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domingo, 12 de junho de 2011












A ARTE DE NÃO FAZER RIR

por Guilherme Staush


Já foi o tempo em que a Rede Globo mantinha em sua grade de programação anual uma seleção fixa de séries exibidas no horário nobre da TV, após a tradicional novela das 8 (hoje, das 9). Nos últimos anos, a emissora carioca tem exibido uma alta rotatividade de programas nesse horário. Se por um lado, isso demonstra a capacidade de produzir séries diferentes, dando oportunidade a diversos autores e oferecendo ao público uma variedade maior de atrações, por outro, evidencia uma baixa satisfação do telespectador quanto aos programas do horário noturno e reflete que eles não têm fôlego suficiente para serem exibidos durante todo ano, ininterruptamente. Com isso, as chamadas “temporadas”- estrutura utilizada pelas séries americanas- acabaram sendo implantadas na elaboração de uma grade mais diversificada, e por isso mesmo, com atrações menos duradouras. A regra é simples: o que está agradando ao público, permanece na grade; o que não está, é cortado definitivamente da programação.

A desgastada “A Grande Família”, por exemplo, tem demonstrado um fôlego de super-homem ao resistir a dez anos de exibição; já as recentes “Aline” e “Batendo o Ponto” foram expurgadas da grade, devido aos baixos índices de audiência, pegando o público e os próprios profissionais das séries de surpresa. A primeira foi abortada após a exibição do quinto programa de sua segunda temporada, fazendo com que os três episódios restantes permanecessem inéditos; já a segunda teve vida mais efêmera ainda, sendo limada da programação noturna do domingo após ter somente sete episódios exibidos. Como conseqüência de tudo isso, há uma profusão de programas disputando um lugar na grade fixa da emissora, e o que é mais grave: o telespectador fica tão perdido com esse rodízio televisivo, que acaba não tendo tempo suficiente para se habituar a nenhuma das opções oferecidas, pois logo uma nova atração surge na sequência das temporadas, ou então como renovação de uma grade surrada de tantas tentativas em se levantar a audiência do horário. Foram tantas as séries que fizeram parte dessa ciranda sem fim nos últimos anos, que é impossível lembrar o nome de cada uma. E pior ainda, a impressão que se tem tido é de que são todas iguais, e que a única coisa que muda é o elenco.

E por falar em elenco, me parece que este é um dos maiores problemas das séries mal sucedidas da emissora. Não basta escalarem grandes nomes da televisão para participarem dessas séries. Se o objetivo é fazer o telespectador rir, é necessária a presença de profissionais do humor para que consigam dar algum resultado. Este tipo de programa requer um timing diferenciado e carece de atores que se sobressaiam em suas interpretações, e que consigam até mesmo extrair leite de pedra, quando necessário. As séries americanas têm como grande diferencial o seu próprio elenco. No Brasil, não é qualquer ator que está preparado para encarar o desafio de fazer o telespectador rir. Isso não é tarefa para um Tarcisio Meira e tampouco para uma Glória Pires, por melhores que sejam.

Vale citar como exemplo dois humorísticos que marcaram época na grade da Globo: o primeiro deles é o “TV Pirata”, programa dos anos 80, com ótimos redatores e com um elenco sem igual, reunindo a nata dos comediantes jovens da época, como Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Guilherme Karan e Cristina Pereira, entre outros. O programa conquistou o público de imediato e ficou durante anos na grade da emissora porque conseguiu o mérito de sincronizar um ótimo texto com um elenco impagável. O mesmo aconteceu com o “Sai de Baixo”, nos anos 90, uma espécie de teleteatro do humor, que reuniu ótimos comediantes como Miguel Falabella, Marisa Orth, Tom Cavalcanti e Cláudia Jimenez. O programa fez história na TV, mostrando que teve fôlego para se manter na grade da programação por 6 anos.

O sucesso do “Sai de Baixo”, entretanto, não se concretizou porque tinha em seu cast dois grandes renomados talentos do teatro e da TV, Luiz Gustavo e Aracy Balabanian, que eram justamente os menos engraçados da turma. Quem sustentou o programa foi certamente o ótimo time de comediantes, tanto que quando Tom Cavalcanti - que carregou vários episódios da série nas costas - deixou o elenco, a atração começou a afundar.

Nos anos 2000, a Globo produziu o ótimo “Casos & Acasos”, um formato bem interessante que contava três histórias cômicas diferentes que se cruzavam dentro de um único episódio. E durante os quase 40 exibidos pelo programa, nunca se viu de forma tão transparente a falta que faz um elenco bem escalado e capaz de dar um toque cômico bem especial às tiradas oferecidas. Ao contrário, o que se via eram ótimos textos desperdiçados com atores medianos que ofereciam apenas o trivial em matéria de interpretação.

As séries atualmente em exibição na emissora refletem bastante tudo isso. Com exceção de “Tapas e Beijos”, que apresenta o ótimo texto de Cláudio Paiva aliado aos ótimos Fernanda Torres, Andrea Beltrão e Vladimir Brichta, as demais que entraram na grade esse ano, ou já mostraram que não tiveram fôlego para resistir mais do que uma temporada, ou estão (ainda) desafiando a paciência do telespectador. “Lara com Z”, por exemplo, teve um ótimo piloto, mas tem mostrado um desgaste prematuro ao longo desses poucos meses de exibição. Suzana Vieira é uma ótima atriz, mas alguém duvida que, com as devidas adaptações, Marisa Orth ou Regina Casé poderiam estar arrancando gargalhadas do público com as tiradas cômicas da personagem ou que se o personagem de Humberto Martins estivesse sendo interpretado por algum ator mais experiente em comédia estaria rendendo bem mais?  Afinal, todo o bom humorista tem que ser necessariamente um bom ator, mas nem todo o bom ator - por melhor que seja - conhece a arte de fazer rir.




4 comentários:

André San disse...

Ótimo ponto! O elenco de algumas dessas séries realmente deixam a desejar. Sobre o regime de temporadas, eu até gosto, mas preferia que fossem temporadas mais extensas (tipo uns 20 episódios), como é na TV americana. Uma série ficar no ar o ano todo, como A Grande Família, cansa demais! E uma série de cinco semanas passa batida. Devia haver um meio-termo. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Anônimo disse...

"Suzana Vieira é uma ótima atriz, mas alguém duvida que, com as devidas adaptações, Marisa Orth ou Regina Casé poderiam estar arrancando gargalhadas do público com as tiradas cômicas da personagem ou que se o personagem de Humberto Martins estivesse sendo interpretado por algum ator mais experiente em comédia estaria rendendo bem mais?"

Assino embaixo.

Eduardo Vieira - Recife/PE

Anônimo disse...

Sem dúvida é uma questão importante. Um bom ator pra comédia é sempre um plus nesses seriados. TV Pirata e Sai de Baixo são amostras disso.

Fernando Oliveira disse...

Nada a ver esse comentário a respeito de Lara com Z. Foge totalmente do contexto do seriado, que na minha opinião é ÓTIMO!