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quinta-feira, 18 de julho de 2013



Bateu saudade...
Reprises do Canal Viva suscitam a nostalgia



por Duh Secco


Concebido como canal de entretenimento para as mulheres da tão alardeada nova classe C, o Canal Viva tornou-se reduto dos noveleiros de plantão. Depois da reprise de Vale Tudo, que mesmo indo ao ar em horário tardio tornou-se fenômeno de audiência e de repercussão nas redes sociais, a direção passou a se atentar para o potencial do telespectador saudosista. Programas de moda e comportamento, oriundos de canais como o GNT, foram sumindo aos poucos e dando espaço a faixas destinadas aos humorísticos (Viva Rindo), por exemplo, e programas como Globo de Ouro e Cassino do Chacrinha. O sucesso de produtos do passado levou a Globo a apostar nas re-reprises, que retornam ao Vale a Pena Ver de Novo com O Cravo e a Rosa (que, certamente, renderia muito mais se fosse exibida na íntegra, no Viva). Fato é que quem assiste à programação do canal acaba sucumbindo ao charme de outros tempos, em que as novelas possuíam cenas do próximo capítulo, e os visuais eram berrantes e chamativos. O Viva é um convite à saudade!


Falo com a convicção de quem passou uma tarde nostálgica em frente à TV nesta última terça (16/07). Tirei o dia para acompanhar as três novelas atualmente em exibição no canal, começando pela reprise de Rainha da Sucata, ao meio-dia (reapresentando o capítulo exibido no dia anterior). E qual não foi minha surpresa a me ver diante das cenas em que Laurinha Figueroa (Glória Menezes) simula uma tentativa de suicídio, inalando o gás de sua soberba suíte. Lembro com exatidão desta sequência na reprise da novela no Vale a Pena Ver de Novo, em 1994. A frieza de Laurinha, atentando contra a própria vida, me marcou na época. O suicídio (desta vez, consumado) na reta final da trama, que ela comete para incriminar Maria do Carmo (Regina Duarte) e a troca dos bombons dietéticos do marido diabético Betinho (Paulo Gracindo) por outros recheados de glicose me fez ver Laurinha, por muito tempo, como a maior vilã da teledramaturgia brasileira. E talvez seja mesmo! Aquela tarde de 1994, em que cabulei a aula para ver a novela em casa com minha família, deixou a cena de Laurinha simulando um desmaio próximo a sua banheira marcada em meu inconsciente para sempre. E isso me faz lembrar até mesmo de um tópico da comunidade Teledramaturgia, no Orkut: “cena marcante gravada na retina para sempre”. Mais uma amostra das lembranças que o Viva é capaz de fazer surgir em nossas ideias...


15h30 é o horário de Anjo Mau, novela escolhida pela direção do canal após os protestos do público, contrário à reexibição de Pecado Capital, mal sucedido remake de Glória Perez. Com a versão de Maria Adelaide Amaral para a obra de Cassiano Gabus Mendes é possível constatar o quanto as novelas mudam ao longo dos anos sem que possamos perceber. Anjo Mau foi exibida há 16 anos. Vendo seus capítulos hoje parecemos estar diante de uma novela dos anos 80. O desenrolar dos acontecimentos é relativamente lento. Para se ter uma ideia, o episódio 07, exibido na ocasião, se desenrola todo em cima do noivado de Paula (Alessandra Negrini) e Rodrigo (Kadu Moliterno), que já havia se iniciado no dia anterior. Ainda assim, a ótima condução do texto, o bom desempenho dos atores e a direção segura de Denise Saraceni nos garantem um excelente entretenimento. A novela é movimentada e nos apresenta ótimas cenas. Dentre estas, podemos citar aquela em que Vivian (Taís Araújo) é abordada por Clotilde Jordão (Beatriz Segall), durante o noivado. Tratando a moça como serviçal, a ex-ricaça lhe pede um copo d’água. Vivian lhe apresenta à copeira da casa, Socorro (Marcela Raffea), e Clô comenta o mal entendido com Eduardo (José Lewgoy), em uma fala quase idêntica a esta: “em outros tempos esse tipo de confusão não acontecia, já que não havia pessoas assim circulando entre nós”. Vivian é negra e fora menina de rua. O conflito, inexistente na primeira versão da novela, realça ainda mais o abismo social que separa a arrivista babá Nice (Glória Pires) de seu patrão Rodrigo. O capítulo se encerra com uma atitude precipitada da empregada: após dançar com o radiante Rodrigo em volta da piscina, Nice sobe ao seu quarto com duas taças de champagne. O empresário vai enxotá-la, em mais uma das cenas marcantes desta novela. Podemos destacar também o casamento de Rodrigo com a babá, no qual não aparece nenhum convidado. Um bom momento de Anjo Mau que não dá pra perder! Assim como não perdi a novela em sua exibição original. Nem mesmo o último capítulo, aflitivo diante da eminente morte de Nice, e que eu só pude acompanhar a partir do segundo bloco, em março de 1998, por ter de ir da escola para a casa a pé.


Após Anjo Mau, o Viva nos brinda com a saga de José Inocêncio (Antonio Fagundes). Obra prima de Benedito Ruy Barbosa, conduzida de forma fantástica por Luiz Fernando Carvalho, Renascer certamente não emplacaria no horário nobre, nos dias de hoje. A novela se desenvolve morosamente. O capítulo de terça teve apenas quinze cenas; praticamente todas elas demasiadamente longas. E novamente, uma coincidência com trechos que eu havia acompanhado na primeira reprise da trama, em Vale a Pena Ver de Novo. Não com cenas específicas, como em Rainha da Sucata, mas no desenrolar de uma trama: a da menina de rua Teca (Paloma Duarte), que após ter se infiltrado na casa de José Inocêncio, alegando estar esperando um neto dele, passa a viver sob a suspeita de ser sobrinha-neta do senhor do cacau. Tal entrecho da sinopse envolve uma sequência na qual Teca e Inácia (Chica Xavier) visitam a casa em que viveu Maria Santa (Patrícia França) e Marianinha, irmã da esposa de Zé Inocêncio e avó de Teca, segundo se supõe. Na velha moradia, Teca vê o espírito da tia-avó e Inácia chega a conversar com Pai Boi (Cacá Carvalho) e Quitéria (Ana Lúcia Torre), pais de Maria Santa e Marianinha. Lembro claramente do capítulo da reprise que exibiu tais cenas e se encerrou com Teca e Inácia deixando a casa em uma velha carroça, logo após a empregada de José Inocêncio ter visto Quitéria em sua máquina de costura. Me impressionou, ao rever a novela depois de tantos anos, a forma como o misticismo norteia praticamente todo o desenrolar de Renascer.


Este texto, enfim, não agrega muito a quem gostaria de conhecer mais detalhes sobre as novelas. Trata-se apenas de comentários e lembranças televisivas deste colunista, que deixaram as lembranças estimuladas pelo ótimo conteúdo que o Canal Viva nos oferece. Que venham mais e mais programas e novelas de qualidade como os de agora. Viva o Viva!





2 comentários:

André San disse...

É muito gostoso ler o seu texto e perceber o quanto é interessante, para o saudosista, rever alguns momentos da TV. Comigo acontece o mesmo: ao rever algo do "tempo do onça", me vêm à cabeça muito mais que as lembranças do programa em si, mas de toda a época em foi exibido. Ao ver Anjo Mau no Viva, me vêm mais que as gostosas lembranças de uma boa novela: me vem o ano de 1997, com quem eu convivia naquela época, o que eu estava fazendo, no que eu pensava... Hoje almoço todo santo dia revendo Rainha da Sucata e lembrando não somente do belo texto de Silvio de Abreu, mas de minha infância já distante... rs! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net

Lucas disse...

Adorei ler cada palavra desse texto! Eu não tenho acesso ao Canal Viva, mas a internet está aí e pude acompanhar "Felicidade", uma novela que me conquistou pela simplicidade. Manoel Carlos perfeito, diálogos e situações bem construídos, de maneira delicada. Estou baixando "Anjo mau" e já assisti o início de "Rainha da sucata", texto delicioso de Sílvio de Abreu. O Viva traz para o público boas e gratas opções!
www.cascudeando.zip.net