Somos amantes da teledramaturgia. Respeitamos a arte e a criação acima de tudo. Nosso profundo respeito a todos os profissionais que criam e fazem da televisão essa ferramenta grandiosa, poderosa, que desperta os mais variados sentimentos. Nossa crítica é nossa colaboração, nossa arma, nosso grito de liberdade.



ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Free DHTML scripts provided by Dynamic Drive

segunda-feira, 1 de outubro de 2012




A estrela se despede
Os inesquecíveis momentos da trajetória de sucesso de Hebe Camargo

por Duh Secco




Quando uma grande estrela do cenário artístico nacional morre, ficamos com a sensação de estar perdendo um amigo próximo. É como se não fôssemos mais receber a visita daquela pessoa tão querida em nossas casas, toda semana. No caso de Hebe Camargo, é como se nós não estivéssemos mais visitando-a. Durante anos, nos sentamos ao lado da primeira dama de nossa TV naquele sofá que ela fez de divã, palco, palanque. Hebe nos deixou no último fim de semana com a certeza de que soube viver a vida em sua plenitude. Não foram poucos os depoimentos que enalteceram esta grande qualidade da apresentadora, cantora e atriz: ela sabia como ninguém celebrar a vida. E é justamente por não estar mais vivendo com saúde é que nós, seus fãs e telespectadores, nos consolamos, diante de sua partida, que pela jovialidade que Hebe sempre nos transmitiu, soa prematura.


Hebe se despede, deixando a sensação de que ainda tinha muito a dizer. Acabara de assinar um novo contrato com o SBT, casa na qual viveu os melhores momentos de sua trajetória; estava ingressando nas mídias sociais, tendo lançado um canal exclusivo no YouTube; acabara de construir uma capela em sua casa, onde fortaleceria a fé que sempre fez questão de exibir ao longo de seus mais de sessenta anos de carreira. Hebe sai de cena e com ela se vai uma parte importante da história da TV brasileira. A loira, que nasceu morena, esteve presente na inauguração da TV Tupi. Não cantou o Hino da Televisão, que julgava horrível, por estar combalida com uma forte gripe. Uma versão mais apimentada, entretanto, dava conta de que Hebe passou para a amiga Lolita Rodrigues a responsabilidade de cantar tal hino por conta de um namorado com quem viajaria. Ao longo de todos esses anos em frente às câmeras, Hebe sempre se mostrou antenada com o que ocorria a sua volta. Mudou de visual diversas vezes, sem nunca abandonar o loiro; se vestia sempre elegantemente, mas lançava mão de figurinos diferenciados para homenagear os mais diversos estilos musicais que passaram por seu programa. Foi metaleira, caipira, sambista; personificou Chacrinha, Rita Lee, Xuxa, Chitãozinho, ou Xororó; reviveu seus momentos de arrumadeira em casa de família. Além de entreter, buscava, quase sempre, colocar o dedo nas feridas que tanto incomodavam o povo brasileiro. Afrontava governantes ao emitir sua opinião, sem firulas, nem rodeios. Hebe era honesta, verdadeira e autêntica.


Sua autenticidade, inclusive, contribuiu para que cometesse deslizes ao longo dos muitos anos em que conduziu seu tradicional programa de entrevistas e números musicais. Disse estar honrada por receber José Dirceu, apontado como mentor de um dos maiores esquemas de corrupção já vistos em nosso país, em sua plateia; defendeu Eliana Tranchesi, dona da Daslu, investigada por sonegação de impostos; foi acusada por Nicéia Pitta de estar envolvida em esquemas fraudulentos comandados por seu marido, Celso Pitta, e Paulo Maluf; trocou o SBT, após quase 25 anos de parceria, pela Rede TV!, que nunca a valorizou como a emissora de Silvio Santos. Nenhuma dessas atitudes, entretanto, diminuiu sua grandeza, seu valor e seu talento. Também nos brindou com erros engraçados, como quando recebeu em palco a atriz Etty Fraser, para provar ao público que a mesma estava viva, após ter exibido em seu programa de réveillon um VT com os artistas que haviam falecido no ano que passara, tendo incluído a atriz no clipe.


O maior charme de Hebe residia em sua cumplicidade com o público. Distribuía rosas a sua plateia e nos brindava sempre com uma mensagem de otimismo, nos finais de seus programas. Defendia os direitos das mulheres e se orgulhava de ter nascido em 08 de março, data que fora instituída como o Dia Internacional da Mulher. Tratava seus convidados como grandes amigos, e de fato possuía grandes amigos no meio artístico. E fez do selinho uma instituição nacional.


Hebe era a personificação exata de uma expressão que costumava usar com frequência: “linda de viver”. E vai continuar vivendo, através de sua história de sucesso, de suas mensagens positivas, de sua risada inigualável e de nossas lembranças... Vá em paz, “gracinha”!

***

Lá pelo final dos anos 90 e início dos anos 2000, minhas noites de segunda sempre tiveram a companhia de Hebe Camargo. Adorava vê-la receber os convidados em seu sofá, sempre com um sorriso largo e sincero, que contagiava a todos em casa. Lembro que, certa vez, ela conversava com o ator Luis Salém e lhe perguntou qual era o sonho da vida dele. Ele prontamente respondeu: “Um deles eu já realizei, que é de estar aqui no seu programa”. Envaidecida, Hebe retribuiu com um abraço caloroso, enquanto eu, de casa, pensava: “Se um dia eu for famoso e puder ir ao programa da loira, vou responder isso mesmo. Afinal, quem não sonha em sentar ao sofá da Hebe?”. Eu tinha uns 14 anos na época. O tempo passou, eu não fiquei famoso, e Hebe se foi sem que eu conseguisse realizar esse sonho. Mas seu semblante feliz está gravado em meu coração. No meu imaginário, eu estou ao seu lado, batendo um papo gostoso no seu famoso sofá.

Daniel Freitas


Minha mãe sempre acompanhou o programa de Hebe às segundas. E eu, por ser uma criança acostumada a dormir tarde, assistia junto com ela. Mas me recordo mesmo é de Hebe aos domingos. Talvez tenha sido ela a primeira loira a figurar neste dia de intensa disputa na audiência. E não seja tão lembrada por esse feito por ter apresentado seu programa aos domingos em um tempo no qual os índices não eram tão divulgados quanto hoje. Minha lembrança mais forte da loira foi seu encontro com Xuxa, em 1989, na ocasião do lançamento do quarto álbum da Rainha dos Baixinhos. Eu, como um dos baixinhos em questão, acompanhei o programa. Não guardo todos os detalhes em mente porque a pouca idade, na época, não me permitiu tal feito. Mas sempre que ouço Tindolelê, carro-chefe do tal disco, me lembro de Hebe, tão jovem quanto Xuxa, acompanhando a coreografia desta e das Paquitas.

Duh Secco


A paixão do público brasileiro por Hebe é mesmo incondicional. A apresentadora estava longe de ser uma grande entrevistadora, suas posições políticas eram duvidosas, e demonstrava ser um poço de contradições: ao mesmo tempo em que se mostrava uma mulher ousada nas palavras, nos gestos, nos figurinos, nas atitudes e nas atrações que exibiu nos palcos de seus programas durante os 60 anos em que esteve na ativa, reclamava que a atual televisão brasileira, sobretudo as telenovelas, eram uma ofensa à família brasileira. Ou ainda, quando fazia uso de seu programa para denunciar a corrupção no Brasil – e o fez por diversas vezes – e, em oposição a isso, era uma das maiores defensoras de Paulo Maluf. No entanto, o sorriso cativante, a alegria sempre verdadeira, o profissionalismo e o carisma da loira suplantaram qualquer defeito que Hebe pudesse ter. A apresentadora é um verdadeiro exemplo de como todas essas qualidades são fundamentais na televisão brasileira (tendo deixado uma grande lição a outras apresentadoras igualmente loiras), e até mais importantes do que cultura, conhecimento linguístico ou preparação. Se existem três palavras que definem exatamente o que Hebe era, essas palavras são: alegria, carisma e espontaneidade.

Guilherme Staush




"Não tenho medo de morrer; tenho peninha".

Hebe Camargo
08/03/1929 -  29/09/2012



Um comentário:

edu vieira disse...

depois dessa última frase dela....o que dizer? fiquei muito marcado pela morte dela pela mesma razão do daniel freitas...eu via sempre com minha família o seu programa, com meu pai e com minha mãe...ambos já faleceram e a morte da Hebe acaba por me lembrar e reforçar a minha tristeza pessoal.