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quinta-feira, 14 de abril de 2011






Daniel Freitas é natural de Ilhéus, na Bahia.
Este jovem de 31 anos se diz apaixonado por novelas rurais e pela atriz Ingra Liberato, e não hesitou em escrever sobre a novela "Ana Raio e Zé Trovão", sucesso da extinta Rede Manchete e recentemente reprisada pelo SBT.

Formado em jornalismo e estudante de direito, o rapaz nos presenteou com um belíssimo texto sobre a novela.




Ana Raio e Zé Trovão - Nostalgia no horário nobre
por Daniel Freitas


          Sucesso na extinta Rede Manchete no início da década de 90, a novela “A História de Ana Raio e Zé Trovão” teve o último capítulo de sua reprise exibido na segunda-feira (04/04) no SBT, com média de 9.1 pontos no Ibope e picos de 10, empatando com a Record e garantindo a vice-liderança à emissora de Sílvio Santos. Por cerca de dez meses (a estreia foi em 7 de junho de 2010), o público acompanhou a trama protagonizada por Ingra Liberato e Almir Satter, numa prova de que os folhetins antigos ainda seduzem o telespectador. Tanto que, diante dos satisfatórios índices de audiência, o SBT abortou a ideia inicial de transmitir um compacto de apenas 100 capítulos e colocou no ar os 258 da versão original, para a alegria dos mais saudosos.
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          Escrita por Marcos Caruso e Rita Buzzar, com direção de Jayme Monjardim, “Ana Raio e Zé Trovão” foi a primeira novela itinerante da televisão brasileira, gravada inteiramente fora dos estúdios. A proposta dos autores foi retratar o mundo dos rodeios e as caravanas que rodam o país, tendo como pano de fundo o romance entre os peões Zé Trovão e Ana Raio. A história gira mais em torno de Ana, uma moça sofrida que foi violentada na adolescência e, além de presenciar a morte do pai, teve a filha raptada pelo próprio estuprador, vivido com maestria por Nelson Xavier (Leopoldo/Canjerê). Ao longo de toda a novela, Canjerê foi o grande responsável por despertar o ódio no público e a torcida para que Ana superasse a dor e se vingasse de seu algoz.
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         A trama começou a se desenrolar na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, seguiu para Santa Rosa e Piratini (Rio Grande do Sul), Treze Tílias e Joinville (Santa Catarina) e terminou em Jaguariúna (São Paulo). De longe, a melhor fase foi a da Chapada, quando Ana Raio se firma como a melhor peoa de rodeios do Brasil, se torna conhecida e inicia sua jornada em busca da filha desaparecida. Já em terras gaúchas, os segredos de seu passado vão sendo desvendados, com a revelação das maldades de Canjerê e as testemunhas e pistas que ele foi deixando ao longo do caminho. Mas a emoção maior de toda a novela foi reservada para Treze Tílias, quando o público é presenteado com uma das mais belas cenas da teledramaturgia brasileira: o esperado reencontro de Ana Raio e Maria Lua (Micaela Góes), perfeito desde a música de fundo à expressão das duas atrizes, que deram um show de talento e interpretação. Ninguém ficou imune. 
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          De Joinville a Jaguariúna, porém, a novela começou a desandar e revelou a armadilha em que uma trama longa demais pode cair. Com a resolução de parte dos conflitos principais, houve capítulo demais para pouca história e as cenas tornaram-se repetitivas e chatas. Tramas paralelas sem importância ganharam um relevo desnecessário, personagens dispensáveis apareceram demais e diversas sequências foram repetidas a exaustão, como as intermináveis disputas nas arenas, os shows de artistas sertanejos em músicas sem fim e as paisagens da zona rural que nunca mudavam. Uma verdadeira “encheção de linguiça”. A história também teria se passado muito bem sem o insuportável Conde Rudi de Joinville ou a trupe circense de Dom Pupo (Sérgio Mamberti), que apareceu em Jaguariúna, já na reta final, sem dizer a que veio, só pra preencher os capítulos.  
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          Até mesmo o casal protagonista demorou demais a se acertar. Ainda assim, as cenas de Zé Trovão e Ana Raio, cada um em seus respectivos núcleos, sempre foram interessantes. O mesmo não se pode dizer do chatíssimo triângulo amoroso entre Bob (Rui Resende), Armando (Luiz Maçãs) e Clarice (Lou Grimaldi), que de tão indecisa, acabou parecendo uma doida varrida. Seu final, porém, foi merecido: acabou ficando sem ninguém. Por outro lado, personagens que tinham influência decisiva na resolução do conflito principal, as testemunhas das maldades de Leopoldo, nem tiveram tempo de falar o que sabiam. Acabaram sendo mortas uma a uma, como Maria Gasolina (Wilza Carla), Lamberto (Antônio Petrin) e Gióia (Renata Fronzi). Sem uma participação mais ativa desses e de tantos outros que sabiam dos segredos e das entrelinhas da trama, a impressão que se tem é a de que a história ficou mal amarrada e sem movimento.
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          Como ponto positivo, sem dúvida, está a atuação de Tamara Taxman como Dolores Estrada, manda-chuva do universo dos rodeios. A personagem marcou a carreira da atriz e dificilmente será esquecida, tamanha a sua habilidade em misturar humor com sordidez. Perversa sem perder a classe, Dolores conseguiu a simpatia do público ao fazer de gato e sapato o peão Daniel (Roberto Bontempo) e ao dar grandes golpes para tirar sua companhia de rodeio do prejuízo. Na fase da Chapada dos Guimarães, seus embates com a grande rival Vitória Imperial (Jandira Martini) renderam passagens deliciosas. Para desbancar Dolores, Vitória arranja até mesmo uma falsa Maria Lua para atrair Ana Raio para a sua companhia, num dos momentos mais empolgantes da novela. Dolores e Vitória voltam a se encontrar em Dallas, no último capítulo, num desfecho hilário. 
          Interpretação igualmente inesquecível foi a de Ângela Leal, que na época da primeira exibição pela Manchete, entre dezembro de 1990 e outubro de 1991, chegou a receber o prêmio APCA como melhor atriz coadjuvante por sua atuação como a sábia Velha Biga. Com suas previsões e enigmas, a personagem teve grande importância no acerto de contas entre Ana Raio e Leopoldo, que tentava matá-la, mas acabou sendo morto por Tião, o policial disfarçado que se infiltra na companhia da peoa para investigar os passos do assassino. Com a morte de Canjerê, a heroína tem um final feliz garantido, ao lado de Zé, da filha Maria Lua, e de mais um bebê que espera, tendo como patrimônio as terras que herdou  - o motivo da raiva doentia de Leopoldo. 
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          A reprise de Ana Raio e Zé Trovão também foi uma excelente oportunidade para o público rever artistas que andam sumidos, como Micaela Góes, Valéria Alencar (Malvina), Luciano Vianna (Andorinha), Luciene Adami (Marlene), Íris Bustamante (Flor Violeta) e tantos outros. Sem falar naqueles que já morreram, como Renata Fronzi, Luiz Maçãs, Irving São Paulo (Minho), Luiz Armando Queiroz (Rodrigo) e Miguel Magno (Billy). No último capítulo, foi emocionante ver todo o elenco reunido na tão esperada cena do casamento de Ana Raio e Zé Trovão, onde todos celebraram a coroação de um amor que sofreu tantas idas e vindas, mas resistiu ao tempo. E assim a novela chegou ao fim, cheia de poesia e ternura, tendo como fundo musical a sempre bela trilha sonora de Marcos Viana. 


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3 comentários:

Julio disse...

Com o perdão do autor por minha deselegância, o texto é infinitamente melhor que a novela. Ingra Liberato é linda, mas é tão expressiva quanto uma folha de papel, a direção de Monjardim é aquilo que todo mundo já sabe - filma gente como paisagem e paisagem como gente, tudo muito leeeento, apático, com cara de comercial ruim de agencia de turismo... Mas isso é até uma provocação, antes de uma opinião, já que o autor analisa a novela com paixão, tem o olhar apurado e argumentos quase inquestionáveis. Quase... rsrsrs

Isadora disse...

E por acaso existe um jeito melhor do que escrever/se expressar com paixão?

Talvez assim poderá fazer até os que não assistiram ou não gostaram da novela repensarem suas opiniões...

Parabéns Daniel, vocês escreve divinamente e apaixonadamente. Continue assim, defendendo o que gosta!

Anônimo disse...

Concormdo em partes.O único porém é que Ingra Liberato aprendeu a atuar. Está divina na atual novela da Record.