Especial
Novelas
que foram sem nunca terem sido
Parte IV
Como nem só de novelas vive nossa
dramaturgia, não poderíamos deixar de falar aqui sobre as minisséries que foram
escritas, planejadas e acabaram não sendo executadas.
por
Duh Secco
A
Prometida (Manchete, 1990)
De Wilson Aguiar Filho
As dificuldades na produção de Amazônia, que a princípio abriria um
segundo horário de novelas na Manchete, às 22h30, levaram a emissora a buscar
alternativas para preencher tal faixa horária. Concebida
como uma mininovela, A Prometida,
texto de Wilson Aguiar Filho, se iniciaria em 1957 e terminaria nos anos 80. O
universo esotérico de Brasília que. segundo muitos, está plantada sobre um
imenso cristal energético, serviria como pano de fundo para a história que seria
dirigida por Tizuka Yamasaki e teria Darlene Glória em seu elenco. O projeto
fora abortado, junto com a estreia do tal segundo horário de novelas da Manchete.
O
Terceiro Segredo (Manchete, 1991)
De Ronaldo Ciambroni
Amazônia seria novamente adiada em 1991,
levando a Manchete a procurar soluções para substituir A História de Ana Raio e Zé Trovão. A minissérie O Terceiro Segredo estava programada
para estrear às 21h30, em 12 de outubro, dia de Nossa Senhora e da chegada do
Papa João Paulo II ao Brasil, em visita naquele ano. A história de 24 capítulos
seria gravada em Portugal, numa coprodução com a Rádio e Televisão Portuguesa
(RTP). No elenco, dirigido por Del Rangel, estariam Cláudio Marzo, Giovanna
Gold, Maria Helena Dias, Tarcísio Filho, Ângela Vieira, Marcos Caruso, Jandira
Martini e Ernesto Piccolo. Decidida a manter a data de estreia programada, a
Manchete apressou a RTP para finalizar o acordo. Mas a emissora portuguesa se
assustou com tamanha pressa e, sem tempo para estudar o projeto corretamente,
acabou recuando. Assim, acabaram engavetando a trama da menina Lúcia, uma das
crianças que testemunhou a aparição de Nossa Senhora de Fátima e que seria
mantida, até os 80 anos, em clausura, junto ao Papa João Paulo II, para
preservar o terceiro e último segredo de Fátima.
O
Marajá (Manchete, 1993)
De Alexandre Lydia, Eloy Santos, José
Louzeiro e Regina Braga
O impeachment do presidente Fernando
Collor, em 1992, serviu de base para O
Marajá, minissérie que a Manchete estrearia em julho de 1993. No centro da
história, estariam personagens que remetiam aos envolvidos no desastroso
mandato de Collor. Na trama, a jornalista Mariana (Júlia Lemmertz) investigava
um misterioso plano do presidente, aqui tratado como Elle, de se manter no
poder por mais de 30 anos. Alegando ter sua honra arranhada pela retratação de
passagens de seu período como presidente, Collor conseguiu inviabilizar a
exibição da minissérie, no dia da estreia. As fitas com os capítulos, que já estavam praticamente
finalizados, sumiram da emissora. E nunca mais se teve notícias do Marajá...
O
Cerco (Globo, 1994)
De Benedito Ruy Barbosa
Renascer se tornou um marco na dramaturgia
brasileira. A sua primeira fase, brilhantemente escrita por Benedito Ruy
Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, levou o autor a selecionar os
atores José Wilker, Leonardo Vieira, Patrícia França, Cacá Carvalho e Fernanda
Montenegro para um novo projeto. Wilker e Vieira seriam os protagonistas da
minissérie que Benedito manteve engavetada por 15 anos e que contaria, em 26
capítulos, a saga de um fazendeiro que se via sob a mira de cangaceiros e dos
“macacos”, como era conhecida a força policial que combatia Lampião no sertão
baiano. Sabe-se lá por que o projeto não saiu do papel. Tempos atrás, Benedito e suas filhas apresentaram, novamente, uma sinopse intitulada O Cerco, também sobre Lampião.
Mar
Morto (Globo, 1995)
De Aguinaldo Silva
Baseada na obra de Jorge Amado
Já falamos aqui sobre Mar Morto, uma minissérie que quase
virou novela em 1995, e acabou se tornando mesmo uma trama das 21h em 2001,
como Porto dos Milagres. Enquanto
ainda era minissérie, a adaptação do romance de Jorge Amado seria dirigida pelo
cineasta Fernando Meirelles, sob o núcleo de Carlos Manga, e registrada em 16 e
35 milímetros, como um filme. Contaria ainda com direção de fotografia de César
Charlone, direção de arte de Yurika Yamasaki e produção executiva de José
Roberto Sanseverino. Em 16 capítulos, a história desenvolvida por Aguinaldo
Silva e Nelson Nadotti seria totalmente gravada na Bahia e teria Tereza
Seiblitz como a protagonista Lívia, além da participação de Daniela Mercury,
como Maria Clara. Mas Mar Morto, que
comemoraria os trinta anos da Globo, acabou mudando de formato e ficando pra
depois...
Sarau
(Globo, 1996)
De Ivani Ribeiro e Solange Castro
Neves
Antes de falecer, Ivani Ribeiro deixou
dois textos para a Globo, a serem conduzidos por Solange Castro Neves, sua
habitual colaboradora. O primeiro deles, Quem
é Você, culminou com a substituição de Solange por Lauro César Muniz e,
consequentemente, a saída da autora da emissora. Já Sarau, minissérie que seria produzida em 1996 (assim como a novela)
nunca saiu do papel. A trama, passada no Rio de Janeiro dos anos 20, começaria
com uma troca de cartas anônimas: Soares recebe um bilhete dizendo que sua
esposa tem um amante e a mulher também é informada de uma traição do marido. Na
tentativa de descobrir quem mandou as cartas, Soares programa um sarau em sua
casa e Andrade, o melhor amigo do empresário, faz o desafio. O gozador
Marcondes aceitaria, dando início à série de duelos literários, principal
entrecho da minissérie, que duraria 12 capítulos. A novidade ficaria por conta
da alternância de dois núcleos de personagens em cena: os que participariam do
sarau e os que ilustrariam os contos lidos nas disputas; em sua maioria, obras de Machado de Assis. Para encarnar os
tipos, nomes como Antônio Fagundes, Glória Menezes, Glória Pires, Jorge Dória,
Patrícia Pillar e Tarcísio Meira foram cogitados.
Sociedade
Secreta (Globo, 1996)
De Fernando Morais
Autor das biografias Olga e Chatô, o Rei do Brasil, Fernando Morais faria sua estreia como
autor de TV na minissérie Sociedade
Secreta, que resgataria a Revolução Constitucionalista de 32, movimento
armado que questionava o autoritarismo do presidente Getúlio Vargas e exigia a
redemocratização do Brasil. Promovido por militares e lideranças políticas de
São Paulo, com apoio da oligarquia cafeeira, a revolta estourou no dia 9 de
julho de 1932 e sucumbiu menos de três meses depois. O escritor prometera retratar,
em cada um dos episódios da minissérie, fatos verídicos da época. No
centro da trama, uma milionária paulista, mãe de três filhos: um rapaz que
apoiava Getúlio Vargas; outro que defendia a sublevação de São Paulo; e uma
moça dividida entre o amor de um jovem tenente gaúcho e um dândi de ancestrais
ingleses. Haveria ainda um núcleo sobre a Burschenschaft, sociedade secreta que
conspirava contra os getulistas. Co-escrita por Carlos Gerbase e Giba Assis
Brasil, Sociedade Secreta deveria ter Regina Duarte encabeçando seu elenco. O
projeto, infelizmente, não foi adiante e Fernando Morais, ainda, não teve a
chance de estrear como roteirista.
Bala
Na Agulha (Globo, 2001)
De Euclydes Marinho e João Emanuel
Carneiro
Baseada na obra de Marcelo Rubens
Paiva
Um traficante brasileiro, residente em
Nova York, é obrigado a voltar para o Brasil depois de se envolver em um crime
entre michês. A trama do livro Bala na
Agulha, de Marcelo Rubens Paiva, serviria de base para a minissérie
homônima de João Emanuel Carneiro e Euclydes Marinho, dirigida por Daniel
Filho. A Globo reprovara a trama, por conta do entrecho da prostituição
masculina e das drogas, tema que seria abordado no mesmo ano, em O Clone. A ideia foi engavetada e nada
mais se falou sobre ela.
Nada
Como Eu E Você (Globo, 2001)
De João Emanuel Carneiro
Ainda em 2001, João Emanuel Carneiro
recebeu sinal verde para roteirizar o seriado Nada Como Eu e Você. A trama romântica seria escrita em parceria
com Bruno Mazzeo e Cláudio Torres Gonzaga. Não se sabe por que nada mais foi
divulgado sobre o projeto, que ficou na intenção.
A
Imperatriz Do Café (Globo, 2004)
De Lauro César Muniz
Baseada na obra de Romaric Büel
Regina Duarte propôs, Lauro César
Muniz roteirizou e Denise Saraceni dirigiria a minissérie baseada em O Lírio e
a Quimera, obra de Romaric Büel. A mesma Regina estaria à frente do elenco
deste projeto, intitulado A Imperatriz do
Café. E tal e qual acontecera em Chiquinha
Gonzaga, dividiria com sua filha Gabriela a principal personagem da trama.
Ficção e realidade se misturariam para contar a história da nobre francesa que
aos 17 anos, em 1848 (período da queda da monarquia na França), apaixona-se por
um fazendeiro brasileiro que está em Paris para realizar negócios. Neste
período, a jovem fica órfã e perde o tio que cuida dela. Sozinha, resolve fazer
uma longa viagem até o Brasil em busca do seu grande amor. Aqui ela é muito bem
recebida pelo imperador D. Pedro II e passa a freqüentar a corte, onde
conquista respeito e amizade, apesar de continuar sendo uma mulher extremamente
solitária. O projeto disputava a vaga para macrossérie de início de ano com
outra obra, que também acabou engavetada, conforme relatamos a seguir.
O
Capitão Mouro (Globo, 2004)
De Maria Adelaide Amaral
Baseada na obra de Georges Bourdoukan
O posto de macrossérie do ano esteve
disputado em 2004. Além de A Imperatriz
do Café, O Capitão Mouro também
era candidata à vaga que acabou ocupada por Um
Só Coração. Adaptação de Maria Adelaide Amaral, que também seria dirigida
por Denise Saraceni, do livro de Georges Bourdoukan, O Capitão Mouro também unia personagens fictícios aos reais, ao
narrar a saga do muçulmano Saifurdin, que teve sua embarcação atacada por
piratas, sendo obrigado a sobreviver no mar, sobre um pedaço de madeira,
durante dias. Resgatado pelo judeu Ben Suleiman, Saifurdin vai para Pernambuco,
onde o irmão de seu mais novo amigo sofre problemas com a Inquisição. Assim,
Saifurdin se afeiçoa à causa abolicionista e passa a lutar ao lado do lendário
Zumbi de Palmares. Uma boa trama que também não foi adiante...
Ligações
Perigosas (Globo, 2005)
De Gilberto Braga
Gilberto Braga e Dennis Carvalho
repetiriam, em julho de 2005, a consagrada parceria de tantos sucessos. O
projeto da vez era uma minissérie inspirada no romance Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, que já havia tido
versões para o cinema americano (a mais famosa delas, com Glenn Close, Michelle
Pfeiffer e John Malkovich). Na versão tupiniquim, Malu Mader daria vida à
pervertida mulher que deseja atrapalhar o casamento de seu ex-marido com uma
jovem virgem. A minissérie teria em torno de 15 a 20 capítulos, e contaria
ainda com Fábio Assunção e Cláudia Abreu. Acabou não vingando.
Trilogia
Do Poder (SBT, 2005)
De Doc Comparato
Uma não. Três minisséries foram
jogadas para escanteio no SBT, de uma só vez. É bem verdade que, a princípio,
apenas uma seria produzida. As duas posteriores dependeriam da recepção da
primeira. O projeto de Doc Comparato, intitulado Trilogia do Poder, previa três produções ambientadas em locais que
representaram diferentes fases da história do Brasil: O Palácio, O Catete e O Planalto. No centro das histórias, os
“donos do poder” dentro destes lugares. A primeira minissérie seria estrelada
por D. Pedro 1º, no período compreendido entre 1807 e 1820; na segunda, o
Palácio do Catete, residência oficial de 18 presidentes do Brasil republicano,
teria, entre seus moradores, Getúlio Vargas; e por fim, o Brasil dos anos 60
aos dias atuais, no Palácio do Planalto, em Brasília. Enquanto as minisséries
não saiam do papel, Doc Comparato cuidara da adaptação da mexicana Os Ricos Também Choram. Mas, antes que
seu trabalho pudesse ir ao ar, o autor fora desligado do SBT.
Nassau,
Um Brasileiro (Globo, 2008)
De Maria Adelaide Amaral
Autora que mais desenvolveu
macrosséries para a Globo, na década passada, Maria Adelaide Amaral propôs
contar a trajetória de vida do príncipe de Nassau e a ocupação holandesa em
Pernambuco, entre 1624 e 1654, em um projeto a ser exibido no início de 2008.
Mas a Globo, que vinha da baixa repercussão de Amazônia: De Galvez a Chico Mendes, de Glória Perez, achou melhor
engavetar a trama, considerada cara demais (os 51 capítulos foram orçados em R$
66,3 milhões, mais do que uma novela das nove, na época). Maria Adelaide então
adaptou o seu livro, Aos Meus Amigos, e levou ao ar um de seus melhores
trabalhos, Queridos Amigos, em
fevereiro de 2008, mês no qual as macrosséries, normalmente, já estavam em
adiantada exibição. Dan Stulbach, que daria vida a Maurício de Nassau,
protagonizou Queridos Amigos. Outros
personagens históricos, como Calabar, D. Anna Paes e Andre Vidas de Negreiros
estariam presentes na trama, tal e qual costumeiramente acontecera nos trabalhos anteriores de
Maria Adelaide. Gravações no Recife e um navio de época, atracado em Nova York,
também foram programadas. A direção ficaria a cargo de Carlos Araújo, Luiz
Henrique Rios e Flávia Lacerda, com núcleo de Denise Saraceni.
Carmem
(Globo, 2009)
De Maria Adelaide Amaral / Silvio de
Abreu
(2006)
Os 100 anos de Carmem Miranda seriam
comemorados com uma minissérie dirigida por Carlos Manga, escalado pela própria
atriz e cantora, que disse ao diretor, de quem fora grande amiga: “Manga,
quando quiserem contar a minha vida, que seja você o diretor”. Manga bem que
tentou, mas a ideia não vingou. Mesmo tendo adquirido os direitos de Carmem, Uma Biografia, escrito por Ruy
Castro, para servir de base para o roteiro, a Globo enfrentou problemas com os
herdeiros de Carmem, que não queriam que determinadas passagens da vida da
artista fossem retratadas na TV. O trabalho ainda sofreu com outra saia justa:
Manga havia convidado Maria Adelaide Amaral para escrever os 40 capítulos da
minissérie. Pouco depois, convocou Silvio de Abreu,com quem já havia planejado
um filme sobre Carmem Miranda, anos antes. Tantos empecilhos acabaram deixando
o centenário de Carmem passar em branco mesmo.
O
Rebu (Globo, 2009)
De Carlos Lombardi
Baseada na obra de Bráulio Pedroso
Quem morreu? Quem matou? Por que
matou? Questões que confundiam a cabeça do público que acompanhou O Rebu, novela de Bráulio Pedroso,
exibida às 22h em 1974 e que quase voltaram a perturbar os telespectadores em
2009, numa nova versão, mais compacta (24 episódios), escrita por Carlos
Lombardi. O projeto, entretanto, não seria veiculado aqui. A Divisão
Internacional da Globo negociaria o roteiro com produtores do exterior e
colaboraria na produção, tal e qual fez com novelas como O Clone e Dancin’ Days,
em versões adaptadas para o mercado hispânico e português, respectivamente.
Entretanto, a nova roupagem de O Rebu
acabou não sendo vista por lá e nem por aqui.
Diário
De Um Mago
Baseada na obra de Paulo Coelho
Se um projeto é engavetado apenas uma
vez, isso já deve gerar uma decepção muito grande para o autor. Imagine então
quando o mesmo é engavetado quatro vezes! Foi o que aconteceu com a adaptação
do best-seller Diário de um Mago, de
Paulo Coelho. Prevista inicialmente para o segundo semestre de 1991, a adaptação
de Dagomir Marquezi, que seria protagonizada por Luiz Armando Queiróz, para o
livro, foi adiada em virtude da neve que cobria o caminho de Santiago de Compostela,
na Espanha, onde a Manchete gravaria algumas cenas, em parceria com uma
produtora espanhola. A neve deve ter congelado totalmente os planos da emissora,
já que o mesmo roteiro de Dagomir Marquezi foi parar na Globo, em 1993. E
continuou no papel... Em 1998, Doc Comparato ensaiou roteirizar uma minissérie
de 20 capítulos com base na obra. Uma pré-sinopse fora entregue e a Globo
acenou seu interesse na compra dos direitos. Mas a produção foi considerada
cara e só voltou a ser debatida em 2002, quando Paulo Coelho entrou para a
Academia Brasileira de Letras. Os direitos foram enfim adquiridos e Antônio
Carlos da Fontoura ficou encarregado pela roteirização da minissérie, de 04 capítulos.
Mais uma vez, o alto custo inviabilizou as gravações. E Diário de um Mago acabou permanecendo na estante...
***
Próximo
Capítulo: nossos
leitores rememoram outros títulos que foram sem nunca terem sido. E as novelas que deixaram a gaveta! Confiram
quais na penúltima parte do nosso especial.