Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



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segunda-feira, 14 de março de 2011













Estreia hoje no blog a coluna "Eles convidam...", que vai trazer sempre um convidado especial escrevendo sobre algum assunto televisivo.

Ninguém melhor para estrear essa nova seção do blog do que o jornalista, estudante de história e pesquisador de teledramaturgia Fábio Costa, que dispensa apresentações entre os que frequentam as comunidades sobre o assunto na internet.

Um dos maiores apreciadores e conhecedores da teledramaturgia que conhecemos, Fábio optou por escrever sobre um gênero do qual pouco se fala: os teleteatros.


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A falta que o teleteatro fazpor Fábio Costa



Atualmente, contando as reprises e as produções estrangeiras exibidas dubladas, temos em exibição um total de treze novelas, sem contar a “novelinha” Malhação. Deixando-as de lado e sem contar minisséries e séries, sinto particularmente falta de programas de um gênero que infelizmente foi deixado de lado: o unitário, em suas variadas vertentes.
Unitário nada mais é que, sem que seja integrante de uma série em que os episódios, embora fechados, retomem os mesmos personagens toda semana, traz uma história que se desenvolve e se conclui num único programa, geralmente de uma hora de duração. São exemplos disso os “especiais” produzidos pela Rede Globo nos fins de ano (geralmente como programas-piloto dos projetos pensados para a grade do ano seguinte) e os “casos especiais” exibidos com esta e outras denominações desde a década de 1970.
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Atento principalmente para a falta, por razões nas quais pensaremos a seguir, de uma vertente de teledramaturgia em especial: o teleteatro, pai do formato unitário, nascido com a própria TV no Brasil, na Tupi, com programas como TV de Vanguarda e Grande Teatro Tupi, na década de 1950. O teleteatro, que reinou absoluto antes da era da telenovela, tendo inclusive convivido com esta por algum tempo até sucumbir completamente, era não só uma vitrine das grandes obras da literatura e do teatro universais ou do melhor elenco disponível, mas principalmente um exercício ímpar de dramaturgia para atores, diretores, produtores, técnicos e, acima de tudo, para os telespectadores.
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O teleteatro, de grande força nas décadas de 1950 e 1960, viu seu público habituar-se às telenovelas e aos enlatados norte-americanos e já na década de 1970 transformou-se, em iniciativas como o já citado Caso Especial e o programa Teatro 2, na TV Cultura, uma iniciativa de Nydia Lícia. Depois de anos em busca de uma linguagem para a televisão, sem que se vivesse apenas de copiar o cinema e/ou aproveitar as fórmulas consagradas pelo rádio e também, conforme depoimentos de pioneiros do teleteatro como Walter George Durst, graças a certo esgotamento do gênero junto ao público, depois de quase duas décadas, os especiais globais e as produções da Cultura mantinham o estilo em voga, embora sem o sucesso de outrora.
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O Teatro 2, do qual alguns programas foram reprisados em certas ocasiões pela emissora – como Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues), Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski), Réveillon (Flávio Márcio), A Ceia dos Cardeais (Júlio Dantas) e Corpo Fechado (Guimarães Rosa), entre outros –, foi um verdadeiro laboratório de criação para diretores como Adhemar Guerra e Antunes Filho, com verdadeiros híbridos de teatro e televisão como resultado. Caso Especial, por sua vez, foi um programa que teve seu auge na década de 1970 e que, ao longo dos anos, com a denominação modificada para Brasil Especial ou, mais recentemente, Brava Gente, manteve na televisão brasileira a tradição, por assim dizer, dos unitários que, convém lembrar, são deixados de lado pelas emissoras muito também por custarem caro, e o investimento isolado em cada história ser muito alto, em especial se comparado com os custos das telenovelas, que se diluem no decorrer dos meses de produção.
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O próprio Você Decide, da década de 1990, apesar de seu caráter interativo, já que nele o público decidia o final das histórias entre duas ou mais opções disponíveis, não deixa de ser também um filho dileto do teleteatro, com sua característica básica de contar o começo, o meio e o fim de uma história numa mesma apresentação. Tal como os teleteatros clássicos, também esgotou-se com o passar dos anos.
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Além de esgotamento junto ao público (conclusão a que se chegou já na década de 1970), da carestia da produção e da hegemonia da novela na teledramaturgia, que outros fatores impediriam a presença de um TV de Vanguarda, um Teatro Cacilda Becker ou coisa parecida na televisão hoje em dia? Não muito tempo atrás a TV Cultura, sempre ela, exibiu o ciclo Senta que Lá Vem Comédia, em que a cada semana eram exibidas peças que iam desde Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera (Gláucio Gil) até Os Ossos do Barão (Jorge Andrade). Outro ciclo especial, Direções, em suas três edições, propôs novas formas de se fazer dramaturgia em TV, algo próximo do teleteatro, guardadas as devidas, inclusive com diretores como André Garolli, de experiência nos palcos e nos estúdios, e Rodolfo Garcia Vázquez, d’Os Satyros.
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Claro que atualmente não é estritamente necessário, como o era para o “seleto e culto” público de TV dos anos 50, televisionar peças simplesmente ou trazer as melhores companhias teatrais para apresentações nos estúdios. No entanto, o unitário, ainda que de maneira eventual, dosada, serve para aliviar o público das histórias parceladas que se arrastam por meses e meses. Gosto muito de telenovelas, mas boas histórias parceladas podem conviver sem maiores problemas, penso, com outras tão boas quanto que se fechem numa apresentação só.


3 comentários:

Fábio Leonardo disse...

Excelente texto sobre o assunto. O teleteatro, como já comentei em outras ocasiões, se trata de um gênero televisivo para um público mais específico e, em geral, mais intelectualizado.

Parabéns pelo texto, xará!

Eddy Fernandes disse...

Discordo.
Quando eu era criança, a TV Cultura exibia pequenos teleteatros recontando fábulas infantis. Ok, era um programa dublado.
Mas eu acho que dependendo da história, aquilo pode garantir uma identificação imediata com o espectador.
Não necessariamente precisa-se direcionar o formato à um público mais intelectualizado. Uma história bem contada é capaz de emocionar e entreter qualquer pessoa, independente de seu grau de instrução/erudição.

edu disse...

eu amava os casos especiais da globo, com algumas histórias voltadas para o mistério e ó supra sumo disso na Globo que foi o Aplauso, essa experiência que ia ao ar toda segunda -feira era maravilhosa!! Muito bem lembrado, Fábio, ótimo texto!!!