Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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domingo, 27 de março de 2011

........................................................................................................................... Guilherme Staush entrevista . RENATA DIAS GOMES
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É com muita satisfação que damos início a essa nova seção do blog, trazendo uma autora que a cada dia conquista mais o respeito do público que conhece o seu trabalho, e aqueles que têm o privilégio de conversar com ela no dia a dia.
Renata Dias Gomes atualmente está colaborando com a nova novela de Tiago Santiago, “Amor e Revolução”, que começa em abril, no SBT, e nos deu o imenso prazer de participar da estreia dessa coluna. Sempre educada e disposta a falar sobre novelas, ela atendeu prontamente ao meu pedido e concedeu uma ótima entrevista.


Você está escrevendo a novela “Amor e Revolução”, cujo autor principal é Tiago Santiago. Esta é a sua segunda parceria com ele. Como é o seu trabalho de colaboração, e como está sendo escrever sobre esta que é a primeira novela que se passa inteira durante a ditadura militar no Brasil?

Estou adorando! A ditadura sempre foi um período que me instigou principalmente porque com toda repressão é um período cultural riquíssimo. O Tiago é um autor muito generoso e maravilhoso de trabalhar. Tenho também o privilégio de trabalhar com o Miguel Paiva que é absolutamente genial. Sou a aprendiz da equipe. Nosso trabalho funciona assim: o Tiago faz as escaletas, que são esqueletos do capítulo já com tudo que vai acontecer e na ordem que vai acontecer. Ele manda a escaleta de um capítulo pro Miguel desenvolver e outra pra mim. Escrevemos, então, um capítulo inteiro cada um. O Tiago faz uma revisão por alto e manda de volta pra gente revisar, palpitar, sugerir, questionar. Depois que fazemos a revisão, ele faz a redação final.

O Tiago promove ainda reuniões de criação quando acha necessário. Nessas reuniões, nós (Miguel e eu) o ajudamos a definir os rumos da história e dos personagens. É um momento importante pra mim porque o trabalho de roteirista é muito solitário e poder dividir e conversar é maravilhoso. Dessas reuniões muitas vezes o Tiago pede que a gente desenvolva trilhas pra cada história e nessas trilhas a gente define como vai acontecer cada evento falado na reunião. Ele pega as trilhas e adequa as escaletas e continuamos o trabalho. Eu ainda faço o almanaque, que é a memória da novela com tudo que foi citado sobre cada personagem, algumas anotações sobre cenas e momentos marcantes. É bastante trabalho, mas eu adoro e quero cada vez mais.



Você já trabalhou como colaboradora de diferentes autores: Margareth Boury (Alta Estação), Cristianne Fridman (Chamas da Vida) e mais recentemente vem trabalhando com Tiago Santiago (Uma Rosa com Amor e a atual Amor e Revolução). Como é ter que se adequar ao estilo de cada um deles, e respeitar o limite daquilo que você pode desempenhar? Você alguma vez já precisou escrever diálogos que iam de encontro ao seu estilo autoral para satisfazer a necessidade da obra em questão e/ou para se adequar ao estilo do autor com quem trabalhava?

Adequar ao estilo do chefe faz parte do trabalho do colaborador. Um bom colaborador deve fazer isso com facilidade. Tem roteiristas que são autorais demais e até por isso podem não ser bons colaboradores. Normalmente, eu tento somar um pouco do que eu gosto e acho que faço bem ao trabalho, mas sempre respeitando o estilo do autor.

Já tive, sim, que fugir ao meu estilo pra me adequar e acho natural.

Na verdade acho que estou formando meu estilo e trabalhar com autores diferentes ajuda pra isso. Aprendi demais com a Margareth, principalmente com diálogos. E a mais difícil de trabalhar foi sem dúvida a Cristianne.


A teledramaturgia atual tem sofrido uma avalanche de remakes nos últimos anos. O que você pensa sobre isso? É necessário que haja uma renovação de autores devido a um esgotamento de criatividade dos mais experientes ou essa tendência existe mesmo mais por vontade das próprias emissoras em investirem em obras que já foram sucesso?


Não sei responder essa. Mas gosto da ideia dos remakes. Um autor de teatro é eterno porque pode ser remontado a qualquer tempo. Um autor de TV morre com sua obra. Acho interessante que grandes autores possam ser revisitados. É uma opinião muito pessoal porque não pude acompanhar a obra da minha avó e acho uma delícia assistir aos remakes.

Acho bacana que isso possa acontecer apesar de achar que ideias originais são sempre bem vindas.



Por falar em remakes, o autor Alcides Nogueira prepara uma adaptação de “O Astro”, da autoria de Janete Clair, que será exibida em formato de macrossérie pela Rede Globo. Este é o quarto remake de uma obra de sua avó na emissora carioca. Os outros foram os das novelas Selva de Pedra (1986), Irmãos Coragem (1995) e Pecado Capital (1998). Mesmo tendo sido adaptadas por diferentes autores, nenhuma delas obteve o sucesso esperado, em se tratando de obras de grande repercussão. Você acha que a obra de sua avó é mesmo irretocável? O que você pensa sobre remakes de obras tanto de Janete quanto de Dias Gomes?

Como eu falei, acho a proposta dos remakes muito bacana. Meu avô deixou uma obra que vai ser remontada daqui a cem anos, é adotado todo ano nos colégios pelo Brasil. Mas minha avó depende dessas releituras pra que o povo continue sabendo que existiu uma autora lá nos anos 70/80 do século 20 que parou o Brasil. Não sei dizer por que os remakes não deram certo. Continuo torcendo. Quem sabe agora com “O Astro” essa sina muda? Torço por isso.


Sua avó trouxe diversas inovações para a teledramaturgia em uma época em que pouco se podia ousar, tocando em vários temas polêmicos em sua trajetória de novelista: o celibato religioso (na figura de Virgílio em “Pecado Capital”), a posição da mulher na sociedade, seja desempenhando profissões até então tipicamente masculinas (como Lili em “O Astro” ou Gisa em “Sétimo Sentido”) ou retratando o romance de uma mulher madura com um rapaz bem mais novo (Sônia e Mauricio em “Duas Vidas”), além de trazer a figura do anti-heroi passível de erros (Cristiano em “Selva de Pedra”, Carlão em “Pecado Capital”, Herculano em “O Astro”). Você acha que está cada vez mais difícil trazer esses tipos de inovações e polêmicas para a teledramaturgia, seja devido ao panorama social e político atual do país ou pelo esgotamento de certos clichês utilizados na teledramaturgia? E mais ainda, você acha que, por conta disso, ao escrever histórias de época ou sobre diferentes culturas criam-se tramas mais interessantes atualmente?

A onda do politicamente correto perturba um pouco a vida dos autores. Mas acho que também existe medo de ousar. Nas histórias de época fica mais fácil falar sobre temas e valores que nas histórias contemporâneas não fariam tanto sentido. Os conflitos são mais simples. Mas eu ainda acredito que o público pode gostar de inovações. Acho que o importante é fazer bem feito. Uma boa história é sempre uma boa história. O público gosta de boas histórias independente dos temas, e é com isso que acredito que precisamos nos preocupar.

As inovações não podem ser o objetivo. Elas têm que estar inseridas na boa história. Uma história clichê ruim não dá certo. Uma história cheia de inovações ruim também não faz sucesso. Uma boa história pode ou não ter inovações e vai alcançar o público. Eu acho que nós temos hoje outros temas pra debater. Muitos não passam pela classificação indicativa (risos). Mas temos temas. Talvez mais a frente um crítico olhe e veja que as novelas dessa época têm alguma questão em comum. Mas também acho que nós ainda vamos descobrir outros temas pra serem debatidos aos poucos. É mais fácil analisar a história quando a gente olha pra trás e pinça uma ou outra novela que trouxe inovação. Agora no meio do olho do furacão é mais difícil olhar.


Você acha que um autor de novelas que está começando agora deve preocupar-se em trazer alguma forma de inovação à teledramaturgia, correndo o risco de não estabelecer uma ligação com o público em seu primeiro trabalho, ou deve recorrer ao óbvio, ao trivial, para primeiramente conseguir se fixar no mercado televisivo?

Acho que um autor iniciante precisa se preocupar em contar uma boa história. Independente de inovar ou não. Isso é perfumaria. Fundamental é ter uma boa história pra contar e sustentar durante meses no ar. Pelo menos é isso que eu procuro (risos).


As principais reclamações dos internautas, nas comunidades de discussão sobre teledramaturgia, com relação às novelas atuais são sempre as mesmas: os recorrentes clichês (a mocinha ingênua que leva rasteira a novela inteira, os vilões caricatos que aprontam durante toda a trama para serem punidos somente no finalzinho, a quantidade enorme de capítulos das novelas, etc), ou seja, as queixas são justamente em cima daquilo que caracteriza o folhetim tradicional. De que maneira um autor pode modificar o perfil de mocinhos e vilões, sem que a teledramaturgia perca sua essência?


Eu acho que o importante é ter um gancho pra fazer o público ligar no dia seguinte e interagir, trocar com quem assiste. Essa brincadeira de tentar ser ouvido pelo autor é um dos grandes motivos de sucesso das novelas. As mocinhas, os vilões, as rasteiras, isso pode variar. Contanto que a gente tenha sempre um bom gancho pra fazer ligar no dia seguinte.

Quando eu estou trabalhando, fico sempre de olho nisso. Porque antes de tudo sou noveleira e adoro ficar ansiosa pelo próximo capitulo.

Eu adoro as novelas do Walcyr Carrasco! Tem mocinha tradicional, tem vilão tradicional, mas ele SEMPRE me obriga a ligar no dia seguinte. Eu adoro adorar as novelas do Walcyr porque elas não têm nada a ver com o que eu gosto de fazer no meu trabalho autoral. Eu gosto de temas engajados, de política, de crítica social. Mas AMO as novelas do Walcyr porque ele sabe contar de um jeito que me prende. Não é a toa que faz o sucesso que faz.

Sei que há muitas críticas a esse estilo popular dele, mas acho que agrada em cheio ao público. Todo mundo assiste, senão ele não era o fenômeno de audiência que é. E novela precisa dessa crítica. Minha vó falava que a novela tem que ser debatida, criticada, malhada. Que novela que não é comentada não é sucesso. E concordo plenamente. Walcyr sempre me faz ligar no dia seguinte, ansiosa.


O que você acha sobre a inserção de merchandising social nas telenovelas? É necessária nos dias de hoje?

Não acho necessária, mas acho bacana quando acontece naturalmente. Uma novela pode fazer sucesso sem merchandising social. Mas quando ele acontece e é envolvido pela trama, acho bem bacana.


As queixas de telespectadores incomodados com cenas de nudez e sexo nas novelas são cada vez maiores. No entanto, nas décadas de 70, 80 e 90 cenas bem mais ousadas eram mostradas sem que houvesse tanta interferência dos telespectadores ou dos órgãos públicos. Como você avalia esse comportamento?

Acho que faz parte. Esse tipo de comportamento é pendular. Quando a gente tem muito, quer que diminua. Quando diminui, quer que aumente. Não só com nudez. A história da arte também é assim, indo do clássico pro radicalmente oposto e voltando ao clássico.


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6 comentários:

Fábio Leonardo disse...

Excelente colocações da Renata, racionais e bem embasadas, demonstrando que, apesar da pouca idade, trata-se de uma escritora madura. Parabéns, sempre, aos queridões que a entrevistaram, e à Renata, sempre gentil e solícita, que nos dá o prazer de ler suas opiniões.

Walter de Azevedo disse...

Muito boa a entrevista! A Renatinha é, sem dúvida alguma, um dos grandes novos talentos da televisão e tenho certeza de que, em breve, estará assinando suas próprias novelas. Torço muito por isso!

Mauro Barcellos disse...

Espero que a Renata possa um dia mostrar seu talento em um trabalho autoral. Só assim o autor se liberta e pode mostrar seu verdadeiro trabalho.

Parabéns!

Evana R. disse...

Oi, pessoal! Achei a entrevista excelente; concordo muito com o que ela falou sobre inovação na teledramaturgia e o merchandising social. Também estou na torcida para que a Renata muito em breve esteja lançando um trabalho autoral.
Beijos e sucesso a todos!

Eddy Fernandes disse...

Ótima entrevista!

Sucesso pra Renata.

Thiago disse...

Entrevista perfeita!
Gui a conduziu muito bem, e Renata mostrando-se cada vez mais acessível e inteligente nas respostas.

Palmas para os dois!

TH