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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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quinta-feira, 17 de março de 2011


Sobre a vida nova de Benedito Rui Barbosa
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por Fernando Russowsky
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O insucesso de Esperança, novela escrita mais por pressão da clientela da Rede Globo no exterior, que esperava pela continuação de Terra Nostra, do que por vontade de Benedito Rui Barbosa, fez com que o autor iniciasse uma vida nova. Do extinto horário das oito – agora nove, reconhecido pela emissora, como atestam as chamadas de estreia de Insensato Coração -, onde brindou o público com joias como Renascer e O Rei do Gado (especialmente a primeira fase), passou para o das seis, no qual se dedica a remakes de antigos sucessos. Em 2004, Cabocla, levada ao ar originalmente em 1979/1980, recebeu uma nova montagem. Em 2006, foi a vez de Sinhá Moça, 20 anos após a primeira gravação. E em 2009, o público assistiu a uma reedição de Paraíso, a novela que, em 1982, mudou a linha do horário das 18h, ao apresentar um roteiro original e não uma adaptação de obra literária.
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Benedito há tempos vem declarando seu desejo de levar ao ar uma novela inédita. O nome Velho Chico, para um trabalho que versa sobre o rio São Francisco, chegou a ser registrado. Entretanto, ao que tudo indica, o autor voltará ao ar com mais um remake. Muito se tem falado, ultimamente, em Meu Pedacinho de Chão [1], levada ao ar pela Globo, às 18h, em 1971, época em que o horário era esporádico e dedicado a obras com cunho educativo. Mas também se especula sobre Renascer [2], que em 1993 marcou a volta do autor à Globo e sua estreia no horário nobre da emissora, após o sucesso de Pantanal, na Manchete, em 1990. Aí me surge a questão: já que a tendência é que Benedito permaneça nas remontagens, por que não uma de Vida Nova?
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Após a experiência de Os Imigrantes, em 1981 na Band [3], Benedito revisitou o tema no horário global das seis. Vida Nova estreou em novembro de 1988, com a ingrata tarefa de suceder Fera Radical. Sua produção foi feita com muito capricho, tendo apresentado uma bela reconstituição da segunda metade dos anos 40 do século passado. Como é comum nas obras do autor, não havia mocinhas e mocinhos sofredores e indefesos, tampouco vilões maquiavélicos. A abordagem valorizava o cotidiano das personagens, algo como um painel vivo de parte da cidade de São Paulo logo após o término da Segunda Guerra Mundial. O público não acompanhava uma história central, mas várias tramas paralelas, como a do romance entre Manuel Victor (Lauro Corona), um padeiro português, e a judia Ruth (Deborah Evelyn), impedido pela diferença religiosa, e a da ex-prostituta Laura (Yoná Magalhães), cujo casamento com Antônio Sapateiro (Carlos Zara) enfrentava a resistência de Marialina (Gabriela de Oliveira), sua filha com um falecido cliente senador da República [4], que fora criada em um colégio interno [5]. Um dos núcleos mais presentes era o do cortiço, no Bixiga, onde Gemma (Nívea Maria), após acreditar que o marido Sebastião (Roberto Bonfim) morrera, rende-se à corte de Pietro (Osmar Prado); e no qual Antonio do Mercado (Antonio Petrin) trabalha duro e enriquece, mas não consegue superar o trauma de ter sido abandonado pela mulher, que fugira com outro deixando com ele o filho, Antoninho (Marcos Winter). A novela tinha também uma parte rural, que se desenvolvia na fazenda do coronel Antenor (Mauro Mendonça). A revista Veja publicou, na edição de 25 de janeiro de 1989, uma matéria na qual afirmava que “Vida Nova, atualmente, é o que há de melhor em matéria de novelas de TV” [6].
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É fato que a novela não foi exatamente um grande sucesso de audiência. A média, segundo o IBOPE, ficou em 42 pontos, bem menos que os 51 da antecessora [7]. Mas também não deve ser considerada um fracasso, já que a meta, à época, era de 40. Pode-se dizer que foi uma produção prejudicada. Infelizmente, Vida Nova carrega um triste estigma: ter sido o último trabalho de Lauro Corona. O ator se afastou temporariamente das gravações, acometido de estafa devido à fumaça cenográfica do forno da padaria de sua personagem [8]. Voltou com uma aparência bastante abatida, fez mais alguns capítulos e saiu de cena definitivamente. A frágil saúde de Lauro tornou-se quase uma novela à parte, exibida sob a forma de notas e matérias em jornais, revistas e radiodifusão, e sua ausência comprometeu o andamento da obra, que passou a dar maior ênfase ao namoro de Antoninho e Marialina e teve seu final apressado, terminando no início de maio de 1989. Dois meses depois, Lauro Corona faleceu por insuficiência respiratória [9].
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Por tudo isso, e considerando que um negócio só é bom quando beneficia ambas as partes, tenho para mim que uma nova produção de Vida Nova seria o acordo ideal: a Globo teria o remake que tanto quer e Benedito poderia fazer a sua novela inédita, contando o que não pôde no final dos anos 80 do século passado. A nova versão não teria, espera-se, cena nenhuma de carro indo embora em noite chuvosa, com narração em off de poema de Fernando Pessoa [10]...
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[3] Que à época se chamava Bandeirantes. O nome não foi usado para poupar os nobres leitores da rima com o título da novela.
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[4] Me lembro de ler no jornal, à época, que Mário Lago gravara uma participação, em off, dando voz ao senador. O curioso do fato é que Lago estava no ar às 20h em O Salvador da Pátria. Mas não vi a cena e portanto não posso atestá-la...
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[5] Cuja madre superiora foi interpretada por quem? Quem? Acertou quem respondeu IDA GOMES!
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[6] Estou ciente de que é preciso ter muito cuidado com o que se lê na Veja. E na Época. E na Istoé. E na Carta Capital. Mas neste caso eu concordo com o semanário da Editora Abril.
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[8] Segundo notícias publicadas pela imprensa, à época.
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[9] Também segundo a imprensa à época. .
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[10] A última cena de Lauro Corona na novela.




Um comentário:

Eddy disse...

Excelente post.

Essa é uma das novelas do Benedito que mais me despertam curiosidade. Embora não desgoste da idéia do remake, preferia uma reprise da versão original.