A
estrela se despede
Os inesquecíveis momentos da
trajetória de sucesso de Hebe Camargo
por
Duh Secco
Quando uma grande estrela do cenário
artístico nacional morre, ficamos com a sensação de estar perdendo um amigo
próximo. É como se não fôssemos mais receber a visita daquela pessoa tão
querida em nossas casas, toda semana. No caso de Hebe Camargo, é como se nós
não estivéssemos mais visitando-a. Durante anos, nos sentamos ao lado da
primeira dama de nossa TV naquele sofá que ela fez de divã, palco, palanque.
Hebe nos deixou no último fim de semana com a certeza de que soube viver a vida
em sua plenitude. Não foram poucos os depoimentos que enalteceram esta grande
qualidade da apresentadora, cantora e atriz: ela sabia como ninguém celebrar a
vida. E é justamente por não estar mais vivendo com saúde é que nós, seus fãs e
telespectadores, nos consolamos, diante de sua partida, que pela jovialidade
que Hebe sempre nos transmitiu, soa prematura.
Hebe se despede, deixando a sensação
de que ainda tinha muito a dizer. Acabara de assinar um novo contrato com o
SBT, casa na qual viveu os melhores momentos de sua trajetória; estava
ingressando nas mídias sociais, tendo lançado um canal exclusivo no YouTube;
acabara de construir uma capela em sua casa, onde fortaleceria a fé que sempre
fez questão de exibir ao longo de seus mais de sessenta anos de carreira. Hebe
sai de cena e com ela se vai uma parte importante da história da TV brasileira.
A loira, que nasceu morena, esteve presente na inauguração da TV Tupi. Não cantou
o Hino da Televisão, que julgava horrível, por estar combalida com uma forte
gripe. Uma versão mais apimentada, entretanto, dava conta de que Hebe passou
para a amiga Lolita Rodrigues a responsabilidade de cantar tal hino por conta
de um namorado com quem viajaria. Ao longo de todos esses anos em frente às
câmeras, Hebe sempre se mostrou antenada com o que ocorria a sua volta. Mudou
de visual diversas vezes, sem nunca abandonar o loiro; se vestia sempre
elegantemente, mas lançava mão de figurinos diferenciados para homenagear os
mais diversos estilos musicais que passaram por seu programa. Foi metaleira,
caipira, sambista; personificou Chacrinha, Rita Lee, Xuxa, Chitãozinho, ou
Xororó; reviveu seus momentos de arrumadeira em casa de família. Além de entreter,
buscava, quase sempre, colocar o dedo nas feridas que tanto incomodavam o povo
brasileiro. Afrontava governantes ao emitir sua opinião, sem firulas, nem
rodeios. Hebe era honesta, verdadeira e autêntica.
Sua autenticidade, inclusive,
contribuiu para que cometesse deslizes ao longo dos muitos anos em que conduziu
seu tradicional programa de entrevistas e números musicais. Disse estar honrada
por receber José Dirceu, apontado como mentor de um dos maiores esquemas de
corrupção já vistos em nosso país, em sua plateia; defendeu Eliana Tranchesi,
dona da Daslu, investigada por sonegação de impostos; foi acusada por Nicéia
Pitta de estar envolvida em esquemas fraudulentos comandados por seu marido,
Celso Pitta, e Paulo Maluf; trocou o SBT, após quase 25 anos de parceria, pela
Rede TV!, que nunca a valorizou como a emissora de Silvio Santos. Nenhuma
dessas atitudes, entretanto, diminuiu sua grandeza, seu valor e seu talento.
Também nos brindou com erros engraçados, como quando recebeu em palco a atriz
Etty Fraser, para provar ao público que a mesma estava viva, após ter exibido
em seu programa de réveillon um VT com os artistas que haviam falecido no ano que
passara, tendo incluído a atriz no clipe.
O maior charme de Hebe residia em sua
cumplicidade com o público. Distribuía rosas a sua plateia e nos brindava
sempre com uma mensagem de otimismo, nos finais de seus programas. Defendia os
direitos das mulheres e se orgulhava de ter nascido em 08 de março, data que
fora instituída como o Dia Internacional da Mulher. Tratava seus convidados
como grandes amigos, e de fato possuía grandes amigos no meio artístico. E fez do
selinho uma instituição nacional.
Hebe era a personificação exata de uma
expressão que costumava usar com frequência: “linda de viver”. E vai continuar
vivendo, através de sua história de sucesso, de suas mensagens positivas, de
sua risada inigualável e de nossas lembranças... Vá em paz, “gracinha”!
***
Lá pelo final dos anos 90 e início dos
anos 2000, minhas noites de segunda sempre tiveram a companhia de Hebe Camargo.
Adorava vê-la receber os convidados em seu sofá, sempre com um sorriso largo e
sincero, que contagiava a todos em casa. Lembro que, certa vez, ela conversava
com o ator Luis Salém e lhe perguntou qual era o sonho da vida dele. Ele
prontamente respondeu: “Um deles eu já realizei, que é de estar aqui no seu
programa”. Envaidecida, Hebe retribuiu com um abraço caloroso, enquanto eu, de
casa, pensava: “Se um dia eu for famoso e puder ir ao programa da loira, vou
responder isso mesmo. Afinal, quem não sonha em sentar ao sofá da Hebe?”. Eu
tinha uns 14 anos na época. O tempo passou, eu não fiquei famoso, e Hebe se foi
sem que eu conseguisse realizar esse sonho. Mas seu semblante feliz está
gravado em meu coração. No meu imaginário, eu estou ao seu lado, batendo um
papo gostoso no seu famoso sofá.
Daniel
Freitas
Minha mãe sempre acompanhou o programa
de Hebe às segundas. E eu, por ser uma criança acostumada a dormir tarde,
assistia junto com ela. Mas me recordo mesmo é de Hebe aos domingos. Talvez
tenha sido ela a primeira loira a figurar neste dia de intensa disputa na
audiência. E não seja tão lembrada por esse feito por ter apresentado seu
programa aos domingos em um tempo no qual os índices não eram tão divulgados
quanto hoje. Minha lembrança mais forte da loira foi seu encontro com Xuxa, em
1989, na ocasião do lançamento do quarto álbum da Rainha dos Baixinhos. Eu,
como um dos baixinhos em questão, acompanhei o programa. Não guardo todos os
detalhes em mente porque a pouca idade, na época, não me permitiu tal feito.
Mas sempre que ouço Tindolelê, carro-chefe do tal disco, me lembro de Hebe, tão
jovem quanto Xuxa, acompanhando a coreografia desta e das Paquitas.
Duh
Secco
A paixão do público brasileiro por
Hebe é mesmo incondicional. A apresentadora estava longe de ser uma grande
entrevistadora, suas posições políticas eram duvidosas, e demonstrava ser um
poço de contradições: ao mesmo tempo em que se mostrava uma mulher ousada nas
palavras, nos gestos, nos figurinos, nas atitudes e nas atrações que exibiu nos
palcos de seus programas durante os 60 anos em que esteve na ativa, reclamava
que a atual televisão brasileira, sobretudo as telenovelas, eram uma ofensa à
família brasileira. Ou ainda, quando fazia uso de seu programa para denunciar a
corrupção no Brasil – e o fez por diversas vezes – e, em oposição a isso, era
uma das maiores defensoras de Paulo Maluf. No entanto, o sorriso cativante, a
alegria sempre verdadeira, o profissionalismo e o carisma da loira suplantaram
qualquer defeito que Hebe pudesse ter. A apresentadora é um verdadeiro exemplo
de como todas essas qualidades são fundamentais na televisão brasileira (tendo
deixado uma grande lição a outras apresentadoras igualmente loiras), e até mais
importantes do que cultura, conhecimento linguístico ou preparação. Se existem
três palavras que definem exatamente o que Hebe era, essas palavras são:
alegria, carisma e espontaneidade.
Guilherme
Staush
"Não tenho medo de morrer; tenho peninha".
Hebe Camargo
08/03/1929 - 29/09/2012
Um comentário:
depois dessa última frase dela....o que dizer? fiquei muito marcado pela morte dela pela mesma razão do daniel freitas...eu via sempre com minha família o seu programa, com meu pai e com minha mãe...ambos já faleceram e a morte da Hebe acaba por me lembrar e reforçar a minha tristeza pessoal.
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