Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Free DHTML scripts provided by Dynamic Drive

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


Saídas antecipadas

por Fernando Russowsky



O nobre amigo Daniel Pepe publicou, há uma semana atrás, um texto sobre personagens que seriam apenas participações e acabaram ficando até o fim de suas respectivas obras. Aproveitando a deixa e a repercussão do post e seguindo a sugestão do Adilson Oliveira, em comentário sobre a matéria citada, proponho aqui fazer o contrário e relembrar alguns casos de personagens que deveriam permanecer a novela toda e acabaram saindo antes, por diversas razões.

Um dos registros mais antigos que se tem notícia é dos anos 60 do século passado, na novela O Sheik de Agadir (1966). A exilada cubana Gloria Magadan, que à época era a toda-poderosa da teledramaturgia da Rede Globo, decidiu limar a personagem de Sebastião Vasconcellos. O motivo: ela não gostou da caracterização do ator, que ficara muito parecido com o líder revolucionário Fidel Castro. Pouco tempo depois, Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967), que era escrita por Emiliano Queiroz e não vinha bem de audiência, foi assumida por Janete Clair, em seu primeiro trabalho na Vênus Platinada, que ao reestruturar a trama promoveu o famoso terremoto que eliminou a maioria das personagens. Algo parecido ocorreu em Torre de Babel (1998), com a explosão do Tropical Tower Shopping. O evento marcou o fim, entre outros, do casal Rafaela e Leila, interpretado respectivamente por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer. A morte de Rafaela já estava prevista. Como a dupla não foi bem aceita pelo público, Leila acabou morrendo junto. No final, Pfeifer retornou a novela como sua irmã gêmea, Leda.

Também por reestruturação, Tempos Modernos (2010) abriu mão do vilão Albano. Assim como no caso de Torre de Babel, o intérprete, Guilherme Weber, voltou nos capítulos finais como um irmão gêmeo, Padre Isidro. Já A Padroeira (2001) perdeu Zuleica, a ama de Blanca (Patrícia França), feita por Ida Gomes, bem como o capitão-do-mato (Roney Vilella) e toda a sua família. Além disso, esta novela teve personagens eliminadas por terem seus intérpretes sido requisitados para outros trabalhos. Dom Antonio foi morto porque Stenio Garcia passou a interpretar o Tio Ali em O Clone (2001) e a bruxa Úrsula morreu para que Yoná Magalhães pudesse assumir o papel de Violante em As Filhas da Mãe (2001).

A escalação do intérprete para outro trabalho também motivou a saída prematura de Noronha, assassinado, e Hanna, que morreu de parto, em Kananga do Japão (1989). Assim, Cláudio Marzo e Cristiana Oliveira – estreando em novelas – puderam viver, respectivamente, José Leôncio e Juma Marruá em Pantanal (1990). A sexóloga Fânia marcou presença em algumas poucas cenas de Bebê a Bordo (1988) e desapareceu. Pouco tempo depois, Deborah Evelyn entrou no ar como a judia Ruth, uma das protagonistas de Vida Nova (1988). Esta novela, por sua vez, também teve baixas. Lauro Corona, por alegada estafa, afastou-se das gravações e obrigou o autor a inventar uma viagem para o português Manuel Victor, par romântico de Ruth. Posteriormente o ator voltou, fez mais algumas cenas e, faltando cerca de vinte capítulos para o final, saiu definitivamente, levando consigo Ruth.

Problemas de saúde também tiraram Benjamin Cattan de Araponga (1990), na qual dava vida ao delegado Pacheco, que apareceu no início e depois foi substituído. O italiano Pepe, de Belíssima (2005), já aparecia pouco, e acabou saindo de cena devidoao agravamento do estado de saúde de Gianfrancesco Guarnieri. No último capítulo, a personagem, sem aparecer, telefona para o amigo Murat (Lima Duarte). Guarnieri faleceu pouco depois do término da novela, em uma semana na qual também se perdeu Raul Cortez. Este, devido a um câncer, teve que se afastar de Senhora do Destino (2004), onde interpretava Pedro, o Barão de Bonsucesso. Assim como ocorrera com Lauro Corona em Vida Nova, o ator afastou-se, voltou, gravou mais algumas cenas e depois saiu de vez, levando consigo seu par, no caso a Baronesa, papel de Gloria Menezes. Além do nobre casal, a novela também teve que resolver a ausência de Miriam Pires. A atriz deixou de gravar devido a uma toxoplasmose, mal que a matou com a produção ainda no ar. Clementina, sua personagem, passou a viajar pelo país divulgando seu livro de receitas.

Também por motivo de doença e consequente falecimento, o ator Lutero Luiz deixou de aparecer em O Sexo dos Anjos (1989). Neste caso, a autora Ivani Ribeiro achou por bem manter o jardineiro Bastião na trama, sendo citado sem aparecer. Em Sonho Meu (1993), a enfermeira Josefina saiu de cena devido à doença e morte da atriz Claudia Magno. Mais cruéis são os casos de morte súbita de atores. Luiz Carlos Tourinho faleceu, em decorrência de um aneurisma cerebral, enquanto trabalhava em Desejo Proibido (2007). Nezinho, seu papel na novela, voltou à sua terra natal. Casos mais notórios são os de Daniella Perez, assassinada por um colega de elenco da novela De Corpo e Alma (1992) o que fez sua mãe e autora da obra, Gloria Perez, inventar uma viagem para a jovem Yasmin se aprimorar como dançarina, para justificar a ausência da atriz, e o de Jardel Filho, que fazia o Heitor em Sol de Verão (1982). Nesta, toda a equipe ficou abalada de tal maneira que a decisão tomada foi a de apressar o final da novela.

Se há os afastamentos por morte, há também aqueles que se dão motivados por vida. A gravidez de Claudia Raia, durante a exibição de O Beijo do Vampiro (2002), ensejou a saída da vampira Mina, sua personagem, voltando apenas no final. Pelo mesmo motivo, Carolina Ferraz deu adeus à Beatriz de Pátria Minha (1994), novela que perdeu mais duas personagens, Lídia e Inácio, por problemas de ordem disciplinar por parte de seus intérpretes, Vera Fischer e Felipe Camargo.

A alegada indisciplina dos intérpretes foi a responsável, também, pelas viagens sem volta de Laís, papel de Lucia Veríssimo em Roda de Fogo (1986), e de Mimi Toledo, feita por Isis de Oliveira em Meu Bem Meu Mal (1990), bem como pela fuga de Aricanduva, personagem de Oscar Magrini em Vila Madalena (1999).

Por fim, há os casos de atores que simplesmente pedem para sair. Gloria Menezes, que abria os créditos de Vira Lata (1996) como Stella, mãe dos irmãos protagonistas, acabou aparecendo apenas no início. Chegou a ser divulgado que o afastamento seria temporário, mas Suzana Vieira acabou entrando para ser Laura, irmã de Stella, e Gloria não voltou mais. Em Quatro por Quatro (1994), Diogo Vilella alegou que Fortunato, sua personagem, fugiu à proposta inicial e saiu de cena. Arthur, um dos vilões de Gente Fina (1990), foi assassinado misteriosamente no primeiro mês, a pedido de seu intérprete, Gracindo Junior. E em O Salvador da Pátria (1989), Claudio Cavalcanti considerou Eduardo Correa, seu papel, sem função na trama. Deixou de atuar na novela mas continuou na produção, como um dos diretores.

Os casos citados acima são apenas alguns diante de muitos e muitos outros que marcaram a teledramaturgia brasileira. Tais ocorrências evidenciam a característica que diferencia a telenovela dos demais formatos: ser uma obra aberta e, portanto, sujeita a imprevistos como doenças, mortes, nascimentos, remanejamentos e indisposição dos atores, bem como a reação do público.


5 comentários:

Fernando Oliveira disse...

Morde e Assopra foi campeã em saídas estratégicas. Ana Rosa, Cláudio Jaborandy, Luana Tanaka, Tarcísio Filho e Rodrigo Hilbert e Nívea Stelman vao tomar o rumo da roça...
Parabéns ao autor do texto, muito bom!

E. S. disse...

Recentemente tivemos Fábio Assunção deixando Negócios da China. Outros casos: Ingra Liberato deixando A Indomada; Patrícia França deixando Suave Veneno.

RÔ_drigo disse...

Se fosse calcular todos né Nandão?Boa materia Agoras!!Rss

Olga Motta disse...

Ótimo texto. Mas faltou falar dos personagens que somem pq os autores simplesmente se esquecem deles, como o Profeta Gentileza de Caminho das Índias, o Ronaldo Rosa de Coração de Estudante e metade dos elencos das novelas do Manoel Carlos.

Lucas disse...

O melhor aqui do blog é reler tantos acontecimentos na história da teledramaturgia de uma maneira tão fácil de entender. Fantástico!
Lucas - www.portalcascudeando.blog.com