E L I Z A B E T H
P A R T E 5 - FINAL
Na quinta e última parte do especial com a atriz Elizabeth Savala, ela nos conta sobre seu projeto Teatro de Graça na Praça, e recorda uma de suas novelas preferidas, A Muralha, da TV Excelsior.
Fica mais uma vez nosso agradecimento à atriz por todas essas recordações compartilhadas com o público do nosso blog. É um imenso prazer poder ler sobre tantas lembranças televisivas que fazem parte da carreira de Elizabeth Savala, e saber que a atriz depositou tanta credibilidade em nosso blog ao dividi-las conosco.
por Guilherme Staush
Sobre lembranças televisivas ...
A gente já viu tanta novela que fica meio dèjá vu, né? É muito difícil inovar agora, depois de 48 anos fazendo novelas. A Globo tem 48, né? Novelas que eu tenho certeza que vocês não viram, por exemplo, tem uma que foi uma grande novela... Eu vi O Direito de Nascer, menina ainda, Nathália Timberg mocinha, Albertinho Limonta e Mamãe Dolores. Depois eu vi uma novela que, pra mim, foi um marco da televisão: A Muralha. A primeira versão da Muralha foi dirigida por Sérgio Britto e Gonzaga Blota, na Excelsior. Olha o elenco! As três mulheres da novela eram Fernanda Montenegro, Nathália Timberg e Nicette Bruno, eram as três mulheres da casa. Depois tinha Rosamaria Murtinho fazendo a que fica com a jaguatirica o tempo todo. E o Stênio fazia Aimbé. Eu lembro até hoje da música do personagem! Mauro Mendonça fez o personagem que depois ele fez de novo na minissérie (Dom Braz) e Paulo Goulart fez o chefe dos emboabas. E muito mais, eu não me esqueci dessa novela. Tinha uma cena que é ele vindo de Santos, e o personagem da Arlete Montenegro, que é uma atriz maravilhosa de São Paulo, fazia a mocinha, linda, linda, linda. E aí, os índios vão buscá-la e ela era prometida pra casar com o personagem, que eu não lembro o nome... E aí quando eles estão já chegando, na metade da serra de Santos, caem todos os baús dela, todos. A vida dela está naqueles baús, porque ela veio de Portugal prometida pra casar com ele, então tudo o que era dela tava ali. Você vê aquelas toalhas de renda bordada, todas as roupas dela, tudo caindo ali. E a cara que ela fazia, era linda! Depois, ela trabalhou comigo, numa peça que a gente fez. A gente chamou a Arlete.
Telenovela "A Muralha", exibida pela Excelsior, 1968. |
Teatro de Graça na Praça
Eu tenho um projeto que é muito importante que chama-se Teatro de Graça na Praça. É um projeto onde a gente leva teatro pra praça pública e consegue colocar sete, oito mil pessoas, na praça, fazendo um monólogo. O nome da peça é A.m.a.d.a.s (Associação das Mulheres que Acordaram Despencadas). É um texto da Regiana Antonini. É um monólogo e é dentro desse nosso projeto, meu e do Camilo, que é meu sócio e meu marido. A ideia do projeto é exatamente essa: levar teatro para pessoas que não tem a menor possibilidade de ver teatro. Essas cidades que, às vezes, não tem teatro, e muitas que, mesmo tendo teatro, ele é feito para um público que não tem possibilidade de assistir. Então a gente sempre faz, ou numa comunidade mais carente, ou, enfim...
Elizabeth no espetáculo "Amadas". |
Quando eu estava na Escola de Arte Dramática, lá na USP, eu me lembro que a Lourdes de Moraes me contou uma história... A Lourdes é uma puta atriz, a única atriz brasileira que ganhou prêmio Molière, com tragédia grega. E ela foi minha professora de teatro durante três anos no colegial, que agora é segundo grau, sei lá o que é agora, cada hora muda de nome, eu nunca sei qual a nomenclatura exata, mas enfim... E aí, a Lourdes que fez a Escola, contou uma história que é o seguinte: eles pegavam um espetáculo que haviam montado nas férias, e alugavam um caminhão de peixe e saíam pelo interior de São Paulo apresentando isso em praça pública. Claro que sem microfone, sem estrutura e tal. E eu fiquei fascinada porque... Eu virei atriz porque eu achava que o teatro, o palanque... O palco é um palanque! O teatro é transformador, ele é... Ele pode mudar, pelo menos um conceito, qualquer conceito que você tenha.
No espetáculo "Friziléia". |
E eu queria fazer isso, muito, era um sonho. E aí quando a gente começou a fazer aqui no Rio, a gente fazia a assessoria pra eventos especiais, juntos, quando o César Maia era prefeito... Aí, um dia, a gente teve a possibilidade de fazer isso e a gente fez algumas favelas aqui do Rio. E foi um puta sucesso, com Friziléia. A gente inaugurou as lonas para teatro, porque as lonas foram criadas, inicialmente, só pra música. Então, falaram que o teatro não ia dar certo e eu disse “ué, gente, quando a gente tem o microfone, tudo dá certo, em qualquer lugar. Tem que fazer com microfone, que vai dar certo!”. E aí a primeira vez que a gente fez aqui, em quinze minutos, a gente distribuiu oitenta senhas. Foi uma loucura, uma coisa assim... Uma coisa que ia durar uma semana e a gente fez por muito tempo assim... em várias lonas e depois em várias comunidades aqui do Rio. E aí vimos que é uma coisa que realmente dá certo. E então, a gente foi aprimorando isso. Hoje a gente tem um palco que imita um teatro, nós temos as mesmas proporções de um teatro. E aí você chega na cidade e a prefeitura dá a platéia. A única coisa que ela tem que fazer é colocar o público ali. Aí depende da divulgação da própria prefeitura, da cidade, enfim... Então agora eu me especializei em fazer pra praça e é fantástico! Você não tem ideia de como o público gosta de teatro. Todo mundo no Brasil comenta tanto novela quanto futebol, tanto quanto, né? As pessoas só não sabem que o teatro é a mesma coisa. Em vez de ser um evento de tantos capítulos, é de uma hora e meia, onde você conta uma história.
As pessoas acham que pra ir ao teatro, você tem que ter uma roupa especial. O ingresso hoje está custando setenta reais. Todo mundo no Rio, todo mundo no Brasil, paga meia entrada, todo mundo tem carteirinha de estudante, então isso vai dar trinta reais, trinta e cinco. Não é caro pra você assistir um espetáculo de teatro, né? Mas seja como for, pra mim mesmo, o que acontece é que você vai apresentar na praça e você tem todo o tipo de público ali, desde a pessoa mais refinada da cidade até a pessoa mais carente da cidade, porque é para o povo. É o Teatro de Graça na Praça. Então ninguém é proibido de entrar ali, todos que estiverem ali vão ver. Já aconteceu de eu estar começando o espetáculo, falando o texto, e vir o carro da pamonha “olha a pamonha, a pipoca...” nos primeiros cinco minutos de espetáculo; tem dias que eu penso “meu Deus do céu, como é que eu vou conseguir?”. Aí eu penso comigo: “calma, vamos com calma, que a gente tem eles na mão” e aí, olha, quinze, vinte minutos depois, se aparecer um bêbado, se aparecer alguém gritando, quase que o público tira essa pessoa de lá, pra não interromper. O silêncio que a gente consegue na praça, com essa quantidade imensa de pessoas que eu tô te falando, é uma coisa assim, como se fosse no Teatro Municipal. É impressionante! Teve uma cidade, por exemplo, eu não me lembro, acho que foi... Porto Feliz, os bandeirantes saíam dessa cidade e tal... E um carro disparou o alarme. Aí o público todo “psssshhhh” (pedindo silêncio), e eu “calma, gente, ele tá chegando, ele vai desligar, vamos ficar calmos”. O público ficou puto, porque o cara estava demorando um tempão. E quando termina parece show de rock, porque eles aplaudem, e durante o espetáculo, eles aplaudem, eles riem, eles se emocionam, do mesmo jeito que em um teatro mais sofisticado. Então, quer dizer, eles entendem, eles gostam. Então a gente dá! É um puta projeto, eu amo esse projeto, já falei. Eu não sei como vai ser o dia que eu tiver que ir pro teatro normal. Acho que eu não consigo! Dá a sensação de você estar fazendo um espetáculo aqui na sala de casa, porque muda tudo, né?
A atriz apresentará esse espetáculo no domingo, 22 de abril, às 18h30, na Praça Luiz Gonzaga, no Pirajussara, em Taboão da Serra. A entrada é gratuita.
Projetos na TV
Não. Eu tenho contrato até 2014 e não tenho nenhuma previsão, não sei o que vai rolar. Essas coisas a gente fica sabendo, mais ou menos, em cima da hora. Então, não sei de nada.
Agradecimentos finais
Eu quero agradecer e como eu falei no começo da entrevista, eu acho realmente o blog muito bom. O nível das entrevistas é muito legal. Porque essa história de blog agora é um inferno na nossa vida. Todo mundo quer ter um blog, né? Então fica uma coisa assim, você vai dar uma coletiva de imprensa, você passa mais tempo dando entrevistas pra blogs que você nem sabe do que se trata, na verdade, são umas “fofocaiadas”, umas coisas assim. O blog de vocês é sério, sabe? o nível das perguntas, o tom... Toda vez que eu recebo aqui, no meu e-mail, o anúncio de uma entrevista, eu vou lá e rapidamente leio. É muito legal mesmo, o nível é ótimo.
Vocês estão de parabéns! Então, até uma próxima, né? Foi um prazer enorme te conhecer, Fernando (Russowsky). Foi um papo legal viu?
***
3 comentários:
Muito legal esse especial. Que venham outros. Savalla deu show!
Fernando, parabéns!!! arrasou..achei engraçado esse final..uma fofocaiada... rssss tem muito blog mesmo!!! adorei como já disse o jeito despojado e a memória dessa mulher.
Boa tarde:
Legal o blog!
Vejo que gostas da ELIZABETH SAVALLA...
Lembro dela em novelas quando menor_aliás, as novelas/produções antigas eram bem melhores: atualmente parece que estão ultrapassadas (muitas destas!)...
Encontrei o site ao procurar pela também atriz LOURDES DE MORAES_a assisto no tal programa QUAL É BICHO?, em reprises al alguns canais: curto o papel dela...
Andei vendo um site onde mostrava um pouco da vida dela - parece que nasceu em 1947; e imagino que seja em SÃO PAULO.
E que sorte a sua ter tido contato com ela... Há algum tempo: eu tinha o sonho se encontrar celebridades, hoje estou mais calmo (risos!).
Quando morava no RJ, via algumas com frequencia: e depois de residir no RS_até que vejo algumas.
Inclusive já troquei emails com algumas (que possuem site/blog). E confesso que não tem a mesma graça que encontrá-las pessoalmente!
Seria isso...
Valeu,
Rodrigo
http://rodrigo-arte.blogspot.com/
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