Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011


Guilherme Staush

e n t r e v i s t a

T A M A R A    T A X M A N




Os expressivos olhos claros (e não me atreveria a definir uma cor, pois ora me parecem verdes, ora azuis) de Tamara Taxman marcaram os telespectadores que tiveram a oportunidade de testemunhar uma atriz com grande presença de vídeo, em uma época onde a televisão se preocupava e apostava em verdadeiros talentos.

Foram inúmeros os momentos marcantes desta grande atriz brasileira (de coração) em telenovelas: Vejo a Lua No Céu (1975), À Sombra dos Laranjais (1977), Água Viva (1980), Sétimo Sentido (1982), De Quina Pra Lua (1985), A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991), e tantas outras participações, seja na televisão, teatro ou cinema.

Por que uma atriz tão talentosa, expressiva e de tamanha força cênica não se faz mais presente em nossas novelas?

Um grande momento, bem particular, poder entrevistar uma atriz que admiro desde pequeno. Espero que muitas oportunidades se abram para Tamara, e que a nova geração possa conhecer melhor o trabalho da atriz.



ENTREVISTA EXCLUSIVA

Elaborada por Guilherme Staush


1- Você nasceu nos Estados Unidos, mais precisamente em Woodstock, Illinois. Por quanto tempo morou lá? Quais as maiores influências que você herdou dos norte-americanos, seja pelo seu convívio com eles ou por herança de seu pai?

Bem, meu pai era americano também, e quando fui morar em Salvador todos os amigos do meu pai eram, como ele, estrangeiros. Meu pai amava Salvador tanto, que mesmo quando lhe ofereceram oportunidade de trabalho nos Estados Unidos, preferiu ficar e falar um português abaianado, muito charmoso. Minha herança fica por conta dos esportes que “daddy” (chamado assim principalmente pelos empregados do Yate Clube da Bahia, que achavam que era o nome dele) amava. Até bem tarde ele mergulhou e sempre pegava muitas lagostas. Na música também.  Desde cedo eu escutava Jazz e os musicais americanos.
Morei por pouco tempo lá (3 meses), pois minha avó, mãe da minha mãe aqui no Brasil, não estava bem.


2- Você interpretou uma das mulheres transgressoras de Janete Clair, a Gisa de “Sétimo Sentido” (1982). Ela era uma caminhoneira de muita personalidade, determinada, e que mantinha um romance com um médico de nível social e intelectual bem acima do dela. A personagem foi um dos grandes destaques da novela, e o assassinato do Dr Renard (Adriano Reys) comoveu o público na época. Comente um pouco esse trabalho de grande repercussão.

Tamara como Gisa, em
"Sétimo Sentido" (1982).
Eu serei eternamente grata a Janete Clair por este personagem. Amava fazer a Gisa! Pegava pesado de dia dirigindo um caminhão (CHARLES BRONSON) e de noite ia dançar no Baile dos Solitários. Ela se apaixona pelo médico e sofre muito com o assassinato dele. Ela vai pra prisão acusada de tê-lo matado e me lembro de diariamente sair com os olhos inchados de tanto chorar. O Adriano Reys uma vez foi saber do Ibope dos nossos personagens e comentou de como era alto!



3- Nos últimos 15 anos (depois da mini-novela “O Fim do Mundo”), você fez pequenas participações em minisséries da Record, seriados e novelas da Globo. Por que não tem feito novelas inteiras? É opção sua ou falta oportunidade na TV?

Eu depois que fiz a História de Ana Raio e Zé Trovão, fiz um programa em São Paulo chamado “Ser Tão Brasileiro”, que não passava aqui no Rio, mas era gostoso estar com os cantores sertanejos de novo.
Depois disso fui sendo cada vez menos chamada pra trabalhar. Sei de histórias que uma determinada pessoa na Globo conta como eu sendo a maior mau caráter. Fazer o quê?
O interessante é que apesar de provar que você é capaz e gente boa, fica o ranço da difamação!! Acho que por aí também tive dificuldade de ser chamada de novo.
Quanto à Record, quando eles começaram a fazer minisséries, fiz as primeiras que foram escritas por Ronaldo Ciambroni, um grande autor e querido amigo! Desejo muito sucesso pra eles.



4-  De todos os filmes nacionais que você participou, eu destacaria dois: A Hora da Estrela e O Romance da Empregada – A História de Fausta,  um dos melhores filmes brasileiros, na minha opinião. Coincidentemente, nas duas produções você interpretou a antagonista: na primeira, a personagem Glória, que além de ridicularizar Macabéa (Marcélia Cartaxo), rouba o namorado da secretária nordestina; já na segunda, você fez a patroa autoritária e exigente da empregada Fausta (Betty Faria). Como foi participar dessas duas produções? Por que acha que sempre recebeu papéis de mulheres fortes, corajosas, audaciosas e autoritárias, tanto no cinema quanto na TV?

Tamara como Glória, no filme
"A Hora da Estrela" (1986).
Quando eu estava fazendo teatro em São Paulo, a Susana Amaral me chamou pra fazer a Glória. Eu amei o texto, a Susana, e tudo que fazia parte daquele universo. Marcélia, então, o que dizer de tanto talento? Onde está ela agora? O que está fazendo? Da última vez que tive notícias dela, estava voltando pro Norte. Uma pena mesmo....

A Glória era irresponsável e imatura. Já a patroa de Fausta era infeliz  e nervosa.

Acho que sou forte sim, mas sou doce também. Você não tem ideia como me esforço pra ser melhor todos os dias.



5-  Embora você já deva ter falado disso exaustivamente, não há como não perguntar sobre uma das cenas de briga mais marcantes da teledramaturgia. Claro que me refiro à cena em que Selma, sua personagem em “Água Viva” (1980), leva uma surra de Lígia (Betty Faria) no banheiro de uma casa de shows do Rio de Janeiro. A cena foi tão real e brutal que acabou sendo cortada quando a novela foi reprisada em 1984, no Vale a Pena Ver de Novo.  Como foi fazer a cena? Quais instruções foram passadas pela direção exatamente para que a cena resultasse daquela forma?  (veja o vídeo com a cena no final da entrevista)

Tamara como Selma, depois da surra
que levou de Lígia, em Água Viva" (1980).
Bem, nesse dia a Betty tinha levado a Alexandra (Marzo, filha de Betty e Cláudio Marzo) pra assistir a cena, e eu levei o Henrique (Taxman, filho de Tamara). O local era um banheiro do Canecão, pequeno pra tanta gente. Combinei com Betty que devíamos dar veracidade à cena. Me esqueci que ela era bailarina, então ao conseguir segurar as mãos, ela levantava as pernas tão alto... e com isso confesso que apanhei mesmo....rsrsrs





Tamara como Dolores Estrada, em
"A Históriade Ana Raio e Zé Trovão" (1991).


6-  Dolores Estrada foi um marco na sua carreira. Foi muito exaustivo viajar pelo Brasil na novela “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (1991)? Qual a história mais inusitada que você teria para nos contar a respeito das cidades por onde passou?

Eu adorei fazer a Dolores, que rende frutos até hoje. Foi muito prazeroso, pois tínhamos um bom elenco e uma historinha em quadrinhos realizada para televisão e em cima de um tablado (os caminhões).
O que era interessante é que cada lugar que chegávamos, em geral não tinha quase nada, e ao saírmos tinha boate, loja de sucos e boutique. Isso era o progresso que acontecia com a novela!
Ganhávamos muitos presentes e trabalhávamos muito. Conhecemos pessoas e lugares incríveis! Saudade!!



7-  Como surgiu a oportunidade de você participar de “Insensato Coração” (2011)? Suas cenas foram, na maioria, ao lado de Glória Pires. 

Gilberto Braga, que sabia da minha vontade de trabalhar com ele de novo (fiz Água Viva dele), me chamou no momento que eu estava me preparando para estrear em Porto Alegre com a peça “Mário Quintana - O Poeta das Coisas Simples”. Foi o tempo de pedir substituição e fazer a Florinda.
Bem, como falei na época da novela, tive um prazer daqueles prazeres que não acontecem todos os dias... Glória Pires é, sem dúvida, uma pessoa tão iluminada e talentosa, que rezo pra ter essa oportunidade de novo... Viva ela!!!


Tamara com Glória Pires, em cena da novela "Insensato Coração" (2011).

8- Qual a diferença entre fazer novelas nos anos 70/80 e hoje em dia? Fora as mudanças na parte técnica, que todos nós percebemos, o que mudou na maneira como os diretores conduzem as gravações? Qual a diferença entre os atores atuais e os daquela época?

Eu sinto que hoje os diretores estão querendo fazer sempre o melhor, pois a concorrência é grande. Temos grandes diretores! Tive a sorte de trabalhar com Luís Fernando Carvalho (Afinal o que querem as Mulheres?), com Dennis Carvalho (Insensato Coração), que são  talentosos demais. Depois voltei a encontrar Tizuka Yamasaki, que adoro, fazendo um episódio de “As Brasileiras”. Foi ótimo contracenar com Carlo Mossy e com Sandy.
Acho que estou voltando a ser chamada para bons projetos. Agora vou fazer o filme de Fernando Coimbra, “O Lobo Atrás da Porta”, onde serei a mãe da Rosa, interpretada por Leandra Leal, e o pai vai ser Emiliano Queiroz. Tá bom, né?




BATE-BOLA  com Tamara



Não aguento mais ouvir falar em... VIOLÊNCIA.

Participar da cena histórica do acidente de Simone (Regina Duarte) em “Selva de Pedra” foi... de um nervosismo, pois foi meu primeiro trabalho na televisão e já peguei uma cena difícil, com Walter Avancini e Regina Duarte.

Minha maior lembrança de Margarida, na novela “Vejo a Lua no Céu” é... O carinho daquele elenco..Claudio Cavalcanti, Norma Blum, Eduardo Tornaghi, Isabela Garcia...muito gostoso mesmo!

Minha primeira memória televisiva: O canto do Rei do Baião Luis Gonzaga.

No meu aparelho de CD sempre toca: Almir Satter.

O que falta no Brasil é... VERGONHA, pra se ter uma boa EDUCAÇÃO.

Um recado para os autores de novela que estão lendo essa entrevista: Olá vocês, que estão precisando de uma atriz com minhas medidas. Podem me chamar que eu Vou! Amo fazer televisão!!!


*** 


VÍDEO

ÁGUA VIVA (1980) - Lígia (Betty Faria) dá uma surra em Selma (Tamara Taxman) no banheiro do Canecão.


Vídeo: Memória da TV


Água Viva (1980) - Lígia dá uma surra em Selma por memoriadatv

7 comentários:

Brunno Duprat disse...

Maravilhosa entrevista, parabéns. Tamara é uma atriz visceral, esbanja talento e naturalidade. Essa cena da briga entre Lígia e Selma, teve um belo remake 23 anos depois com Claudia Abreu e Malu Mader em ação. Faz falta uma atriz deste nível.

Juliano G. Bonatto disse...

Adoro a atriz e ela faz falta na TV, assim como tantas outras q hoje só fazem pequenas aparições.

edu vieira disse...

engraçado como atores que faziam novela com a Janete , como ela e a Myriam Pérsia foram afastadas...ainda bem que o Gilberto Braga ou o Dennis lembrou dela e vimos que ela está em ótima forma, como a Florinda dando aula em cena junto a Glorinha..senti falta dela no final da novela. Achava ela linda em Selva de Pedra e adorava a Giza de Sétimo Sentido, cuja irmã também era a sumida Liza Vieira.Parabéns a quem lembrou de entrevistar essa atriz excelente!

Anônimo disse...

Adoro a Tamara, pena que ela tem tido poucas oportunidades na TV. O filme "A Hora da Estrela" é lindo e ela está muito bem. Contribui para o magnifico trabalho da Marcélia como Macabéia.

Josué Palácios disse...

Parabéns por terem lembrado de Tamara,ela faz parte da minha infância como a inesquecivel Dolores Estrada.
Como divulguei no blog 'Memorial Gloria Pires' parte da entrevista redirecionando o link para cá com as devidas fontes me senti na obrigação de informá-los. Caso haja problemas me avisem que tiro imediatamente. Mais uma vez, parabéns e o blog é incluido entre os nosso indicados.

http://memorialgloriapires.blogspot.com/2011/11/com-exclusividade-ao-blog-agora-e-que.html

Dan FM disse...

Muito boa a entrevista! Gostei muito! Curti bastante a Tamara como a Dolores Estrada de "Ana Raio e Zé Trovão". É uma personagem que vai ficar sempre em minha memória!

Mauro Barcellos disse...

Bela e ótima atriz. A voz rouca bem marcante. Gostaria de vê-la com mais frequência. Boas recordações. Essa cena de Água Viva é ótima.