Uma novela cheia de charme!
Parte III
ENTREVISTA EXCLUSIVA
FILIPE MIGUEZ
Depois de marcar presença em nosso blog, juntamente com Izabel de Oliveira, durante os meses que antecederam a estreia de Cheias de Charme, Filipe Miguez volta ao Agora é Que São Eles para fazer um balanço da novela que se tornou um dos grandes sucessos do horário das 7 dos últimos anos. O autor fala sobre a enorme repercussão da novela nas redes sociais, o olhar voltado para a classe C das atuais produções televisivas, e a emoção de ver retratado nas telas seu primeiro trabalho autoral.
Guilherme Staush pergunta
1- Em entrevista concedida ao nosso blog,
bem antes da estreia da novela, que na época ainda tinha o título provisório
"Marias do Lar", você fez a seguinte
declaração: Acho que qualidade e popularidade não são características
autoexcludentes. Dá para ter qualidade, e até sofisticação, e ser
popular.
Talvez esse tenha sido um dos grandes
méritos de sua novela: qualidade aliada à popularidade. Houve preocupação da
dupla com esse aspecto, ou as coisas transcorreram de forma natural? Qual o
segredo para uma novela se tornar popular sem descontentar o telespectador mais
intelectualizado?
Houve uma enorme preocupação da nossa parte com esse aspecto. Ao
contrário do que muita gente pensa, acho o espectador de telenovela
extremamente inteligente e sagaz. Assim como
todo brasileiro é técnico de futebol e carnavalesco, cada um de nós é um pouco
novelista também. O espectador já decodifica os cânones e as vezes é capaz até
de enxergar o que nós autores ainda não vemos. No caso de Cheias de Charme,
demos uma grande atenção à apresentação dos personagens e das tramas, de modo a
tornar o espectador íntimo dos personagens antes de entrar com temáticas menos
populares (como a internet, que por mais disseminada que esteja, ainda não
atinge uma grande parte dos lares brasileiros). Uma alegria enorme foi ver no
Grupo de Discussão que as espectadoras entendiam tudo da novela e sabiam
explicar a trama completamente, muitas vezes usando os mesmos termos que nós
usávamos quando tivemos que explicar a trama para a TV Globo. Essa comunicação
bem feita é fundamental para que uma história se conte, e abre caminho para
narrativas mais sofisticadas, que o público, no meu modo de ver, é
perfeitamente capaz de seguir.
Empregadas cheias de charme: Isabelle Drummond, Leandra Leal e Taís Araújo. |
Eduardo Secco pergunta
2. O clipe Vida de Empreguete
alterou drasticamente os rumos da novela. Contribuiu também para romper
definitivamente a barreira entre a TV e a internet, ao deixar para a rede a
exibição de uma cena tão fundamental para o desenvolvimento da trama. Nos
capítulos que se seguiram ao clipe, os personagens comentavam a repercussão do
mesmo, citando números que estavam muito aquém dos reais índices registrados na
rede, que continuou tendo importância fundamental na narrativa, através de
passagens como a do movimento “Empreguetes Livres”. Vocês esperavam todo esse
sucesso transmídia? A quem coube a decisão de deixar a exibição do clipe para a
internet e como
esta norteou o trabalho de vocês ao longo da novela? Acredita que Cheias de
Charme indica um caminho para a teledramaturgia atual, no sentido deinteragir com outras mídias?
A internet está no cerne da história de Cheias de Charme. Se reduzirmos
a trama a três linhas, lá estará ela: infelizes em seus empregos, três
empregadas domésticas postam na internet um clipe sobre as agruras da rotina do
trabalho doméstico e se tornam um trio de sucesso. Era, portanto, um prato cheio para essa
brincadeira transmídia. A ideia de postar o vídeo na ficção e na vida real ao
mesmo tempo, e adiar a exibição propiciando aos internautas verem o vídeo antes
dos telespectadores, foi pensada por nós, autores, e discutida com os diretores
e a TV Globo, que compraram a proposta de cara. Nosso intuito era atrair
atenção para a ação transmídia, levar o espectador comum à rede e ao mesmo
tempo despertar interesse e curiosidade por essa segunda plataforma. Como a novela é escrita com antecedência, não tínhamos como saber que números
atingiríamos, então nossa pesquisa forneceu números do que seria considerado um
clipe de sucesso na rede. Foram os números que usamos em cena. É claro que
esses acessos tenderiam a ser aquém da vida real, já que na trama elas são três
cantoras desconhecidas, e não personagens da novela das sete. O fato de estar
na novela catapultou o número de acessos, coisa que na ficção não tínhamos – na
história elas bombam exclusivamente por mérito do clipe. Mas é claro que os
acessos que tivemos superaram as nossas expectativas. Nem todas as novelas vão
ter oportunidades transmídia como
essa teve, já que a internet estava na trama. Mas gosto de pensar que abrimos
caminho, mostrando algumas possibilidades dessa interação.
Eduardo Secco pergunta
Marcos Palmeira como Sandro. |
Acho que uma boa história vai sempre fazer sucesso, independente da
classe social que retrate. O foco na classe C, pelo menos no nosso
caso, veio do fato de que a ascensão dessa classe e seu acesso à tecnologia (e
informação) é o fenômeno mais interessante e rico que ocorre atualmente na
sociedade brasileira, no nosso ponto de vista. Essa nova classe C hoje quer se
ver retratada na tela, mas acho que as classes mais abastadas também sempre
terão seu interesse – desde que haja uma boa história.
Eduardo Secco pergunta
4. Você passou de colaborador a titular em
uma novela de grande sucesso. Sente-se desafiado a manter esta aceitação em
seus próximos trabalhos? Cheias de Charme
é o estilo de trama que irá permear a carreira de Filipe Miguez? Quais são seus
projetos após o final da novela?
Foi uma excelente estreia, que superou as expectativas. Eu
brinco que, uma vez acabada Cheias de Charme, agora passamos a competir conosco
mesmos. Claro que um trabalho tão bem sucedido suscita expectativas em relação
às próximas realizações. Não sei ainda qual vai ser meu próximo trabalho com a
Izabel, nem sobre o que será, mas já dá pra dizer que certamente será uma trama
muito bem cuidada, respeitosa com o público, com humor e com humanidade, leveza
e profundidade, imaginação e bom acabamento, que são as nossas marcas.
Guilherme Staush pergunta
5-
Descreva um pouco a sensação que um autor tem ao ver um texto seu, em sua
primeira novela autoral, transposto nas telas. Quais as maiores surpresas que
você teve no decorrer da novela, nesse aspecto, seja por interpretações que
foram além do que você esperava ou na produção de uma determinada cena? Lembra
de alguma cena em específico que tenha te emocionado por esse lado?
Chayenne (Cláudia Abreu) e Fabian (Ricardo Tozzi). |
Cenas gravadas no Piauí: Socorro (Titina Medeiros), uma das grandes revelações da novela. |
***
5 comentários:
Que entrevista bacana! Parabéns ao blog!
Ótima novela! Leve, divertida e trouxe bastante inovação. A TV precisa mesmo de sangue novo. Que venham outros.
.
.
Mensagem enviada pelo autor Alcides Nogueira
o filipe é o máximo!!!!!
parabéns a vcs por essa entrevista inteligente, sensível e antenada.
sem dúvida alguma, ele e a izabel ainda têm muitas histórias a contar, para alegria dos telespectadores.
abs,
alcides nogueira
Excelente entrevista! Excelente novela! Deixou saudades! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
excelente entrevista saudades master da novela!
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Postar um comentário