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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

 







Máscaras em constante mutação.
Novela da Record melhora consideravelmente, mas ainda apresenta problemas.

por Duh Secco







O primeiro capítulo de Máscaras, levado ao ar em abril deste ano, deixou clara a intenção do autor Lauro César Muniz de se manter fiel ao estilo dramatúrgico adotado pela Record nos últimos tempos. Uma trama policial repleta de cenas de ação, algo já visto em praticamente todos os trabalhos da emissora levados ao ar nesta faixa horária (e em outras faixas também). Máscaras, entretanto, divergia destas outras produções, ao abordar o misterioso desaparecimento de uma mãe com depressão pós-parto e de seu bebê rejeitado. O que serviu como um diferencial para a novela, foi também o que deflagrou a crise na qual a mesma mergulhou, ainda naquela primeira semana. O clima claustrofóbico que permeava os primeiros capítulos afugentou o telespectador da Record, já acostumado àquela fórmula, mas não familiarizado com o conteúdo pesado da trama.

Máscaras sucumbiu em meio ao seu enredo confuso e depressivo; a audiência que se esvaía a cada capítulo e ao falatório negativo que surgiu na imprensa acerca da novela. Sobrou para o autor a responsabilidade pelos erros apontados pela emissora, jornalistas e telespectadores. A insatisfação em torno da trama até mesmo por parte de atores do elenco se tornou pública, através de uma atitude pouco profissional de Luiza Tomé, intérprete de Geraldine, que declarou em uma rede social o seu desejo de deixar a novela. Não restou alternativa à Record e à equipe responsável pela trama: Máscaras deveria passar por reajustes. Com as mudanças no ar, é possível fazer uma análise mais elaborada dos erros e acertos da produção.

A trama pensada por Lauro César Muniz, que buscava tratar das máscaras sociais que todos nós fazemos uso durante a vida, era interessante, mas não atraente. O excesso de tristeza que rondou os momentos iniciais da novela, perdurou por um bom tempo com a depressão de Otávio Benaro (Fernando Pavão), protagonista da trama. Máscaras inovou ao trazer um herói atormentado pelos próprios erros, que de tão incapacitado ficou a mercê da ação de outros personagens, em especial o vilão Martin Salles (Heitor Martinez). Ficou provado que o público não é afeito a mocinhos que sucumbem diante dos obstáculos que surgem em sua vida, o que leva uma novela adiante. Quando um mocinho refuga diante de uma dificuldade, o telespectador tende a se afastar dele e da trama na qual o mesmo está inserido. Foi o que aconteceu quando em Bang-Bang, o bom rapaz obcecado por vingança Ben Silver (Bruno Garcia) não atirou no seu algoz, Bullock (Mauro Mendonça), quando surgiu a oportunidade. Se um homem tão decidido a fazer justiça foi incapaz de matar seu arqui-inimigo, logo ele não mereceria o respeito do público. Lauro César Muniz deu novo rumo à trama principal de Máscaras, adiantando acontecimentos e fazendo de Otávio o chefe de uma perigosa organização internacional, o que o colocou diretamente em choque com seu cunhado e rival, Martin, e fez do personagem o deflagrador de todos os conflitos da novela. Tal feito contribuiu também para delinear de melhor forma personagens que ainda não haviam dito a que vieram, como Elvira (Jussara Freire), que de mulher amarga disposta a destruir o juiz que a condenou à prisão, anos atrás, passou a ser peça-chave do sequestro do bebê ocorrido no início e que tem norteado a trama neste momento.

A aceleração de Máscaras, entretanto, não livrou o roteiro da similaridade com outros que o antecederam. A novela continuou policialesca, como de início. Até mesmo núcleos periféricos, que simbolizavam um respiro dentro da estrutura narrativa, passaram a se interligar com a trama central. Foi o que levou o malandro Vado (Raul Gazolla), que mantinha duas mulheres debaixo do mesmo teto, a se revelar membro de uma das organizações criminosas e aproximou a descobridora de talentos Valéria (Bete Coelho) a se afeiçoar a Eliza (Paloma Duarte), a mulher misteriosa que se casou com Otávio, acreditando que ele fosse Martin.

Valéria era uma espécie de presidente do grupo de mulheres que se reuniam constantemente para divagar sobre seus problemas, em especial os que envolviam o sexo oposto. Este grupo também se dissolveu, levando as mulheres que o compunham a desenvolverem outros conflitos, com cores dramáticas mais fortes. O resultado dessa mudança foi positivo e colaborou para desmantelar outro conflito de Máscaras que se arrastava por todos os núcleos da novela: a bigamia ou mesmo poligamia. Nenhum personagem era extremamente fiel ou capaz de amar desmedidamente. Como agravante, todos os envolvidos em imbróglios amorosos aceitavam com naturalidade tal situação. Na vida real, isso é algo que até pode acontecer; na novela, não. Um ou outro caso, como o de Cadinho (Alexandre Borges), de Avenida Brasil, é aceitável. Mas a presença de infidelidade em todos os núcleos é entediante.

Máscaras passou também por mudanças na direção. Saiu o ar soturno imposto por Ignácio Coqueiro; entrou a luminosidade de Edgar Miranda. O diálogo, concebido com naturalismo pelo autor e seus colaboradores, recebia um empostamento por parte da direção, o que chegou a comprometer boas sequências, como a do discurso de Valéria sobre o “descasamento". Este erro foi contornado pelo novo diretor, que passou a fazer uma melhor leitura dos textos. A contribuição de Edgar foi essencial para colocar Máscaras nos trilhos. Mas realçou a sensação de déja vu, com efeitos de cena e planos que remetem a outros trabalhos do diretor na emissora, como Chamas da Vida. As sequências de ação são repletas de cortes descontínuos e contam com a presença de câmeras lentas em momentos mais impactantes. Esta é uma marca do trabalho de Edgar, muito bem empregada, aliás. Mas que já está saturando e denota a necessidade de, não só rever as tramas aprovadas pela emissora, como a forma como as mesmas são realizadas. Os elencos se repetem; a direção não muda; o roteiro padece com a repetição de determinados artifícios.

O elenco, no geral, também salvou Máscaras de se comprometer ainda mais. Bons desempenhos de Fernando Pavão (após um começo inseguro), Paloma Duarte, Mirian Freeland (Maria), Valquíria Ribeiro (também Maria), Jussara Freire, Cecil Thiré (Juiz Sotero), Bete Coelho e o novato Emílio Dantas (Gino). Bárbara Bruno também se destaca como Zezé, a mulher que dialoga com seu filho imaginário. Em contrapartida, Gisele Itié (Manu), Daniela Galli (Tônia), Dado Dolabella (Eduardo) e Luiza Curvo (Laís) desperdiçam boas sequências com atuações pouco convincentes.

Enfim, entre mortos e feridos, Máscaras se salvou. Só não foi mais além porque a própria Record joga contra seu produto. Não se vê um esforço de mostrar o telespectador que a novela é outra, bem mais interessante. Isso se reflete tanto no horário de exibição, como na falta de notícias sobre Máscaras e a participação de atores do elenco em programas da casa, algo que a Globo sempre faz e sempre ajuda, e muito, na repercussão de suas novelas. O manifesto do elenco que pedia à imprensa para que ressaltasse as positivas mudanças da trama, muito bem realizado por sinal, deveria se dirigir também à emissora, que pouca importância dá a sua teledramaturgia. Quem sabe a mudança na direção deste núcleo implique na melhora do mesmo e das atrações oferecidas aos telespectadores. Máscaras é uma novela melhor. A Record precisa querer melhorar também.

Em tempo
Mudanças também foram realizadas em Rebelde, cartaz das 20h30 na Record. Diferentemente de Máscaras, no entanto, as alterações pelas quais a trama juvenil tem passado contribuíram para levar à novela, em definitivo, ao fracasso. As trocas de horário pelas quais a novela havia passado; a mudança de rota no início da segunda fase, apostando em um enredo calcado em um jogo de RPG; e o vai-e-vem amoroso dos protagonistas, repetitivo ao extremo, usado para aumentar os índices da trama nos últimos tempos: nada disso foi tão crucial para o desenrolar de Rebelde quanto a inserção de um núcleo infantil, notado inspirado na concorrente, Carrossel. A pequena Milena (citar nome da atriz) é constantemente desprezada por seus colegas de classe por ser pobre e negra; e os outros alunos não deixam de ser uma cópia infantilizada do sexteto que conduziu a novela até este momento. Há, inclusive, a possibilidade de que as crianças formem uma banda no decorrer da narrativa. Espero que, com a audiência em baixa, a Record reveja o caminho que traçou para Rebelde. Nunca se houve tanta necessidade de se substituir uma novela como agora. Nem mesmo com a tão falada Máscaras.

Um comentário:

Fábio Leonardo disse...

É complicado falar de uma novela como Máscaras. Mais complicado ainda é criticar um autor do cacife de Lauro César Muniz, responsável por tantos sucessos - alguns deles eivados de ousadias bem sacadas - em nossa teledramaturgia. Mas o fato é que Máscaras foi um equívoco. Não pela proposta, mas pela forma como ela foi apresentada. Simplesmente não funcionou.

Duh foi extremamente feliz em sua análise, quando apontou a fraqueza do mocinho diante das situações complicadas que a vida coloca. Para Lauro, em seus arroubos em busca da inovação no gênero, pode parecer que seria essa mais uma ousadia: não ter um mocinho tipo "herói", mas sim alguém humanizado. O fato é que certos elementos do folhetim tradicional não podem ser deixados de lado e, por mais humano que seja, a grande característica do protagonista é a sua capacidade de dar a volta por cima.

Se a novela melhorou, percebemos serem postos em prática o talento e a versatilidade mais que conhecidos de LCM - ele, que já passou por diversas linguagens dentro da dramaturgia. Mas a emissora peca, o que também não é nenhuma novidade. Sendo impossível evitar a comparação, um fato semelhante na Globo levaria a uma "força-tarefa" na emissora, em que a novela não só mudaria, como seria divulgada fortemente em toda a sua programação.

Infelizmente, estamos falando de um ótimo autor que está no lugar errado. E, mais infelizmente ainda, com uma proposta falha. =/

Parabéns pelo post, ao Duh, e ao todos os homens do "Agora"!