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terça-feira, 2 de abril de 2013



Especial
Novelas que foram sem nunca terem sido




A novela nasce na cabeça de seu autor, cresce nas mãos do diretor, e se perpetua no imaginário do público através das emoções que suscita. Essa é a ordem natural das coisas, desde que TV, em todo o mundo, decidiu lançar mãos dos folhetins para assegurar sua audiência. Entretanto, algumas novelas têm suas trajetórias interrompidas antes mesmo de irem ao ar: por vezes, com a interrupção de suas produções; e em outras tantas, por sequer saírem do computador de seus autores. Temos conhecimento destas tramas através de notas da imprensa e entrevistas dos profissionais que nela estavam envolvidos. O Agora é Que São Eles revisitou acervos de jornais, revistas e blogs e preparou um dossiê sobre as “novelas que foram sem nunca terem sido”. Tramas que não vimos, e provavelmente não iremos ver, na telinha e sobre as quais você só vai saber mais graças a este especial do nosso blog.

por Duh Secco


Globo

A Globo é a maior produtora de novelas do país e uma das maiores de todo o mundo. Para atingir esse patamar, padronizou sua produção e chegou a uma organização invejável, que lhe permite engatilhar diversas sinopses para cada horário e assim trabalhar perfeitamente cada detalhe de suas tramas. Mas, nem sempre as coisas saem como o planejado. A Globo já desistiu de algumas novelas a favor de outras, como o remake de O Profeta (que seria escrito por Ângela Carneiro e Elizabeth Jhin, em 2004), preterido por Cabocla, de Benedito Ruy Barbosa.


Preto No Branco (1983)
De Bráulio Pedroso

Em 1983, após integrar a equipe de criação do seriado Mário Fofoca, o autor Bráulio Pedroso passou a desenvolver sua próxima novela para a TV Globo. A trama trazia um negro como protagonista, uma inovação para a época. Aristides seria um tipo genial, capaz de fazer de Vavá, um homem desprovido de inteligência, o herdeiro de uma milionária. A sinopse ficou pelo caminho quando Bráulio Pedroso se desligou da Globo. Abaixo, um trecho da mesma, datado de 05 de julho de 1983 e publicado no Jornal do Brasil, em 2000, ano em que o acervo do autor foi doado à Fundação Casa de Rui Barbosa.

“Valdemar de Brito, mais conhecido por Vavá, chegou aos quarenta anos com raras vitórias e muito sorriso nos lábios. É um eterno otimista. E por crer em tudo, tem uma natural simpatia que o faz popular. Só que sua simpatia acaba rimando com idiotia. Não que seja um débil mental, longe disso. Mas longe dele também um brilho maior de inteligência. (...) Ao contrário de Vavá é Aristides da Silva, um negro retinto que, zombando dos teóricos do racismo, beira a genialidade. É do tipo aventureiro, audacioso, tanto que pela primeira vez faz um negro ser protagonista de novela. (...) De onde Aristides tirou a idéia de fazer de Vavá o filho da milionária? Da leitura de uma reportagem em cores. Foi ler e inspirar-se. Dizem que a audácia ilumina os necessitados. (...) Porém, Aristides nunca se excede. Conhece os limites. É extremamente sério na sua profissão de mentor da impostura. É autoritário com Vavá entre quatro paredes e submisso em público. Está sempre atento, sabendo que o perigo vem de onde menos se espera”.


Mar Morto (1995)
De Aguinaldo Silva
Baseada na obra de Jorge Amado

A Próxima Vítima, sucesso das 20h, seria substituída por O Rei do Gado, em setembro de 1995. Seria se não fosse o atraso na produção da trama de Benedito Ruy Barbosa. Diante dos imprevistos, a Globo decidiu transformar em novela a então minissérie Mar Morto, obra de Jorge Amado adaptada por Aguinaldo Silva para comemorar os 30 anos da emissora. Sobre a alteração do formato, Aguinaldo declarou ao O Globo, em maio de 1995: “Agora que virou novela, eu praticamente terei de criar outra história. O que fiz é inaproveitável para ficar oito meses no ar. Mas, como a espinha dorsal permanece, isso facilita o trabalho”. Aguinaldo desenvolveria a trama com Ana Maria Moretzsohn, Maria Elisa Berredo, Nelson Nadotti e Ricardo Linhares. Para o elenco, Glória Pires como Lívia, Maurício Mattar como Guma e Antônio Fagundes, como Murad. Mar Morto acabou preterida por Explode Coração, de Glória Perez, e só seria adaptada em 2001, também por Aguinaldo Silva e com Fagundes no elenco, mas com novo nome: Porto dos Milagres.


Alto Da Serra (1998)
De Flávio de Campos e Marcílio Moraes

O Brasil pré-republicano serviria de cenário para a história de amor de Júlia e Demétrio, na substituta de Era Uma Vez..., Alto da Serra, novela de Flávio de Campos e Marcílio Moraes. A trama, que seria dirigida por Ignácio Coqueiro sob o núcleo de Carlos Manga, usaria a luta pela abolição e a imigração alemã como pano de fundo para as divergências ideológicas do casal Júlia, uma costureira monarquista, e Demétrio, republicano militante. O rapaz fora abandonado pela mãe quando criança e, por este motivo, decidiu investigar o seu passado. Ao longo da narrativa, descobriria o pai e disputaria o amor de Júlia com seu irmão. Sabe-se lá por que a novela acabou engavetada, cedendo espaço para a segunda versão de Pecado Capital.


Escândalo (1998)
De Miguel Falabella

O fundador de um tradicional jornal morre e deixa a administração do negócio nas mãos de um filho incompetente. Para evitar a decadência total da empresa, a linha editorial deixa de ser sóbria e passa a ser sensacionalista. Este era o mote central de Escândalo, novela de Miguel Falabella, que teria colaboração de Aloísio de Abreu e Cláudio Paiva, e seria exibida às 19h, no segundo semestre de 1998. José Wilker daria vida ao herdeiro, que disputaria com a irmã malvada, Marília Pêra, o controle do jornal. A irmã, viúva de um banqueiro, lutaria pela guarda do neto, filho de uma garota pobre, Malu Mader, com o seu rebento, que morreria tragicamente nos primeiros capítulos. Tal trama fora reaproveitada em A Lua Me Disse, com as personagens Ester (Zezé Polessa) e Heloísa (Adriana Esteves). A trama discutiria ainda homossexualismo, racismo, ética e corrupção. Rosi Campos viveria uma paparazzi; Arlete Salles, uma atriz decadente; e Zezeh Barbosa, um dos membros da família negra de classe alta, composta ainda por Chica Xavier, Clementino Kelé e Elisa Lucinda. Escândalo não foi produzida, mas ficou lembrada pelo manifesto do ator Ricardo Brasil, que espalhou outdoors pelas ruas do Rio de Janeiro, com o seguinte apelo: “Falabella, eu quero fazer Escândalo!”


A Dança Da Vida (2001)
De Maria Adelaide Amaral

Este é um dos casos mais famosos de novelas que não saíram do papel. Para substituir a complicada A Padroeira, a Globo escalou Maria Adelaide Amaral e sua A Dança da Vida. Fábio Assunção seria o protagonista, Daniel, estudante de economia que ajudava moradores de comunidades carentes a desenvolver negócios. Filho bastardo de um senador corrupto, Conrado (Fúlvio Stefanini), Daniel herda uma fortuna do pai e aplica parte do dinheiro em entidades que ajudam crianças pobres, entrando em conflito com Laura, sua ambiciosa noiva, vivida por Adriana Esteves. A novela vinha avançando na produção e já contava com grandes nomes para seu elenco: Júlia Feldens como Beatriz, milionária solitária apaixonada por Daniel; Lília Cabral como a esposa do senador, Gilda Souza Lopes (personagem que seria de Irene Ravache, a princípio); Márcia Cabrita como Cida, empregada do senador; Vladimir Brichta como o vilão Quirino, motorista de Gilda; Paulo Vilhena como o mauricinho Otavinho; além de Mauro Mendonça e Vera Holtz. Eis que o Ministério Público classifica a trama como imprópria para 14 anos (exibição às 21h). Para suavizar a novela, Mário Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo, suprimiu do enredo uma prostituta, um traficante e um dependente químico. Sobre as alterações, Maria Adelaide declarou à Folha de São Paulo, em 19 de outubro de 2001: “Acharam a minha novela meio “forte” para o horário das 18h. Algumas coisas incomodavam e foram retiradas, mas a corrupção política e a discussão ética são inegociáveis. Sem isso não há novela”. E realmente não houve novela. A produção fora suspensa e alguns dos atores escalados remanejados para Coração de Estudante, trama que ocupou o horário.


Até Que Enfim (2003)
De Ana Maria Moretzsohn

Diferentemente de A Dança da Vida, Até Que Enfim, planejada para o horário das 19h, sequer chegou a entrar na linha de produção da Globo. A trajetória da mulher romântica, dona de uma agência de casamento, apaixonada por um pragmático empresário do ramo, serviria de base para as histórias mais curtas que envolveriam casais que passassem pela agência. Algo como o proposto por Gilberto Braga e Ricardo Linhares nas participações especiais de Insensato Coração. Ana Maria Moretzsohn, a autora de Até Que Enfim, já havia testado formato semelhante em Malhação e em um seriado que escreveu para a TV portuguesa.


Deusa Da Ilusão (2004)
De Ana Maria Moretzsohn

Após propor Até Que Enfim, Ana Maria Moretzsohn entregaria um novo projeto inovador a Globo, também para as 19h. Deusa da Ilusão, escrita em parceria com sua filha, Patrícia, se passaria em uma indústria de cosméticos. A ambientação daria margem a participações de telespectadores, que seriam sorteados para passar por uma transformação real, dentro do enredo fictício. Uma “reality novela” que contaria também com votações por telefone, a cada 15 dias, para decidir o rumo de parte da história, como no extinto Você Decide. O êxito que a Globo vinha obtendo com novelões clássicos na época pesou e Deusa da Ilusão, que faria uma intensa crítica aos padrões de beleza e a relações neuróticas com o físico, não emplacou.


Um Estranho Amor (2004)
De Alcides Nogueira

“Imaginava ter descoberto um ‘plot’ original, e ele já existe, nem tenho como negar! Como sou advogado pós-graduado em direito autoral, jamais me valeria de um plágio”. A afirmação de Alcides Nogueira botou um ponto final na curta trajetória de Um Estranho Amor, novela proposta pelo autor para a faixa das 18h. A trama se iniciava praticamente da mesma forma que o livro do francês Marc Levy, E Se Fosse Verdade: um arquiteto (André) aluga um apartamento e se depara com uma bela mulher (Laura, uma editora de moda) o ocupando. Ela confessa ser a alma da ex-inquilina, que sofreu um acidente e está em coma. André confere: Laura realmente está numa UTI. O arquiteto se apaixona pela alma de Laura, e os dois vivem um romance. Até que ela sai do coma e o rejeita, por não se lembrar de nada. Devido a essa infeliz coincidência, Um Estranho Amor acabou engavetada.


Por Aí (2005)
De Andrea Maltarolli

Andrea Maltarolli faria sua estreia como autora-solo três anos antes da simpática Beleza Pura, caso a Globo não tivesse suspendido a produção de Por Aí. Com direção de Carlos Manga e supervisão de texto de Carlos Lombardi, Maltarolli desenvolvia os capítulos desta comédia sobre uma sociedade secreta que desenvolvia pesquisas com transgênicos e uma quadrilha rural, que planejava um assalto para ajudar a mocinha caipira, perdida no Rio de Janeiro por conta das armações da tal sociedade, que contava com um cientista mal-humorado, o mocinho, que sofria de transtorno obsessivo-compulsivo. Concebida como Operação Vaca Louca, Por Aí acabou cedendo sua vaga para Bang-Bang, trama de triste lembrança.


João Ao Cubo (2012)
De Carlos Lombardi

Antes de deixar a Globo rumo à Record, Carlos Lombardi apresentou a sinopse de João Ao Cubo. Na novela, uma agência de viagens promete levar seus usuários a outros tempos. Assim, o protagonista João passa a viver seus amores em três épocas diferentes da história da humanidade. Como a sinopse pertence a Globo, mas seu autor está na concorrente, possivelmente não veremos João Ao Cubo tão cedo...

***

Próximo Capítulo: as tramas descartadas por Record e SBT. Não percam!



12 comentários:

FABIO DIAS disse...

Que legalllll esse post!!!
Parabéns!

FABIO DIAS disse...

Duh não tinha uma outra sinopse da Andreia Maltarolli que os protagonistas iam ser fantasmas, essa sinopse foi entregue após BELEZA PURA! Lembra de algo sobre isso?

Duh Secco disse...

Fico feliz que tenha curtido o post, Fábio. Na época em que Maltarolli faleceu, rolaram comentários sobre essa sinopse da autora, que até poderia vir a ser produzida. Mas não achei nada conclusivo sobre, infelizmente.

Rodrigo disse...

"Escândalo" também deve ter servido de base para a criação do seriado "A Vida Alheia".

Rodrigo disse...

Uma pena que não veremos tão cedo essa trama inovadora do Lombardi. A Globo vacilou ao perdê-lo para a Record.

Rodrigo disse...

Olha, vocês mostraram apenas uma pequena parte das sinopses que não saíram do papel. Deve haver ainda um monte delas engavetadas na emissora.

Outras que ainda podem ser levantadas são:

1. Uma novela que seria ambientada num transatlântico, que seria desenvolvida por Márcia Prates, com supervisão de João Emanuel Carneiro, para a faixa das 19h.

2. Em 2003, uma novela do Walther Negrão estava cotada para a faixa das 21h, "A Saga do Zebu", que seria ambientada no Rio Grande do Sul. O autor não teve a sinopse aprovada e usou sua pesquisa para ajudar Maria Adelaide Amaral na minissérie "A Casa das Sete Mulheres".

3. Gilberto Braga ia escrever uma novela chamada "Alta Rotatividade" para substituir "A Indomada" em 1997, mas a sinopse não foi aprovada e a emissora resolveu substituí-lo por Manoel Carlos, que escreveu "Por Amor". Dizem que "Alta Rotatividade" é a minissérie "Labirinto", mas não tenho certeza.

4. Maria Adelaide Amaral planejava uma minissérie intitulada "Nassau" para 2008, mas os altos custos de produção extrapolaram o orçamento da emissora para a faixa das minisséries e impediram que aquele projeto fosse realizado. A autora teve que apresentar outro projeto de menor custo, a minissérie "Queridos Amigos".
Eu acredito que a Globo esteja reservando "Nassau" como uma carta na manga para comemorar seus 50 anos em 2015, porque as invasões holandesas ainda merecem ser retratadas numa minissérie que deverá marcar história na teledramaturgia.

Duh Secco disse...

Rodrigo, de fato, ainda temos muitas tramas que não foram comentadas neste post. Mas padecemos de maiores informações sobre elas. Sobre "Nassau", ainda teremos um texto só para minisséries.

Rodrigo disse...

Duh, estou te enviando o link do jornal O Globo falando sobre a trama de Márcia Prates para as 19h, "Descobridor dos Sete Mares", que também não saiu do papel:

http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv/coluna/noticia/2010/05/globo-cancela-novela-das-19h-295188.html

Duh Secco disse...

Obrigado, Rodrigo! Pesquisei sobre Alta Rotatividade. De fato, é Labirinto. Mas fora concebida mesmo como minissérie.

Blog Agora É Que São Eles disse...

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Mensagem enviada pelo autor Manoel Carlos



Staush, bom dia

Beleza de matéria. Aguardo a segunda parte.

Abraço

MC

Lucas Fernando disse...

Gilberto Braga teve descartada foi Festa de Aniversário que substituiria A Indomada.

Rodrigo disse...

Será que desta vez essa trama de Andréa Maltarolli vai sair do papel?

Veja este link que saiu hoje no jornal O GLOBO (16/04/2013):

http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv/coluna/noticia/2013/04/silvio-de-abreu-vai-supervisionar-texto-de-novela-de-autor-estreante.html

Silvio de Abreu vai supervisionar texto de novela de autor estreante

Conhecido entre outros motivos por sua generosidade com autores estreantes, Silvio de Abreu voltará a supervisionar uma novela na Globo. Trata-se de uma trama escrita por Andrea Maltarolli. A história estava sendo preparada quando ela morreu, em 2009. O autor será Daniel Ortiz.