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terça-feira, 11 de setembro de 2012








 
Um novo tempo às 18h
Lado a Lado estreia com premissa interessante e elenco afinado

por Duh Secco


Capítulos de estreia quase nunca apresentam todos os conflitos que irão permear uma novela durante sua longa duração, mas costumam deixar claro ao público qual será a temática que irá conduzir todo o seu enredo. Nesse quesito, o primeiro capítulo de Lado a Lado, nova trama das 18h, se saiu muito bem, ao estabelecer o paralelo entre as duas personagens centrais, Isabel (Camila Pitanga) e Laura (Marjorie Estiano). É óbvio que assim como não devemos julgar um livro pela capa, também não podemos avaliar uma novela apenas pelo seu primeiro episódio. Entretanto, a novela que marca a estreia de Cláudia Lage e João Ximenes Braga como autores-solos, reuniu diversos elementos interessantes, que podem fazer da trama um grande sucesso.



A começar pela já citada relação de Isabel e Laura, que, mesmo sem se conhecerem, já demonstraram que irão enfrentar diversas adversidades juntas. São mulheres à frente do período em que vivem, o que implica em diversos conflitos com as ideias arcaicas de seus familiares e um resquício de preconceito oriundo de outros tempos. No primeiro caso, está Laura, que luta contra a tirania da mãe, Constância (Patrícia Pillar), para poder ministrar aulas de teatro; já Isabel enfrenta a hostilidade de um povo ainda contrário à abolição da escravatura e ao fim da monarquia. Tal posicionamento ficou claro quando Albertinho (Rafael Cardoso), irmão de Laura, saía para brincar o carnaval ao lado dos amigos, não sem antes ser repreendido pela mãe: “Festa de respeito só na Rua do Ouvidor”, disse Constância ao filho. Este ignorou o conselho e partiu para a Gamboa, numa folia em que “tudo era possível”, e que, conforme exclamou um dos amigos do rapaz, eles poderiam se divertir com as mulatas, deixando claro o pensamento mundano relacionado à ex-escravas, que ainda habitava a cabeça dos endinheirados. O preconceito destes resvalava também em escritores e atores, conforme a mesma Constância citou, ao dizer que Laura não deveria agir de forma semelhante às atrizes, rotuladas de desclassificadas; e também no momento que Isabel e Zé Maria (Lázaro Ramos) entram em uma confeitaria, sob os olhares repreensivos dos demais clientes do local.

Não me recordo de outra novela que tenha buscado este período da história do Brasil para ambientar sua trama. Lado a Lado traz aqueles que prezavam a monarquia e a escravatura; os que lutavam para construir uma vida digna após a abolição; e os que planejavam construir uma nova sociedade, aproveitando-se do início de um novo século. Apesar do contexto histórico, a novela não buscou um texto com todos os rebuscamentos que o período pedia. O telespectador mais desavisado, que esperava um retrato fiel da história, pode ter se incomodado com isso. Mas os autores já haviam alertado, em entrevistas anteriores à estreia da novela, que estavam buscando uma nova maneira de se dirigir ao público de tramas de época, o que implicaria em diálogos mais informais. A meu ver, um ponto positivo, condizente com a proposta da novela, que também aposta em uma trilha sonora mais moderna.

Como nem tudo são flores, Lado a Lado teve seus tropeços. As cenas que apresentaram Isabel e Laura se revezaram ao longo do capítulo de estreia, o que o tornou um tanto quanto monótono. Algumas sequências soaram didáticas, com repetições em excesso, caso do já comentado trecho em que Constância alerta o filho sobre os perigos do carnaval, classificado como “festa pagã” e “festa da carne”, entre outros adjetivos repetidos a cada fala da ex-baronesa que almeja voltar a ostentar seu título. Alguns personagens, como a oferecida Berenice (Sheron Menezes), parecem fáceis demais, deixando transparecer suas intenções logo no início.

O elenco, muito bem escalado, tem em Patrícia Pillar o seu maior destaque. Sua Constância já pode ser considerada odiosa. Suas artimanhas para impedir que a filha Laura lecione incluem  medidas drásticas, como rasgar o diário da moça, e dissimulação, como quando se fez de mãe confidente e amiga para tentar fazer com que a protagonista aceitasse o casamento com 
Edgar (Thiago Fragoso). Marjorie Estiano e Camila Pitanga são duas estrelas que abrilhantam todas as cenas que participam; Milton Gonçalves é uma grata presença com seu simpático Afonso; e Isabela Garcia acertou na comicidade de sua Celinha, a solteirona que desmaia ao ver a sobrinha, Laura, ensaiando um beijo, enquanto interpretava uma personagem de Aluísio Azevedo. Disputando o coração de Isabel, estão Zé Maria e Albertinho. O primeiro, muito bem defendido por Lázaro Ramos, é marginalizado por sua condição social e também por lutar capoeira, esporte difundido por seus antepassados; o segundo, do bom ator Rafael Cardoso, não parece tão correto quanto Zé Maria, mas a julgar pela cena em que defende Isabel de seus amigos mal-intencionados, promete ser um rival à altura para o ajudante de barbeiro. No segundo capítulo, levado ao ar hoje, novos personagens foram introduzidos e mostraram que o elenco, como um todo, está bem afinado. Guilherme Piva (Delegado Praxedes) e Susana Ribeiro (Tereza) prometem formar um engraçado casal. A atriz saiu-se bem na mudança de comportamento de sua personagem: cômica na presença do marido; amendrontada diante dos desaforos de Constância: e mentindo à Laura, a quem demitiu por imposição da mãe da jovem. Agradavéis presenças também de Bia Seidl (Margarida), Christiana Guinle (Carlota) e Beatriz Segall, ótima como Madame Bensançon. Nome, aliás, advindo da personagem vivida por Henriette Morineau em Escrava Isaura, sucesso de Gilberto Braga, supervisor da nova novela, exibida em 1976.

Lado a Lado tem a direção segura de Dennis Carvalho, que apostou em stock-shots com fotos de paisagens do Rio de Janeiro antigo, algo já visto anteriormente em produções como Terra Nostra e Essas Mulheres, da Record. O diretor fez uso do slow-motion em diversas sequências, garantindo belíssimos takes, como quando Isabel dança em meio aos foliões e no momento em que Zé Maria aplica um golpe de capoeira, usando de uma parede para praticamente voar sobre seu oponente. A abertura, belíssima, também foi concebida em slow-motion, o que garantiu uma riqueza de detalhes impressionante, enaltecida por créditos emoldurados, e pelo inesquecível samba-enredo, que fez da Imperatriz Leopoldinense campeã do carnaval de 1989: “Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós!”. Que Lado a Lado também possa se sagrar uma campeã de audiência!




2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Duh,

nossa, você conseguiu ver coisas boas onde não enxerguei nadinha... O primeiro e o segundo capítulos foram bem fracos, eu achei. O didatismo excessivo me incomodou - fato que contrasta com a ideia dos autores de não serem extremamente fiéis ao período. Ora, então que se parta logo à ficção sem precisar marcar a todo momento o contexto, não? Há cenas tão bobas que lembram o telecurso...
Vamos ver se a focalização dos cortiços e favelas não fica mais interessante. Por ora, foi meio decepcionante o que se viu na telinha.

Abraço!

Pedro

André San disse...

Lado a Lado é tecnicamente impecável. Direção, texto, atuações, fotografia, figurino, tudo de uma beleza ímpar. Mas sua trama ainda não cativa. Parece querer não se mostrar por inteira até aqui. Talvez até o final da primeira semana, fique mais clara qual a história pretende se contar. Por enquanto, ela ainda está na promessa. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net