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quarta-feira, 16 de maio de 2012













Nosso amigo Daniel Freitas retorna ao blog com mais um texto. Dessa vez, ele faz uma comparação entre duas tramas do horário das 9: a atual Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, e sua antecessora, Fina Estampa, de Aguinaldo Silva.




O avesso do avesso no horário das nove

por Daniel Freitas



Nunca consegui entender o sucesso de Fina Estampa. Pensei em desistir da novela logo nos primeiros capítulos, mas acabei acompanhando boa parte da trama, o suficiente para me questionar a todo o tempo: como uma novela sem pé nem cabeça teve tanta audiência? A pergunta jamais se calou. Com Avenida Brasil, no ar desde o final de março, ocorreu o oposto. Pelas chamadas da Globo, já estava decidido a não ver, por imaginar que a nova trama de João Emanuel Carneiro seria tão pesada quanto A Favorita. Felizmente, eu me enganei! Não resistindo a dar uma espiada no primeiro capítulo, passei a acompanhar todos os outros, com a grata surpresa de estar diante de uma história consistente, com as situações inverossímeis, típicas de qualquer folhetim, na medida certa.


















O que me faz gostar da nova novela das 8 é justamente o que ela tem de contrário à trama de Aguinaldo Silva. De cara, a vilã interpretada por Adriana Esteves parece ser alguém de carne e osso, movida pela ambição, com atitudes condizentes com aquilo que almeja. Em Carminha, a perversidade convive bem com seu lado faceiro, que a torna até engraçada em alguns momentos. Já a Tereza Cristina (Christiane Torloni) de Fina Estampa foi inicialmente apresentada como uma mulher cômica, sem juízo, mas que logo começou a praticar maldades sem motivo aparente, levada por uma raiva mal explicada pela protagonista Griselda. Assassina inescrupulosa ou simplesmente uma doida varrida? Não deu pra entender. 



 
Em Avenida Brasil, a expectativa do público está voltada para a vingança de Nina / Rita (Débora Falabella), que tem suas raízes na infância sofrida com a madrasta. Em torno desse ressentimento, a protagonista irá nortear sua conduta, passando por privações e abrindo mão até mesmo de Jorginho (Cauã Reymond), o grande amor de sua vida – por um certo tempo apenas, naturalmente. Na antecessora do horário, a história girou em torno de um segredo maluco, que sequer ficou explicado. Tanto suspense transformou-se em decepção, fazendo da Tia Íris (Eva Wilma), a detentora do tal segredo, uma personagem que nadou, nadou e morreu na praia. E quando finalmente veio a revelação, nada houve para Tereza Cristina, que ressurgiu às gargalhadas no fim.           


Fina Estampa era recheada de núcleos dispensáveis, como a turma do vôlei na praia, e pouco interessantes, como o da médica Daniele Fraser (Renata Sorrah), que nem de longe provocou o rebuliço esperado. Sem falar nos personagens que mal faziam diferença, como a Zuleica, de Juliana Knust. Talvez para evitar esse tipo de problema, João Emanuel Carneiro reduziu seu elenco a pouco mais de 30 atores, centralizando a novela, literalmente, no núcleo de Tufão (Murilo Benício) e Carminha, de onde se ramificam os outros, inclusive o de Nina. Fora daí, os demais personagens vivem histórias sem muito peso ou relevância. São coadjuvantes mesmo, no sentido real da palavra. 





O elenco enxuto, contudo, não livra Avenida Brasil dos percalços. Algumas tramas paralelas não despertam grande interesse, como a relação entre Monalisa e Silas (Heloisa Perissé e Ailton Graça). Até mesmo a briga entre Leleco e Muricy (Marcos Caruso e Eliane Giardini), cada qual com seus pares mais jovens, tinha tudo para ser engraçada, mas já está cansando. Mais interessante é acompanhar as estripulias da divertida Suellen (Ísis Valverde) com os rapazes da novela – Daniel Rocha, Bruno Gissoni, Emiliano Dávila e Thiago Martins. Classuda no melhor estilo piriguete, Suellen deixa suas concorrentes no chinelo, a exemplo de Natalie Lamour (Déborah Secco) de Insensato Coração, e também a Teodora (Carolina Dieckmann) de Fina Estampa.






Se a personagem de Ísis Valverde faz a diversão em Avenida Brasil, tal papel coube ao Crô em Fina Estampa. Confesso, porém, que nunca morri de amores pelo Crodoaldo Valério. Nada contra a atuação de Marcelo Serrado, que se consagrou com a interpretação (embora alguns críticos tenham dito que ele estava acima do tom), mas me incomodava mais um personagem gay em novelas ser ridicularizado e humilhado em todos os capítulos e todo mundo achar aquilo engraçado. Me parecia muito fácil as pessoas se denominarem moderninhas e sem preconceito desde que tudo ficasse em seus devidos lugares: o gay afetado sempre no ridículo. Mas enfim, se a intenção era cair nas graças do público, o objetivo foi alcançado.    
  

Assim como em Fina Estampa, que deixou de lado a zona sul do Rio de Janeiro e fez da Barra da Tijuca o seu principal cenário externo, a opção do autor de Avenida Brasil foi ambientar a novela no subúrbio carioca, longe da praias e das ruas sofisticadas de Copacabana, Ipanema e Leblon. Na atual trama das nove, os protagonistas são pessoas do povão, com dinheiro no bolso, mas sem nenhum requinte. Falam alto, conhecem pouco de cultura, moram numa mansão de decoração brega e cultivam hábitos pouco refinados. Nada de família rica, com a matriarca no comando de empresas e os filhos retornando do exterior ou selando casamentos pomposos com herdeiros de outras famílias ricas.





Preenchem essa lacuna os personagens de Alexandre Borges, Débora Bloch, Camila Morgado e Carolina Ferraz. Moradores da zona sul do Rio, o quarteto, porém, é de meros coadjuvantes, como já dito, que vivem uma situação nada original em folhetins – a infidelidade conjugal, que em novela, assume ares de galhofa. Já em Fina Estampa, o público se deparou com duas situações distintas: uma família milionária foi desmantelada pelas loucuras de Tereza Cristina (o marido e os dois filhos saíram de casa), enquanto outra, de origem humilde, foi agregando novos adeptos – os pares dos herdeiros de Griselda e os filhos de sua inimiga. E talvez esse tenha sido um dos (poucos) méritos da novela de Aguinaldo Silva: retratar uma protagonista com o coração aberto como a vivida por Lília Cabral.      


Na medição verificada pelo IBOPE, Fina Estampa registrou, em seu primeiro mês de exibição, audiência maior do que a verificada em Avenida Brasil entre o final de março e o mês de abril. Continuo sem entender a razão do sucesso, mas como as águas já são passadas, melhor se concentrar na trama atual, que se mantiver o ritmo demonstrado até agora, tem tudo para seguir como um novelão, em sintonia com o pique vibrante da música de abertura. 


9 comentários:

Juliano G. Bonatto disse...

Acho que o problema maior de Fina Estampa foi justamente esse: nao ter história nenhuma. Foi só uma sucessão de brigas entre as vizinhas Griselda e Tereza Cristina. Se o povo quer distração, foi só isso o que teve.

Lucas disse...

Li com muito prazer o texto. Eu não gostava de "Fina estampa", mas "Avenida Brasil", pra mim, apesar das qualidades inquestionáveis da trama, esta está aquém dos último trabalho do autor: "A favorita" e o seriado "A cura".
Lucas - www.cascudeando.zip.net

Telinha VIP disse...

É o sucesso popular de Fina Estampa contra uma novela mais inteligente (ainda assim com muitos apelos populares). Acho que nao é preciso fazer uma novela tão apelativa como Fina estampa para se aproximar do público. O próprio Aguinaldo Silva já conseguiu esse êxito com novelas mais interessantes (e inteligentes) como Roque Santeiro ou Tieta.


Bjs

Fernando Oliveira disse...

Faça chuva, faça sol, ninguem esquecerá Fina Estampa. Por isso a novela foi um sucesso, jamais será esquecida. Se a novela tivesse sido ruim, ninguem falaria nela!

Rodrigo disse...

Bom, "Fina Estampa" foi uma brincadeira de muito mau gosto e "Avenida Brasil" é uma boa novela, mas pra mim ainda não conseguiu superar "A Favorita". Isso que é engraçado, porque eu acho que as tramas paralelas de "Avenida Brasil" parecem mais consistentes e com personagens bem mais envolventes e carismáticos. Adriana Esteves (Está!) Bem, por melhor que faça sua vilã Carminha, ainda não conseguiu alcançar a repercussão da Flora, antológica interpretação de Patrícia Pillar.

Juliano G. Bonatto disse...

Aguinaldo certamente pode escrever novelas bem melhores do que Fina Estampa e já provou isso. O sucesso da novela não me espanta. Novela das 9 da Globo sempre é sucesso. Se a novela teve uns pontos a mais foi porque atingiu o público que não gosta muito de um trabalho mais elitizado.O problema é a Globo buscar isso a cada nova novela.

Rafael Barbosa dos Santos disse...

Há discordo de várias coisas no texto, Fina Estampa apresentou uma boa ideia, e bons personagens resgatou um estilo de novela que já não se via a muito tempo, o que houve é que do meio da novela pra frente, é que ficou parecendo que a historia ja havia se esgotado e aí uma sucessão de acontecimentos sem fundamento foram acontecendo, mais o melhor da novela não foi a historia e sim os personagens. Cro e Tereza Cristina eram irresistíveis, com tiradas ótimas e isso sim conquistou o publico. Fina Estampa é o tipo de novela que ou se ama, ou se odeia, e com isso foi sucesso e continua sendo, pois não é esquecida até hoje. Já Avenida Brasil, é um novelão de verdade que dá gosto de ver, A favorita ainda foi melhor, mais Avenida Brasil está quase lá. E discordando de um comentario acima, Carminha é tão boa ou melhor que Flora, pois Flora era má e cruel, Carminha é má cruel e engraçada, bem ao estilo Naza de ser.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/

André San disse...

Excelente texto! Concordo com cada linha, cada palavra, cada vírgula! Comparar Avenida Brasil com Fina Estampa chega a ser sacrilégio. Enquanto a novela de Aguinaldo Silva foi boboca, com argumentação frouxa e sem qualquer sentido, Avenida Brasil é densa, consistente, envolvente e irresistível. Melhor novela das nove desde A Favorita! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Diego Moreira disse...

Adorei o texto, pôs em palavras o que senti durante a exibição de Fina Estampa, e ainda não consigo entender como tem defensores de uma novela tão sem sentido. Fiquei com uma expectativa, de forma alguma suprida, durante as chamadas da novela, principalmente por reunir autor e atriz que estão entre meus favoritos, mas a decepção foi grande. Na verdade, eu me perguntava a cada capítulo a que tinha o desprazer de assistir, que não foram muitos:"Que p... é essa?". E ainda fazia tentativas por saber que era uma novela do Agnaldo e em algum momento ia ficar melhor, o fim chegou e ela se superou, pra mim entrou no top 10 das piores novelas, e já é a segunda do Agnaldo, a primeira é Suave Veneno. Ainda bem que Avenida Brasil mostrou a que veio logo de cara e a cada capítulo justifica seu sucesso. Cenas memoráveis, personagens marcantes e um texto delicioso e cheio de surpresas, isso sim é novela.