Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

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sábado, 4 de junho de 2011

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Guilherme Staush
e n t r e v i s t a


TIAGO SANTIAGO




Ele estreou na televisão como ator na novela "Livre Para Voar" (1984). E logo de cara já enfrentou o desafio de viver o ambicioso Quim, um dos personagens mais odiados da trama de Walther Negrão.
Entretanto, o trabalho de autor falou mais alto, e Tiago Santiago logo passou a escrever peças de teatro. Na televisão, iniciou como colaborador de Antonio Calmon em novelas como "Vamp" (1991) e Olho no Olho" (1993).
Conquistou seu primeiro trabalho autoral escrevendo a nova versão de "A Escrava Isaura" (2004) para a  Rede Record, onde fez várias novelas de sucesso, erguendo o núcleo de teledramaturgia da emissora.
Hoje, Tiago assina a polêmica "Amor e Revolução", primeira novela que se passa inteira durante o período da ditadura no Brasil. Em meio a críticas e grandes polêmicas, sua novela conseguiu o mérito de repercutir tanto quanto, ou até mais do que muitas novelas Globais, ainda que com uma audiência bem inferior.

Tiago é um ótimo entrevistado. Inteligente e perspicaz, é do tipo que não faz rodeios, e vai direto ao que interessa. Entende exatamente onde o entrevistador quer chegar, e responde tudo aquilo que nossos leitores certamente têm curiosidade em saber.





Entrevista elaborada por Guilherme Staush



1.   Você começou como ator interpretando o rebelde e ambicioso Quim,  na novela “Livre Para Voar” (1984). Que lembranças você tem desse trabalho? Já pensava em ser escritor ou queria mesmo era atuar?

Lembro que eu andava na rua, e o pessoal me chamava de "chato" porque eu não deixava meu pai e minha irmã namorarem em paz. O Quim era um "empata-f..." Na época, eu escrevi a minha primeira peça, "A Fonte da Eterna Juventude", que foi montada no ano seguinte,  com direção do Domingos Oliveira, e Paulo José, Claudio Marzo e Cassia Kiss, no elenco.


2.  “Vamp” (1991) está atualmente sendo reprisada pelo canal Viva. Você trabalhou como colaborador nesta novela de Antonio Calmon, bem como em “Uga Uga” (2000), de Carlos Lombardi. Quais as maiores contribuições que você deu a essas novelas? Qual dos autores te deu mais abertura, maior liberdade e aproveitou melhor as tuas ideias?

Em "Vamp", eu escrevia dois capítulos por semana. O Calmon aproveita mais diálogos. Já o Lombardi prefere fazer ao máximo os diálogos, mas aproveita muito ideias. Aprendi muito tanto com o Calmon quanto com o Lombardi.


Velociraptor

3.   Na novela “Caminhos do Coração” (2007) você inovou colocando pela primeira vez um dinossauro na teledramaturgia, o que chamou bastante a atenção do público na época, principalmente o infantil. Atualmente esses mesmos répteis estão habitando nossa telinha de novo (inclusive “o seu” Velociraptor). Desta vez, na novela das 7 da Globo. Porém, estranhamente, na novela de Walcyr Carrasco os dinossauros não agradaram tanto o público. Que avaliação você faz?

"Caminhos do Coração",  a primeira parte da saga dos Mutantes, revolucionou a TV brasileira, neste aspecto dos efeitos especiais. Alexandre Avancini fez um trabalho brilhante com sua equipe. Não posso julgar a novela do Walcyr, porque - apesar de adorar o trabalho dele, que é um autor que admiro muitíssimo - ando tão ocupado com "Amor e Revolução” que não tenho tempo para ver mais nada.


4.   Você já falou em algumas entrevistas sobre a importância que Janete Clair exerce no seu trabalho (inclusive, na época, você declarou que iria se basear na autora para escrever a sua “Promessas de Amor”). Uma das características marcantes no trabalho de Janete é a presença da figura do anti-herói, o  mocinho de caráter dúbio que permeou várias de suas obras: o Cristiano em “Selva de Pedra”, o André Cajarana em “Pai Herói”, o Herculano Quintanilha em “O Astro” ou o Carlão em “Pecado Capital”, só para citar os mais populares. Entretanto, você defende a ideia de que as figuras do herói e do vilão devem preservar bem suas características, evidenciando bem o teor maniqueísta das tuas tramas. Isso, inclusive, foi uma das divergências que você teve com o autor Lauro César Muniz, na época em que você era consultor de teledramaturgia da Rede Record.

Gosto de heróis com defeitos e vilões com qualidades, porque isso humaniza as personagens. Gosto de escrever sobre gente. Meus heróis não são perfeitos. Meus vilões são realmente muito maus, até porque nas minhas primeiras novelas eu  me inspirei na maldade do sociopata Tiago Barbosa de Miranda, que anda usando agora o nome de Tiago Miranda Barbosa. Ele matou meu irmão, que era uma pessoa boa, um menino pacífico de 18 anos de idade, por pura covardia. Nesta novela, os vilões também são pérfidos porque se inspiram nos torturadores e assassinos da época da ditadura militar. Porém, até os vilões eu procuro humanizar. E meus heróis  nesta novela - José Guerra e Maria Paixão - vão se envolver em várias ações questionáveis, como expropriações e assaltos, em nome da revolução, contra a ditadura. Como consultor de teledramaturgia, na Record, eu tinha que avaliar os trabalhos de outros autores. Na época, eu me preocupei sim com a construção dos protagonistas de "Cidadão Brasileiro", mas dei meu aval para que a novela fosse produzida, e o Lauro realizou tudo como queria, sem nenhuma interferência de minha parte.  Não foi um grande sucesso, mas também não foi um grande fracasso. Procuro pensar os personagens do ponto de vista da humanidade, da verossimilhança. Gosto das viradas folhetinescas, das grandes emoções, de gente em que eu possa acreditar, e neste sentido a Janete aparece como uma referência, até porque eu fui espectador assíduo e apaixonado de todas as suas novelas, a partir de "Irmãos Coragem".


Felina (Amandha Lee), uma das
mutantes de "Caminhos do Coração"
5-   Você foi o pioneiro ao colocar mutantes na teledramaturgia, em escrever a primeira novela que se passa inteiramente durante o período militar, e agora conseguiu levar o primeiro beijo gay ao ar. Você não teme que tudo isso acabe suplantando todo um trabalho autoral, e, que suas novelas passem a ser lembradas mais pelos traços de ousadia e pelas polêmicas do que pelo próprio texto?

Não tenho esta preocupação. Minha obra já é vasta, aos 48 anos de idade, porque trabalho muito, sem parar, desde que comecei, muito novo. Neste ano, completo 20 anos de carreira como autor de novelas. Ajudei a mudar o panorama da TV brasileira, ao construir um núcleo de teledramaturgia de sucesso, na Record. Espero ainda trabalhar muito, escrever muitas novelas, consolidar a fábrica de novelas do SBT, em São Paulo, e fazer muito sucesso com obras que deixem boas lembranças.

6-    Comente um pouco sobre os teus dois colaboradores em “Amor e Revolução”: Miguel Paiva e Renata Dias Gomes. Quais contribuições específicas eles prestam a sua novela por terem características diferentes como colaboradores? Você acha que uma mulher contribui de forma diferente de um homem?

Tiago com os colaboradores
Renata Dias Gomes e Miguel Paiva.
Além do Miguel e da Renata, tenho agora uma terceira colaboradora, a Elliana Garcia (não a filha da Marília, que colabora na Globo, é outra Elliana)  Acho fundamental ter o olhar feminino. Mulheres muitas vezes pensam sobre as coisas de um modo diferente dos homens. O Miguel Paiva é um homem de inteligência brilhante, humor fino, muito rápido. A Renata é meticulosa, detalhista, e apesar de muito jovem, já é uma autora experiente, cresceu lendo capítulos de novelas dos avós Dias Gomes e Janete Clair. A Elliana me cativou pela troca de emails, a partir de "Prova de Amor", é uma pessoa iluminada, tem preocupação social, vivência, lutou muito na vida contra diversas dificuldades, tem uma história de superação de problemas, e estou muito feliz por dar esta oportunidade a ela e tê-la na equipe.


7-  Acredito que seja de seu conhecimento que uma das principais reclamações que os telespectadores e a crítica especializada fazem com relação as suas novelas é o fato de seu texto ser extremamente didático. No caso de “Amor e Revolução”, especificamente, que tem uma trama histórica de grande interesse para o público mais intelectualizado, você não teme que esse mesmo público rejeite a sua novela em razão de você privilegiar mais o telespectador menos inteligente? Esse didatismo todo é proposital ou você realmente não sente que ele é excessivo?

Claudio Lins e Graziela Schmitt,
protagonistas de "Amor e Revolução".
Num país em que a ignorância ainda é a regra e não a exceção, minhas novelas procuram trazer conhecimento a quem assiste os capítulos. Não acho que eu seja "extremamente didático". Acho que sou didático na medida certa. Até hoje minhas novelas fizeram sucesso do jeito que são. Em "Amor e Revolução", eu me espantei com a quase total ignorância do povão e da juventude sobre a época da ditadura. Isto apareceu com força na primeira pesquisa de opinião que fizeram sobre a novela. As pessoas agradecem a oportunidade de saber mais. Ser didático não é o problema. A questão é: como ser didático sem ficar chato? Este é o desafio que enfrento nesta novela, agora.


 8-   Quais são as mudanças que você pretende imprimir a “Amor e Revolução”  depois de dois meses de exibição, e após observar a reação do público? E que tal a repercussão do primeiro beijo gay da teledramaturgia? Pode adiantar alguma novidade na sua novela?

Luciana Vendramini e Giselle Tigre
protagonizam o primeiro beijo gay
da teledramaturgia.

Sobre as mudanças: vou encher a novela de humor, amor, romantismo, cenas de grande beleza e emoção. Diminuí muito a agonia dos torturados. As pessoas reagem mal porque já entenderam que aquilo aconteceu mesmo, não é apenas ficção, e acredito que a violência em excesso não ajuda a novela. Sobre a repercussão do beijo gay: de modo geral, foi excelente. Neste dia, chegamos a pontuar na vice-liderança, à frente da Record. A enquete no site do SBT mostrou grande aprovação para o romance gay. Vamos fazer um beijo também entre homens e mais uma cena de amor entre as mulheres. Também pretendo investir no aspecto interativo, escrevendo finais diferentes, e o público vai escolher que final deseja ver no ar, por votação.


9-       Pergunta de colaboradora para autor.
Renata Dias Gomes pergunta:
Você escreveu quatro novelas, quatro sucessos. Qual é o diferencial do Tiago Santiago? Qual é a fórmula do sucesso?

Escrevi como titular "A Escrava Isaura", "Prova de Amor", e a saga dos Mutantes, que compreendeu três novelas: "Caminhos do Coração", "Mutantes" e "Promessas de Amor". Além disso, fiz a supervisão de "Bicho do Mato", o remake de "Uma Rosa Com Amor" e agora estou escrevendo "Amor e Revolução". Digo isso porque nas minhas contas, tenho feito uma novela por ano, desde 2004, e me parece que foram mais que quatro novelas, mas compreendo a pergunta se considerarmos toda a saga dos Mutantes como uma única novela, com seus 600 capítulos, e não considerarmos as novelas baseadas em obras de outros autores nem as colaborações. Neste caso, seriam sim quatro novelas. Sou um apaixonado pelos folhetins. Escrevo com amor. Busco humanidade e verossimilhança, mesmo em meio à fantasia desvairada. Trabalho sempre sobre grandes conflitos. Cerco-me de bons colaboradores. Procuro escutar o que as pessoas têm a dizer sobre meu trabalho. Quero que cada novela minha traga uma contribuição positiva para quem a assiste. Tento sempre passar mensagens de utilidade pública, além do entretenimento.  Estou na luta para transformar "Amor e Revolução" em mais um sucesso. Peço a Deus que nos ajude, que nos dê força e inspiração,  porque este desafio é muito importante para consolidar e fazer crescer a fábrica de novelas do SBT, atuante no momento, em São Paulo. Penso no mercado, nos artistas, nos técnicos, não apenas em mim. Talvez por todas estas razões, meu trabalho tenha sido tão abençoado recentemente. E que continue assim, é o que espero.  


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9 comentários:

TH disse...

Uma excelente entrevista!
Apesar de não ser fã do estilo do autor, as respostas vieram coesas e muito bem defendidas, sem soarem didáticas.

Parabéns!!

E. S. disse...

Para Tiago Santiago, o núcleo de teledramaturgia da Record se consolidou graças a ele. Seu texto hoje retira os brasileiros da ignorância. Foi pioneiro no uso de efeitos especiais em novelas. E Lauro César Muniz mentiu ao declarar que projetos seus foram vetados pelo colega de profissão. E eu pergunto: ele vive em que planeta?

Acho que copiar o que os mestres fizeram, inspirar-se neles, é algo que inevitavelmente todo novo autor faz e fará. Inovadores mesmo foram Dias Gomes, Ivani Ribeiro e mesmo a citada Janete Clair. Tiago a referencia, mas acredita ir muito além: parece convencido de que já revolucionou a TV.

Revolucionou para quê? Inovou para pior?

Para mim o destaque que a obra de Tiago Santiago tem tido evidencia o mau momento da teledramaturgia nacional.

Telinha VIP disse...

Não gosto das novelas do Tiago, mas admito que ele é muito eficiente em números. Tem jeito de quem faz novela pensando na audiência, no retorno que a emissora vai ter, e na repercussao que vai causar. E na maioria das vezes, deu certo!

Isaac Santos disse...

parabéns pela entrevista, Guilherme... tô rindo aqui com a finalização do comentário do Thiago Henrick "... bem defendidas sem soarem didáticas", mas de fato, por tantos trabalhos extremamente didáticos na televisão, embora o autor não o perceba desta forma e até ache necessário continuar nessa linha, é "pobre" o estilo de escrita do Santiago e isso é lamentável, pois ele demonstra ser um cara inteligente e criativo, mas desejo sucesso em seus projetos e que a dramaturgia do SBT se solidifique!

Mauro Barcellos disse...

Gosto da novela. Junto com Cordel são as melhores novelas atualmente. O didatismo não chega a me incomodar. Acho uma novela forte, ousada. Acho que a TV precisa disso, e é bom ter um autor que não tem medo de tocar nas feridas da sociedade e que está numa emissora que aceita isso.

Parabéns pela excelente entrevista!

Fernando Oliveira disse...

@Fenand_Oliveira Tiago Santiago é criativo. A Escrava Isaura e Prova de Amor foram ótimas.

Eddy Fernandes disse...

Me surpreendi com a entrevista. Sem dúvida, a melhor do blog até agora! Não sou fã do estilo de Tiago Santiago, longe disso, mas é sempre válida a produção de dramaturgia em outras emissoras, aquece o mercado e aumenta o leque de possibilidades do telespectador.

Juliano G. Bonatto disse...

Parabéns pela qualidade do blog! Sempre uma surpresa. Gilberto Braga, Ricardo Linhares e agora o Tiago Santiago. As entrevistas são muito bem feitas!
Gosto de Amor e Revolução, mas me incomoda as cenas tao bem explicada, sem nada para se pensar. Acho que Tiago deveria rever isso seriamente, pois isso incomoda grande parte das pessoas que assiste a novela.

Lucas disse...

Talvez ele não se ache didático, mas pra mim é... hehehe
Lucas - www.portalcascudeando.blog.com