por Duh Secco
Quando entrevistamos Walcyr Carrasco,
às vésperas da estreia de Gabriela, o
questionamos sobre a liberdade que o autor teria com o horário tardio no qual a
produção seria levada ao ar. Walcyr nos respondeu da seguinte forma: “Gabriela terá humor, sim. Mas não o
mesmo tipo de humor ao que o telespectador de minhas novelas das 6 e das 7 está
acostumado. É maravilhosa a oportunidade de me reinventar e agradeço muito a
direção artística da Rede Globo ter me dado essa missão”.
Walcyr, a princípio, se deu bem com
sua incumbência. Adaptou o clássico de Jorge Amado, sendo fiel aos escritos do
autor. Talvez este caminho pelo qual enveredou tenha sido o mais acertado para uma
nova versão de um livro que já havia sido imortalizado em uma obra, responsável
por promover inovações na televisão brasileira, com a direção eficiente de
Walter Avancini. Entretanto, ao longo da exibição da novela, Walcyr passou a
recorrer a todos os signos que permeiam suas obras. O humor fácil, beirando o
pastelão, foi sendo introduzido aos poucos e alterando os rumos de personagens,
até então, muito bem calcados em interpretações seguras e nas situações
dramáticas oferecidas no texto. Caso, por exemplo, do Coronel Jesuíno (José
Wilker) e de Dorotéia (Laura Cardoso). Curiosamente, foi neste período que a audiência
de Gabriela se estabilizou,
alcançando excelentes índices para o horário. A trama se tornou mais
interessante e passou a repercutir, massivamente, nas redes sociais, através de
bordões que estavam sempre na boca de tais personagens, como o “Eu vou lhe
usar” e “Jesus, Maria e José!”, dos já citados Jesuíno e Dorotéia.
Os personagens e tramas secundárias,
como o drama de Lindinalva (Giovana Lancelotti), a moça da sociedade que se
tornou prostituta, ganharam destaque e acabaram por deixar em segundo plano o
núcleo central da novela. É bem verdade que Gabriela, mesmo no livro, é uma
personagem secundária que serve como um respiro dentro da ação envolvendo a
disputa pelo poder em Ilhéus, que colocava em lados divergentes o coronel
Ramiro Bastos (ótimo trabalho de Antônio Fagundes) e o progressista Mundinho
Falcão (Mateus Solano, em excelente parceria com Luiza Valdetaro, a Gerusa).
Portanto, nesta nova adaptação, assim como na anterior, Gabriela não tinha
muito a oferecer. Juliana Paes se saiu muito bem com a personagem e só não se
tornou um ícone, como acontecera com Sônia Braga, por já ter seu nome calcado
entre as grandes estrelas da televisão. Quando deu vida à Gabriela, Sônia,
apesar de já ser um rosto conhecido, ainda não era uma atriz consagrada. O
sabor de novidade trazido pela atriz, aliado a ousadia que a mulher com cheiro
de cravo e cor de canela demonstrava através de sua personalidade libertária (e
que praticamente inexistia na TV dos anos 70) fez da primeira versão de
Gabriela um sucesso estrondoso. Coisa que, mesmo com a adaptação adequada e a
escalação acertada da protagonista, não aconteceria agora, num momento em que a
televisão já fez uso de diversos artifícios para exibir corpos desnudos e cenas
sensuais. É pena que Humberto Martins, como Nacib, tenha dado ao seu turco o
mesmo tom de voz meio abobalhado que já havia conferido a outros personagens,
como o malandro Neco, de O Astro, e o
capataz Bruno, de Sinhá Moça. Uma
composição que não condizia com o personagem e fez com que o ator sucumbisse
frente a seus colegas de elenco.
Enfim, o saldo final desta nova versão
se faz positivo com a boa condução do texto dada por Walcyr Carrasco, o elenco
competente (e podemos citar aqui os grandes atores, como Ary Fontoura, até os
mais jovens, como Rodrigo Andrade, e os inexperientes, caso de Ivete Sangalo), e,
principalmente, a direção eficaz de Mauro Mendonça Filho. Se Walter Avancini
inovou com ângulos e movimentos de câmera, o diretor desta nova adaptação
acertou em todos os quesitos, principalmente nos efeitos de luz, como na
belíssima cena do último capítulo em que Gabriela e Nacib (Humberto Martins)
admiram os corpos nus, um do outro, enquanto o dia amanhece. Gabriela passou pela telinha do mesmo
modo que o sol desta cena: luminosa.
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Se autores com décadas de carreira
costumam irritar o público quando recorrem a velhos macetes em suas obras, o
que dizer de uma novata que ainda trilha os primeiros passos de sua trajetória
como autora e já está se repetindo? É o caso de Gisele Joras, que, em Balacobaco, faz uso de tudo o que já funcionou
em seus trabalhos anteriores. Estão ali a trambiqueira Cremilda (Solange
Couto), cópia com sexo alterado de Ataulfo (André Mattos), o malandro de Bela, A Feia; a ciumenta possessiva
Violeta (Simone Spoladore), idêntica a Samantha (Luiza Tomé), também da
adaptação mexicana; e a bandida mal ajambrada, Dóris (Roberta Gualda),
semelhante a Jacira (Gorete Milagres), de Amor
e Intrigas. Para piorar, Balacobaco,
vista como a esperança da Record para o seu núcleo de dramaturgia, não tem uma
trama central atraente, conta com uma direção burocrática, e recorre a um
colorido excessivo em cenários e figurinos que contribuem para que tudo soe artificial.
Como resultado, a atração tem uma audiência inexpressiva, ainda menor do que Máscaras, a novela antecessora, que
serviu como bode expiatório da Record, ao ser apontada como a causadora dos
baixos números registrados pela emissora nos últimos tempos. É pena. Se Máscaras foi um equívoco, Balacobaco é equívoco ao quadrado.
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2 comentários:
Interessante ver em "Gabriela" a Ivete Sangalo se achando o tempo todo uma excelente atriz por ter feito Maria Machadão. Além da falta de talento para representar, a arrogância de Ivete conseguiu estragar a personagem também. E a Globo dando a maior força, como sempre.
Concordo com todos os pontos aqui abordados. Gabriela começou um tanto mais densa, e terminou meio pastelão. Achei estranho. Salve Jorge é um Não Vale a Pena Ver de Novo, enfadonha demais! E Balacobaco é um desastre! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
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