A ingrata missão do agente secreto
por Fernando Russowsky
Há um tempo, elaborei um texto sobre Araponga, que foi enviado a uma lista de discussão e postado na comunidade Teledramaturgia, do Orkut. Neste dia 29, a exibição do último capítulo da novela completa 20 anos. Aproveito o ensejo para, com algumas pequenas modificações, compartilhar com os nobres leitores deste blog o que escrevi:
Faço parte da meia dúzia de quatro ou cinco que, com a estreia de Araponga, passou a assistir Pantanal apenas aos sábados. Sem desmerecer o primoroso trabalho apresentado pela Rede Manchete, isso não me trouxe nenhum prejuízo para o entendimento da trama...
Concebida originalm

Acredito que esta é, senão a mais, uma das mais injustiçadas de todas as novelas. A televisão brasileira passava por um momento sem precedentes: consolidada a liderança global, nos anos 70, foi a primeira vez que uma novela de outra emissora era, com todos os méritos, campeã de audiência e, principalmente, de repercussão. Araponga estreou com a "missão impossível" de trazer de volta à Globo o público do horário após a novela das oito. Tinha atributos para isso, mas, definitivamente, o momento era de Pantanal, cujas novidades quanto ao ritmo e à narrativa eu creio que a imprensa e o público ainda estavam assimilando (algo como uma criança com brinquedo novo). Por isso, acabaram não prestando a devida atenção às inesquecíveis atuações de Tarcísio Meira (Aristênio

Eu gostava muito do humor non-sense da novela, com tiradas dignas de desenho animado, como quando Tuca Maia fala com Dalila ao telefone (na época não havia celular) e diz: "Tô indo praí". Dalila desliga. Toca a campainha da casa dela, ela atende e é Tuca Maia. Contando talvez não tenha a mesma graça... Ou a cena em que Araponga e Mão-de-Gato (Yvan Mesquita em participação especial) explodiam um cofre e acabavam destruindo o cenário da gravação que acontecia no estúdio ao lado. Teve também a cena em que Tuca Maia (de novo) entra num taxi e manda o motorista seguir um carro à frente. O motorista vibra: "Legal, igual filme americano!". Terminada a corrida, Tuca paga e pede o troco, o motorista re

Uma observação curiosa é que, embora sua audiência não tenha sido expressiva, teve considerável repercussão. Tanto que profissionais que trabalham com grampos telefônicos receberam a alcunha e ainda hoje são identificados como "arapongas". Muitas pessoas podem não lembrar da novela, mas lembram da "urinolina", o combustível alternativo sobre o qual foram feitas milhares de pesquisas (principalmente para resolver seu maior inconveniente, o mau cheiro) para no final descobrirem que era inviável. Seria uma crítica ao Proálcool, que à época enfrentava sua pior crise? Ou uma profecia, como aponta esta matéria? O regime militar também não foi poupado, principalmente as organizações secretas (como a que Araponga fazia parte) e a tortura (o detetive se trancava no quarto, se pendurava num pau-de-arara e se dava choques).
Tenho pra mim que Araponga foi uma obra genial, a novela certa no momento errado. Merecia ter sido tratada com mais consideração.
3 comentários:
Não sei se o Fernando ou mais alguém se recorda disso, mas houve uma cena inacreditável em "Araponga" em que o personagem do Ary Fontoura teve a ideia de usar uma camisinha que tocava música ao transar com sua esposa, vivida por Eloisa Mafalda, seu par mais constante na TV.
Bah, lembro sim! Aquela camisinha fez sucesso, depois o filho do personagem do Ary Fontoura, o Peracinho (Edgar Amorim), resolveu usar com a Arlete (Carla Marins). E eu, na flor dos meus 13 anos, vendo a Carla Marins... bah
Fernando, eu me divertia demais vendo Araponga! O humor cínico do Dias Gomes era perfeito, sem contar o elenco. Legal é que a direção do Cecil Thiré teve fôlego para aguentar as loucuras escritas por Dias, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar.
Araponga me salvava de Pantanal, que sempre achei chata e parada demais rsrs. Realmente, uma novela muito injustiçada!
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