por Daniel Freitas
Enganou-se quem imaginava que Cheias de Charme, folhetim exibido na
faixa das 19h pela Rede Globo, seria apenas mais uma despretensiosa novelinha
das sete. A história de autoria de Felipe Miguez e Izabel de Oliveira, dupla
estreante na teledramaturgia da emissora, se tornou um grande sucesso, graças à
mistura bem feita entre humor, talento e enredo interessante. Desde a estreia,
há cerca de três meses, a audiência consolidou-se acima dos 30 pontos, alçando
a novela ao time de uma das melhores do horário nos últimos anos. Com
desempenho semelhante, é possível citar apenas Da Cor do Pecado (2004), Cobras
& Lagartos (2006), ambas de João Emanuel Carneiro, e Caras & Bocas (2009), de Walcyr
Carrasco.
Mas Cheias de Charme vai um pouco mais além. A novela é o retrato da
mais nova classe C do país, formada por pessoas que melhoraram de vida,
conquistaram direitos e continuam na luta em nome da sua dignidade e do
respeito que merecem. Nesse grupo, estão as empregadas domésticas, figuras que,
no momento atual, pouco lembram aquelas mulheres subservientes e submissas, que
a tudo ouvem caladas. Na TV, essa mudança é vista sob o comando de Maria da
Penha (Taís Araújo), Maria do Rosário (Leandra Leal) e Maria Aparecida
(Isabelle Drummond). O trio de protagonistas vem dando conta do recado com
muita simpatia e vivacidade, cada uma com suas histórias e dramas, envolventes
o suficiente para cativar o público.
No desenrolar da história, as Marias
do Lar gravaram um vídeo intitulado “Vida de Empreguete”, que ultrapassou as
fronteiras da ficção e transformou-se num grande hit na vida real. A canção
espirituosa, o figurino divertido, as coreografias e as caras e bocas das três
atrizes fizeram do vídeo um dos campeões de acessos no site YouTube,
potencializando o apelo popular da novela. Também bastante executada em festas
de todo o país, a música gruda como chiclete: “Queria ver madame aqui no meu
lugar / Eu ia rir de me acabar / Só vendo a patroinha aqui no meu lugar /
Botando a roupa pra quarar”. Sucesso total.
O contraponto de Penha, Rosário e Cida
está em Chayene, vivida com intensidade por Cláudia Abreu, que embora já não
precise provar nada para ninguém, dá um verdadeiro show de interpretação como a
patroa que berra, xinga e humilha as serviçais. Ao mesmo tempo, ela também é a
divertida cantora de forró que saiu do Piauí para brilhar nos palcos, com seu
figurino exótico e espalhafatoso. Para entoar seus hits, a atriz dispensou a
dublagem. É ela mesma quem solta a voz em músicas como “Voa, voa, Brabuleta”,
numa demonstração de versatilidade não tão comum. Sempre jovem e ainda assim
uma veterana em seu ofício, Cláudia dá vida a Chayene com a mesma energia vista
em personagens como a Clara, de Barriga de
Aluguel, a princesa Juliette, de Que
Rei Sou Eu?, e a Laura, a assassina de Celebridade. A atriz, inclusive, é
uma das queridinhas do autor Gilberto Braga.
As músicas de Chayene e das
Empreguetes dividem a cena com as canções de Fabian, vivido por Ricardo Tozzi,
o charmoso cantor de olhos claros que, ao lado de Inácio, também interpretado
pelo ator, faz Maria do Rosário suspirar. Todos têm músicas próprias, com
letras criadas especialmente para a novela. O colorido dos figurinos (sobretudo
os de Chayene, inspirados na cantora Joelma, da banda Calypso) e os shows
musicais que permeiam a história já abriram espaço para a participação especial
de artistas como Michel Teló e Ivete Sangalo. Sem falar na aparição dos
personagens em programas da Rede Globo, como o hilário café da manhã entre as
patroas e as três Marias no Mais Você,
de Ana Maria Braga, e a apresentação de Chayene no Esquenta, de Regina Casé, em sequências impagáveis. A novela também
vem sendo uma excelente vitrine para o trabalho de Gaby Amarantos, que solta a
voz na música de abertura, “Ex May Love”. A popularidade da novela, inclusive,
já rendeu à cantora uma vaga no quadro Dança
dos Famosos.
Em Cheias
de Charme, também há espaço para os amores proibidos – ninguém ficou imune
ao triste olhar de Maria Aparecida ao presenciar o amor de sua vida, Conrado
(Jonatas Faro), casar-se com a sua rival – e para o drama com pitadas de
comédia pastelão – o julgamento de Chayene, após destratar sua empregada Maria
da Penha foi uma prova disso. A ideia de superioridade que as madames julgam
ter sobre as criadas também já rendeu ótimos momentos, como as cenas da reunião
entre as patroas, na qual propunham que as empregadas domésticas não abrissem
mão do uniforme de serviçal nem nas áreas comuns do condomínio e utilizassem
apenas o elevador de serviço. Tudo em nome da hierarquia, como defenderam as
personagens de Alexandra Richter, Aracy Balabanian e Mônica Torres.
O sucesso do folhetim das sete também
foi responsável pelo lançamento de um novo quadro no Fantástico. É o concurso A
Empregada mais Cheia de Charme, que irá selecionar e premiar a autora do
vídeo mais bem elaborado dentre os enviados pelas secretárias do lar de todo o
país. As finalistas já conhecidas não pouparam em criatividade. A previsão é de
que a novela fique no ar por mais cinco meses. Até lá, o público terá muita
diversão com a disputa entre Penha-Rosário-Cida e Chayene, simbolizando os
discursos opostos de empregados X patrões. O clima alto astral de Cheias de Charme é uma prova de que o
público não é bobo nem aplaude qualquer humor raso. Humor inteligente, afinal.
2 comentários:
Texto excelente!
Cheias de Charme é uma novela maravilhosa, a gente ri, se emociona e muito mais. Merece todo o sucesso que vem fazendo, e será uma obra inesquecível.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Cheias de Charme é uma grata surpresa! Novela deliciosa, redonda, com personagens bem construídos e muito inspirados. Direção, texto, atores... tudo na mais perfeita sintonia! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
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