Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012




DENISE DEL VECCHIO





“O céu é pontilhado de estrelas e de tanto em tanto algumas nos caem no colo, sendo que uma delas se chama Denise, não por acaso, em grego, a deusa do prazer”.
Com essas palavras, Tuna Dwek encerra a introdução da biografia de nossa mais recente entrevistada.

Algumas pessoas conseguem ser bastante transparentes em um primeiro contato, ainda que à distância. Denise Del Vecchio  é, sem dúvida, uma delas. Uma simples troca de mensagens pelo correio eletrônico, e já somos capazes de assimilar a delicadeza, generosidade e simpatia da atriz. A impressão que se tem é a de que não só o telespectador conhece a atriz de vê-la diariamente na televisão, mas que ela também o conhece, pela forma natural e gentil com que trata as pessoas.

A atriz construiu uma carreira sólida no teatro e na TV, onde atuou em praticamente todas as emissoras: Tupi, Globo, Band, Manchete, SBT e Record, tendo sempre o privilégio de trabalhar em grandes produções, como “Os Imigrantes”, “Ídolo de Pano”, “O Direito de Nascer”,  “Fera Radical”, “Top Model”, “A Viagem”, “Os Ossos do Barão”, “Força de um Desejo”, “Bicho do Mato”, entre tantas outras. 


Atualmente, a atriz enriquece o elenco da Rede Record com seu talento, sendo uma das atrizes mais requisitadas da emissora. Nos últimos 5 anos, Denise participou de 4 novelas da casa. No momento, acabou de encarar o desafio de viver a transexual Augusta de “Vidas em Jogo”, já que sua personagem foi assassinada no capítulo exibido na semana anterior. Mas no próximo mês, a atriz estará de volta à telinha na segunda reprise da novela "Chocolate com Pimenta", na Globo, onde viveu a solteirona virgem Dona Mocinha. 

Denise sai de cena em grande estilo na novela de Cristianne Fridman, e, no dia seguinte, entra para engrandecer nossa galeria de entrevistados aqui do blog.


ENTREVISTA EXCLUSIVA

Guilherme Staush pergunta

1-  Denise Del Vecchio é desses exemplos raros e preciosos de coerência entre a vida e a arte. Avessa a qualquer situação capaz de tolher a liberdade humana, Denise sempre que possível optou por personagens de forte impacto, libertárias e comprometidas com alguma luta interior”.      
(por Tuna Dwek – trecho da introdução de “Memórias da Lua”, biografia de Denise Del Vecchio)

Quais os relatos mais difíceis e os mais emocionantes que você teve que puxar pela sua memória ao ser biografada por Tuna Dwek? Por que razão a autora menciona que “muitas vezes, o livro lhes pareceu como que encantado, tamanhos os adiamentos e mudanças de planos aos quais ele se teve que submeter”?

Quando a Tuna me apresentou o projeto do livro, ao mesmo tempo em que fiquei honrada, tive um certo medo. Sempre fui muito displicente com meu passado. As urgências da vida sempre me empurraram adiante sem me apegar a minha história.

Contar essa história para a Tuna escrever o livro me obrigou a revirar velhas pastas, fotos, programas e acontecimentos da minha vida. Coisas que eu pensava estarem perdidas para sempre. Tuna e eu temos muita identidade e muitas vezes nos perdíamos em recordações. Foram horas de conversa que ela gravou e, com sua capacidade e talento literário, transformou no livro. Não saberia sobressaltar um ou outro momento. O livro todo tem um forte cunho emocional... mas é bastante verdadeiro, do meu ponto de vista, claro.

Denise com o filho, o ator André Frateschi: momento família.
(foto: Revista Caras)


Guilherme Staush pergunta
2-  É comum que o público que assiste televisão, mais precisamente novelas, se torne mais exigente com o passar do tempo com relação à qualidade das produções e até mesmo menos tolerante com as próprias características do folhetim (repetição de clichês, tramas maniqueístas, finais previsíveis, etc...). Como isso funciona para uma atriz que está tanto tempo fazendo novelas? Você também se tornou mais exigente e menos tolerante, nesse aspecto, com o passar do tempo? Como lidar com isso?


As principais características do folhetim são essas as quais voce se refere. São clichês, maniqueístas e previsíveis. Para mim essas são qualidades. Quando o público aceita assistir e eu aceito gravar sei exatamente do que se trata. Eu me divirto fazendo e creio que o público se diverte assistindo. Sem grandes esforços de entendimento, reparando no vestido, no esmalte da atriz. É assunto ligeiro na academia ou no trabalho no dia seguinte. - “Voce viu que absurdo aquela cena?”- muitas vezes ouvi essa exclamação indignada. E são cenas absurdas, porque a vida é absurda. A maioria dos nossos autores tira do cotidiano os temas de seus trabalhos, mas o cotidiano exacerbado, trabalhado como ficção. Eu gosto de fazer novela, sempre que posso assisto, e espero que o público continue gostando   e acompanhando.  Quanto mais exigente o público for melhor será a teledramaturgia.

Ricardo Blat, Paulo Betti e Denise Del Vecchio em "Os Imigrantes" (1981).


Guilherme Staush pergunta
3- Em sua biografia, você menciona que após sua segunda novela na TV Tupi,  Um Dia, O Amor, recusou um papel oferecido por um novo diretor da emissora,  por julgar a personagem inadequada, e que por conta disso “ganhou a geladeira” da emissora por algum tempo. Pode nos contar qual foi essa novela, qual era o papel e qual foi o desfecho desse episódio? Como conseguiu voltar a fazer novelas na emissora?

A TV Tupi , naquela altura, já atravessava uma séria crise financeira. A vinda desse diretor foi uma tentativa de dar uma sobrevida à teledramaturgia. A novela era Cinderela 77, protagonizada pela Vanusa (cantora). Havia duas turmas, das gatas e dos ratos, e fui convidada para fazer parte das gatas, mas a personagem nem tinha nome. Fiquei com preguiça de ficar figurando e preferi não gravar. Esse diretor saiu da Tupi algum tempo depois. Mais tarde fiz O Direito de Nascer, com o Abujamra na direção. Foi minha última novela lá. Depois fui pra Band.

 
Duh Secco pergunta
4- Você iniciou sua carreira na TV Globo em Fera Radical, novela de Walter Negrão, exibida em 1988. Nesta trama, contracenou com Yara Amaral, intérprete de Joana Flores, a mãe adotiva de sua personagem, Olívia. Quais as lembranças da convivência com a Yara durante este trabalho? E quais outros momentos guarda de Fera Radical, uma das maiores audiências das 18 horas até os dias atuais?

Yara foi minha guia dentro da Globo. Eu estava vindo de São Paulo para trabalhar no Rio e ela me deu segurança, me ajudou a entender muita coisa.
Mas o elenco todo da novela era extraordinário. Quando minha personagem descobre a mãe verdadeira, era nada mais nada menos do que Laura Cardoso, pra mim uma das maiores atrizes brasileiras em qualquer veículo. Paulo Goulart era meu pai. A deslumbrante Malu Mader protagonizando pela primeira vez...Claudia Abreu, menina, era minha filha! E gravávamos na Cinédia, longe do Jardim Botânico. Era um ambiente muito amigável com direção do Blota e da Denise Saraceni. Aprendi a cavalgar (um pouco e já esqueci). Foi um trabalho muito feliz.

Laura Cardoso e Denise Del Vecchio em "Fera Radical" (1988): estreia na Globo.



Guilherme Staush pergunta
5-  Em 1995, você foi dirigida por Walter Avancini na novela Tocaia Grande, exibida pela extinta Rede Manchete. Como foi trabalhar com o controvertido diretor, que é famoso por ser muito exigente e autoritário? Eu lembro que nessa novela teve uma cena forte, que deve ter sido particularmente difícil para você fazer. Era uma cena onde sua personagem, Jacinta, matava o personagem do ator Henrique César na cama, durante o ato sexual.

Infelizmente não foi o Avancini que começou a direção de Tocai Grande. Ele entrou no lugar de um outro diretor, que teve que se afastar da novela. Mesmo assim, com sua forte personalidade e  talento, ele foi deixando sua marca na novela.  Eu  acho que a principal virtude do Avancini como diretor, era o conhecimento que ele tinha dos personagens. Ele cobrava a fidelidade do ator ao seu personagem. Isso é algo difícil de manter numa novela de longa duração. A tentação de ir mudando ao sabor das cenas acaba descacterizando o personagem para ganhar uma graça ou um efeito. E o Avancini não deixava que isso acontecesse. Esse ensinamento eu trago até hoje em todos os trabalhos que faço. Ele era exigente, mas eu adorava o clima de disciplina e silêncio que impunha ao estúdio.

Sobre a cena, lembro-me que fiquei muito envergonhada de gravá-la. E que não fiquei satisfeita com o resultado. Acho que o Avancini também não, mas trabalhávamos em condições muito precárias e correndo atrás do tempo para por o capítulo no ar. Não pudemos repetir a gravação até alcançarmos um bom resultado.



Duh Secco pergunta
6- Em 1999, o público foi surpreendido com a revelação de que sua personagem na novela Força de um Desejo, a divertida Bárbara Ventura, estava por trás de uma série de crimes cometidos ao longo da narrativa. Agora, Augusta, sua personagem em Vidas em Jogo, apresentada até então como uma mulher pacata e avarenta, se revelou transexual. Como é iniciar um trabalho com determinadas informações das personagens e depois enfrentar mudanças no perfil do mesmo, como é o caso destas duas novelas? O ator precisa preparar todas as nuances de uma personagem para atender a qualquer surpresa apresentada no roteiro?

Bárbara Ventura em "Força de Um
Desejo" (1999) : surpresa no final.
Numa obra aberta, como a telenovela, eu acho que ao contrário, o ator não tem que “preparar” nuances.  Como disse acima, preparo a base. Bárbara Ventura, era uma mulher pouco inteligente, que queria conseguir o título de Baronesa. A graça dela estava no fato de querer ser o que não era. Quando descobri que ela era assassina, ela não perdeu suas características.
Augusta é uma mãe dedicada, trabalhadora, econômica e muito amiga dos amigos.
Todas as situações que aparecerem terão como base essa premissa. Até o fato de ser transexual. Muita gente me perguntou se eu ia mudar o jeito da Augusta depois de revelado seu segredo. E é claro que não. Inclusive o lenço no pescoço, que seria uma espécie de disfarce, ela continua usando. O fato de ser uma assassina, não tirava da Bárbara a vontade de ter uma tiara, assim como o fato de ser transexual não muda a pessoa dedicada que Augusta é.

Como Dona Augusta, a transexual de "Vidas em Jogo" (2011/2012).



Duh Secco pergunta
7- Você migrou para a Record em 2006, para atuar em Bicho do Mato. Tornou-se uma das atrizes mais requisitadas da casa, tendo estado no ar durante os últimos cinco anos, quase que ininterruptamente. Como você avalia a produção em dramaturgia da TV Record, inclusive o investimento em histórias bíblicas e textos mexicanos (como o de Bela, A Feia, novela da qual você participou)?

Tive a oportunidade de trabalhar em todas as emissoras de tv brasileiras. As que faliram inclusive. Vidas em Jogo é meu quarto trabalho na Record. A teledramaturgia lá tem evoluído técnica e artisticamente.
com Paulo Gorgulho em "Bicho do
Mato (2006):  perua cafona.
Bela, A Feia e Rebeldes, são baseadas nas novelas mexicanas, mas suas autoras tem e tiveram total liberdade de adaptar, estórias e personagens, para o público brasileiro. E o sucesso de ambas são prova de que trilham o caminho certo.
A Bíblia tem estórias e histórias mais lindas da humanidade. Demorou para alguém recorrer a esse material tão rico e colocá-lo na tv. Nunca esqueci, quando menina, assisti , no cinema , Os Dez Mandamentos. Aquele mar abrindo é para mim, até hoje o melhor efeito especial!!!



8 – Já aconteceu de você discordar com algum diretor sobre como uma determinada cena deveria ser feita ou até mesmo não concordar com os rumos de sua personagem em alguma novela? Como lidar com esses problemas? Lembra de algum caso específico que ilustre essas situações?

Muitas vezes o diretor e o ator discordam do encaminhamento de uma cena. Quando isso acontece procuro argumentar sobre meu ponto de vista. Mas se o diretor for irredutível, respeito a hierarquia.
Quanto aos rumos de uma personagem, discordo às vezes, como discordo dos rumos que minha própria vida toma às vezes. Brigo com o destino. Os imprevistos, o acaso, os desencontros, tudo isso acontece na nossa própria vida. Inúmeras coisas que não dependem de mim ou da minha vontade. Um personagem de novela é a mesma coisa. Está sujeito as leis do seu criador.


Denise ao lado de Osmar Prado em "Chocolate com Pimenta" (2003):
novela ganha segunda reprise a partir de março.



BATE-BOLA  c o m   D E N I S E


A cena mais emocionante da minha carreira foi … Recentemente, quando Raimundo (Rômulo Arantes Neto) descobre que Augusta é transexual...   E a cena final da loucura de Bárbara em Força de um Desejo.

Classificação indicativa é …  uma sugestão aos pais.

A melhor lembrança que tenho sobre a novela Os Imigrantes:  meu amigo Paulo Betti.

Dou um lágrima para ...  o desamor.
Dou um sorriso para ...  o respeito ao próximo.

Uma novela inesquecível: Irmãos Coragem (primeira edição).

Uma atuação marcante na TV:  Laura Cardoso, sempre.

Na minha próxima novela, gostaria de fazer ... uma pessoa mentalmente instável.

A trilha sonora da minha vida: Chico Buarque (tudo).


***



6 comentários:

Kleiton Alves Hermann disse...

Muito bom!
Denise dá show até em entrevista!

Abraço.

Blog Agora É Que São Eles disse...

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Mensagem enviada pelo autor Alcides Nogueira


queridos guilherme e duh,
parabéns pela entrevista com a denise, uma das MAIORES atrizes do teatro e da tv.
ela sempre me emociona. e tem muito a dizer, com seu talento e experiência.
sou suspeito pra dizer alguma coisa, pois denise mora em meu coração. fez minhas personagens teatrais mais importantes, além da bárbara ventura, mas ela é O MÁXIMO!
bjs,
alcides

Fernando Oliveira disse...

Por isso Eu bebo e choro
Só pra te esquecer
Quanto mais eu bebo,
mais apaixonado fico por você.

Verso da música Bebo e Choro, tema da Alzira sua personagem em Bicho do Mato.
Uma atriz apaixonante, de excepcional talento.

Blog Agora É Que São Eles disse...

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Mensagem enviada pela atriz Denise Del Vecchio


Muito obrigada pela entrevista. Obrigada mesmo pelo espaço. Abraço
Del Vecchio

Jorge Fortunato disse...

Denise Del Vecchio éuma das grandes atrizes da TV e do Teatro. é uma alegria quando está no ar. Até hoje lembro da personagem de Força de Um Desejo, a Bárbara Ventura. Parabéns pela ótima entrevista.

Sr. W disse...

Denise é uma atriz sensacional. Assistindo a reprise de Malhação no Viva constato, mais uma vez, o enorme talento de Denise em conferir uma enorme nobreza a qualquer obra de que faça parte. Comecei a ver Vidas em Jogo por causa dela e justamente através de seu talento revelou-se o maior e mais bem escrito segredo de uma novela.

Aproveito para divulgar o meu blog nesse site que acabo de conhecer e me encantar.
Acabo de fazer uma matéria sobre a primeira protagonista negra da TV... que não é a Tais araujo! vale a pena conferir, eu garanto! hahaha