P A U L O
B E T T I
Ator e diretor consagrado no cinema, teatro e televisão, Paulo Sérgio Betti iniciou sua carreira como um dos fundadores do “Pessoal do Victor”, um grupo de teatro experimental formado por alunos da EAD/USP, nos anos 70. Na televisão, estreou no sucesso Os Imigrantes, da Band, em 1981, além de colecionar personagens de sucesso, como o tímido Marco, de Vereda Tropical; o engraçado Timóteo D’Alembert, de Tieta; o malandro Carlão, de Pedra Sobre Pedra; o prefeito Ipiranga Pitiguary, de A Indomada, e o paranormal Joãozinho de Dagmar, de O Fim do Mundo, entre outros. No cinema fez personagens históricos, como o Barão de Mauá e o líder revolucionário Carlos Lamarca.
Paulo engrandece ainda mais a galeria de entrevistados do "Agora", nos concedendo uma entrevista onde fala sobre seus trabalhos na TV, política, cinema e teatro.
O ator integra o elenco da peça "Deus da Carnificina - Uma Comédia Sem Juízo", que será encenada em Paulínia (SP), nos dias 25 e 26 de maio, no Theatro Municipal.
ENTREVISTA EXCLUSIVA
Eduardo Secco pergunta
1. Você atuou como produtor e diretor do filme Cafundó, em 2005. Como foi esta empreitada? Planeja outras investidas no gênero? As leis de incentivos fiscais aprovadas recentemente facilitaram o trabalho dos produtores de cinema?
Pôster do filme Mauá - O Imperador e o Rei (1999). |
Eduardo Secco pergunta
2. A Vida da Gente, seu mais recente trabalho na TV, se firmou como uma das novelas mais “femininas” de todos os tempos. As mulheres dominavam a ação durante todo o tempo e os personagens masculinos ficavam a mercê das atitudes tomadas por elas. Qual o seu balanço final de A Vida da Gente e de Jonas Macedo, seu personagem? Acredita que a TV brasileira oferece possibilidades mais interessantes às atrizes do que aos atores?
Nossas novelas têm muita qualidade. Os jovens são privilegiados, mas os mais velhos são necessários para segurar a onda, e depois, eles existem também na realidade, não é? A Vida da Gente tinha um enfoque feminino, e eu adorei meu papel. A novela foi muito bem escrita e revelou uma nova autora: Lícia Manzo.
Paulo Betti com Regiane Alves em "A Vida da Gente" (2010/2011). |
Guilherme Staush pergunta
3. Você é um dos atores mais atuantes, politicamente falando, e sempre fez campanha para o ex-presidente Lula. Enquanto nas eleições presidenciais de 89, algumas atrizes como Marília Pêra e Cláudia Raia foram “metralhadas” pelo público por apoiarem a candidatura de Fernando Collor, você, por outro lado, fez campanha pro PT, apoiando um candidato que não era exatamente o preferido pela Rede Globo, emissora para a qual você trabalhava na época. Acredita que, em algum momento, sua carreira na televisão pode ter tido algum prejuízo em virtude de sua militância política? De que forma você acha que um comprometimento político pode interferir na carreira de um ator?
Não sei se minha carreira teve algum prejuízo por causa das minhas posições políticas. Fiz o que achava que devia ser feito. Nossa vida e carreira se misturam. Gosto de ser militante, hoje muito mais culturalmente do que político. Me orgulho de minhas escolhas e é inegável, apesar de todos os erros cometidos, que o Brasil melhorou muito. Hoje somos uma potência mundial, mas muita coisa eu condeno e acho que devemos melhorar ainda bastante. Sempre é preciso mudar, mover pra diante.
Paulo Betti com o ex-presidente Lula, em campanha presidencial (1994). |
Eduardo Secco pergunta
4. Você tem uma extensa carreira no teatro, marcada por textos consagrados. Entretanto, o grande público associa à sua imagem os tipos apresentados na TV. O que falta, nos dias de hoje, para aproximar o público do teatro?
As peças boas sempre têm público. Teatro é insubstituível, uma experiência única e inesquecível para o bem e para o mal. Quando se assiste uma peça boa, não se esquece jamais; quando ela é ruim, dá vontade de morrer. A televisão sempre vai marcar os atores, pois ela é vista pela grande massa. Teatro é artesanato.
Com o elenco da peça "Deus da Carnificina - Uma Comédia Sem Juízo". |
Guilherme Staush pergunta
5. Em 2004, você participou de Metamorphoses, uma produção da Rede Record em parceria com a Casablanca. Foi uma novela com uma ideia inicial bem interessante e inovadora, mas que acabou afundando, principalmente por decorrência da troca de autores. Você era um dos grandes nomes do elenco da produção. Procurou interferir de alguma forma quando percebeu que a novela estava tomando outros rumos? De que forma todos esses problemas repercutiram nos bastidores ?
Paulo Betti na novela "Metamorphoses" (2004) |
Metamorphoses teve um elenco fabuloso. Um foi aceitando por causa do outro, e eles reuniram Miriam Muniz, Gianfrancesco Guarnieri, Zezé Motta, Joana Fomm. Tinha até o Rodrigo Lombardi! Mas a direção e os autores e produtores não se entenderam. O tema da novela era bom, mas o autor Mário Prata saiu, Tizuka Yamasaki, a diretora, também não conseguiu conduzir a história. Tentamos fazer reuniões para dar palpites, estávamos unidos, mas depois percebemos que eles não iam nos ouvir e desistimos. Fizemos o que pudemos. Mas, de qualquer maneira, serviu para iniciar o trabalho da Record nas novelas.
Guilherme Staush pergunta
Paulo com Tássia Camargo em "Tieta" (1989). |
6. Timóteo (Tieta), Carlão (Pedra Sobre Pedra) e Ipiranga (A Indomada) são alguns de seus personagens mais populares na TV. Fazendo um balanço de sua carreira televisiva, você acha que Aguinaldo Silva foi quem lhe proporcionou os melhores personagens?
Sem dúvida, Timóteo é o principal personagem que fiz na televisão em novelas. Em minissérie foi o juiz Odorico, de Engraçadinha – Seus Amores e Seus Pecados. Tive excelentes papeis em novelas. A televisão sempre foi generosa comigo, mas o cinema foi ainda mais. Me deu o Barão de Mauá, Ed Mort e Lamarca.
Paulo com Alessandra Negrini na minissérie "Engraçadinha - Seus Amores e Seus Pecados" (1995). |
BATE-BOLA c o m Paulo Betti
Uma novela inesquecível: Estúpido Cupido foi uma que assisti inteira e adorei, o elenco, a história, a época. Gostava também das novelas de Dias Gomes.
Um filme para rever sempre: Amarcord, de Fellini.
“Os Imigrantes” : minha primeira novela, saudades...
Política: consciência, xadrez, fazer o possível para mudar, escolher o melhor.
Uma novela para esquecer: não lembro.
Dou um presente para: todos os que se envolvem e não são cínicos.
Dou um castigo para: os corruptos que roubam do leite das crianças, das obras sociais, e que se aproveitam das tragédias para ganhar dinheiro, não merecem perdão.
Cinema brasileiro: nossa memória, de nossas histórias, de nossas paisagens, de nossas cidades, de nossa gente e identidade. Valoroso!
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4 comentários:
Paulo é um ator bem politizado, inteligente, ator de teatro. Não tem tido oportunidades tao boas na TV nos últimos anos. Faltam bons papeis.
Timóteo era muito bom!
Metamorphoses, como dito, foi uma grande ideia desperdiçada numa novela confusa.
Abraço
Metamorphoses foi muito boa no início! A ideia do transplante de rostos era inédito na época. Poderia ter sido uma grande novela. Tinha um autor bom e uma ótima diretora. Talvez se tivesse sido feita pela própria Record, teria engatilhado.
Um grande ator, podia estar mais presente na TV, adorava o Jonas Macedo de a vida da gente. Boa entrevista.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
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