, a emissora precisa achá-lo adequado ao que planeja para a temporada. Meu projeto de fazer um remake de Saramandaia tem vários anos, nem me lembro mais quantos. Quando li parte do material que havia restado da novela original do Dias, concluí que não havia como transformá-lo numa novela de tamanho convencional. Não havia história com fôlego para cento e tantos capítulos, mesmo com substanciais modificações, que estou realizando agora. Mas havia situações incríveis e personagens carismáticos, frutos do talento do Dias, que fazem parte da história da TV brasileira. Valia a pena recriar e recontar a trama pela oportunidade de apresentar esses tipos às novas gerações. Voltando à época do projeto inicial, o tema não se enquadrava numa novela das 18h, minha ideia original, horário em que a maioria dos remakes era feita. Na época, a Globo realizava macrosséries históricas, que depois viraram microsséries. Ou seja, ainda não havia espaço para Saramandaia. Só após a implantação do novo horário de novela das 23h é que pintou a chance. Reapresentei o projeto ao Manoel Martins, que o aprovou. E contei com a parceria da Denise Saraceni desde o início. Estávamos em contato graças aos preparativos para Cheias de Charme, que ainda nem havia começado a ser gravada. 

2.  Saramandaia foi um dos grandes sucessos de Dias Gomes, e a primeira novela a abordar o realismo fantástico na TV.  As asas de Gibão foram utilizadas como metáfora à liberdade no período da ditadura. Como ficarão essas questões que estavam subjacentes ao texto daquela época, com a atualização da novela?

Juca de Oliveira como Gibão, na versão
exibida em 1976.

Não existe mais regime militar e não faz sentido usar metáforas para se falar em ditadura. Apesar da classificação indicativa veiculada ao horário de exibição ser uma espécie de censura, não há qualquer semelhança com os anos de mordaça em que vivíamos naquele período. Hoje, se eu quiser falar de ditadura, falo abertamente. O foco da trama, portanto, não é mais esse. Continuo falando de política, mas sob um ponto de vista contemporâneo: de famílias (como os Sarney, por exemplo) que não largam o osso do poder, e de políticos corruptos, como o Lula. Parte desta versão de Saramandaia vem da trama inicial do Dias, parte é criação original minha. Descartei histórias e núcleos datados e criei novos conflitos e novos personagens, alguns com características de realismo mágico. É uma novela atual, que aborda questões contemporâneas. Através de personagens como Gibão (que esconde as asas) e Aristóbulo (que vira lobisomem), vou abordar a intolerância das pessoas a quem tem aparência e se comporta de modo diferente do que é estabelecido como “norma”.

  

3.  Dona Redonda, apesar de ter sido uma personagem pequena dentro da trama, acabou se tornando a mais lembrada da novela. Quando se fala em Saramandaia, a primeira cena que vem à cabeça das pessoas é justamente a explosão da personagem. Na versão de 76, ela fez tanto sucesso na pele da carismática Wilza Carla que, mesmo após sua explosão, no capítulo 26, o autor fez aparecer uma irmã de Dona Redonda, interpretada pela mesma atriz. Na sua versão, Dona Bitela também existirá ou pretende adiar a explosão da Dona Redonda? Até que se confirmasse o nome de Vera Holtz para interpretá-la, a imprensa especulou vários nomes, inclusive o de Sônia Braga. A atriz chegou mesmo a ser convidada para viver esse papel?

Vera Holtz vai viver a dona Redonda, personagem interpretada
por Wilza Carla em 1976.

 

Como sempre, houve muita especulação na imprensa em torno do elenco. O que é perfeitamente natural! Eu também sou espectador e fico curioso em saber que atores farão as próximas novelas, fico procurando na internet para descobrir... Sonia Braga é uma atriz emblemática, mas nunca foi cogitada para a novela. Vera Holtz faria outra personagem, mas pediu pra Denise para fazer dona Redonda. Foi uma honra. Um pedido de uma querida amiga como a Vera não se discute, cumpre-se! Na verdade, dona Redonda não tinha importância alguma na primeira versão. Ela passava capítulos e capítulos sem aparecer e, quando tinha uma ceninha, era sem a menor importância, dizia uma fala ou duas e ficava muda em cena. Wilza Carla não era exatamente atriz, era mais um, digamos, evento. Era extremamente carismática e sempre que estava em cena atraia a atenção do público. Wilza Carla tinha brilho cênico. A personagem virou uma espécie de lenda. Explodiu no capítulo 26, mas todos se referem a ela como se tivesse ficado a novela toda. Eu chamo isso de memória afetiva, que aumenta os eventos do passado. Sua irmã gêmea, dona Bitela, entrou apenas na reta final, mais como uma piada do que como uma personagem; Bitela também não tinha nenhuma função dramática. Nesta versão, Redonda ganha importância e eu vou adiar a sua morte. Como Saramandaia terá 60 capítulos, em vez dos 160 da primeira versão, o equivalente ao capítulo 26 seria muito no início da exibição. Não sei dizer ainda até quando ela vai viver, pois ainda estou no começo do trabalho. 

4.  Quais personagens foram inseridas na trama por você? Criou algum personagem com alguma anomalia diferente dos já criados por Dias Gomes?

Lília Cabral será Vitória Vilar,
personagem criada por Linhares.

Criei vários personagens novos, como os da Lília Cabral, da Fernanda Montenegro, do Tarcísio Meira, entre outros, que não existiam na primeira versão. De outros personagens, conservei apenas os nomes e criei novas trajetórias. O romance entre o lobisomem Aristóbulo e Risoleta, por exemplo, foi totalmente repaginado. Inventei uma história para o passado de Aristóbulo, envolvendo outra mulher, e dei outro rumo à personagem da Risoleta. Por enquanto, prefiro não entrar em detalhes sobre as características dos personagens. Ainda falta muito tempo para a estreia.

Tarcisio Meira e Fernanda Montenegro também entram na trama
com personagens criados por Ricardo Linhares.

5.    O que está sendo mais prazeroso, e o que está sendo mais difícil ao se atualizar uma obra como Saramandaia?

Um dos grandes desafios tem sido manter o aspecto fantástico dos personagens e das situações e, ao mesmo tempo, fazer com que esses personagens vivam conflitos contemporâneos, dentro de uma trama nova e atual.

6.   Pra terminar, quais atores já estão escalados para o remake, e quais seus respectivos personagens?

Vou citar alguns: Lília Cabral - Vitória Vilar; José Mayer - Zico Rosado; Fernanda Montenegro - Cândida Rosado; Tarcísio Meira - Tibério Vilar; Gabriel Braga Nunes -  Professor Aristóbulo; Vera Holtz - dona Redonda. O elenco está praticamente fechado, mas prefiro não adiantar mais nomes. Teremos lançamentos em papéis de destaque. É importante lançar novos rostos.

Gabriel Braga Nunes será o Prof. Aristóbulo, que se transforma em lobisomem.
O papel foi vivido por Ary Fontoura na primeira versão.

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