ANA MARIA MORETZSOHN
"Na Globo tudo é grandioso, tudo é fácil – é necessário sair da zona de conforto de lá, para poder aprender que tudo é possível!"
A carioca Ana Maria Moretzsohn iniciou sua carreira televisiva em 1984, na Rede Globo, quando entrou para a Casa de Criação Janete Clair. Durante esta década, a autora escreveu episódios do Caso Verdade e do Teletema, além de colaborar em novelas como Direito de Amar, Bambolê e O Salvador da Pátria. Suas parcerias com Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares renderam os sucessos Tieta, Pedra Sobre Pedra e Fera Ferida.
Como nem só de parcerias vive um autor de novelas, Ana marcou sua estreia como autora solo com Perdidos de Amor, em 1996, na Band, onde fez ainda Serras Azuis e uma nova adaptação de Meu Pé de Laranja-Lima. Na Globo, ela escreveu Esplendor, Estrela-Guia e Sabor da Paixão. Na última década, já na Record, ela fez Luz do Sol.
Ana está de volta à Rede Globo. Desta vez, o convite veio do diretor Daniel Filho.
A autora, atualmente, está escrevendo episódios da série "As Brasileiras", e, gentilmente, concedeu uma entrevista ao nosso blog.
A autora autografa seu mais recente livro, "Pingos de Sangue no Play", na Bienal do Rio, no próximo sábado, dia 3, às 10:00.
ENTREVISTA EXCLUSIVA
Daniel Pepe pergunta
1- Você ingressou na TV Globo nos anos 80 através da Casa de Criação Janete Clair, projeto voltado para o desenvolvimento de novos talentos. Comente um pouco sobre como era feito esse trabalho.
Nós tínhamos aulas com pessoas do meio e fazíamos estágio com autores. Tínhamos tutores. O meu, por exemplo, era o Durst. Acompanhei, também, o Cassiano – que na época escrevia Tititi.
Fernando Russowsky pergunta
2- O autor Lauro César Muniz lidera uma campanha pela redução do número de capítulos das telenovelas e, em entrevista ao blog, defendeu a causa. O que você pensa sobre isso? Você tem experiência em novelas mais curtas. Esplendor, se não me engano, teve 125 episódios e Estrela Guia, 83. Quais são as diferenças, vantagens e desvantagens de se escrever obras com maior ou menor tempo no ar?
Já escrevi novelas grandes e pequenas. Juro que pra mim não faz diferença. Nós temos que estar preparados, ter uma história que possa render. Esplendor foi uma encomenda, uma novela rápida enquanto outra estava sendo produzida. Eram 70 capítulos que quase dobraram. Eu já tinha me preparado para isso, deixando uma das Flávias em coma. Quando avisaram que ia aumentar, eu puxei essa carta da manga.
Fernando Russowsky pergunta
3- Lua Cheia de Amor, que você escreveu em parceria com Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa, era um remake de Dona Xepa, exibida pela Rede Globo em 1977. Há alguns anos, vem ocorrendo uma série de regravações na teledramaturgia brasileira. Você acha que há espaço para releituras ou é do grupo dos que defendem a reexibição dos originais? Acredita em crise de criatividade? Enfim, gostaria de saber sua opinião sobre o assunto.
O público gosta de ouvir músicas que já conhece e gosta de rever histórias que lhe agradam. Não vejo crise de criatividade. O que vejo são novelas sofisticadas demais para o novo público de TV, que agora abarca uma grande parcela das classes C e D. Esse público adora novelão, melodrama, sem muito papo-cabeça. Aliás quem não gosta? O “Astro” está aí pra provar isso.
Guilherme Staush pergunta
4- Kika Jordão, brilhantemente interpretada por Arlete Salles em “Lua Cheia de Amor”, citada na pergunta anterior, fez um enorme sucesso. Na primeira adaptação televisiva de “Dona Xepa”, escrita pro Gilberto Braga, a personagem Glorita (Ana Lúcia Torre) tinha a mesma força na trama, mas era mais séria, assumia ares de vilã. Assim sendo, despertou o ódio do público. Glorita acabou não obtendo êxito em sua eterna busca por um lugar na sociedade. Em “Lua”, entretanto, Kika acabou “engolindo” a novela, e seu carisma parece ter conquistado até mesmo os autores da trama, que a presentearam nos últimos capítulos, abrindo-lhe “as portas douradas da sociedade”, com direito a muitos flashes ao lado de “sua irmã siamesa” Laís Souto Maia (Suzana Vieira).
Quem criou Kika Jordão e quem escrevia as cenas dela? Por que vocês decidiram dar a ela um final feliz, ao invés de punir a personagem por sua empáfia, arrogância e falta de bom senso? Houve divergências?
Nunca dividimos capítulos por personagem. Daí todo mundo escrevia a Kika. Como gostávamos demais dela, não vimos razão alguma para puní-la. Ela não matava, não roubava, KKKKKK!!!!
Duh Secco pergunta
5- Recentemente, a Band vendeu duas obras de sua autoria, Meu Pé de Laranja Lima e Serras Azuis, para as emissoras Ulbra TV e TV Diário. Você não foi notificada pela emissora a respeito da reexibição das novelas e, certamente, não deve ter recebido nada pela venda até o momento. Como resolver essa questão? Você acha que as leis para direitos autorais, no Brasil, precisam ser revistas? É difícil administrar sua obra a partir do momento em que ela passa para as mãos da produtora?
Não há o que rever. Assinamos contrato com as emissoras. Elas têm obrigações que devem cumprir. Se não cumprirem, nós acionamos os advogados. Foi o que fiz. Dá última vez que fiz isso, com a própria Band, demoraram um pouquinho, mas pagaram.
Guilherme Staush pergunta
6- Os grupos de discussão sobre teledramaturgia que frequento são quase unânimes em se tratando de “Esplendor”. A maioria dos internautas considera esta como sendo sua melhor novela. Qual sua opinião? Por que razão esta é sua única trama de época como trabalho autoral, já que foi tão bem sucedida?
Algumas coisas não se explicam. Fiz uma novela que eu considero excelente – Serras Azuis – que não é de época, mas é atemporal. Por ter sido na Bandeirantes, não fez o sucesso que certamente faria, na Globo.
Duh Secco pergunta
7- Você está retornando a Globo depois de quase dez anos afastada da emissora. Desta vez, a convite do diretor Daniel Filho para escrever dois episódios da série “As Brasileiras”. Quais foram os motivos de sua saída? O que mudou da Ana Maria de 2002 pra essa de 2011? Pode nos adiantar alguma coisa sobre os episódios da série que você está escrevendo?
Saí em 2004 porque meu contrato terminou. Nada mudou em mim. Tive chance de me aventurar pelo cinema, pela literatura, por produtoras independentes. Pude conhecer uma emissora nova – a Record. Acho que essas experiências me ajudam a crescer como profissional. Infelizmente não posso falar sobre As Brasileiras… Quando chegar mais perto da estreia, talvez…
Duh Secco pergunta
8- Além de trabalhar na Globo, você fez parte do departamento de dramaturgia da Band. Depois, passou por um período na Record. E agora, está em uma produção independente, a minissérie Belos Demais para a Casablanca, escola de atores de Curitiba. Como é, para o autor, trabalhar em emissoras nas quais a produção em dramaturgia ainda está se iniciando? Quais os pontos positivos e negativos destes trabalhos? Como foi sua experiência nos locais citados, especificamente.
Acho que respondi isso na pergunta anterior. Vou dar um exemplo. Fui para a Band que, na época, era uma emissora sem grandes recursos de dramaturgia. Fiz três novelas, uma atrás da outra – todas com restrições financeiras. Voltei para a Globo, precisaram de alguém para escrever Esplendor – uma novela que deveria ser barata, com poucos cenários e poucos personagens. Na época, Daniel Filho era o diretor artístico. Wolf era o diretor da novela. A partir de uma folha de papel com um resumo – que vendi para Daniel, em 60 dias colocamos Esplendor no ar. Foi um sucesso. O fato de eu ter trabalhado na Band, com poucos recursos, certamente me deu jogo de cintura para encarar o desafio. Na Globo tudo é grandioso, tudo é fácil – é necessário sair da zona de conforto de lá, para poder aprender que tudo é possível!
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12 comentários:
Amay saber que todos adoravam a Kika Jordão!
Concordo! Esplendor foi ótima! Poderiam reprisar no Vale a Pena ver de Novo já que a Ana voltou pra Globo!
Aliás, a autora poderia fazer uma novela utilizando o realismo fantástico, já explorado nas novelas que ela fez com Aguinaldo e Ricardo. Mudaria um pouco essa sequência de tramas urbanas exaustivas.
Parabéns por mais essa entrvista!
Não há que se discordar da fala dela no que diz respeito a "sair da zona de conforto"... talvez seja o que necessita passar, o Walcyr Carrasco.
Lembro com saudade da parceria da Ana Maria com o Aguinaldo e Linhares.
Parabéns pela entrevista, meninos... curiosamente, ela se mostrou bem solícita e humorada!
Parabéns pela entrevista! Ana é uma ótima escritora. Serras Azuis, como ela disse, é uma de suas melhores novelas. Infelizmente passou na Band e pouca gente viu. Perdidos de Amor tb. Creio que suas melhores novelas são da mesma emissora. Tomara que um dia se lembrem e reprisem.
Adoro as entrevistas de vocês!
Gosto mais ainda de entrevistas com atores. Espero que continuem
Abraços
Adorei a entrevista, só senti falta de perguntarem algo da novela Perdidos de Amor da Band. Foi minha favorita em se tratando de Ana Maria.
Ótima entrevista! Nunca gostei muito do estilo da autora, sempre a considerei muito água com açúcar. Mas não vi Serras Azuis e, pelo que ela disse, até fiquei com vontade de ver. Já Esplendor sim, eu gostei bastante, e eu me lembro que ela foi anunciada como uma "novela curta de verão". Mas deu tão certo que dobrou o número de capítulos, como a autora mesmo relembrou. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
Ana está fazendo falta na Record.
Luz do Sol foi muito boa! Poderia estar escrevendo uma novela agora, no lugar das adaptações mexicanas.
Muito boa a entrevista!
Também adorei Kika Jordão! Uma das melhores personagens cômicas de novelas das 7. Botou até a protagonista Genu na sombra.
Uma pena essas parcerias que dão tão certo se desfazerem. Prefiro muito mais Ricardo Linhares fazendo novelas com Aguinaldo e Ana do que com Gilberto.
Esplendor poderia entrar no VPVD agora que a autora está de volta na Globo. Senti falta de uma questão sobre alguma sinopse que estivesse engatilhada na Record e acabou não entrando em produção na emissora. Abraço!
Lucas - www.portalcascudeando.blog.com
Amei Esplendor, com certeza é uma da melhores novelas a que eu assisti.
Parabéns pelo trabalho, meninos.
Abração
Excelente entrevista.
Adoro a Ana.
Estou vendo Serras Azuis e amando, gostaria muito de rever Esplendor, que de fato, é a melhor novela da Ana, quem sabe a Globo nos presenteia com essa trama rsrs..
Quero dizer que acho que Ana Maria tem bom potencial como autora até mesmo devido pela experiencia profissional que teve com grandes autores como Agnaldo Silva como colaboradora. Dentro todas as suas novelas a MELHOR foi Perdidos de Amor na BAND. Essa novela dava 7 pontos de audiencia, ibope que nunca a Band conseguiu com nenhum programa as 19hs. Somente o sucesso Floribela conseguiu 5 pontos. Perdidos de Amor tinha um otimo elenco com Claudio Lins e Cristine Fernandes como protagonistas e excelentes atuações em comédia com Lucinha Lins e Totia Meireles que estavam impecaveis e nunca mais tiveram um bom papel como tiveram ali. Acho Campeao e Serras Azuis tramas fracas que Ana ERROU na mão como seu gosto por tramas AGUA COM AÇUCAR que fora da Globo ninguem atura. Ela errou de novo na oportunidade que teve na Record repetindo tramas chatas agua com açucar como Luz do Sol. Na Globo como diz Mara Maravilha até "Cadela dá ibope" referencia a cadela Priscila do TV Colosso rss. Logo, explendor era boazinha mais cafona e trash, Estrela Guia era boa mais Sandy puxou o merito da audiencia e Sabor da Paixao foi a ultima oportunidade dela fazer na Globo um grande sucesso parecido e nos moldes de Perdidos de amor na Band, como uma trama jovem, sensual, com tom de comedia, diferentes dos dramalhoes mexicanos que ela SEMPRE insiste equivocadamente em repetir e se dar mal por onde passa. Ana Maria, faz numa emissora um remake ou uma novela nos moldes de perdidos de amor com um elenco lindo e talentoso como fez do passado. Um dia vc vai me agradecer pela dica !!! Beijo e sucesso pra ti em 2012 seja na Globo em qualquer emissora !!!
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