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sábado, 26 de maio de 2012

Existe dramaturgia fora da Globo?
Record padece para concorrer com a emissora-líder

por Duh Secco




Mulheres de Areia, Os Imigrantes,
Pantanal e Éramos Seis: sucessos
fora dos domínios globais.
A telenovela nasceu com a televisão. O sucesso dos folhetins com o público brasileiro vem desde os primórdios da TV no Brasil. A Globo, com seu ritmo industrial muito bem amparado em sua preparação artística e técnica, é, sem dúvida, o grande expoente deste setor. Mas não, a emissora nunca esteve sozinha nessa. Nos anos 70, disputou a audiência com a Tupi, que levou ao ar a primeira versão de Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro. Na década seguinte, a Band contratou Benedito Ruy Barbosa, que escreveu Os Imigrantes. E no início dos anos 90, o fenômeno Pantanal, na Manchete, abalou o poderio global. E logo depois, o SBT produziu Éramos Seis, outro sucesso fora dos domínios do Projac. Entretanto, todas essas tramas, excetuando os trabalhos da Tupi, foram tentativas isoladas de se consolidar um departamento de dramaturgia capaz de fazer frente às novelas da Globo. Até que em 2004, a Record resolveu entrar nesse meio.

Após produções bem sucedidas, a emissora da Barra Funda mergulhou em uma crise que atinge agora, com Máscaras, o seu ápice. A novela de Lauro César Muniz é a de menor audiência da emissora, desde que se iniciaram os investimentos em dramaturgia. A trama, de fato, tem mais erros do que acertos, mas não pode ser considerada a única culpada pelos baixos índices registrados.


A turma de Rebelde: repercussão se esvaiu
com as constantes alterações de horário.
O grande erro da dramaturgia da Record é o mesmo que a impede de fortalecer sua programação como um todo: o desrespeito com o telespectador e a falta de comprometimento com a grade de programação. Os executivos da emissora simplesmente ignoram um dos princípios básicos de uma boa grade, aquele que diz respeito ao fluxo de audiência de uma atração para a outra. É algo seguido pela Globo desde o início das operações da emissora: novela das 18h, jornal local, novela das 19h, Jornal Nacional e novela das 20h (hoje, 21h). As alterações de horário derrubaram a novela Rebelde, que conquistou seu público, mas não pode fisgá-lo diante das inúmeras mudanças pelas quais seu horário já passou. Na última delas, cedeu parte de seu horário ao SP Record, telejornal local que não permaneceu mais do que dois dias no ar.


Heitor Martinez e Nicola Siri, em
Vidas Opostas e Máscaras.
Máscaras também não tem um bom apoio. A novela padece com a reprise de Vidas Opostas, que a antecede. A obra de Marcílio Moraes, uma das primeiras a explorar a temática violenta que permeia quase todas as novelas da Record, se encerrou como um dos maiores sucessos da emissora. Mas não emplacou em sua reprise e ainda prejudica a novela de Lauro César Muniz, não só pela temática similar, como pelo elenco repetido nas duas produções. É cansativo ver Heitor Martinez, independente do bom trabalho apresentado pelo ator, interpretando dois bandidos, em tão curto espaço de tempo, bem como Nicola Siri como um galã arrebatador. A solução, ou não, pode ser o reality A Fazenda, programado para estrear na próxima terça, justamente no horário em que Máscaras ocupa atualmente.


Gisele Joras: responsável pela ingrata
missão de levantar o horário.
O trabalho exaustivo que a Record impõe a seus autores, com a longa duração de seus trabalhos, também é um complicador. Basta ver a queda de qualidade de Rebelde, que ganhou uma segunda temporada, após o bom desempenho da primeira. O mesmo já havia acontecido com Caminhos do Coração, que deu origem a outras duas produções do mesmo gênero, e terminou no mais completo esgotamento, tanto de sua equipe, como do telespectador, que abandonou a trama durante seu desenrolar. O alto número de capítulos pode servir como arma da emissora para mascarar a sua falta de planejamento, algo que também joga contra ela. Se o núcleo de dramaturgia fosse mais organizado, Máscaras poderia ter sua duração reduzida e ceder espaço a outra produção. Seria assim na Globo, que já tem sua fila de autores organizada e diversas sinopses aprovadas. Na Record, a autora substituta de Máscaras, Gisele Joras, ainda não delineou sua próxima trama.


É em Lauro e em sua equipe (o co-autor Renato Modesto e os colaboradores João Gabriel Carneiro, Mariana Vielmond e Mário Viana) que Máscaras tem o seu maior trunfo, no momento. Em entrevista ao colunista Daniel Castro, na sexta, o autor declarou que vê como positiva a mudança de horário e revelou que está operando alterações na trama, passando a investir em ação. É o que o público da Record gosta, já que a emissora, ao insistir nessa temática, condicionou seus telespectadores. Mais um dos muitos erros pelos quais Máscaras está tendo que pagar.


Em tempo

Carrossel: a grande responsável pelo bom momento do SBT.
O SBT, após muitos anos, está investindo na produção continuada de suas novelas. Carrossel, sucesso mexicano exibido por aqui nos anos 90 e agora adaptada por Íris Abravanel, estreou ontem com números expressivos, na casa dos dois dígitos. A novela padece com a produção, que investe em um excessivo colorido, talvez necessário para conquistar a criançada. Detalhes de cenografia, como os desenhos feitos pelas crianças, visivelmente imprimidos, incomodam, mas não comprometem. O elenco no geral está bem, apesar da insegurança de algumas crianças, dentre elas, Jean Paulo Campos, o intérprete de Cirilo, um dos personagens mais marcantes da história original. O texto se assemelha ao original mexicano, trazendo frases, por vezes, enfadonhas. A agilidade das ações, entretanto, é um ponto positivo, que pode conquistar os pequenos telespectadores, acostumados a agilidades do mundo moderno. Os efeitos de passagem de cena, bem como outros atrativos visuais, semelhantes ao que foram inseridos na hora da chamada, também servem como chamariz para o público infantil. Por último, a direção, que era de Del Rangel e passou para Reynaldo Boury durante as primeiras gravações, precisa se atentar para o ritmo dos diálogos e marcações em cenas. Algumas sequências do primeiro capítulo se assemelhavam a teatrinho escolar, com atores perdidos em cena. Um bom produto que necessita de pequenos retoques para se tornar ainda mais competitivo.



5 comentários:

Telinha VIP disse...

Pois é. Tem o texto do Lauro e , co-autor e colaboradores e um elenco de qualidade, numa novela que nao dá audiência. E tem um texto pobre com elenco fraquinho em uma produção bem modesta em Carrossel, com quase o dobro de audiÊncia de Máscaras. Quem entende? Será mesmo q o público infantil é a grande diferença?

Anônimo disse...

Duh, acho ótima a reflexão sobre uma teledramaturgia além da Globo. Cabe se perguntar se a história que temos de audiência de telenovelas não esquece muitas produções, e o que a "recusa" do telespectador pode indicar. E, nessa reflexão, cabe ainda se colocar não apenas as diferentes formas de organizar o produto telenovela, mas também as diferenças de linguagem e diferenças de "olhar": o olho do telespectador é muito viciado no estilo Globo de se fazer novela. A Record tem investido numa linguagem própria, com tramas que não se aproximam totalmente das globais (pelo menos é como eu vejo), mas o espectador quer o conforto da mesmice (que é o que revela Carrossel). Fica mesmo dificil contornar esse velho empecilho (conservadorismo do público + desejo de audiência) e lançar coisas novas, você não acha?

Abraço

Pedro

André San disse...

"Os executivos da emissora simplesmente ignoram um dos princípios básicos de uma boa grade, aquele que diz respeito ao fluxo de audiência de uma atração para a outra". Resumiu tudo! É o que eu digo e repito há anos no meu blog. E enquanto a Record não perceber que joga contra ela mesma ao realizar essas manobras absurdas, nada vai mudar, e a tal da liderança que eles tanto almejam nada mais será que um sonho dourado. Excelente texto. Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Duh Secco disse...

Eu acredito que falta audácia às demais emissoras, Pedro. A Record começou bem, com produções como Essas Mulheres, Cidadão Brasileiro e Vidas Opostas, produções diferentes das oferecidas pela Globo naquele momento. Entretanto, o sucesso desta última levou a dramaturgia da emissora para um caminho perigoso: as tramas se repetem, os personagens se assemelham, e a conduta da Record contribui para tornar tudo ainda mais cansativo. O SBT se sai bem, mas só atinge o público fiel mesmo, acostumados ao estilo mexicano da emissora. Para conseguir algo além disso, precisariam retomar a investida em produtos como Éramos Seis, uma trama bem água-com-açúcar, ao estilo da emissora, mas melhor produzida. Sinto falta da coragem da Manchete, como quando levou ao ar uma novela como Pantanal, diferente de tudo o que o telespectador já tinha visto. Acho que pra dramaturgia fora da Globo se sagrar vitoriosa, é preciso uma nova injeção de ânimo, como foi a trama de Benedito Ruy Barbosa.

Rafael Barbosa dos Santos disse...

Acredito que ainda falta muito para as outras emissoras conseguirem bater a globo. Falta uma boa equipe técnica, equipe de produção, e criatividade. Não vejo as novelas da Record, mais sempre que dou uma olhadinha, vejo gente morrendo, bandido atirando, perseguição, enfim, vi isso já em pelo menos umas quatro novelas (Os mutantes, Vidas Opostas, Ribeirão do tempo, Vidas em Jogo). E quanto a grade, realmente isso prejudica e muito a Record e o SBT. Me lembro que quanto passa a versão original de Rebelde no SBT, trocou umas 10 vezes de horário, tanto que tinha dia, que eu nem ficava sabendo e perdia os capítulos. Isso acaba afugentando o público.