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sábado, 24 de março de 2012

“Pode correr a sacolinha!”

Igrejas evangélicas usam TVs abertas para disputar fiéis

por Duh Secco



O bordão eternizado por Tim Tones, mais uma das brilhantes criações de Chico Anysio, que dá título a este post, nunca esteve tão na moda quanto agora. As igrejas evangélicas, em suas buscas desenfreadas por dizimistas, estão dominando a TV aberta no Brasil.

No último domingo (18/03), em extensa reportagem exibida no Domingo Espetacular, a Record denunciou o enriquecimento ilícito do pastor Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus. Valdemiro, um dos ex-seguidores de Edir Macedo, dono da Record, tem se destacado no meio evangélico pela grande quantidade de fiéis que conquistou nos últimos anos, muitos deles dissidentes da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada por Edir e uma das maiores fontes de renda da emissora que ele preside, através da compra de horário de suas madrugadas, destinadas ao programa Fala Que Eu Te Escuto. Mais uma vez, ficou clara a forte influência que a igreja exerce na Record. Tal e qual costuma fazer em seus ataques contra a Globo e a Folha de São Paulo, usaram do espaço destinado ao jornalismo, e de bons profissionais como Marcelo Rezende, responsável pela reportagem, para denegrir um concorrente, desta vez na disputa por fiéis. É mais um ponto contra a Record, que nos últimos anos, somou esforços para construir uma nova imagem perante o público, mas não abandonou o mais velho de todos os seus vícios: conduzir um canal de TV como se fosse um templo da Igreja Universal.

A compra de horários na TV aberta por igrejas tem se tornado cada vez mais frequente. Na Band, o missionário R. R. Soares mantém uma atração em horário nobre há anos. A emissora ameaçou por diversas vezes não renovar contrato com o religioso apresentador do Show da Fé, mas acabou desistindo em todas elas, diante de novas investidas de R. R., que acenou com quantias cada vez maiores para garantir sua permanência na grade. O mesmo religioso abocanhou uma faixa no horário nobre da Rede TV!, o que garantiu bons milhões a Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho, donos da emissora. Ainda assim, a Rede TV! operou um corte de 30% de seus funcionários na última semana. O milagre de R. R. Soares não foi o suficiente para salvar os profissionais de TV que compunham o time do canal.

São justamente os profissionais de TV os mais prejudicados pela conduta das emissoras. A venda de horários implica em menos atrações, e muitas vezes, em audiência menor (basta ver o desempenho da Band no horário nobre, sempre prejudicado pela presença do Show da Fé). Ainda assim, a renda obtida através de programas evangélicos é sempre interessante. Dinheiro que provém da exploração da fé alheia, conforme o próprio Valdemiro Santiago já atestou em um de seus discursos inflamados, no qual pedia que sete mil de seus fiéis doassem mil reais cada à igreja, para que assim o contrato de venda de horário pudesse ser renovado, mantendo a atração dele no ar.

É interesse notar também a omissão de órgãos públicos responsáveis pela fiscalização da programação das TVs abertas. Não há portaria da classificação indicativa contrária a esse tipo de atração, nem mesmo uma lei, como a das TVs pagas, que exija o investimento das emissoras em produções independentes, que pudessem vir a ocupar o horário hoje assolado por atrações dos pastores aqui citados.

Vale ressaltar: esse texto não é contrário a nenhuma religião. Todas devem ter o seu espaço. Mas este espaço deve ser aproveitado da melhor forma possível. Um programa cujo único intuito é pedir dinheiro aos seguidores de uma determinada doutrina não merece respeito.



5 comentários:

Pedro/Pepa disse...

Acho a questão religiosa mais que premente no Brasil atual - e não só na TV, Duh.

Mas, claro, nesta categoria sai perdendo a Record e outras emissoras que fazem da sua grade um espaço pra fortalecimento de preconceitos e de uma visão superficial da religião...

Ainda neste quesito, eu incluiria também a Globo. Não nos esqueçamos que, neste conflito de religiões, ela parece sempre ser "absolvida", quando na verdade fortalece também sua visão - seja por meio da "Santa Missa" que invade as casas nos domingos de manhã ou pelas personagens católicas (vide a recente Griselda e sua devoção) e também por tramas que tratam de espiritismo (assunto da nova novela das 18h). Ou seja: disfarçada de velho sincretismo, alguns valores religiosos vão chegando ao público de uma maneira que parece mais "natural", disfarçada pelos discursos, mas representa igualmente um problema.

Abraços! visite-me, quando puder:

http://operasdesabao.com/

Pedro

Jorge Fortunato disse...

Eu assisti ao programa no domingo passado. Resumo da ópera: era o sujo falando do mal lavado. No fundo, são todos farinha do mesmo saco. eu é que não queria estar na pele desses caras na hora da prestação de contas.

André San disse...

Este tipo de loteamento de horários é ilegal. Mesmo assim, não há qualquer ação para coibir esta prática que, infelizmente, parece cada vez mais comum. Veja a CNT, completamente sucateada. É uma vergonha! Parabéns pelo especial Máscaras abaixo, muito bom! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Anônimo disse...

A Record se perde demais ao transformar seus programas em uma batalha religiosa. O Domingo Espetacular perdeu totalmente a credibilidade pra mim, virou uma espécie de programa porta voz do pastor. A Band perde muito vendendo seu horário, faz a audiencia despencar e a média diária cair. se quer brigar pelo terceiro lugar, vai ter que largar o pastor. por mais que doa no bolso.

Duh Secco disse...

Concordo contigo, Pepa. Acredito que a Globo também se envolve nesse jogo religioso. Um exemplo disso é o Festival Promessas, concebido apenas para aproximar a emissora dos evangélicos. Entretanto, acho que a Globo, diferente das demais, não usa a igreja como fonte de renda. Nem fala em Deus enquanto busca por dinheiro. E acredito também que o melhor exemplo de abordagem religiosa venha da emissora carioca, com a série Sagrado, que reúne representantes de todas as religiões.