Especial
Novelas
que foram sem nunca terem sido
Parte II
Continuamos com nosso especial sobre
novelas que sequer saíram do papel. Ou se saíram, não avançaram na produção.
Hoje, SBT e Record.
por
Duh Secco
SBT
Ainda que esteja longe de ter a
tradição dramatúrgica da Globo, o SBT sempre primou pela organização de seus
trabalhos. Vez ou outra, no entanto, os planos dão errado e a emissora acaba
sendo obrigada a deixar certos textos de lado e cancelar produções, como o
remake de A Fábrica, que iria reativar o núcleo de dramaturgia da casa, em 1993.
Caubói
(1990)
Argumento de Bráulio Pedroso
De Denise Bandeira, Joaquim Assis e José
Joffly.
Autor da inovadora Beto Rockfeller, Bráulio Pedroso pensava
em produzir uma nova versão da trama para o SBT, casa que o contratou pouco
tempo antes de seu falecimento. Antes de trazer o bicão de volta à telinha, no
entanto, Pedroso desenvolveu o argumento de Caubói,
sob encomenda de Walter Avancini, então diretor de dramaturgia, para aquele que
seria o novo horário de novelas do SBT: 19h. A novela traria o universo do
rural chique paulista, através de seu protagonista, um lavrador que se tornara
fazendeiro e criador de cavalos. O aclamado cineasta Roberto Farias seria o
responsável pela direção do projeto, que não foi adiante.
Mariana:
A Menina de Ouro
(1993)
De Flávio de Souza
Criador dos sucessos Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum, ambos exibidos pela TV Cultura, Flávio de Souza
assinou com o SBT em 1993 para produzir uma trama infanto-juvenil. Mariana, a Menina de Ouro foi concebida
como novela, virou série, e terminou como uma espécie de novela como formato de
seriado, a ser exibida às 20h30. A pequena Mariana seria o centro da história:
uma menina que passa o dia com a empregada (Denise Fraga) enquanto os pais
(Mira Haar, uma jornalista, e José Rubens Chachá, agente de turismo) brigam por
questões financeiras. Ainda no elenco Etty Fraser (como a avó), Iara Jamra (a
tia) e Ary França (o motorista de táxi, namorado da empregada). Marisa Orth,
Lilia Cabral, Nuno Leal Maia, Angelina Muniz e Lucélia Santos também estiveram
cotados para o elenco, enquanto a direção ficaria a cargo de Fernando Meirelles.
Infelizmente, este projeto não foi em frente, contrariando as expectativas do
público que sempre viu no SBT os melhores investimentos em programação infantil
da TV brasileira.
Asfalto
Selvagem
Baseada na obra de Nelson Rodrigues
Antes de iniciar a produção de Mariana, a Menina de Ouro, o SBT ensaiou
uma parceria com Daniel Filho, que produziria uma novela por ano para a emissora,
em um período de três anos. A primeira trama desta parceria seria Asfalto Selvagem, baseada na obra de
Nelson Rodrigues. Sabe-se lá por quais motivos a união de Daniel e Silvio
Santos não aconteceu. Asfalto Selvagem
viraria minissérie na Globo: Engraçadinha,
Seus Amores e Seus Pecados.
A
Pantera (1996)
De Vicente Sesso
Com Éramos Seis, o SBT viveu seu melhor momento na dramaturgia.
Entretanto, suas substitutas não obtiveram o mesmo êxito e Silvio Santos passou
a se desinteressar pelo núcleo. Foi por isso que em 1996, tentando evitar um
estouro no orçamento, a primeira atração a ser rifada da grade por Silvio foi a
novela A Pantera. A trama de Vicente
Sesso substituiria Razão de Viver, em
novembro daquele ano. Com locações em Roraima e uma cuidadosa reprodução dos
anos 50 e 60, focada nos bailes e nos grandes cassinos, a novela custaria em
torno de R$ 80 mil por capítulo. Marcos Schechtmann, diretor de Salve Jorge, responderia pela produção,
protagonizada por Suzy Rêgo, a cabocla Cristina. Também cotados para A Pantera estavam Paulo Autran e Tônia
Carrero. Contracenar com esses dois mitos animou Marília Pêra, que daria vida à
vilã Silvana, e também ganharia um programa de variedades no SBT. Com o
adiamento da novela, Marília passou um ano encostada, já que não aceitou
participar de Pérola Negra, a
produção, mais barata, na qual a emissora decidiu investir.
Segredo
(1998)
De Walcyr Carrasco
Walcyr Carrasco era contratado do SBT
quando assinou, sob o pseudônimo de Adamo Angel, o roteiro de Xica da Silva, na Manchete. O sucesso da
produção animou Silvio Santos, que encomendou duas novelas a Walcyr. A
primeira, Fascinação, exibida em 1998
com relativo sucesso. E a segunda, Segredo,
substituiria a primeira. Contando com a colaboração de Mário Teixeira, Carrasco
escreveu os 154 capítulos da trama de João Paulo, um playboy que, ameaçado pelo
avô de ser deserdado, acaba tendo que se casar. Sua amante, uma ex-modelo
casada, o ajuda a encontrar a moça ideal, optando por uma menina humilde e
interiorana. João Paulo se casa com a jovem, por contrato, mas com o tempo tem
seu gélido coração tocado pela agora esposa. A novela também teria um núcleo
infantil e outro focado na dona de uma pensão. Eis que no meio do caminho, o
autor se transferiu para a Globo, deixando a novela toda pronta nas mãos do
SBT. Como Carrasco não poderia acompanhar a produção, caso ela saísse do papel,
decidiu transferir a ação da trama dos anos 50 para os dias atuais, o que
facilitaria a produção. Mas, provavelmente devido ao ingresso de Walcyr na
Globo, o SBT engavetou a novela.
A
Outra (2004)
Argumento de Liliana Abud
De Ecila Pedroso
Para substituir o sucesso Canavial de
Paixões, Silvio Santos anunciou a adaptação de Os Ricos Também Choram, novela que iniciou a exibição de mexicanas
no Brasil. Problemas com os direitos autorais da obra acabaram impossibilitando
a produção e o departamento de dramaturgia da casa foi obrigado a recorrer ao
texto de A Outra. A história girava
em torno de Carolina e Clarice (que seriam interpretadas por Mel Lisboa),
mulheres idênticas que nunca se viram. A primeira mantinha um romance com o
médico Álvaro, mas não conseguiu se casar com ele porque sua mãe autoritária a
impedia. A vida das sósias se cruza quando Carolina desaparece. Após uma
passagem de tempo, o médico pensa que a paixão de sua vida está morta e conhece
Clarice. Impressionado com a semelhança física entre as duas, ele acaba se
envolvendo com a outra, jovem ambiciosa, filha de um alcoólatra. Cláudio
Heinrich fora sondado para viver Álvaro, mas renovou com a Globo, na época,
para continuar apresentando o Globo
Ecologia. Fez bem, já que pouco tempo depois, o SBT suspenderia a produção
da novela, em virtude do alto custo de produção. Mel voltaria para a Globo no
mesmo ano, para atuar em Como Uma Onda.
O SBT acabaria exibindo A Outra
original, até retomar as atividades de seu núcleo de dramaturgia, em maio do
mesmo ano, com Seus Olhos.
***
Record
A Record, em sua pretensão de alcançar
a líder Globo, sempre tentou conduzir seu núcleo de dramaturgia da melhor forma
possível. Entretanto, o amadorismo ainda reinante no complexo de estúdios
Recnov leva a constantes mudanças nas novelas a serem produzidas, chegando, às
vezes, a cancelar tramas. Isso vem desde o período em que a dramaturgia da
emissora ainda não era tão forte quanto parece ser agora.
De Vivian de Oliveira
Não é de hoje que a Record tenta, sem
muito sucesso, implantar um segundo horário de novelas. Em 2000, enquanto
exibia Marcas da Paixão, a emissora
cogitou a produção de uma novela de época. Cafezais,
escrita por Vivian de Oliveira (autora de Rei
Davi e José do Egito), retrataria
o ciclo do café em São Paulo no início do século XX. A trama deveria estrear em
abril de 2001, época em que a Record desejava ter uma novela às 20h e outra às
21h. Ficou na intenção...
Felizes
Para Sempre (2001)
Mesmo depois de desistir de Cafezais, a Record ainda almejava lançar
um segundo horário de novelas. Ao invés das 21h, no entanto, resolveram
produzir uma trama a ser exibida às 19h. Assim, a emissora adotaria o esquema
que tanto sucesso faz na Globo: novela – telejornal – novela. O título
escolhido para inaugurar o horário foi Felizes
Para Sempre, trama ambientada em Fortaleza, sobre o dono de um parque
temático que contrata um dublê para representá-lo em compromissos públicos e
encontrar uma mulher para ele. É claro que os dois acabavam se apaixonando pela
escolhida. A novela das sete seria escrita por um autor que já estivera entre
os funcionários da Globo, e não fora divulgado pela Record, estrearia entre
20 de março e a primeira semana de abril de 2001, indo ao ar das 18h50 às
19h30. Logo após, o Jornal da Record e em seguida, a trama que substituiria Vidas Cruzadas. Cafezais figurava como uma das possíveis candidatas à vaga.
Norte
Das Águas (2001)
Baseada na obra de José Sarney
Nem Cafezais, nem Felizes Para
Sempre. Ainda em 2001, para substituir a problemática Roda da Vida, a Record decidiu recorrer a outro título e foi buscar
inspiração em um livro de contos do senador José Sarney. Norte das Águas seria a obra adaptada para o horário das 20h15,
caso a emissora não se encontrasse em dificuldades para encontrar o autor desta
adaptação. As gravações seriam realizadas no Maranhão, com orçamento em torno
de R$ 10 milhões, buscando realizar algo parecido ao feito pela Manchete com Pantanal: explorar o Brasil que os
brasileiros desconhecem. Para arcar com um mega projeto como este, a Record ensaiou
uma parceria com a produtora Delta, que incluiria a co-produção de seis
novelas, em três anos de contrato. Mesmo com aparentemente tudo a favor, a
Record não levou adiante os seus planos e Norte
das Águas ficou pelo caminho.
Silêncio
Da Mata (2001)
De Solange Castro Neves
Sem a parceria que levaria Norte das Águas adiante, a Record buscou
uma solução caseira para substituir Roda
da Vida. Solange Castro Neves deixou então o texto de sua novela nas mãos
dos colaboradores, Enéas Carlos e Maria Duboc. A mudança no comando da trama
levou à queda nos índices, levando a Record a apressar o término da mesma.
Neste meio tempo, Solange apresentou a sinopse de Silêncio da Mata, trama que seria ambientada na Mata Atlântica ou
em alguma cidade do Amazonas. Disputando a vaga com Silêncio da Mata, uma novela de Marcos Lazzarini, que havia escrito
Vidas Cruzadas, no ano anterior. Mas
nem a sinopse de Solange, nem a de Marcos, foram produzidas, e o núcleo de
dramaturgia da Record acabou desativado.
Machos
(2008)
De Lauro César Muniz
Uma brasileira se envolve
acidentalmente com o grupo terrorista Al Qaeda, mentor dos atentados de 11 de
setembro. Este seria o fio condutor da novela que Lauro César Muniz apresentou
a Record para substituir Caminhos do
Coração. A cúpula da emissora, no entanto, avaliou que a trama se
enquadraria melhor em uma minissérie, e entregou a Lauro a adaptação de Machos, novela chilena exibida pela Sony
na América Latina. A novela girava em torno de Ângelo, um homem capaz de tudo
para fazer de seus sete filhos verdadeiros machos. Entretanto, todos os
rebentos tentavam de alguma forma fugir ao controle do patriarca. E nessa fuga,
os machos cruzariam com mulheres independentes em busca de afirmação e
enfrentando a crise de meia-idade. Tais mulheres saíram de uma sinopse de
Lauro, As Lobas. Entre elas estaria
Laura Orlin, mulher de 45 anos, presa a um casamento com um homem que dissimula
seu machismo (ao contrário dos “machos”). A partir da descoberta da traição, Laura
traçaria um novo rumo para sua vida. No elenco de Machos, estariam Paloma Duarte e Marcelo Serrado. Problemas com a
Sony e o sucesso dos mutantes de Caminhos
do Coração acabaram protelando Machos.
De tal maneira, que a novela acabou esquecida e Lauro partiu para o
desenvolvimento da sinopse de Poder
Paralelo.
Corpos
Partidos (2008)
De Ana Maria Moretzsohn
A estadia de Ana Maria Moretzsohn na
Record não se resumiria a uma única novela, caso a emissora tivesse desistido a
tempo da saga Os Mutantes: Caminhos do
Coração e apostado em Corpos Partidos,
trama sobre roubo e tráfico de órgãos, desenvolvida pela autora de Luz do Sol. Gustavo Reiz, que assina a
próxima novela da emissora, Dona Xepa, seria um dos colaboradores. E Petrônio
Gontijo, Paloma Duarte e Marcelo Serrado encabeçariam o elenco.
Bem
Me Quer (2009)
De Margareth Boury
Emplacar uma sinopse nem sempre é
fácil. A emissora solicita, os autores trabalham, mas o texto acaba descartado
por diversos motivos, alheios à vontade daqueles que penaram para desenvolver
argumentos e situações capazes de sustentar uma infinidade de capítulos, meses
a fio. No caso de Bem Me Quer, de
Margareth Boury, o acordo fechado pela Record com a Televisa, para a produção
de textos mexicanos, inviabilizou sua produção. A história do rapaz que
trabalhava no ramo hoteleiro, obrigado a recomeçar sua vida após anos na
prisão, chegou a ser aprovada pela Record, mas caiu diante da possibilidade de
se adaptar novelas mexicanas. Nesta mesma época, ventilou-se a possibilidade da
Record produzir Sambalelê, também de
Margareth Boury. A trama seria uma espécie de Que Rei Sou Eu?, com a presença de esportes radicais adaptados ao
século no qual o enredo se desenvolveria.
Vivendo
O Amor (2010)
De Margareth Boury
O acordo com a Televisa não alterou só
os rumos de produções já aprovadas pela Record, como Bem Me Quer. Alguns textos mexicanos também foram descartados pela
emissora, como Un Gancho Al Corazón,
história de uma boxeadora apaixonada por seu treinador, que seria adaptada por
Margareth Boury. A trama foi preterida por Cuidado
Con El Ángel, que atualmente pode ser vista no SBT. Aqui, o título foi
alterado para Vivendo o Amor, após um
concurso interno com funcionários da Recnov. Ivan Zettel fora escalado para a
direção; Edwin Luisi, Cristina Mullins, Juliana Silveira, Lana Rodes e Cacau
Mello estariam no elenco; Roger Gobeth viveria o mocinho, apaixonado por Maytê
Piragibe que, grávida, foi obrigada a desistir do projeto. E a Record também
abriu mão do projeto, mediante pressão da Televisa, que julgava o texto de Rebelde mais comercial. Assim, toda a
produção, alguns nomes do elenco e a cidade cenográfica construída para Vivendo o Amor foram reaproveitados na
trama que os mexicanos escolheram. Em entrevista ao nosso blog, Margareth Boury
comentou tal mudança:
Cuidado
com o Anjo (Vivendo o Amor) teve vinte capítulos escritos e quando eu ia fazer
o vigésimo primeiro, recebi um telefonema do Hiran Silveira e tudo mudou. Na
semana seguinte eu estava com o Ivan Zettel indo para o México ter reunião
sobre Rebelde.
***
Próximo
Capítulo: Band,
Manchete e Tupi também suspenderam o desenvolvimento de suas novelas. Saiba
quais, na 3ª parte do nosso especial.
2 comentários:
Tô conferindo essa série de postagens sobre novelas que não foram realizadas, com bastante interesse.
Postagens curiosas, agradáveis leituras.
Abraço, meninos!
A história de Un gancho al corazón (do original argentino Sos mi vida) na verdade é protagonizada por uma boxeadora que se apaixona por um empresário e piloto de automóveis. Na versão mexicana os papéis foram de Danna García e Sebastián Rulli. O treinador (Raúl Araiza) é "terceiro em discórdia", eles começam a trama juntos, mas não terminam.
Parabéns pelo blog!
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