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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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sábado, 7 de abril de 2012


E L I Z A B E T H

S A V A L A




PARTE  4


Nesta quarta parte do bate-papo com Elizabeth Savala, a atriz fala sobre a importância de Walter Avancini na sua história profissional e de vida, bem como sobre a parceria com o autor Walcyr Carrasco, que já dura doze anos e, digamos, seis novelas e meia, já que a atriz revela que foi escalada para uma produção da qual acabou, contra a sua vontade, não participando. Além disso, Savala expõe sua opinião sobre o mercado de trabalho para os atores no Brasil e comenta a expressão "Já não fazem mais novelas como as de antigamente", muito utilizada em comentários nas redes sociais e mesas de bar.






Por Fernando Russowsky


Sobre Walter Avancini  e  O Cravo e a Rosa

Walter Avancini
Enquanto o Daniel Filho trazia a agilidade, o naturalismo para a televisão, o Avancini trazia a brasilidade. Ele trouxe textos, trouxe Guimarães Rosa, ele trouxe o nordeste, a musicalidade, as apostas em linguagens diferentes. Gabriela, por exemplo, ele fez os primeiros vinte capítulos da novela, tudo com a câmera parada. É cinema puro. Você se posicionava para a câmera, ela não ia te buscar. Quando o personagem do Wilker entra, que é “o novo” e é moderno, aí é que as câmeras começam a se movimentar. Então, as minhas cenas com a Nívea Maria, por exemplo, eram verdadeiras cenas de balé. Quando a gente sentava na cama, por exemplo, entrava em quadro do peito pra cima. Se alguém visse embaixo, era engraçadíssimo, a gente na cama, uma praticamente em cima da outra, com as coxas uma na outra e a gente se puxava pelo braço pra ficar completamente ereta, de perfil pra câmera e conversando. Era um balé! Pra mim, foi a primeira novela, pra quem nunca tinha visto câmera na vida, foi uma loucura! N’A Padroeira, ele falava sobre o quanto temos que procurar o DNA da personagem. Ninguém falaria de DNA naquele momento; estavam começando as pesquisas e etc. e tal. Então, o Avancini era um pesquisador muito sério, um grande seguidor do método do Stanislavsky, acima de qualquer coisa. Ele trouxe cultura mesmo, num veículo que não se falava muito sobre isso. Trouxe Jorge Andrade, o próprio Jorge Amado... Enfim... era um apostador. Ele era um gênio! Um gênio! Era um grande, mas um grande diretor de ator! E eu era alucinada por ele. O Avancini teve uma coisa fantástica, porque era muito difícil trabalhar com ele... O Avancini era ame-o ou deixe-o. Ele era de uma sinceridade... Não houve um trabalho que o Avancini fez, em tudo, tudo dele, aqui no Brasil, em Portugal... toda novela que ele ia fazer, ele me ligava: “Savala, agora tem um personagem assim, assado” e eu, como nunca saí da Globo, estou lá há 38 anos, não pude acompanhá-lo nos outros trabalhos. Mas eu queria voltar a trabalhar com ele. Então, quando a Manchete faliu, o Boni o chamou e ele veio para fazer alguns Casos Especiais, Brava Gente...
Ele me chamou, então, para fazer O Cravo E A Rosa. E nada da personagem entrar. E nada, e nada! Eu sabia que ele estava doente, e estava preocupadíssima que ele morresse e eu não voltasse a trabalhar com ele, não me reencontrasse profissionalmente com ele. E aí foi que eu comecei a ficar amiga do Walcyr, porque eu telefonava pra ele e falava: “Walcyr, não vou entrar!”, e ele respondia: “Dá um tempinho, Savala! Eu vou falar com o Avancini”. E passava um mês, e passava dois, e nada. Chegou um momento em que o Avancini me ligou e falou assim: “Você não vai entrar na novela”. Falei: “Nossa, tá louco, como eu não vou entrar na novela?”. Ele falou: “Não vai, Savala, porque não tem personagem pra você. A novela tomou um ritmo, se encaminhou de tal forma, não tenho como separar o casal”. Eu acho que eu entraria para separar o casal interpretado pelo Ney Latorraca e pela Maria Padilha. (...) (Eu disse:): “Mas eu quero fazer qualquer personagem, você não tá entendendo, eu faço qualquer coisa!”, e ele: “Mentira, você vai chegar aqui, vai ficar triste! Não tenho personagem pra você, não tenho personagem do teu tamanho”. E eu falava: “Para com isso, Avancini, atriz não tem tamanho!”, e ele: “Tem sim, você não vai fazer o trabalho porque não tem papel pra você”. E eu chorei, fiquei péssima, fiquei muito mal. Aí veio, praticamente em seguida, A Padroeira, e ele me chamou: “Agora nós vamos trabalhar!”. E foi ótimo, porque eu fiquei um mês, talvez, fazendo um trabalho de mesa com ele, um trabalho de pesquisa pra personagem, pra história. Ele não dirigiu nenhuma cena minha no estúdio, só na mesa, e veio a falecer durante o trabalho. Foi uma coisa muito dura passar por isso. Em todos os momentos da minha vida, até na morte ele foi importante pra minha carreira, na minha vida, como pessoa e como atriz.


Parceria com Walcyr Carrasco e novelas dos anos 2000

Dessa década pra cá, eu tive a sorte de encontrar um autor como o Walcyr, que acreditou no meu trabalho. (...) (A morte de Walter Avancini) acabou fortalecendo essa ligação que a gente tem, o Walcyr e eu. Ele também deve muito da sua carreira inicial ao Avancini, trabalharam juntos na Manchete... Então, acho que o Avancini veio para nos unir.
(Personagens com perfis semelhantes em novelas do autor) Isso que é um grande desafio né? Você interpretar esses personagens e tentar fazer da forma mais diferente possível um do outro. Então, você tem a Jezebel de Chocolate com Pimenta, que era de época, que lhe permite um gestual... tem várias coisas que te ajudam. 

Walcyr Carrasco e Elizabeth Savala: parceria de 12 anos e 6 novelas.



Caras & Bocas (2009)
Personagem: Socorro
 
O penúltimo papel que eu fiz do Walcyr foi Caras E Bocas (Socorro). E era completamente diferente, era uma mulher... A Marília Carneiro (figurinista) falou: “Você é louca!”, porque eu resolvi deixar meu cabelo branco. Eu não usava maquiagem nenhuma e tentei me envelhecer o máximo possível. Porque quando o Walcyr falou da Socorro pra mim, eu dormi e sonhei com a minha avó. O sonho, às vezes, fica ali no inconsciente, e eu falei: “Vou fazer uma homenagem pra minha avó”. Ela foi uma grande mulher na minha vida, me marcou muito, uma espanhola pé-no-chão, como aquelas mulheres de Lorca... Eu peguei uma roupa parecida com a dela, um vestidinho preto com umas florzinhas assim pequenininhas, e levei pra Marília. A única diferença é que ela usava um birote e a Marília falou: “Mas birote já é demais!”. E botou um rabo de cavalo. Em cena, eu usava um guarda-chuva, o tempo todo. Tentei fazer o mínimo de gestual possível, pra quem faz teatro isso é uma tragédia, porque quando você vê, já está três tons acima, tanto na voz, quanto no gestual. (...) O Jorginho dizia: “Menos Savala, menos!”, e eu peguei então o guarda-chuva e a carteirinha, que eram, digamos assim, minhas bengalas, no sentido de prender a mão, de diminuir o tom, de fazer alguma coisa diferente. E eu amei fazer esse personagem! Além disso, a novela tinha um caso romântico, digo, o primeiro caso de sexo animal e homossexual da televisão brasileira, porque era um caso com o macaco, que na verdade era uma macaca, a Kate, né? (risos)


Elizabeth Savala (Socorro) em cena com a macaca Kate (Xico)
em Caras & Bocas (2009).


A Padroeira (2001)
Personagem: Imaculada

Adorei fazer, foi uma grande personagem que o Walcyr me deu. Era multifacetada, digamos assim. Pregava a austeridade, o jejum, mas comia escondida. Escondia a comida, dizia que não praticava sexo e teve a filha fora do casamento. Um dos grandes conflitos da novela é que ela não queria que a filha (Isabel, Mariana Ximenes) se casasse com o Diogo (Murilo Rosa), filho da Lu Grimaldi (Joaquina) e do Stenio Garcia (D. Antônio), porque ela achava que a filha era dele. E realmente era dele, de uma pulada de cerca dela. O filho dele é que era adotado. Então tudo bem deles ficarem juntos...

Como Imaculada, na novela A Padroeira (2001).

Sobre a ideia de que "já não fazem mais novelas como as de antigamente" ...

Olha, eu acho que quando se tem novelas como Chocolate com Pimenta ou Alma Gêmea, enormes sucessos, ou mesmo esta virada grande que o Walcyr deu na última que fizemos, Morde & Assopra, ou Caras & Bocas, todas elas foram grandes novelas, de muito sucesso. (...) Temos bons trabalhos sim. Agora, como nos lembramos de nós pequenos, mesmo que a nossa infância tenha sido apática, sempre achamos que o passado é melhor do que o agora. Então, sobre essa questão das novelas, acredito que também é assim. A gente sente saudade.


Mercado de Trabalho

Realmente, é uma carreira muito difícil. É quase uma loteria, poucos ganham o bilhete premiado. (...) Eu vi este trabalho da Meryl Streep, Dama de Ferro, que é fantástico e merecidamente ganhou um Oscar. Uma grande atriz que nasceu em um país onde ela tem a possibilidade de fazer imensos personagens. Você vê que a Meryl Streep todo ano está filmando, todo ano tem um filme dela diferente de outro. É uma profissão fantástica e ela é deslumbrante! Aqui no Brasil, você não tem essa continuidade... Muitos atores só têm a Globo, sistematicamente fazendo, e a Record. O SBT às vezes começa e depois para, o que é uma grande pena, porque tem coisas muito boas feitas lá, como o último trabalho do Tiago Santiago, que eu adorei.


(continua ...)


Leia a PARTE 5 deste Especial.



3 comentários:

LORENA disse...

Por favor..... Posta logo a próxima parte... Eu adoooooooro a Elizabeth Savala.... Super fã dela...

André San disse...

Cada vez melhor! Que bom que a atriz tem um "casamento profissional" bem resolvido com o Walcyr Carrasco, pois antes de engatar várias novelas dele, ela andava muito sumidinha, e a gente sente saudades. Muitos reclamam que ela faz sempre a mesma personagem nas novelas dele, mas não é bem assim. A Imaculada, de A Padroeira, começou mais dramática e terminou na comédia. Depois veio Chocolate com Pimenta, comédia, Alma Gêmea, drama, Sete Pecados, comédia, Caras & Bocas, drama, e Morde & Assopra, comédia. Ou seja, percebo a preocupação do autor em "revezá-la" nos tipos. Achei interessante ela falar do guarda-chuva de Caras & Bocas, eu notei isso na época, e não entendia direito o porquê. Tá explicado! Ótima entrevista!
André San - www.tele-visao.zip.net

Henrique disse...

Ela é uma atriz excelente e de uma simplicidade rara nas estrelas atuais.