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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Toda Malhação pede descanso
Nova temporada dá vigor ao programa, mas demonstra escassez de tramas.

por Duh Secco



Começou a nova Malhação. Demasiadamente anunciada pela Globo nos últimos tempos, a vigésima temporada da novelinha teen estreou muito mais colorida do que sua antecessora. E mais interessante também! Rosane Svartman e Glória Barreto deram uma bela roupagem a uma história já conhecida do público do horário. Mas ainda assim, falta um gás a mais que leve o telespectador a sintonizar na Globo todos os dias, para conferir a atual temporada.


Ju (Agatha Moreira) e Dinho (Guilherme Prates):
casal protagonista da nova temporada.
A nova Malhação, intensa como a vida, como diziam as chamadas que a anunciavam, não tem, efetivamente, nada de novo. Os conflitos que envolvem os adolescentes do colégio Quadrante são os mesmos que atormentavam os alunos do Múltipla Escolha e os da academia mantida por Paula (Sílvia Pfeifer), na primeira fase do programa. Desde o início, quando o título ainda tinha razão de ser, Malhação se destinava à abordagem de dramas adolescentes, no intuito de aproximar pais e filhos em torno de discussões sobre os mesmos. A soap-opera deu fim a um problema que perturbava a cabeça de executivos globais: o que levar ao ar nos finais de tarde, após o sucesso da Escolinha do Professor Raimundo, que saiu do ar justamente por ter saturado o público e seu professor, o brilhante personagem criado pelo mestre Chico Anysio. Malhação foi ao encontro de todos os desejos da Globo e correspondeu plenamente às expectativas.


Malhação em três tempos: ainda na fase
academia; na mudança para o colégio
Múltipla Escolha; e em seu período
de maior audiência.
Sucesso absoluto nos primeiros anos, a novelinha viu sua audiência cair diante das trocas de elenco e personagens. Chegou a apelar para o relacionamento do jogador Ronaldo Fenômeno, então Ronaldinho, com Suzana Werner; para uma versão ao vivo, capitaneada por Mocotó (André Marques); e aboliu a academia dando lugar a um colégio. Os índices, então, reagiram. A primeira fase de Malhação, passada no Múltipla Escolha, nos trouxe o romance Tati (Priscila Fantin) e Rodrigo (Mário Frias). A trama amorosa de início foi dando lugar a conflitos mais intensos, conforme as temporadas mudavam. Érika (Samara Felippo) se descobriu soropositiva; Helô (Fernanda Souza) desafiava a mãe para viver um romance inter-racial; Gui (Iran Malfitano) passava por um conflito ético ao descobrir que seu pai era corrupto. Em 2004, Letícia (Juliana Didone), a primeira protagonista pobre da novelinha, foi responsável pelos recordes de audiência atingidos naquele ano. A Miss Gari, como ficou conhecida, desafiava Gustavo (Guilherme Berenguer), o inconsequente líder da Vagabanda, por quem acabou se apaixonando. E o público ia ao delírio!


Outras fases vieram; a audiência foi caindo; o colégio sumiu e deu lugar a uma trama misteriosa com toques sobrenaturais. Em estado de alerta, Malhação retomou seus trilhos e subiu os índices, novamente. É na confiança dos conflitos juvenis que tanto agradam o público da faixa horária que a nova Malhação se apoia. A disputa de duas amigas, Lia (Alice Wegman) e Ju (Agatha Moreira) pelo coração de Dinho (Guilherme Prates) divide espaço com tramas mais adultas, como a difícil convivência de Mário (Eduardo Galvão) com seu filho pequeno e sua ex-mulher, Bárbara (Maria Paula). Estão presente os episódios pelos quais todo adolescente já passou, como dar uma festa em casa na ausência dos responsáveis, e ser descoberto bem no ápice da bagunça, ou dar um beijo, meio que sem querer, na melhor amiga, em um momento de grande felicidade. Mas tudo isso, no entanto, parece pouco.


Mocotó (André Marques), Cabeção (Sérgio Hondajoff) e Orelha (David Lucas):
personagens que se repetem ao longo dos anos.

Malhação se repetiu ao longo de seus dezessete anos no ar. Quem vê Orelha (David Lucas) na atual temporada, rememora Cabeção (Sérgio Hondjakoff) na fase colégio e Mocotó (André Marques), na época da academia. A apaixonada Ju é uma cópia fiel de Luiza (Fernanda Rodrigues), a menina apaixonada por um rapaz mais velho, ou de Solene (Renata Dominguez), que tinha medo de se machucar ao se envolver com Beto (Sérgio Abreu), seu patrão. A professora Marcela (Danielle Winits) nada mais do que a versão masculina de Dado (Cláudio Heinrich), o professor que enlouquecia as alunas com sua beleza.


Não sei se eu já não tenho mais idade para acompanhar Malhação ou se é Malhação que já não tem mais o que apresentar ao público, incluindo aquele para o qual se destina, o infanto-juvenil. A nova fase é bem escrita, dirigida, com um elenco competente. A produção não faz feio, com cenários bonitos, trilha bem selecionada, e uma abertura que já se coloca entre as melhores de todas as que o programa já teve. Mas, apesar da boa audiência, não causa barulho, talvez por não trazer rigorosamente nada de novo. Será que não chegou a hora da Globo rever o que deve servir de escala para sua grade do horário nobre?

Um comentário:

Fábio Leonardo disse...

Boa análise, Duh!

Compartilho com todas as opiniões. A atual temporada de Malhação é uma delícia de se assistir quando não se tem tanto o que fazer. A temporada anterior cansou com seu clima noir, e só teve alguma possibilidade de despertar interesse no público reacesa quando tudo se transformou num grande folhetim, centrado em Gabriel e Alexia.

Atualmente, vemos Malhação pra relembrar nossa adolescência, e é impossível não se identificar com pelo menos um dos personagens. Acho que há tempos eles não eram tão humanos.

Mesmo assim, a coisa perdeu o viço. Há de se repensar o formato, ou mesmo se ele deve continuar existindo. Abraços!