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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011




Duh Secco
entrevista

MARGARETH BOURY




É difícil precisar quem tem a alma mais jovem: os personagens de Rebelde ou a autora da história, Margareth Boury. Nascida em uma família com estreitas ligações com a TV, Margareth deixou a colaboração nas novelas da Globo para ser titular na dramaturgia da Record. Está no ar com sua segunda novela na emissora e entre laudas e mais laudas, encontrou um espaço em sua agenda para nos conceder essa entrevista.


1 - Você está no ar com “Rebelde”, produto concebido a partir de um original da Televisa. Quem acompanha a trama, nota que o desenvolvimento da mesma difere bastante da versão mexicana. Como foi o processo de adaptação da novela? O que se perdeu do original ao abrasileirar a trama?

A versão mexicana de Rebelde tinha muitos personagens dentro do colégio e poucos fora dele. São realidades diferentes: Brasil e México. Enquanto eu via e lia a primeira temporada da novela mexicana, eu já comecei a pensar em como fazer para unir alguns personagens (por exemplo: lá existiam muitos vilões, aqui a gente costuma trabalhar com dois, no máximo). O comportamento dos alunos também era diferente: na versão mexicana existia muito mais sexo, drogas e rock. Aqui, por causa da classificação etária, a gente tem que pegar muito, muito leve em qualquer desses temas. O jeito foi partir para tramas paralelas que fossem atrativas (Vicente e Becky/ o núcleo da família da Zezé Motta/ Pingo e Teresa, Artur e outros mais) e também metralhar nos diálogos, fazendo com que todos falem depressa, quase de maneira febril. Muita comédia e romance. Não sei se eu respondi a sua pergunta, eu acho que nunca respondo direito quando me fazem essa pergunta, porque foi muito fácil adaptar a novela, tive total liberdade para fazer as mudanças que eu achei necessárias então eu acho que quem pergunta fica sempre frustrado com a resposta.


02 - Você ingressou na Record em 2006, após um longo período como colaboradora na Globo. O que levou de sua experiência anterior para sua nova emissora, ainda iniciante na produção de novelas? O que destacaria, entre os trabalhos e os profissionais com os quais conviveu, do período em que esteve na Globo?

Eu levei foi garra! Vontade de escrever. Trabalhei com muitos autores feras.  Acho que o primeiro foi Cassiano Gabus Mendes (com quem colaborei sem crédito ainda em Brega e Chique) - o cara sabia tudo! Era divertido ver o Cassiano criar as tramas em papel, no colo, na sala da casa dele. Com Walter Negrão eu fiz Despedida de Solteiro - nessa novela eu descobri que gostava de escrever pra jovem - peguei a trilha dos personagens mais novos e foi ótimo! Lauro César Muniz e Marcílio Moraes em Sonho Meu. O Lauro é ótimo pra ensinar. Eu me lembro que ele me dizia o seguinte: "já carreguei muito o piano, agora você carrega que eu toco". Isso queria dizer que eu ia escrever muito e ele revisava depois. Foi muito bom, porque o Lauro me ensinou mesmo. Aí eu conheci o Carlos Lombardi! Ele ia fazer Malhação e me chamou pra entrar no time.  Foi eletrizante trabalhar com ele nos anos seguintes. O Lombardi tem uma visão muito diferente de tudo. Ele é extremamente inteligente, pensa a mil e a gente precisa acompanhar. Com ele eu fiz, além de Malhação, Uga Uga, O Quinto dos Infernos e Kubanacan. Foi uma super parceria. Não consigo pensar em um deles. O conjunto me ajudou. O conjunto me supriu de carpintaria, de sagacidade e de vontade. Depois disso ainda fui escrever A Diarista com o Bruno Mazzeo. Criei a irmã gêmea da Marinete e me diverti muito nos dois anos que fiquei no programa.


03 - Na época de “Alta Estação”, você assumiu sua inspiração no seriado “Friends”, ao declarar ao jornal O Globo, em 12 de novembro de 2006: “A ideia de “Friends” é ótima. E as personagens da novela vieram da minha vontade de ver pessoas como os amigos dos meus filhos retratadas na tela”. Ao longo da novela, entretanto, você realizou alterações que acabaram por inserir até mesmo um núcleo policial na trama, descaracterizando a ideia inicial. O que a levou a implantar tais alterações e como foi trabalhar com essas mudanças de rota?

Pois é... Foi chato ter que fazer aquilo. Mas na época eu não tive saída: a novela não ia bem de audiência e eu tive que seguir algumas normas. Não deu certo, claro. Eu gostava muito de Alta Estação. A ideia original, que era lançar gente nova no mercado, deu super certo. Lançamos Andreia Horta, Lana Rodes e muitos outros, como o Lucas Cotrin que agora é um adolescente e está em Rebelde.


04 - Ao Jornal do Brasil, em 04 de fevereiro de 2007, você declarou, sobre a dificuldade de retratar temas mais pesados em “Alta Estação”: “Dizem que este país não tem censura. É uma mentira. Por enquanto, estamos obedecendo as determinações da lei, mas é uma pena que não possamos debater temas mais sérios no horário, que está sendo tão bem aceito pelos jovens”. Em “Rebelde”, você retrata o alcoolismo entre os jovens, o bullying e outros temas de grande importância social. Acredita que algo mudou de 2007 pra cá? Até que ponto a Classificação Indicativa hoje vigente limita os intentos do autor?

A Classificação Indicativa é fato. E contra fatos não tem argumento. Eu prefiro mesmo não falar sobre isso nesse momento.


05 - Seu nome foi cogitado para a adaptação de “A Feia Mais Bela”, primeiro texto da Televisa a ganhar uma versão produzida pela Record (“Bela, A Feia”). Algumas notas sobre a produção começaram a ser divulgadas, inclusive sobre a possibilidade de a protagonista ser rejeitada por conta de sua obesidade. Você, de fato, foi convocada para adaptar a novela? Se sim, quais os motivos de sua substituição pela autora Gisele Joras?

Eu fui chamada em um primeiro momento. Nem sei como isso vazou, porque foi muito rápido. Os motivos da troca? Eu não faço a menor ideia, mas agradeço, pois ela fez super bem Bela e eu estou adorando escrever Rebelde. No fim deu tudo certo.


06 - Entre “Alta Estação” e “Rebelde”, passaram-se quase cinco anos. Neste período, você apresentou à Record as sinopses de “Sambalelê” e “Bem Me Quer”, e trabalhou na adaptação da mexicana “Cuidado Com o Anjo” (posteriormente intitulada Vivendo o Amor). Todos os projetos, entretanto, foram colocados na gaveta. É difícil emplacar uma sinopse na Record? Ou estas sinopses, em específico, é que não se encaixam no tradicional padrão de novela da emissora, sempre com cenas de violência e ação? Acredita que a Record ainda precisa “amadurecer” seu departamento de dramaturgia?

Que pergunta é essa, gente? Eu fiz o que todo autor faz: manda sinopses. Sambalelê jamais foi apresentada na Record. É uma novela que eu quero muito fazer, mas está aqui no meu micro e não na Record. Bem Me Quer foi aprovada, mas logo depois a Record fechou parceria com a Televisa e começamos as adaptações. Cuidado com o Anjo teve vinte capítulos escritos e quando eu ia fazer o vigésimo primeiro, recebi um telefonema do Hiran Silveira e tudo mudou. Na semana seguinte eu estava com o Ivan Zettel indo para o México ter reunião sobre Rebelde. Eu acredito que todos precisamos amadurecer sempre.


07 - O autor Lauro César Muniz declarou ao nosso blog: “As emissoras infelizmente ainda estão cativas de um conceito equivocado de que é preciso baixar o nível porque houve a ascensão de uma nova classe média que se supõe de baixo nível de exigência. (...) Dê qualidade ao público e ele reconhecerá”. Concorda com a declaração de seu colega de emissora? Acredita que as emissoras subestimam a inteligência de seu público? A qualidade das novelas tem piorado ao longo dos anos?

Por partes: eu jamais iria discordar do Lauro, que tem muito mais experiência do que eu. Se ele diz, ele deve saber. O que eu acho é que o público mudou muito. Hoje em dia o culto ao vilão é uma coisa muito estranha: as pessoas adoram os bandidos, os que levam vantagem, os que dão golpes. Acho que é uma maneira que o povo achou para se vingar de tudo o que vê de errado no país. E vamos definir qualidade? O que é? Como fazer? São questões como essas que deixam o autor confuso e eu não quero ficar confusa: eu não gosto de escrever bomba explodindo, gente se matando e vida bandida. Eu não estou escrevendo nada sobre isso. Então, eu acho que a qualidade do meu trabalho está super preservada. A última novela que eu vi como fã foi Roque Santeiro, então... Sim, eu acho que está tudo muito igual.


08 - Você costuma trabalhar sempre com novos colaboradores. Em “Alta Estação”, contou com o auxílio de Claudio Simões, Renata Dias Gomes e Ingrid Zavarezzi. Em “Rebelde”, Renê Belmonte. Todos eles estreantes na colaboração em novelas. Como foi o trabalho com eles e como costuma realizar a divisão de cenas? Acredita que menos colaboradores conferem uma unidade melhor ao trabalho?

O Claudio é um dramaturgo de larga experiência em teatro (temos, inclusive, uma peça escrita juntos). Ele se adaptou muito rápido. A Renata e a Ingrid são dois super talentos, eu tenho certeza que muito em breve elas vão estar como cabeça de novelas ou similar. O Renê é um sonho de consumo meu. Desde que eu vi Se eu fosse você, ou melhor, desde que eu li o filme, eu queria trabalhar com ele. O cara é genial! De verdade mesmo. A gente tem uma química imensa trabalhando. Muitas vezes eu mando a escaleta pra ele e ele nem precisa ler até o fim porque ele estava pensando na mesma coisa. Em Rebelde ele faz toda a diferença. Tenho ainda a Valéria Motta no time e quero mais um colaborador pra essa fase da novela. Acho que uma equipe enxuta é sempre uma equipe que rende mais. Porque eu faço a escaleta do capítulo, que é o mesmo sem os diálogos, mando pra eles com indicação de que cena cada um deles vai fazer. Faço as minhas, recebo as deles, reviso e começo tudo de novo. Com o andamento da novela, cada um vai se identificando com algum núcleo e eu procuro respeitar essa identificação. Eu costumo ficar com os protagonistas sempre e também quando chega personagem novo, eu começo - pra dar o tom. Tem que ser divertido, caso contrário é de matar, porque é uma loucura você ficar vinte e quatro horas em função da trama - e é exatamente isso que acontece.


***

9 comentários:

FABIO DIAS disse...

Adorei a entrevista!
Autores são autores, e algumas entrevistas nos surpreende!
Essa me surpreendeu!
Parabéns!

Anônimo disse...

Gente fina essa autora, o que percebi pela entrevista! Parabéns!

Eduardo Vieira - Recife/PE

Kleiton Alves Hermann disse...

Acho que a Margareth está conseguindo manter muito bem a essência de Rebelde na sua adaptação. Meu maior medo é que se parecesse com uma novela mexicana passada no Brasil, e no entanto a novela parece ser realmente brasileira.

Telinha VIP disse...

Embora a novela seja bem boa, acho que Margareth tem bastante cacife pra escrever uma inédita. Falta a emissora querer ir pra frente.

Isaac Santos disse...

nem vou elogiar a Margareth para não ser chato, pois sou declarado fã da mesma, mas aproveito para felicitar o Duh pela entrevista...

Rebelde é um grande acerto da Record, tou sempre acompanhando!

Kleiton Alves Hermann disse...

Adoro Rebelde. Assisti a original, e gosto mais ainda da adaptação da Margareth. Há bem mais identificação com o público. Adoro a Roberta, o Diego e o Artur.

Mauro Barcellos disse...

Acho que uma emissora como a Record, pra se lançar bem na concorrência, deveria abortar de vez essa ideia primitiva de adaptações de novelas mexicanas. Como se não tivéssemos autores bons no Brasil...Isso é o que não falta.

Fernando disse...

kkkkk Adorei a tirada dela na pergunta 06: "Que pergunta é essa,gente?" No geral, ÓTIMA ENTREVISTA!

André San disse...

Reconheço um pouco do estilo de humor do Carlos Lombardi no texto da Margareth, embora um tanto menos ácido. Talvez seja herança dos tempos que trabalharam juntos. Gostei da entrevista, sobretudo pelo fato de Margareth Boury afirmar que adora escrever para jovens. Sorte dos jovens! Acho que ela é a única que consegue escrever uma novela juvenil sem tratar seu público como amebas. Alta Estação era assim, e Rebelde segue a mesma linha. Embora muito inspirada em Friends e Felicity, Alta Estação foi uma bela novela, uma das melhores produzidas pela Record. Acompanhei com muito gosto e fiquei bem triste quando aquela trama policial entrou na história, que antes era essencialmente cotidiana. Mas a autora sofreu com as mudanças de horário e teve que se render ao artifício. E a trama se livrou do núcleo policial ainda antes do fim, e tentou resgatar o plano inicial, mas aí a Record mandou encerrar a novela. Mesmo sem dar certo, já estava claro que havia ali uma grande autora. Torço muito pra que a emissora autorize um texto inédito de Margareth Boury. Parabéns pela entrevista!
André San - www.tele-visao.zip.net