Nosso amigo Daniel Freitas retorna ao blog com mais um texto. Dessa vez, ele faz uma comparação entre duas tramas do horário das 9: a atual Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, e sua antecessora, Fina Estampa, de Aguinaldo Silva.
O avesso do avesso no horário das nove
por Daniel Freitas
Nunca consegui entender o sucesso de Fina Estampa. Pensei em desistir da novela logo nos primeiros capítulos, mas acabei acompanhando boa parte da trama, o suficiente para me questionar a todo o tempo: como uma novela sem pé nem cabeça teve tanta audiência? A pergunta jamais se calou. Com Avenida Brasil, no ar desde o final de março, ocorreu o oposto. Pelas chamadas da Globo, já estava decidido a não ver, por imaginar que a nova trama de João Emanuel Carneiro seria tão pesada quanto A Favorita. Felizmente, eu me enganei! Não resistindo a dar uma espiada no primeiro capítulo, passei a acompanhar todos os outros, com a grata surpresa de estar diante de uma história consistente, com as situações inverossímeis, típicas de qualquer folhetim, na medida certa.
por Daniel Freitas
Nunca consegui entender o sucesso de Fina Estampa. Pensei em desistir da novela logo nos primeiros capítulos, mas acabei acompanhando boa parte da trama, o suficiente para me questionar a todo o tempo: como uma novela sem pé nem cabeça teve tanta audiência? A pergunta jamais se calou. Com Avenida Brasil, no ar desde o final de março, ocorreu o oposto. Pelas chamadas da Globo, já estava decidido a não ver, por imaginar que a nova trama de João Emanuel Carneiro seria tão pesada quanto A Favorita. Felizmente, eu me enganei! Não resistindo a dar uma espiada no primeiro capítulo, passei a acompanhar todos os outros, com a grata surpresa de estar diante de uma história consistente, com as situações inverossímeis, típicas de qualquer folhetim, na medida certa.
O que me faz gostar da nova novela das 8 é justamente o que ela tem de contrário à trama de Aguinaldo Silva. De cara, a vilã interpretada por Adriana Esteves parece ser alguém de carne e osso, movida pela ambição, com atitudes condizentes com aquilo que almeja. Em Carminha, a perversidade convive bem com seu lado faceiro, que a torna até engraçada em alguns momentos. Já a Tereza Cristina (Christiane Torloni) de Fina Estampa foi inicialmente apresentada como uma mulher cômica, sem juízo, mas que logo começou a praticar maldades sem motivo aparente, levada por uma raiva mal explicada pela protagonista Griselda. Assassina inescrupulosa ou simplesmente uma doida varrida? Não deu pra entender.
Em Avenida Brasil, a expectativa do público está voltada para a vingança de Nina / Rita (Débora Falabella), que tem suas raízes na infância sofrida com a madrasta. Em torno desse ressentimento, a protagonista irá nortear sua conduta, passando por privações e abrindo mão até mesmo de Jorginho (Cauã Reymond), o grande amor de sua vida – por um certo tempo apenas, naturalmente. Na antecessora do horário, a história girou em torno de um segredo maluco, que sequer ficou explicado. Tanto suspense transformou-se em decepção, fazendo da Tia Íris (Eva Wilma), a detentora do tal segredo, uma personagem que nadou, nadou e morreu na praia. E quando finalmente veio a revelação, nada houve para Tereza Cristina, que ressurgiu às gargalhadas no fim.
Fina Estampa era recheada de núcleos dispensáveis, como a turma do vôlei na praia, e pouco interessantes, como o da médica Daniele Fraser (Renata Sorrah), que nem de longe provocou o rebuliço esperado. Sem falar nos personagens que mal faziam diferença, como a Zuleica, de Juliana Knust. Talvez para evitar esse tipo de problema, João Emanuel Carneiro reduziu seu elenco a pouco mais de 30 atores, centralizando a novela, literalmente, no núcleo de Tufão (Murilo Benício) e Carminha, de onde se ramificam os outros, inclusive o de Nina. Fora daí, os demais personagens vivem histórias sem muito peso ou relevância. São coadjuvantes mesmo, no sentido real da palavra.
O elenco enxuto, contudo, não livra Avenida Brasil dos percalços. Algumas tramas paralelas não despertam grande interesse, como a relação entre Monalisa e Silas (Heloisa Perissé e Ailton Graça). Até mesmo a briga entre Leleco e Muricy (Marcos Caruso e Eliane Giardini), cada qual com seus pares mais jovens, tinha tudo para ser engraçada, mas já está cansando. Mais interessante é acompanhar as estripulias da divertida Suellen (Ísis Valverde) com os rapazes da novela – Daniel Rocha, Bruno Gissoni, Emiliano Dávila e Thiago Martins. Classuda no melhor estilo piriguete, Suellen deixa suas concorrentes no chinelo, a exemplo de Natalie Lamour (Déborah Secco) de Insensato Coração, e também a Teodora (Carolina Dieckmann) de Fina Estampa.
Se a personagem de Ísis Valverde faz a diversão em Avenida Brasil, tal papel coube ao Crô em Fina Estampa. Confesso, porém, que nunca morri de amores pelo Crodoaldo Valério. Nada contra a atuação de Marcelo Serrado, que se consagrou com a interpretação (embora alguns críticos tenham dito que ele estava acima do tom), mas me incomodava mais um personagem gay em novelas ser ridicularizado e humilhado em todos os capítulos e todo mundo achar aquilo engraçado. Me parecia muito fácil as pessoas se denominarem moderninhas e sem preconceito desde que tudo ficasse em seus devidos lugares: o gay afetado sempre no ridículo. Mas enfim, se a intenção era cair nas graças do público, o objetivo foi alcançado.
Assim como em Fina Estampa, que deixou de lado a zona sul do Rio de Janeiro e fez da Barra da Tijuca o seu principal cenário externo, a opção do autor de Avenida Brasil foi ambientar a novela no subúrbio carioca, longe da praias e das ruas sofisticadas de Copacabana, Ipanema e Leblon. Na atual trama das nove, os protagonistas são pessoas do povão, com dinheiro no bolso, mas sem nenhum requinte. Falam alto, conhecem pouco de cultura, moram numa mansão de decoração brega e cultivam hábitos pouco refinados. Nada de família rica, com a matriarca no comando de empresas e os filhos retornando do exterior ou selando casamentos pomposos com herdeiros de outras famílias ricas.
Preenchem essa lacuna os personagens de Alexandre Borges, Débora Bloch, Camila Morgado e Carolina Ferraz. Moradores da zona sul do Rio, o quarteto, porém, é de meros coadjuvantes, como já dito, que vivem uma situação nada original em folhetins – a infidelidade conjugal, que em novela, assume ares de galhofa. Já em Fina Estampa, o público se deparou com duas situações distintas: uma família milionária foi desmantelada pelas loucuras de Tereza Cristina (o marido e os dois filhos saíram de casa), enquanto outra, de origem humilde, foi agregando novos adeptos – os pares dos herdeiros de Griselda e os filhos de sua inimiga. E talvez esse tenha sido um dos (poucos) méritos da novela de Aguinaldo Silva: retratar uma protagonista com o coração aberto como a vivida por Lília Cabral.
Na medição verificada pelo IBOPE, Fina Estampa registrou, em seu primeiro mês de exibição, audiência maior do que a verificada em Avenida Brasil entre o final de março e o mês de abril. Continuo sem entender a razão do sucesso, mas como as águas já são passadas, melhor se concentrar na trama atual, que se mantiver o ritmo demonstrado até agora, tem tudo para seguir como um novelão, em sintonia com o pique vibrante da música de abertura.
9 comentários:
Acho que o problema maior de Fina Estampa foi justamente esse: nao ter história nenhuma. Foi só uma sucessão de brigas entre as vizinhas Griselda e Tereza Cristina. Se o povo quer distração, foi só isso o que teve.
Li com muito prazer o texto. Eu não gostava de "Fina estampa", mas "Avenida Brasil", pra mim, apesar das qualidades inquestionáveis da trama, esta está aquém dos último trabalho do autor: "A favorita" e o seriado "A cura".
Lucas - www.cascudeando.zip.net
É o sucesso popular de Fina Estampa contra uma novela mais inteligente (ainda assim com muitos apelos populares). Acho que nao é preciso fazer uma novela tão apelativa como Fina estampa para se aproximar do público. O próprio Aguinaldo Silva já conseguiu esse êxito com novelas mais interessantes (e inteligentes) como Roque Santeiro ou Tieta.
Bjs
Faça chuva, faça sol, ninguem esquecerá Fina Estampa. Por isso a novela foi um sucesso, jamais será esquecida. Se a novela tivesse sido ruim, ninguem falaria nela!
Bom, "Fina Estampa" foi uma brincadeira de muito mau gosto e "Avenida Brasil" é uma boa novela, mas pra mim ainda não conseguiu superar "A Favorita". Isso que é engraçado, porque eu acho que as tramas paralelas de "Avenida Brasil" parecem mais consistentes e com personagens bem mais envolventes e carismáticos. Adriana Esteves (Está!) Bem, por melhor que faça sua vilã Carminha, ainda não conseguiu alcançar a repercussão da Flora, antológica interpretação de Patrícia Pillar.
Aguinaldo certamente pode escrever novelas bem melhores do que Fina Estampa e já provou isso. O sucesso da novela não me espanta. Novela das 9 da Globo sempre é sucesso. Se a novela teve uns pontos a mais foi porque atingiu o público que não gosta muito de um trabalho mais elitizado.O problema é a Globo buscar isso a cada nova novela.
Há discordo de várias coisas no texto, Fina Estampa apresentou uma boa ideia, e bons personagens resgatou um estilo de novela que já não se via a muito tempo, o que houve é que do meio da novela pra frente, é que ficou parecendo que a historia ja havia se esgotado e aí uma sucessão de acontecimentos sem fundamento foram acontecendo, mais o melhor da novela não foi a historia e sim os personagens. Cro e Tereza Cristina eram irresistíveis, com tiradas ótimas e isso sim conquistou o publico. Fina Estampa é o tipo de novela que ou se ama, ou se odeia, e com isso foi sucesso e continua sendo, pois não é esquecida até hoje. Já Avenida Brasil, é um novelão de verdade que dá gosto de ver, A favorita ainda foi melhor, mais Avenida Brasil está quase lá. E discordando de um comentario acima, Carminha é tão boa ou melhor que Flora, pois Flora era má e cruel, Carminha é má cruel e engraçada, bem ao estilo Naza de ser.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Excelente texto! Concordo com cada linha, cada palavra, cada vírgula! Comparar Avenida Brasil com Fina Estampa chega a ser sacrilégio. Enquanto a novela de Aguinaldo Silva foi boboca, com argumentação frouxa e sem qualquer sentido, Avenida Brasil é densa, consistente, envolvente e irresistível. Melhor novela das nove desde A Favorita! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net
Adorei o texto, pôs em palavras o que senti durante a exibição de Fina Estampa, e ainda não consigo entender como tem defensores de uma novela tão sem sentido. Fiquei com uma expectativa, de forma alguma suprida, durante as chamadas da novela, principalmente por reunir autor e atriz que estão entre meus favoritos, mas a decepção foi grande. Na verdade, eu me perguntava a cada capítulo a que tinha o desprazer de assistir, que não foram muitos:"Que p... é essa?". E ainda fazia tentativas por saber que era uma novela do Agnaldo e em algum momento ia ficar melhor, o fim chegou e ela se superou, pra mim entrou no top 10 das piores novelas, e já é a segunda do Agnaldo, a primeira é Suave Veneno. Ainda bem que Avenida Brasil mostrou a que veio logo de cara e a cada capítulo justifica seu sucesso. Cenas memoráveis, personagens marcantes e um texto delicioso e cheio de surpresas, isso sim é novela.
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