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quarta-feira, 26 de setembro de 2012




Uma novela cheia de charme!
Maior sucesso das 19h dos últimos tempos, trama se encerra deixando saudades.








Novela das sete é sinônimo de diversão. Assim determinaram os diretores da Globo, lá nos primórdios, quando passaram a investir em tramas água-com-açúcar, envoltas em uma atmosfera cômica, como as obras de Vicente Sesso, Minha Doce Namorada e Uma Rosa com Amor, escritas para a faixa no início dos anos 70. Na década seguinte, as novelas levadas ao ar sempre antes dos jornais regionais, na época, se configuraram no maior sucesso em termos de dramaturgia daqueles tempos. As tramas das 20h, reconhecidamente de maior audiência e repercussão, foram suplantadas por textos de Cassiano Gabus Mendes e Sílvio de Abreu, que dominaram a faixa e garantiram bom divertimento com novelas como Elas Por Elas, Guerra dos Sexos, Cambalacho e Que Rei Sou Eu?. Até que na década seguinte, ainda que com bons produtos, o horário das 19h tenha entrado em uma grave crise de criatividade. Porém, ao que parece, essa nova década iniciada à dois anos atrás, veio para rememorar os bons tempos das novelas das sete. A começar por Tititi, adaptação de Maria Adelaide Amaral para dois grandes sucessos de Cassiano Gabus Mendes, a novela homônima e também Plumas & Paetês. Tititi conquistou o público ao reverenciar outras novelas de grande repercussão, por meio de participações especiais e citações que conferiram graciosidade ao seu texto. Eu, como fã do remake, não esperava por outra trama das 19h tão inteligente e criativa, em tão pouco tempo. Até ser surpreendido por Cheias de Charme.


Já declarei, em outro texto, que quando entrevistei os autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, na época em que a novela estava em pré-produção e ainda era tratada por Marias do Lar, que não esperava as altas doses de comédia vistas em Cheias de Charme. Não foi só o tom cômico, entretanto, que me surpreendeu. A novela entra para a lista de grandes sucessos dos horário das 19h, e também para o meu rol de preferidas, por ter se aproveitado bem de todas as possibilidades oferecidas por seu elenco; emplacar os hits de sua trilha sonora, como não se via há tempos; ter unido com maestria à ação de seu enredo ao conteúdo transmídia; e dar ao público a certeza de que sua interação seria crucial para o desenvolvimento da trama.


É para rememorar tais feitos, e tantos outros, que damos início hoje ao especial Cheias de Charme, para vocês, fãs da novela e do Agora.





Taís Araújo despontou como a presença mais agradável dentre as três protagonistas da trama. Sua Penha passou a verdade necessária para atingir em cheio ao público, em especial às mulheres, mães de família obrigadas a conciliar a rotina doméstica com o trabalho,e ainda lidar com diversos problemas que surgem em seu entorno, envolvendo familiares, amigos e até mesmo os patrões. O seu casamento com Sandro (Marcos Palmeira), embora fadado ao fracasso, conquistou a empatia dos telespectadores da trama. Penha sabia perdoar os erros do marido e o fazia não só por ela, mas também pelo filho do casal, Patrick (MC Nicolas). Ao despontar como Empreguete, Penha se tornou ainda mais dona de si. Rompeu o casamento e colocou o marido na justiça para poder receber o que era direito de seu filho. Com isso, corrigiu, ainda que não por completo, o aparentemente incorrigível Sandro.


A fama fez com que Penha ficasse “chique de fina”, mas não alterou sua essência, o que contribuiu para que ela continuasse agradável ao telespectador. Lamenta-se, entretanto que, nos momentos finais, Penha tenha se deixado envolver com Gilson (Marcos Pasquim). À todos que apostavam na relação dela com Otto (Leopoldo Pacheco), a chegada do ex-namorado de Lygia (Malu Galli) foi um verdadeiro balde de água fria. O casal formado pelo dona da construtora Amaro Werneck e a empreguete era interessante justamente por Otto ser o total contraponto ao encostado Sandro. Mas até mesmo na escolha do par romântico, Penha demonstrou a coerência que a norteou durante toda a novela. Ela gosta mesmo é dos morenos e de viver na corda bamba!


Outro ponto positivo na personagem foi sua relação com a patroa, Lygia. Os autores tiveram o cuidado de colocar ambas sempre em situações parecida, o que, para o público, contribuía para aumentar a cumplicidade existente entre elas. Malu Galli foi uma belíssima presença com a advogada, que de tubaroa só tinha mesmo a fama.








O sonho de Rosário, de abandonar as panelas e seguir carreira como cantora, encantou os personagens no terço inicial de Cheias de Charme. Eu mesmo torci em demasia para que ela emplacasse logo um de seus hits. Não foram poucas as dificuldades pela qual a moça passou até obter o sucesso: foi presa por invadir o camarim de Fabian (Ricardo Tozzi); aguentou os desaforos na casa de Chayene (Cláudia Abreu), para quem resolveu trabalhar em busca de uma chance ao estrelato; teve que vender uma canção para a rainha do eletroforró e assim custear a cirurgia do pai; e viu Fabian convocar Danielle Suzuki para cantar, enquanto esperava ser chamada para subir ao palco com ele. Até compor o sucesso Vida de Empreguete e estourar, por acaso, no cenário musical brasileiro.


Eis que o sucesso que Rosário tanto almejou acabou por deixar a personagem extremamente chata. Era de se esperar que a cantora, maior interessada no êxito das Empreguetes, buscasse o profissionalismo e a perfeição em todos os números musicais que levaria ao palco. Mas daí a exigir de suas amigas, que nunca sonharam com a fama e o mundo da música, que elas tivessem o mesmo comprometimento que ela, já era um pouco demais. Sua trajetória foi comprometida após atitudes duvidosas como a demissão de Cleiton (Fábio Neppo) e a insistência em manter Socorro (Titina Medeiros) como empregada. Tais posicionamentos contribuíram para destruir de vez o trio de domésticas cantoras. Tá certo que seria necessário um conflito para dissolver o grupo, e assim prosseguir com a narrativa. Mas Rosário exagerou na dose e nem o talento de Leandra Leal, que deu um verdadeiro show durante toda a trama, a fez parecer menos antipática. Mocinhas que colocam os sonhos acima das amizades e do amor não fazem sucesso com o público, vide a Sol (Deborah Secco), de América, que deixou o apaixonado Tião (Murilo Benício) para fazer a vida no exterior. No capítulo de segunda, 24 de setembro, após se apresentar com as amigas no Prêmio Dó Rè Mi de Música Brasileira, Rosário chegou à conclusão de que acabaria se tornando uma mulher tão perturbada quanto Chayene. É, Rosário... Demorou pra cair a ficha hein!








Cida (Isabelle Drummond) era a tradução literal do termo gata borralheira. Menosprezada por uma família, da qual julgava fazer parte, experimentou desilusão atrás de desilusão ao longo de sua trajetória. Quando esperava receber a chance de cursar jornalismo, foi surpreendida pelo patrão, Sarmento (Tato Gabus), que lhe concedeu apenas o registro profissional. Viu-se abandonada por Conrado (Jonatas Faro), o príncipe encantado que desconhecia sua condição de empregada, e abandonou tão logo descobriu tal fato, e ainda testemunhou o casamento do rapaz com Isadora (Giselle Batista), aquela que tratava como uma irmã e a apunhalou pelas costas.


Quando Cida experimentou o sucesso, mudou drasticamente sua postura. A cena em que, no casamento de Isadora e Conrado, Cida é resgastada por Penha e Rosário, foi uma das mais marcantes da novela. A moça fez um strip-tease em plena festa, pisou no uniforme de empregada e saiu triunfante em sua limusine. Por ter alterado seu comportamento de modo tão efusivo, ficou difícil de acreditar que Cida acabaria caindo nas esparelas de Sarmento, que se dizia seu pai e buscava reparar seus erros do passado. E também de Conrado que, a princípio, parece ter mudado seu comportamento, embora ainda esteja preso à antigas convenções e preconceitos arcaicos. Claro que, Cida, como boa heroína romântica que era, precisaria passar por mais este golpe e assim, dar prosseguimento à sua história. Seus últimos momentos na novela, quando visitou seu pai na cadeia, mostraram que a empreguete soube, enfim, conciliar sua inocência e a maturidade necessária para lidar com gente tão asquerosa, como seus antigos patrões.


Por fim, podemos concluir que Cida deve ser um divisor de águas na carreira de Isabelle Drummond. A atriz conduziu com maestria todas as nuances de sua personagem e se mostrou apta à vôos ainda maiores. Palmas para ela!








O que seria das Empreguetes sem a “luxurienta” Chayene? A rainha do eletroforró, musa que saiu de Sobradinho para o mundo, foi uma verdadeira pedra no sapato das Marias, em especial Penha e Rosário. E Cláudia Abreu, se aproveitando de todas os tons de seu personagem, deu mais uma prova de seu incontestável talento.


Chayene já começou amalucada e foi piorando, ou melhorando, ao longo da trama. Suas atitudes beiravam o tragicômico e garantiram os momentos mais hilariantes de Cheias de Charme. Seus planos mirabolantes, que envolviam chás exóticos e elementos surpresas, quase nunca deram certo. Para separar as Empreguetes, Chayene precisou de uma estratégia mais eficaz, que resultou em uma briga homérica com Socorro (Titina Medeiros), mobilizando todo o condomínio Casagrande. As colegas da Liga das Patroas do Casagrande, aliás, também estiveram em um dos muitos momentos cômicos de Chayzinha: a reunião na qual ela mandava servir bolinhos feitos com restos de comida afrodisíaca, que Naldo (Fábio Lago) havia preparado para que a patroa pudesse seduzir Arruda (Marco Ricca), dono de uma rede de supermercados que iria produzir um comercial unindo as empreguetes e Fabian.


Grande parte do sucesso de Chayene, aliás, provém dos que estiveram em seu entorno. Como as patroas do Casagrande, e principalmente, seus fiéis companheiros Socorro, ótima estreia de Titina Medeiros, e Laércio, muito bem defendido por Luiz Henrique Nogueira. Ainda, as presenças de Ilva Niño, como a personal parteira Epifânia Cordeiro de Jesus, e Lady Francisco, a tresloucada Madame Kastrup, que a princípio faria apenas uma participação especial e acabou retornando para nortear os caminhos de Chayene. A cantora também será para sempre lembrada por sua incapacidade de decorar nomes, em especial o de sua maior adversária, Rosário, chamada de Roxane à Romilda. Uma vilã que levou os telespectadores a risos e mais risos!







Nem só de mulheres vive uma novela. Os galãs são necessários, não só para formar par romântico com as mocinhas, como também para garantir a atenção do público feminino. A principal figura masculina de Cheias de Charme foi Ricardo Tozzi, um dos homens mais belos da TV no momento. Mas, como beleza não é tudo, o ator deixou a desejar como Inácio e Fabian, no início da trama das 19h. Entretanto, Tozzi fora o responsável pelos melhores momentos da novela, justamente na fase em que a mesma atravessava um período ruim, com capítulos desinteressantes e uma considerável queda no ritmo da trama. A virada do ator se deu quando Fabian precisou que Inácio assumisse seu lugar nos palcos. As cenas em que o cantor ensaiava o dono do Aperitivo Buffet renderam bons momentos e serviram para estabelecer um interessante paralelo entre os personagens. Até então, Fabian era carregado na tragicomédia, enquanto Inácio padecia com sua falta de expressão. Ricardo Tozzi enfim acertara o compasso, redimindo-se do desempenho mediano no início.


Já Jonatas Faro não conseguiu virar o jogo e se aproveitar das nuances de Conrado Werneck, seu personagem. O playboy arrogante, que extorquia o pai e depois se redimia perante ele, mudando seu estilo de vida, tinha tudo para ser um dos destaques de Cheias de Charme. Jonatas, entretanto, não correspondeu às expectativas. Diferentemente de Humberto Carrão, que já havia se sobressaído como o Luti, de Tititi, e agora comprova seu talento ao dar vida a Elano. O herói romântico, que podia ter enveradedado pelo caminho do justiceiro chatinho, foi auxiliado pelo bom andamento em sua trama, dado pelos autores. Elano teve importância fundamental na novela, quando atuou na audiência de conciliação entre Penha e Chayene; ao entregar o esquema de corrupção tramado por Conrado e Sarmento; e ao lutar para abrir os olhos de Cida com relação às armações do advogado que se dizia pai dela. Marcos Palmeira, como o malandro Sandro, esteve à vontade, como há muito tempo não se via. Os trambiques do ex-marido de Penha eram um show à parte. Embora tenha tido atitudes errôneas, Sandro nunca pareceu mau caráter. Nem mesmo quando roubou o DVD do show das Empreguetes, comprometendo a carreira das cantoras. É de se lamentar que não tenha obtido mais destaque por parte dos autores nessa fase final da novela.







Em contraponto à ascensão da classe mais pobre da novela, simbolizada pelo sucesso das Empreguetes, estava a família Sarmento. Se a princípio era apenas um clã endinheirada que explorava suas empregadas, os Sarmento logo revelaram seus podres, atraindo a atenção do telespectador. Por trás do refinamento de todos que compunham a família, havia um submundo de chantagens e negociatas, encabeçado por Ernani, o advogado que planejou um golpe na construtora de Otto Werneck e acabou denunciado por Elano, o que o levou à derrocada e a perda de seu registro profissional. Sarmento fez escola. Sua filha Isadora (Giselle Batista, em desempenho aquém das expectativas) tramou para separar a empregada Cida, que a considerava como uma irmã, de Conrado, com quem se casou não só por amor, mas também para atender aos ensejos de sua família, que via no patrimônio do rapaz à salvação de seus problemas. A matriarca, Sônia, em excelente interpretação de Alexandra Ritcher, não era menos mau-caráter do que o marido e a filha. Hostilizava Cida e obrigava a empregada Valda (Dhu Moraes) a trabalhar, mesmo quando ela esteve adoentada. Se envolveu ainda em atritos com o grafiteiro Rodinei (Jayme Matarazzo), a princípio, namorado de Cida. Sônia, entretanto, surpreendeu o público ao se revelar contrária às armações de Sarmento.


Não menos ardilosa do que seus parentes, Ariela (Simone Gutierrez) se transformou em uma nova mulher ao longo da trama. Acertou-se com Humberto (Rodrigo Pandolfo), seu noivo que sempre fora desprezado por seus pais por não ser do mesmo nível social que a família. Humberto se revelou um ótimo pai para o bebê que teve com Ariela, que também mudou seu comportamento por conta do filho e das dificuldades financeiras pelas quais o Sarmento passaram, o que fez com Humberto se tornasse o mantenedor da família. O casal esteve junto durante toda a narrativa, apesar do envolvimento de Humberto com Brunessa (Chandelly Braz) no início da trama. Durante todo este tempo, foi notório para o público a sintonia existente entre os dois atores.







Para desenvolver a narrativa de Cheias de Charme da melhor maneira possível, os autores precisariam de coadjuvantes que estivessem à altura dos bons protagonistas da trama. Nesse quesito, a novela merece todos os louros, pela ótima escalação de seus “orelhas”, aqueles personagens que se destinam a ouvir as lamúrias do núcleo central. Kika Kalache, como Ivone, se saiu muito bem como a melhor amiga de Penha, que defendia sua religião sem ser chata. Lamenta-se que o contraponto entre ela e a sobrinha periguete Brunessa (Chandelly Braz, uma ótima revelação) não tenha sido mais explorado ao longo da novela. A Valda de Dhu Moraes também cumpriu sua função, servindo como terapeuta de Cida, nos momentos de reflexão desta. Ainda Fábio Neppo como Cleiton, Edney Giovanezzi como seu Messias e Daniel Dantas como Sidney. Os atores se saíram tão bem que seus personagens acabaram ganhando dilemas próprios: Cleiton se viu envolvido no esquema de vazamento do clipe das Empreguetes, que levaram elas a perderem um grande patrocínio; Messias quase vendeu seu Messias Market, localizado no condomínio Casagrande, mas acabou salvo por seus fiéis escudeiros, Rodinei e Niltinho (Sérgio Malheiros); e Sidney acompanhava a trajetória de sucesso da filha Rosário, enquanto rememorava seu romance com Anderson (Guilherme Winter), o que rendeu inclusive um belíssimo flash-back envolvendo o casal. Nos últimos capítulos, Sidney parece ter se acertado com o novo segurança da cantora, o mesmo que serviu a Chayene durante bom tempo. Um romance homossexual abordado com a sutileza que o horário das 19h pede.


Na próxima postagem, sexta-feira, vamos relembrar o texto, a direção e interação da novela com a música brasileira, a internet e a TV Globo.



6 comentários:

Jorge Fortunato disse...

Olá rapazes
Muito boa análise da novela Cehias de Carme. Uma pena que eu não possa assitir todos os dias.
Abraços

Rafael Barbosa dos Santos disse...

Maravilhoso o texto, e a idéia de relembrar Cheias de Charme, um novelão como há muito tempo não se via, e que vai deixar saudades, com sua historia divertida, hits chicletes e personagens inesquecíveis, já sofro por antecedência, com o final da trama!
Parabéns pelo texto!

Jornalista Vê TV disse...

Apesar dos autores terem perdido a mão na fase em que as Empreguetes estão separadas, uma das melhores novelas das 19h de todos os tempos.

Anônimo disse...

Façam uma entrevista com o Carlos Lombardi ;)

Telinha VIP disse...

Achei uma novela interessante, leve, divertida..tudo na medida, meio chata , por vezes, mas isso em novela é natural. As personagens foram cativantes, e isso é fundamental numa novela de 8 meses.

FBVR disse...

Quando comecei a ler as primeiras notas sobre a novela, pensei: "Bah, vai ser o 'pedágio' para Guerra dos Sexos". Hoje, digo que a equipe de Guerra vai ter que 'rebolar' para fazer o público das sete aceitar a ideia de que Cheias de Charme chegou ao seu final...