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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012











por Duh Secco


Quando entrevistamos Walcyr Carrasco, às vésperas da estreia de Gabriela, o questionamos sobre a liberdade que o autor teria com o horário tardio no qual a produção seria levada ao ar. Walcyr nos respondeu da seguinte forma: “Gabriela terá humor, sim. Mas não o mesmo tipo de humor ao que o telespectador de minhas novelas das 6 e das 7 está acostumado. É maravilhosa a oportunidade de me reinventar e agradeço muito a direção artística da Rede Globo ter me dado essa missão”.


Walcyr, a princípio, se deu bem com sua incumbência. Adaptou o clássico de Jorge Amado, sendo fiel aos escritos do autor. Talvez este caminho pelo qual enveredou tenha sido o mais acertado para uma nova versão de um livro que já havia sido imortalizado em uma obra, responsável por promover inovações na televisão brasileira, com a direção eficiente de Walter Avancini. Entretanto, ao longo da exibição da novela, Walcyr passou a recorrer a todos os signos que permeiam suas obras. O humor fácil, beirando o pastelão, foi sendo introduzido aos poucos e alterando os rumos de personagens, até então, muito bem calcados em interpretações seguras e nas situações dramáticas oferecidas no texto. Caso, por exemplo, do Coronel Jesuíno (José Wilker) e de Dorotéia (Laura Cardoso). Curiosamente, foi neste período que a audiência de Gabriela se estabilizou, alcançando excelentes índices para o horário. A trama se tornou mais interessante e passou a repercutir, massivamente, nas redes sociais, através de bordões que estavam sempre na boca de tais personagens, como o “Eu vou lhe usar” e “Jesus, Maria e José!”, dos já citados Jesuíno e Dorotéia.


Os personagens e tramas secundárias, como o drama de Lindinalva (Giovana Lancelotti), a moça da sociedade que se tornou prostituta, ganharam destaque e acabaram por deixar em segundo plano o núcleo central da novela. É bem verdade que Gabriela, mesmo no livro, é uma personagem secundária que serve como um respiro dentro da ação envolvendo a disputa pelo poder em Ilhéus, que colocava em lados divergentes o coronel Ramiro Bastos (ótimo trabalho de Antônio Fagundes) e o progressista Mundinho Falcão (Mateus Solano, em excelente parceria com Luiza Valdetaro, a Gerusa). Portanto, nesta nova adaptação, assim como na anterior, Gabriela não tinha muito a oferecer. Juliana Paes se saiu muito bem com a personagem e só não se tornou um ícone, como acontecera com Sônia Braga, por já ter seu nome calcado entre as grandes estrelas da televisão. Quando deu vida à Gabriela, Sônia, apesar de já ser um rosto conhecido, ainda não era uma atriz consagrada. O sabor de novidade trazido pela atriz, aliado a ousadia que a mulher com cheiro de cravo e cor de canela demonstrava através de sua personalidade libertária (e que praticamente inexistia na TV dos anos 70) fez da primeira versão de Gabriela um sucesso estrondoso. Coisa que, mesmo com a adaptação adequada e a escalação acertada da protagonista, não aconteceria agora, num momento em que a televisão já fez uso de diversos artifícios para exibir corpos desnudos e cenas sensuais. É pena que Humberto Martins, como Nacib, tenha dado ao seu turco o mesmo tom de voz meio abobalhado que já havia conferido a outros personagens, como o malandro Neco, de O Astro, e o capataz Bruno, de Sinhá Moça. Uma composição que não condizia com o personagem e fez com que o ator sucumbisse frente a seus colegas de elenco.


Enfim, o saldo final desta nova versão se faz positivo com a boa condução do texto dada por Walcyr Carrasco, o elenco competente (e podemos citar aqui os grandes atores, como Ary Fontoura, até os mais jovens, como Rodrigo Andrade, e os inexperientes, caso de Ivete Sangalo), e, principalmente, a direção eficaz de Mauro Mendonça Filho. Se Walter Avancini inovou com ângulos e movimentos de câmera, o diretor desta nova adaptação acertou em todos os quesitos, principalmente nos efeitos de luz, como na belíssima cena do último capítulo em que Gabriela e Nacib (Humberto Martins) admiram os corpos nus, um do outro, enquanto o dia amanhece. Gabriela passou pela telinha do mesmo modo que o sol desta cena: luminosa.

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Tão logo Salve Jorge estreou, escrevi aqui um texto elogioso ao trabalho de Glória Perez, que parecia buscar uma nova ambientação para sua novela, diferente de suas tramas anteriores, onde o destaque central era sempre dado a um país estrangeiro. Ledo engano. Com o passar dos capítulos, Glória tem recorrido ao mesmo expediente já visto em outras de suas obras. Os costumes, quase sempre arcaicos, de outras nações, vêm dominando a cena e cansando o telespectador. O mesmo acontece com a repetição dos tipos vistos no Morro do Alemão. Se resta alguma esperança para o enredo, ela certamente reside no núcleo da família de Leonor (Nicette Bruno) e na trama sobre o tráfico humano. De resto, nada mais se mostra capaz de despertar o interesse de um público, que não despreza o novelão clássico apresentado por Glória Perez, mas prefere ver o mesmo envolto em uma bela embalagem e com um ritmo mais acelerado, caso da novela anterior, Avenida Brasil.

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Se autores com décadas de carreira costumam irritar o público quando recorrem a velhos macetes em suas obras, o que dizer de uma novata que ainda trilha os primeiros passos de sua trajetória como autora e já está se repetindo? É o caso de Gisele Joras, que, em Balacobaco, faz uso de tudo o que já funcionou em seus trabalhos anteriores. Estão ali a trambiqueira Cremilda (Solange Couto), cópia com sexo alterado de Ataulfo (André Mattos), o malandro de Bela, A Feia; a ciumenta possessiva Violeta (Simone Spoladore), idêntica a Samantha (Luiza Tomé), também da adaptação mexicana; e a bandida mal ajambrada, Dóris (Roberta Gualda), semelhante a Jacira (Gorete Milagres), de Amor e Intrigas. Para piorar, Balacobaco, vista como a esperança da Record para o seu núcleo de dramaturgia, não tem uma trama central atraente, conta com uma direção burocrática, e recorre a um colorido excessivo em cenários e figurinos que contribuem para que tudo soe artificial. Como resultado, a atração tem uma audiência inexpressiva, ainda menor do que Máscaras, a novela antecessora, que serviu como bode expiatório da Record, ao ser apontada como a causadora dos baixos números registrados pela emissora nos últimos tempos. É pena. Se Máscaras foi um equívoco, Balacobaco é equívoco ao quadrado.

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Parece mesmo que a repetição tem sido o mal dos autores que estão no ar atualmente. Até mesmo Fernanda Young e Alexandre Machado, responsáveis por séries aclamadas como Os Normais e Separação?!, deixaram de apresentar algo novo em Como Aproveitar o Fim do Mundo, nova produção da dupla. Apesar da premissa interessante, as situações vivenciadas pelos protagonistas Kátia (Alinne Moraes) e Ernani (Danton Mello) não diferem das apresentadas em outros seriados da dupla. Também como fator negativo está a falta de ritmo, que torna o seriado modorrento. Para contrastar com o excesso de tramas já batidas, a Globo estreou, no mesmo dia em que levou ao ar o primeiro episódio de Como Aproveitar o Fim do Mundo, a nova série de Luiz Fernando Carvalho, em parceria com Paulo Lins. Suburbia agradou pela temática, o elenco desconhecido, e principalmente pela competente direção de Luiz Fernando, sempre audacioso em seus trabalhos. Um dos poucos acertos da atual safra de dramaturgia da nossa TV.

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A atual temporada de Malhação também tem trazido novidades para o público. Ainda que o contexto geral seja o mesmo de outros tempos do programa (desde a estreia, praticamente), as paralelas tem tomado um rumo interessante. Principalmente a trama que envolve o estudante Rafa (Rodolfo Valente), vítima de bullying pelos garotos do colégio, que o consideram gay. Rafa, entretanto, é apenas um rapaz sensível, que está namorando a amiga Morgana (Cacá Ottoni). Mas se recusou a transar com a namorada quando ela o convidou para dormir em sua casa, o que pode indicar novos caminhos para o personagem e alavancar ainda mais o interesse pela trama da qual ele participa.



2 comentários:

Rodrigo disse...

Interessante ver em "Gabriela" a Ivete Sangalo se achando o tempo todo uma excelente atriz por ter feito Maria Machadão. Além da falta de talento para representar, a arrogância de Ivete conseguiu estragar a personagem também. E a Globo dando a maior força, como sempre.

André San disse...

Concordo com todos os pontos aqui abordados. Gabriela começou um tanto mais densa, e terminou meio pastelão. Achei estranho. Salve Jorge é um Não Vale a Pena Ver de Novo, enfadonha demais! E Balacobaco é um desastre! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net