E S P E C I A L
MÁSCARAS
Parte II
Nesta segunda parte do especial, você vai conhecer um pouco sobre os colaboradores da novela "Máscaras": Mario Viana, Mariana Vielmond e João Gabriel Carneiro.
Um agradecimento especial a todos eles pela gentileza, pelos depoimentos e pelas fotos exclusivas enviadas.
por Guilherme Staush
MARIO VIANA
Mario Viana no navio Vision of the Seas, na ocasião em que ele acompanhou as gravações da novela, durante 15 dias. A fotógrafa foi a atriz Daniela Galli. (foto gentilmente enviada por Mário) |
1- Como ocorre o processo de adaptação de um colaborador com o estilo dos autores para quem ele trabalha? Os colaboradores trabalham juntos ou cada um faz sua parte separadamente, e a conexão ocorre sempre com os autores da novela?
Mario Viana Cada autor tem um jeito de trabalhar. Alguns dividem em núcleos e especialidades. Outros vão passando as cenas pro colaborador conforme "sente" a afinação de cada um. E nesse caso, temos de ser uma orquestra de câmera afinadíssima. Não se trata apenas de "copiar" o estilo do autor, isso ficaria falso e fraco. É claro que você precisa saber "como" o autor escreve, as palavras que ele não gosta de usar, o tipo de cena, etc. Isso é técnico, em pouco tempo você consegue dominar. O mais difícil mesmo é se jogar no universo proposto pelo autor, seguir as ideias dele e, ao mesmo tempo, propor coisas novas, surpreendê-lo de modo favorável. É um risco que vale a pena correr, porque se aprende muito, o tempo todo. A equipe de colaboradores discute bastante cada capítulo, a maneira como o autor aborda os temas e como soluciona os problemas. Então, quando sentamos pra escrever, já temos algumas ideias do que se espera de nós. Mas o ideal é avançar sempre um passo.
2- Você foi colaborador na novela Paixões Proibidas (Band), que na minha opinião, é uma das novelas mais injustiçadas dos últimos tempos: ótimo texto, aliado a elenco e produção primorosos, mas ainda assim, a novela fracassou. Na sua avaliação, por que isso aconteceu? Que outros fatores podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma produção?
Mario Viana Agradeço em nome do Aimar Labaki, que era o autor da adaptação, e do Fábio Torres, que também era colaborador. "Paixões" foi uma experiência muito legal, do ponto de vista de treinar estilo, enveredar pelo melodrama do século 19 totalmente sem pudor. Acho que um dos principais problemas que afetaram a produção começava na própria Band, que ainda hoje é uma emissora resistente à produção de teledramaturgia. De vez em quando, o grupo a favor da dramaturgia vence um round e a emissora produz novela, minissérie, sitcom. Mas é sempre uma tentativa isolada, que não chega a criar vínculo com o telespectador. A Band, que já fez trabalhos memoráveis como "Os Imigrantes", também produziu "Dance Dance Dance" e quase entrou na produção da versão brasileira de "The Nanny". Mas a coisa não vinga.
No caso de "Paixões Proibidas", nós preparamos um texto pro horário das 22 horas. Era forte, provocativo, sensual. De uma hora pra outra, sem prévio aviso à equipe que escrevia, a novela passou pro horário das 17 horas. Perdemos o público que chegava em casa tarde e nos assistia. E não ganhamos o público da tarde, que pegou uma novela pela metade. E a cerejinha do sundae foi reduzirem a novela de 160 pra 120 capítulos - sendo que tínhamos escrito até o cap. 158. Precisamos condensar 38 capítulos de uma hora pra outra. Foi insano, é uma pena. Mas ao mesmo tempo, foi um trabalho que me orgulhei de fazer - assim como gostei demais de fazer "Dance Dance Dance", talvez um dos maiores sucessos de venda internacional da Band na área de novela.
MARIANA VIELMOND
Foto gentilmente enviada por Mariana. |
1- Pergunta inevitável: sendo filha de grandes atores (José Wilker e Renée de Vielmond), por que razão você optou em ser roteirista, sendo que o caminho mais óbvio seria o de ser atriz? Pesquisando a seu respeito, vi que você cursou psicologia, e mesmo depois de já ter um consultório montado, abandonou tudo para fazer um curso de roteirista. Essa informação procede? Como se deu esse processo?
Mariana Vielmond Quando eu cheguei da maternidade trazida por meus pais, eu encontrei uma casa que tinha por mobília filmes e livros. Muito cedo eu já brincava de inventar histórias, que eu mesma encenava ou punha em movimento usando bonecos. Também acompanhava meus pais em gravações e aguardava por eles na coxia dos teatros. Em viagens, eles me levavam a museus e espetáculos. Era mesmo difícil que eu não seguisse por um caminho que misturasse reflexão e criatividade. Mas se muito cedo foi plantado em mim o gosto pela arte, também logo se delimitou aquilo que não me atraía nessa área. A verdade é que eu nunca gostei de set e nem de palco. Tanto que, ao assumir uma carreira artística, não excluí apenas a opção de ser atriz, mas também todas as demais profissões que se referem à realização propriamente dita: não me tornei diretora, nem figurinista ou cenógrafa. Eu me tornei roteirista, assimilando todos os ensinamentos que meus pais me passaram com tanto carinho, mas seguindo também a minha vocação própria. Nessa trajetória, a formação em Psicologia foi um reflexo de meu grande interesse pelo comportamento humano, minha curiosidade a respeito da maneira como as pessoas sentem e reagem diante das mais variadas vivências. Todo esse aprendizado eu uso na construção de personagens. Por isso não entendo como um abandono dessa minha primeira profissão, mas sim uma continuidade, em outros moldes. Não segui atendendo porque logo percebi que gosto mesmo é de inventar situações e criar possibilidades, eu gosto de arriscar hipóteses. E em consultório, ao contrário, existe a concretude dos casos clínicos, a exigência de uma intervenção precisa e responsável. Por isso, parti para a escrita de roteiros, onde conjugo num só tempo todos os meus interesses.
2- Você é a única mulher entre os autores e colaboradores da novela. Você acha que tem um olhar diferente para as personagens femininas por conta disso, principalmente pelo fato de você ser psicóloga? Acha que contribui de forma diferente dos homens?
As mulheres da novela, pelo menos grande parte delas, estão em busca de emoções, da realização de seus sonhos e fantasias, e entre elas estão “as damas da távola redonda” e as irmãs Tônia (Daniela Galli) e Luma (Karen Junqueira), a primeira, inclusive, é psicóloga também.
As irmãs Tônia (Daniela Galli) e Luma (Karen Junqueira). |
Mariana Vielmond “Máscaras” tem sido realmente um mar de possibilidades para a psicóloga que há em mim. A narrativa é muito bem arquitetada e todas as personagens, masculinas e femininas, possuem grande profundidade. E isso vale também para os núcleos de humor, resultando num universo dramático de fascinante riqueza. Mais do que uma identificação com as figuras femininas, eu me encanto com a dramaturgia magistralmente estruturada pelo Lauro. Com certeza, a Tônia me interessa especialmente por ser uma estudiosa da alma humana, assim como Dr. Décio, que é psiquiatra. Mas também me derreto com as tramas românticas, sofro com os amores proibidos e tremo nas sequências de ação e suspense. Eu tenho a sensibilidade à flor da pele e a minha contribuição, assim espero, passa por aí.
JOÃO GABRIEL CARNEIRO
Foto gentilmente enviada por João Gabriel. |
1 - Você adaptou a peça Quartett, que foi encenada por sua mãe, a atriz Beth Goulart, e por seu tio, o ator Paulo Goulart Filho. Agora está colaborando em uma novela de autoria de seu outro tio, e escrevendo cenas para Bárbara Bruno, sua tia que está no elenco. Quais as vantagens e desvantagens de se trabalhar em família?
João Gabriel Carneiro Engraçado, eu nunca pensei no Lauro como um tio, acho que é a primeira vez. Estava mais para um mestre: é assim que eu o via... Eu adoraria ter os seus genes... Mas de DNA não posso reclamar. Sou fã confesso de toda a minha família. Falo sem pudor: minha mãe, Beth Goulart, é uma das maiores atrizes da sua geração. Meus avós também são maravilhosos, fantásticos: Paulo Goulart e Nicette Bruno. Meu pai é o músico Nando Carneiro e meu tio é o poeta Geraldo Carneiro. Uma família de grandes artistas. Tive sorte de nascer entre eles, é um privilégio. A primeira vantagem é essa (risos). Lauro casou-se, há alguns anos, com a minha tia, Bárbara Bruno (a Zezé da novela), que além de grande atriz, é uma ótima diretora, uma artista maravilhosa, que eu amo. Infelizmente, eu tive pouca convivência com o Lauro, por ele morar em São Paulo e eu no Rio. Mal sabe ele que participou da minha infância indiretamente, com suas novelas marcantes: “Roda de Fogo”, “O Salvador da Pátria”… Da minha e da de tantos brasileiros, prova do alcance, do poder da telenovela, que ele tanto respeita. É uma honra trabalhar com ele. É uma escola. É um dos maiores dramaturgos do Brasil. Outra vantagem! Desde então, ele acompanha meus passos no Teatro: minha mãe me deu a primeira oportunidade nos palcos em 2006, quando adaptei “Quartett”, um texto de Heiner Müller. Meu tio, Paulo Goulart Filho, grande ator e bailarino, substituiu o Guilherme Leme em 2008. Era louquíssimo porque a peça tratava de um casal (são os personagens do filme “Ligações Perigosas”) e aquilo ficou uma coisa meio incestuosa (risos). Mas nessa família pode tudo. Arte em primeiro lugar! Lembro do meu avô, aos prantos, ao ver os dois filhos em cena, dizendo meu texto. Foi muito emocionante para todos nós... Olha a vantagem aí... Lauro também viu a montagem e pediu que eu lhe mandasse o texto. Começamos ali uma troca de emails, uma relação de amizade. Depois disso, adaptei meu primeiro Shakespeare: “Otelo”, com Diogo Vilela e Marcelo Escorel (também no elenco de “Máscaras”). E agora, a minha tradução de “Palácio do Fim”, da canadense Judith Thompson, com Antonio Petrin, Camila Morgado e Vera Holtz, direção de José Wilker, está em cartaz no SESC Anchieta até 11 de março, assistam! (Posso divulgar a peça??? risos)
Lauro virou uma referência para mim. Eu queria saber sua opinião, ouvir (ou ler por email) o que ele tinha a dizer. Quando nos víamos o papo era ótimo. Pode haver vantagem maior do que essa? (risos) O convite para ser colaborador veio quando mandei para ele os roteiros do seriado “Cara Metade”, que eu assinei junto com a Mariana Vielmond (colaboradora de “Máscaras”), exibido pelo canal Multishow em 2011. Sua resposta foi um convite. Fiquei novamente emocionado... E aqui estou. Penso que a maior vantagem de todas é a paixão pelo trabalho, a disposição para se emocionar, para emocionar os outros: os valores que a arte carrega de uma geração para a outra. A convivência com Lauro aumentou, para minha sorte. Hoje sim eu poderia dizer que trabalho com meu tio. (risos) Por que não? Gostei da idéia. Só espero que ele não se zangue com a nomenclatura (risos). Um tio por afinidade, um amigo verdadeiro e um mestre na profissão!
Quanto às desvantagens... Bem... Eu diria que é a pressão... E a cobrança... Primeiro da minha parte (a pior de todas), comigo mesmo... Depois, por parte da própria família (essa é mais leve, mas existe) e, por fim, do resto do mundo. É uma responsabilidade. Mas, se você pensar bem, é algo que te move, que te motiva a melhorar, a dar o seu máximo, a honrar os laços familiares (de sangue ou não). Parece até uma vantagem (risos).
João Gabriel com a mãe, Beth Goulart, e o tio, Paulo Goulart Filho. |
2 - Acredito que seja normal para o colaborador de uma novela, por questão de afinidades, se “apegar” a um ou outro personagem da obra. Quais os personagens de Máscaras que mais te cativam? Existe um com quem você tenha maior identificação?
João Gabriel Carneiro Só posso falar por mim (não me considero uma pessoa normal): eu não me “apego” a um personagem por afinidades, ou por identificação. Ao contrário, o mais fascinante é a distância entre mim e o personagem. O que o personagem tem que eu não tenho? Como ele pode me fazer crescer como ser humano? O maior diferencial conceitual dessa novela é que todos os personagens têm algum tipo de “máscara”. É bem teatral. Os atores também contribuem. Uma coisa alimenta a outra. Tenho meus personagens preferidos, evidentemente, mas penso (sinto) que, durante o processo, eu devo mudar de idéia. Por enquanto, no papel, gosto muito da personagem Maria: da verdade com que ela se coloca. Também do humor de Novais, da indecisão de Evaldo, da simplicidade e afeto de Zezé e Zezé, da frieza de Martim, da sinceridade de Valéria, da possessividade entre as irmãs Tônia e Luma, da personalidade enigmática de Elvira, da imprevisibilidade de “Nameless” (a mulher sem nome). Adoro as personagens femininas. Mulheres - pelo menos na vida real - são personagens mais interessantes do que nós... Só que o Lauro caprichou muito nos personagens masculinos: são homens fortes, cheios de contradições. Cada personagem provoca uma emoção, um sabor, uma cor, uma nota. O que me cativa mesmo é a combinação entre elas: é o acorde, o jogo cênico em si. Bom, está respondida a primeira pergunta (ficou um pouco vago, né?)... Não fugirei da segunda (risos): é claro que existem personagens com os quais eu me identifico mais... Acho que o Edu, por ser uma pessoa que não se enquadra... Mas que apesar de seus buracos psicológicos, ele se sai bem, leva tudo na esportiva, com humor... E o Dr. Décio, aparentemente calmo e ponderado, mas que não consegue evitar que as emoções guiem suas ações afinal de contas: é impulsivo, humano... Os personagens são bem mais do que isso, que fique claro. Esses são apenas os meus pontos de identificação, a partir das minhas percepções, não necessariamente absolutas. O telespectador vai tirar suas próprias conclusões. Esse é o jogo.
A equipe que está por de trás das "Máscaras" ...
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11 comentários:
Novela promete! Quando se tem um ótimo time de profissionais como este já é meio caminho andado, ainda mais sendo encabeçado pelo Lauro César Muniz.
O despojamento destes colaboradores é comovente. Parabéns a todos, mostram-se dignos da responsabilidade de acompanhar o consagrado Lauro e o talentoso Renato. Adorei cada um, torço muito para que sejam bem-sucedidos porque são honestos e, pelo que lemos, muito trabalhadores.
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Mensagem enviada pelo autor Lauro César Muniz
Ótimas entrevistas, moçada! Abraços, Lauro.
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Mensagem enviada pelo ator Petrônio Gontijo
Muito bom Guilherme!! Matéria elegante sobre a novela!
Excelente proposta fazer esse Especial sobre a novela. Que venha logo a estréia e boa sorte aos novos colaboradores do Lauro. A mim, todos pareceram bem capazes e certamente farão bonito, firmando-se na carreira brilhante a que escolheram.
Sensacional este especial! Já sinto que eu PRECISO ver essa novela! Ansioso, muito ansioso! Parabéns aos envolvidos pelo excelente especial, e aguardando desde já a terceira parte!
André San - www.tele-visao.zip.net
Excelentes as entrevistas...
Meus parabéns ao Agora É Que São Eles!
Só fez as minhas expectativas para a novela (que já eram grandes) crescerem ainda mais. :)
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Mensagem enviada pela atriz Beth Goulart
Adorei as entrevistas, sinto, vejo, desejo e me orgulho das palavras e observações que a convivência artística pode proporcionar.
Estou de camarote aplaudindo o talento que é individual e a força do coletivo na formação deste grupo.
Para mim a novela já é um sucesso!
Agradeço ao Lauro por ter juntado este time de criadores!
Beijos à todos,
Beth Goulart
Pelas entrevistas, ainda que curtas, a gente já percebe a qualidade da equipe só pelas respostas dadas. A novela promete! Ficaremos de olho.
Bjs
Belo trabalho!
Excelente especial Gui! Parabéns!
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