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sexta-feira, 17 de maio de 2013


Salve Jorge na segunda tela
Glória Perez fez a defesa de sua novela se tornar mais interessante do que a trama em si

por Duh Secco



Quando Salve Jorge estreou, escrevi um texto elogioso à nova trama de Glória Perez. O universo ficcional comumente criado pela autora para ambientar suas obras já sofria críticas prévias, tal e qual a escalação de Nanda Costa e de subcelebridades, como Thammy Miranda. Além, é claro, da indecorosa campanha dos evangélicos contra a obra, devido ao título da mesma, e da dificuldade em substituir uma trama imbatível como foi Avenida Brasil.


O tempo passou e Salve Jorge capengou na audiência ao longo de seus sete meses de exibição. Não que a novela não tivesse elementos para arrebatar o público. A abordagem do tráfico humano sempre fora extremamente interessante e contribuiu, como as pesquisas mais recentes acerca do tema mostram, para aumentar as denúncias em torno de situações semelhantes às vividas pelas traficadas da novela. O grande problema de Salve Jorge foi a incoerência com que Glória Perez conduziu sua trama e personagens. Ações improváveis, situações inverossímeis, desdobramentos que não condiziam com o que a novela havia apresentado anteriormente. Situações que alarmaram o público, hoje acostumado a acompanhar as novelas ao mesmo tempo em que comenta o que vê nas telas via rede social. E aí, se deu outro grande problema que comprometeu seriamente Salve Jorge, diminuindo a trama perante a imprensa, tamanha foi a sua repercussão: os embates de Glória Perez contra os críticos, sejam eles telespectadores comuns, a quem a autora distribuiu respostas atravessadas, ou jornalistas, acusados por ela de estarem sendo pagos para falar mal de sua obra. Glória se expôs em demasia ao sair em defesa de sua trama e abriu espaço para um interessante debate: até que ponto o contato entre autores e público, via redes sociais, é válido?


No caso de Salve Jorge, em específico, a interação de Glória com seus seguidores só serviu para alimentar ainda mais o falatório em torno dos muitos deslizes do roteiro. Erros que passariam batidos em outras tramas, aqui ganharam contornos exagerados, motivados pelo comportamento da autora em rebater aqueles que “não sabiam voar”, forma como Glória definiu aqueles que se preocupavam com as incoerências, em detrimento da trama em si. É fato que novela é obra de ficção e voar é preciso para embarcar nas fantasias propostas pelos autores. Não fosse assim, o público teria abandonado Senhora do Destino após a desastrosa passagem de tempo que iniciou a segunda fase da novela ou Avenida Brasil depois que Nina (Débora Falabella) se esqueceu de salvar as fotos comprometedoras que possuía de Carminha (Adriana Esteves) e Max (Marcello Novaes) em um pen-drive. Glória Perez abusou do direito de usar licenças poéticas em Salve Jorge. Algumas foram extremamente criticadas; outras passaram praticamente em branco. Mas todos comprometeram seriamente a estrutura do enredo e a coerência de seus personagens.


Os elementos falhos foram tantos que obrigaram Glória a criar uma novela paralela, via Twitter, na qual justifica os furos que a colcha de retalhos na qual Salve Jorge se transformou apresenta. Como exemplos, o momento em que o Mustafá (Antonio Calloni) auxilia Morena (Nanda Costa) a fugir da máfia, sem se recordar de que já a conhecia; o modo fácil com que a filha da protagonista, Jéssica, fora sequestrada, e mais fácil ainda a forma como o sequestrador foi encontrado no Alemão; e as já comentadas morte de Raquel (Ana Beatriz Nogueira) e a fuga de Morena do carro da polícia no momento em que este era alvejado pela quadrilha de Lívia (Cláudia Raia). Falsas expectativas foram criadas o tempo todo, como no momento em que Morena quase é atingida por um tiro disparado por Russo (Adriano Garib) ou quando Lucimar (Dira Paes) esperou o dia todo para agredir Wanda (Totia Meirelles) e no final, fora impedida por uma policial. Por outro lado, tramas que poderiam render bons momentos foram proteladas até o último instante, como a paternidade de Celso (Caco Ciocler), que resultaria em sequencias extremamente interessantes, não fosse a opção da autora de resolver tudo no último capítulo. Tal posicionamento impediu o telespectador de conferir melhores desempenhos de Stenio Garcia, Nívea Maria e Nicete Bruno, apenas alguns nomes dos muitos que foram desperdiçados ou simplesmente sumiram ao longo da novela. Mesmo o último capítulo foi cercado por incoerências, como a narrativa, não se sabe se "verdadeira" ou ficcional, que dizia que Théo (Rodrigo Lombardi) encontrou sua filha com a ajuda de São Jorge.


Além disso, houve uma deturpação no perfil de diversos personagens. Que Morena era uma mulher guerreira, todos sabiam. Mas daí a se envolver na investigação da Polícia Federal acerca do tráfico humano, a ponto de obter porte de arma, denotou certo exagero. Théo, de “o cara” só tinha mesmo a música, já que ao longo da trama, se deitou com praticamente todas as mulheres que o cercavam e nutriu um complexo de Édipo que o impediu de seguir a própria vida, longe dos domínios da mãe, Áurea (Suzana Faini). Aisha (Dani Moreno) buscou a família biológica durante toda a novela; aceitou Wanda, mesmo com esta estando presa, como mãe, mas rejeitou Delzuíte (Solange Badin) por esta ser pobre e moradora do Alemão. E Vó Farid (Jandira Martini), que começou a novela insana, terminou como sábia conselheira de todos os que a cercavam e temiam seu comportamento, no início.


Prova ainda maior da inconstância dos personagens de Salve Jorge fora dada na entrevista de Cláudia Raia do Domingão do Faustão, em que a atriz afirmava que Lívia Marini cairia em desgraça por conta do amor que nutria por Théo. Eis que Glória Perez entrou no ar, por telefone, dizendo que Lívia não estava apaixonada pelo capitão. O constrangimento foi inevitável e denotou um dos maiores problemas da novela: a que estava sendo levada ao ar não condizia com a trama que Glória mantinha em sua cabeça.


É óbvio que nem todos os erros da trama podem ser atribuídos à autora. A direção de Marcos Schechtmann perdeu o brilho ao longo de toda a exibição, investindo em sequências burocráticas e desinteressantes, o que acabou resvalando em outros setores de produção, tal e qual a continuidade, que cometeu deslizes que em Salve Jorge ganharam uma proporção maior do que em qualquer outra novela, tamanha foi a somatória de erros vistos enquanto a trama esteve no ar.


Mas nem tudo esteve perdido em Salve Jorge. O elenco fora o responsável pelo que a trama apresentou de positivo. Excelentes desempenhos de Giovanna Antonelli (Helô), Alexandre Nero (Stenio), Totia Meirelles (Wanda), Adriano Garib (Russo), Paloma Bernardi (Rosângela), Suzana Faini (Áurea), Letícia Spiller (Antônia), Bruna Marquezine (Lurdinha), Solange Badin (Delzuíte), Nando Cunha (Pescoço) e Roberta Rodrigues (Maria Vanúbia), de longe uma das melhores personagens da novela, desperdiçada pela má condução do roteiro.


E com isso, Salve Jorge se encerra. Um arsenal de boas ideias, cuja audiência não correspondeu como esperado; a crítica foi severa; viveu à sombra da novela anterior; e o público, impiedoso, se serviu das redes sociais para massacrar o enredo pouco elaborado que se via na tela. Disso tudo, pode se tirar uma única conclusão: o público quer voar, como Glória Perez pede, mas não está disposto a saltar sem paraquedas nessa escuridão em que Salve Jorge se configurou.



10 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com tudo. Essa novela teve tanta incoerência que se formos relatar todas, dá pra fazer outra novela somente com elas.

E no final não poderia ser diferente. Como pode a Lívia Marini estar sendo procurada pela polícia e se expor se apresentando numa casa de shows ao invés de ficar escondida?.

Um outro exemplo foi o fato do Théo ter perdido um filho que ele iria ter com a veterinária e não ter dado a mínima.

O problema de Salve Jorge foram os erros infantis, cometidos por uma escritora com a experiência de Glória Perez, o que fez com que ficasse mais evidente. Além do extenso elenco e de ter várias tramas paralelas.

Esse excesso de personagens e tramas, deixou a novela pesada, lenta, arrastada e confusa.

Acredito que já passou da hora da Globo investir em novos e jovens autores, como o casal que escreveu Cheias de Charme, por exemplo, que juntamente com Avenida Brasil foram ótimas novelas.

Anônimo disse...

Uma pequena correção: Glória Perez entrou no ar via telefone no Domingão do Faustão e conversou ao vivo com ele e com a Claudia Raia.

Duh Secco disse...

Corrigido!

Fernando Oliveira disse...

Muito bom o seu ponto de vista. Sensato. Não bateu nem massacrou a novela. Mostrou a verdade nua e crua desses 7 meses de novela no ar. Infelizmente a novela tinha tudo para dar certo, mas não deu. De qualquer forma, gostei da fase final.

Fabio Dias disse...

Melhor crítica sobre a novela, com detalhes que poucos lembraram!
Parabéns!

Alexsandro disse...

Parabéns pelo texto maravilhoso, muito boa crítica.

Nilson Xavier disse...

Ótimo texto Duh, disse tudinho.

DÁDIVA.JR disse...

OI, TAMBÉM CONCORDO, O FINAL DA PRISÃO DE CLAUDIA RAIA NÃO FOI BEM PENSADO,MAIS VAMOS SER SINCEROS ELA ESTAVA LINDA!!! COM A IDADE DELA E AQUELE CORPO SEM DEFEITO, É UM EXEMPLO DE BELEZA E BOA FORMA PARA MUITAS MULHERES. ME ADICIONEM NO MSN: JRVIAJABRASIL@HOTMAIL.COM
SOU DE MANAUS-AM E GOSTEI DO BLOG.ABRAÇO!!!

André San disse...

Ótima análise! Gloria Perez, em Salve Jorge, foi a mesma Gloria de sempre, apostando forte nas situações absurdas que ela adora! O problema é que, desta vez, ela se aventurou no folhetim policial, gênero que exige um mínimo de coerência. O resultado final foi uma trama risível, e não um drama. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Dan FM disse...

Parabéns pelo seu brilhante texto, Duh!! Excelente análise!