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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Elenco estelar numa farsa tupiniquim-hollywoodiana

Adaptado por Daniel Pepe a partir de texto original do mesmo autor em parceria com Duh Secco [1]



Às 19h de 06 de junho de 1983 estreava “Guerra dos Sexos”, um marco da teledramaturgia que Sílvio de Abreu escreveu com a colaboração de Carlos Lombardi, contando com a direção de Jorge Fernando e Guel Arraes.

É importante ressaltar que a novela é esse marco graças também a duas notórias novelas que vieram antes no mesmo horário: “Feijão Maravilha” (Bráulio Pedroso – 1979) e “Jogo da Vida” (Sílvio de Abreu – 1981/82). Nilson Xavier, autor do site “Teledramaturgia”, escreveu para o blog Zappiando: “Feijão Maravilha” não podia ser considerada uma novela comum, era uma anti-novela. Humor pastelão e situações surreais permeavam a trama. E tudo isso antes de Silvio de Abreu revolucionar o horário das sete com Guerra dos Sexos. [2]

Em “Jogo da Vida”, as situações surreais começaram a ter grande importância depois do drama, que permeava a sinopse da novela, ter conquistado o telespectador. Portanto, em 1983 o público já estava preparado para uma história que partia dessas situações nonsense atípicas logo no primeiro capítulo.

O autor resumia toda a história em apenas uma linha em entrevista ao Jornal do Brasil, concedida em maio de 1983: “Guerra dos Sexos" é, de certa forma, a briga entre machistas e feministas, mostrando o quanto o radicalismo, neste caso, é desnecessário e ineficaz. Mas a novela não se resumia a isso!

As novidades de Guerra dos Sexos começavam pelo quarteto estelar de protagonistas: o casal maior do teatro que se encontrava pela primeira vez – Fernanda Montenegro e Paulo Autran – e o casal maior da TV, que já havia namorado em inúmeras produções, desta vez aparecia em pé de guerra – Tarcísio Meira e Glória Menezes.

A trama teve do início ao fim uma estrutura rígida da narrativa, amarrada na ideia inicial de Sílvio de Abreu - mencionada acima -, não tendo se perdido praticamente em nenhum momento. Pelo contrário. Na altura da metade da novela, o protagonista Otávio (Paulo Autran) teve problemas de saúde e precisou se afastar por dois meses. E nem por isso o autor deixou a peteca cair. Criou o entrecho do desaparecimento do personagem, que mesmo ausente se fazia presente para atormentar a prima Charlô (Fernanda Montenegro). Um desses artifícios foi o de mandar três mulheres, cada uma a seu tempo, para instigar a curiosidade da prima e da criada Olívia (Marilu Bueno) sobre ele ter outras relações e sobre o que fazia quando pintava o bigode de preto e saía com o fiel e companheiro motorista desajeitado Nando (Mário Gomes). Elas deram vida às chamadas “mulheres do bigode preto”, em participações super especiais de Renata Sorrah, Suely Franco e Regina Duarte.

Participações especiais não faltaram em “Guerra dos Sexos”. Outras bem marcantes foram as ex-mulheres de Felipe (Tarcísio Meira), interpretadas por Eva Wilma, Aracy Balabanian, Suzana Vieira, Irene Ravache e Renée de Vielmond, que apareceram juntas para atormentar o ex-marido.

Se a estrutura da novela era linear, ao mesmo tempo conseguia ser anárquica e debochada, cheia de cenas nonsense, de acontecimentos surreais que partiam de algum entrecho importante no desenrolar da história. Como na situação em que Charlô, guiando uma moto, cai do “Minhocão” depois de uma perseguição atrás de Otávio e de Nando, numa das tentativas de desvendar o “segredo do bigode preto”. No hospital, convalescendo, ela canta para os outros doentes tal como Susan Hayward em “Meu Coração Canta”. E logo em seguida, se finge de moribunda para Otávio, cena inspirada em “A Dama das Camélias”.

Essas foram uma das muitas referências a Hollywood. Talvez a maior citação tenha sido a festa em que Charlô deu em homenagem à amiga Roberta Leone (Glória Menezes), na qual os convidados deveriam ir fantasiados de atores hollywoodianos. Como sempre, Charlô surpreendeu e foi vestida de Theda Bara, atriz polêmica para a sua época. Otávio apareceu de Rodolfo Valentino, maior galã do cinema mudo. Os demais personagens ainda homenagearam Doris Day, Rock Hudson, Rita Hayworth, Jean Harlow, Elizabeth Taylor, Elvis Presley, e “O Gordo e o Magro”.

Sílvio de Abreu chegou a solicitar, inclusive, uma trilha sonora internacional composta somente de temas do cinema americano, já que vários deles pontuaram inúmeras cenas da novela. Só que a essa altura, as músicas que compunham a trilha internacional da trama já estavam selecionadas. Porém, não foi a discordância com relação à trilha sonora que tirou o brilho de “Guerra dos Sexos”. A novela tinha em seu elenco, alguns dos maiores nomes da teledramaturgia.

Além do quarteto
principal, outros atores davam à história uma qualidade diferenciada. Vale destacar aqui a grande e saudosa Yara Amaral, que interpretou magistralmente a paulistana de ascendência italiana do bairro da Mooca, que tinha como qualidades ser fofoqueira, encrenqueira, ignorante e preconceituosa, sem com isso deixar de ter um grande carisma e ser bastante querida como muitas mulheres reais que existiam no bairro e que continuam lá até hoje. Não bastasse tudo isso, Nieta era noveleira! Característica perfeita para segurar de vez o telespectador.

Com a doença de Paulo Autran, a espiã de Otávio, Verusca, divertidamente feita por Sônia Clara, ganhou um novo parceiro de cena: Nenê Gomalina, papel que caiu como uma luva para Hélio Souto. Os dois acabaram sendo responsáveis por momentos hilários da trama.

Outro destaque foi Maria Zilda, representante da mulher independente financeira e emocionalmente que morava sozinha e não tinha planos de se casar nem de ter filhos. Apenas curtia a vida e as paixões sem compromisso. Por outro lado, Leina Krespi mudava o tom e vivia uma tia solteira, dona Semíramis, às voltas com sua sobrinha, Frô, a feiosa que se julgava deslumbrante, numa criação perfeita de Cristina Pereira. Quem também mudava de ares era Helena Ramos, musa da pornochanchada, que encarou o desafio de viver a boa e recatada Lucilene. Já Lucélia Santos era Carolina, a mocinha com cara de anjo que na verdade era um diabinho que enganava e prejudicava quem quer que fosse para atingir seus objetivos, entre eles ser a mulher de Felipe.

A parte romântica da novela coube sobretudo ao quarteto Fábio (Herson Capri), Juliana (Maitê Proença), Nando e Roberta, entrando mais tarde Felipe e Carolina nesse meio. O desfecho dessas tramas amorosas fugiu do lugar-comum das tramas anteriores.

Fechavam o elenco ainda Ary Fontoura, Edson Celulari, José Mayer, Diogo Vilela, Ângela Figueiredo, Terezinha Sodré, Paulo César Grande, entre outros. Em depoimento ao site Memória Globo, Fernanda Montenegro diz que "Guerra dos Sexos" foi uma linguagem ousada. Mas ousamos na medida certa. Foi uma loucura certa. Loucura ou não, foi a novela certa, na hora certa. Quando o gênero dava sinais de cansaço, “Guerra dos Sexos” sacudiu o cenário da teledramaturgia, deixando sua marca na história da televisão brasileira. E uma marca maior ainda na lembrança de todos os que puderam conferir esse grande espetáculo.

Releia também o relato sobre a novela do nosso colunista Ivan Gomes para o Blog "Prefiro Melão - Novelas e Cia."


[1] Revista Memória da TV - edição 1

[2] Blog Zappiando - Nilson Comenta "Feijão Maravilha"

Imagens: Blog Memória da TV, Comunidade Memória da TV no Orkut, Ucha Projetos Editorias photostream



2 comentários:

André San disse...

Olá, tudo bem? Também sou homem e noveleiro, hehehe! Adorei a proposta do blog e me deliciei com este texto de Guerra dos Sexos. Sou grande fã de Silvio de Abreu e sua gana pela novidade dentro da telenovela tradicional. Talvez Guerra dos Sexos seja a novela emblemática do autor, onde esta veia inventiva surgiu com maior destaque. Porém, todas as suas novelas, umas mais outras menos, tem esse toque de frescor que, algumas vezes, acabam não sendo bem compreendidas pela audiência (As Filhas da Mãe, por exemplo). Parabéns aos criadores do blog pelo excelente conteúdo! Serei visita constante a partir de agora. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Efe disse...

Há certo tempo comecei a fazer download da novela e assisti-la com assiduidade, mas infelizmente parei por volta do capítulo 15, ainda bem no início, em razão de os links terem sido removidos pelo Orkut. Mas a comédia pastelão rasgada, as diveridas trocas de farpas entre Fernanda Montenegro e Paulo Autran de um lado, e de Glória Menezes e Tarciso Meira de outro, prenderam minha atenção. Lucélia Santos deliciosamente odiosa e cínica, e beleza resplandecente de Maitê Proença e Maria Zilda me encantaram. O ritmo ágil dessa comédia, que virou de ponta a cabeça o horário das 19 horas, me encantou sobremaneira: Guerra dos Sexos é uma dessas novelas que aparecem de vez quando e marcam uma época, abrindo caminhos. Breve espero poder vê-la completamente.
Texto super convidativo, parabéns!